Blog de Marcelo Henrique Zacarelli
DE TI TALVEZ
Liberta estas tu de ti
E de mim também;
E lutas contra todos
Teus tormentos
Entre tornar a si
Ou transportá-la, titubeias...
Por ser teimosa tentas até o fim.
Livra-te de ti
E de mim também;
Teu passado torto te transtorna
E te transforma
Metamorfose tensa
Traga dentro de ti
O que de ti te traga
Entregas a mim
Que de ti me compadeço
Não pranteia tristezas em vão.
Traída estás de ti
E por mim também
Tens por mérito tão sonhada sorte
Em me ter e torná-la a morte
Antes não tivestes
O que de ti tomastes
Liberta estás tu de mim
Mas de ti talvez.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Agosto de 2003 no dia 21
Itaquaquecetuba (sp)
CREPÚSCULO
Sobre a mesa da áspera madeira
A vela que lhe faz companhia
Empresta seu corpo de luz por inteira
De resina e pavio apagada
Morre debruçada no colo do dia.
Sobre o papel amarelo envelhecido
Descansa a condoída poesia
Quando cai a noite fria de improviso
A pena que com pena do autor
Empresta a tinta
E morre esturricada e vazia.
O velho homem bem que tentou
Tomar inspiração na tal tristeza
A saudade da mulher que amava
É o que restou
Quando o sono pesava-lhe
O rosto sobre a mesa.
Ao dormir no crepúsculo da noite fatídica
A vela se apagou junto à poesia
Talvez em sonho a realidade verídica
Daquele velho homem
Extraia toda a dor
Como da pena que vazou a tinta.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Abril de 2008 no dia 30
Arujá (sp)
CORPO VIOLENTADO
Visão obscura
Nas feridas de um corpo
Insensatez de ternura imatura
Doença sem cura
De um corpo quase morto
Pelo desejo consumido
Desejo impulsivo
Pelo pulso esculpido
De um artista enlouquecido
Quando ao longe percebido
O cansaço de um gemido
Deste corpo quase nu
Lentamente pela obra despido
Feito luz de abajur
Quadro imperfeito na pintura
De falsa moldura
Reflexo de um corpo em desespero
Violentado pelo medo
Revelado na loucura do pintor
Atentado ao pudor
Escandalizado em sua beleza
Acorrentado na pureza
Penalizado por sua cor negra
Dentre tantos outros corpos
A imaginária de um crepúsculo
A visão de um corpúsculo
Subitamente violentado.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Maio de 2002 no dia 05
Itaquaquecetuba (sp)
CORAÇÃO DOENTE
Quando dói o coração
Não tem jeito
São lágrimas que vem de dentro
Do fundo do peito
Não sou perfeito
Sou pensamento
Sou folha seca
Que baila no vento
Sem tom, sem cor, sem sabor...
Barco que navega entre a dor
Encalhado no porto
Sem calor, sem amor...
Deveras, eu soubesse
O dia de amanhã, zombaria de hoje...
Esqueceria o ontem
Renasceria depois de amanhã
Mais... Quando dói o coração
O orgulho chora baixinho
De mansinho, bem de mansinho...
É o medo da solidão
Se faz presente todo momento
A transparência do sentimento
Não a hipocrisia, apenas lamento...
Liberdade sofrida de expressão
Os olhos falam o que sente o peito
Pudera olhares em meus olhos
E conversares com meu coração.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Julho de 2002 no dia 22
Itaquaquecetuba (sp)
CONVIVER COM A SOLIDÃO
Há quem me dera saudade
Não sofresse por ti, e...
Despojasse de minha carne
Tudo aquilo que senti;
Quem me dera...
Pergunto sem interrogação,
Pois quem me ouve
Jamais sentiu algo assim,
Se ti absolvesse
De qualquer culpa, tal saudade...
Estaria traindo o que já vivi,
Mas já não morro
Por ti novamente
Nem te quero pra perto de mim;
Às vezes penso saudade
Que não te quero por maldade
Ao desprezar-te com razão
É que ao lembrar-me do passado
Posso ver-me condenado
A conviver com a solidão.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Agosto de 2003 no dia 16
Itaquaquecetuba (sp)
CLARABÉLA
Não há mais canto de um pássaro
Não há mais canto;
Só a lembrança de um choro
De criança sem acalanto;
A solitária prisão de uma gaiola
Amanheceu gritando de saudade
Do canto majestoso que se foi
Recebendo de presente à liberdade;
Como carta desprezível de alforria
Assinada e concebida pelo tempo
Desapareceste nesta tua valentia
Na incumbência de um falso juramento;
Predestinada pela fria natureza
Cumpriste com brio a tua obrigação
Teu canto sofrido de uma rara beleza
Calou-se pra sempre me trazendo à solidão;
Onde repousas pequena Clarabela
Meu ouvido reclama o teu canto
Diga-me e juntarei as tuas cinzas
E de min’halma extirparei meu pranto;
Pudera fosse eu o Criador
E não partirias do meu lar sem razão
E arrancaria do peito tamanha dor
Trazendo de volta teu canto em meu coração.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Abril de 2002 no dia 14
Itaquaquecetuba (sp)
CIGARRO AMIGO
De bituca em bituca
Nas calçadas desta vida
És falado mal nas bocas
Desta sociedade maluca.
És como eu;
Consumido a cada trago, e...
Queimando assim por dentro
Até que as cinzas nos separem
És assim como eu.
És comprado pelos bares
E eu pelas urnas
Causando a dependência
Da cabeça imatura
És comprado como eu
Pela falta de cultura.
Cigarro amigo;
A cada suspiro
Na cadeia de inimigos
És fiel até a morte
Do primeiro ao vigésimo
São tantos a serem consumidos.
Se te lanço dos meus dedos
É que não te quero nos meus lábios
Tua alma em fumaça dispensa da narina
Se te lanço dos meus dedos
És bituca, cigarro amigo...
Nas calçadas desta vida.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Maio de 2002 no dia 18
Itaquaquecetuba (sp)
CHANCE
Descalço na areia frente ao oceano
A onda vem e molhas os meus pés
E conseqüentemente
Volta para os seios do mar
Por que não posso voltar;
Assim se faz o vento
Vem de onde não se imagina
E vai para onde ninguém determina
Assim sou nessa sua vida;
Preciso apenas uma chance
Pra recomeçar,
Você precisa de um milhão
De motivos pra me aceitar;
A imensidão do mar me deixa muitas dúvidas
Tamanha é a grandeza da sua solidão
Não é diferente no deserto que
Mostra-se no meu coração
Sem você não faz sentido a vida
Preciso apenas uma chance
Pra me encontrar;
Estou perdido nas esquinas
Embriagado neste bar
Pedindo pra voltar;
Existe uma vontade dentro do meu peito
Pedindo pra gritar
Mas o silêncio que descansa nos teus olhos
Impedem-me de falar
Preciso de um instante para respirar
Preciso de uma chance pra recomeçar.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Janeiro de 2002 no dia 08
Itaquaquecetuba (sp)
CHALEIRA NA MÃO
Lá vem Gesmar
Com a chaleira na mão
Após um trago de cigarro
Lá vem Gesmar...
Com a toalha e sabão.
Lá vem Gesmar
Com a chaleira na mão
E o olhar desconfiado
Meio que contrariado
Tomar banho de calção.
Lá vem Gesmar
Água fervendo no fogão
Discutindo com a Dita
E o caçula que irrita
Assim vem o tar Gesmar...
Com a chaleira em sua mão.
Lá vem Gesmar
Com a chaleira vazia
Depois do banho bem tomado
De caneca e bacia
Lá vem Gesmar
Todo cheio de razão
Com a chaleira em sua mão.
Homenagem a Gesmar José da Silva
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Novembro de 2002 no dia 21
Itaquaquecetuba (sp)
CANETA VAZIA
Quando minhas mãos teimarem
Em não mais percorrerem
Pelas linhas imaginárias
De um branquicento papel
Onde o vazio se fará presente
E palavras sucumbirão
A primavera multicor
Alcançar o olhar daltônico
É certo que a esferográfica
Manipulada na mão deste poeta
Após ter sofrido enfarto
E cair sem vida
Por todo sangue derramado
Serei-lhe farto de inspiração
Meu coração lhe emprestará
A tinta e ao reanimá-la
Voltarei a colocar no papel
Meus sentimentos por você.
Inspirado em Fernanda Villarim Zacarelli
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Julho de 2007 no dia 26
Guarulhos (sp)
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