Já fui sombra...
Em noites enluaradas,
vagando escura na estrada...
Fantasma mal assombrado,
De medo, alimentado...
Nuvem escura,
que veda o sol e augura...
Presságio de vendaval
a desabar em minha cabeça...
Fui juiz de minha sentença,
sentei-me no banco dos réus...
Condenada, culpada, infiel...
Fui atalho,
bifurcação dos caminhos,
empecilho predestinado
a embaralhar os destinos...
Desarrimo, desatino, descaminho.
Pedra fincada na planta do pé,
riscando pegadas,
sangrando jornadas...
Fui cobertura de sapê.
Igarapé ... em tempo de estio.
Desvio de um rio
que nunca chega ao mar...
Anjo de asa quebrada
sonhando poder voar...
Agora sou
o que a vida traçou.
Apenas alguém...
Ou simplesmente...
...ninguém...
(Carmen Lúcia)