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Procuro conchas
Conchas cor-de-rosa
Procuro-as unidas
Como devemos ser na vida.
Decepção:
Seja na água ou no chão
As conchas que vejo
Não mais formam coração.
Após pelo mar passarem,
Em dia de lavadio,
Todas se apresentam
Com o seu bojo vazio.
Entre homens e mulheres
Reis, rainhas, alferes
Dificuldades conferem
Chance de conhecimento
E pelo tempo afora
Alguns se foram embora
Tal essa concha de agora
Receptiva, inteira.
Algumas chegaram aqui
Sozinhas e machucadas
Com lição dura e forçada
Por não saber viver só.
Aquelas morreram na praia
Com parte do companheiro
Deixaram-se jogar na areia,
Nenhum deles bem inteiros.
E as outras que estão ilesas
E expõem-se bem lustradas,
Serenas, orgulhosas, brilhantes
E, no lugar inadequado,
Esmagadas por um errante,
De uns passos apressados,
Feito gente que crê
Já ter tudo realizado
E nada mais há que fazer.
Marilene Anacleto