Minha presença de cetim
Toda bordada a cor-de-rosa,
Que foste sempre um adeus em mim
Por uma tarde silenciosa...
Ó dedos longos que toquei,
Mas se os toquei, desapareceram...
Ó minhas bocas que esperei
E nunca mais se me estenderam...
Meus boulevards de Europa e beijos
Onde fui só espectador...
- Que sono lasso, o meu amor;
Que poeira de ouro, os meus desejos...
Há mãos pendidas de amuradas
No meu anseio a vaguear...
Em mim findou todo o luar
Da lua dum conto de fadas
Eu fui alguém que se enganou
E achou mais belo ter errado...
Mantenho o trono mascarado
Onde me sagrei Pierrot.
Minhas tristezas de cristal,
Meus débeis arrependimentos
São hoje os velhos paramentos
Duma pesada Catedral.
Pobres enleios de carmim
Que reservara pra algum dia...
A sombra loira, fugidia,
Jamais se abeirará de mim...
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)