Tenho os ombros curvados
De tanto olhar o chão.
O que procuro?
Será que procuro em vão?
Uma pedra solta para pontapear?
Um pássaro caído para aninhar?
Me ajoelho então cansado, desamparado,
Desanimado de tanto caminhar.
E com um olho fechado
Vejo o mundo de lado
E um caracol a passar.
Será que o sonho dele
Era ter asas e voar?
E com um olho aberto
Vejo o céu descoberto
E um rouxinol a cantar.
Será que o sonho dele
Era ter casa e rastejar?
E então me levanto.
Qual não é o meu espanto
Quando te vejo chegar!
E sem que te falasse,
Me abraçaste e sussurraste:
"Não precisas mais sonhar!"