NÃO VIVEREI PARA SEMPRE
Não viverei para sempre.
Não do brilho de ideais.
Não esperarei respostas,
não quebrarei seus segredos,
mesmo não lhes dando as costas,
nem aos ígneos nem aos ledos.
Não farei deles escola
nem predarei dissidentes,
dê-se, dada, uma esmola
que não se guarde nos dentes...
Às sombras eles pertencem
e jamais cabem nos egos,
os bichos da seda tecem
e grãos lutam, como cegos.
Tudo que há depois é graça,
a manhã de amor sem prazo,
mas o amor, que é uma garça,
toma sopa em prato raso.
Não morrerei para sempre.
Não pelos meus ideais.
Se decerto há em mim o artista,
deserdo do meu rocio
minha prole idealista,
em favor do ideal cio.
Porque a morte é sua noiva
pela vida prometida,
e um ideal é uma goiva
nas mãos do Artista da Vida.
Morrerei até que o sempre
de quedas meu tempo seja,
e destino seja, dentre
tudo que derruba a peja.
Mas sempre é também uma ideia,
tal e qual os himeneus...
Dos nubentes céu de Réia.
Dos casados, chão de Zeus.
(Passarinho, 2015
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