Tenho o som de cada pinga que caiu naquele dia
Gravado na memória,
Todos diferentes, todos sós,
Cada um na sua vez
Batem ainda na minha face virada para Deus
Escorrem, encobrem o medo e eu cubro-me com ele
Porque quero estar sozinho, abrigado com meu bafo,
Pelo meu amor-próprio e pela solidão.
Que sou sem ti Beatriz?
Tenho medo agora que vivo
De perder vida, de te perder
E de me voltar.
Não me quero voltar, estou a sofrer,
A deixar de querer ficar acordado e escrever
Que me deixa miserável e triste.
Mas quando acabo, ó meu Deus como é bom
Sentir que fui feito para rabiscar sentidos meus.
Tapo-me bem, porque o frio vai voltar
Eu já o sinto em cada osso,
Cada um na sua vez de tremer gélido por calor
Gemer de dor de alma, gemer alto, gemer.
Em sobressalto amar e sofrer, sentir-te tão longe e gemer.
Não quero mais isto,
Este horror a passar por mim
Este ser criador de linhas escritas e não ser feliz
O ser feliz e não ser poeta,
O prazer ao sofrer
E não escrever, mas ser ditoso
Sofrer para ser? Esquecer-me e não ser, mas feliz…
O belo, o belo és tu Beatriz.
O mais belo de sempre que existe
Ou para lá da vida, és tu o mais belo.
Quero o teu cheiro e sabor para sempre,
Amor, quero-te a ti.