Eu vejo a turba de gente
Que caminha descalça e sem dentes
Espinho, poeira, chão duro e calor
Olhos vazios refletindo dor
A dor que fustiga bem fundo os seus corpos
Castigada a terra, ressecadas as plantas, os animais mortos
A criança desnuda, os pés descarnados
Os ossos a mostra, povo maltratado
Eu sigo os tais penitentes
Que revelam a mim o seu sofrer pungente
Seus passos pesados, pois as pernas tremem
Uns vão entoando cantos enquanto outros gemem
Pesarosos dias, moribundos uis
Como pode o breu em meio a tanta luz
Ofuscar minha vista diante de tais seres?
Não vi com os meus olhos, sim com os olhos deles!
?/05/98