PREDESTINAÇÃO (Poema Tríptico)

Foto de Lou Poulit
Autor: 

MANHÃ I

Há dias, Mulher, em que dias hibernam,
Como cios em que se deveria amar.
E dias que tardios anunciam:
O amor vem... E nada o poderá evitar!

Como ígneos folguedos cósmicos
Astros saltam reluzindo, acima do mar,
Das profundezas do desejo vindo.
E na areia a luz de um gozo rendado,
Extrema unção de um amor guardado,
Prenda-fruto do silêncio e da madrugada...

Ambas fugidias...
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.

TARDE II

No entorno do sol se ergue uma ciranda
De palmas morenas escritas por Deus...
Os sonhos meus andam apenas
Centúrias pequenas, que eu mesmo cri.

No entorno da rua em que habitam passos meus
Não quis Deus nenhum cão nos portões,
Mas vagalhões vieram de longe
Ilhar de olhares vários meus olhos perdulários,
E varrer do poente os meus azimutes de monge...
O rastro não mente, eu mesmo o escrevi.

Areia antiga...
Que amor te trouxe, Branca, a perdê-los,
Os brancos fios dos meus cabelos?

NOITE III

No fundo do covil, ao rés do céu,
Prostrou-se (quem viu?) o cajado como um manto.
Nenhum fogo apagado aquece tanto...
Só a morte em que não se morra, só a borra de aço-mel.

Ah, Tristezas, que me fizeram dulcíssimo mecenas,
Palmas morenas (em que eu não previ proezas)
Te aguardam, madalenas,
Porque uma só Madalena haverei de tocar, tanto...
Mesmo antes de chegar, sanha e pranto,
Essa vaga já me alarga, com o tanto que é feliz.

Desencanto: Dalva-Lis...
De lãs que não vesti mas, por um triz, já me afaga.
Há manhãs, Mulher, que jamais teriam paga.

(Itaipú, 30/ago/2007)

Comentários

2
Foto de Joaninhavoa

Olá
Lou Poulit!

"Predestinação", poema tríptico, todo ele muito bem concebido, de estrutura mais complexa que o habitual.
Manhã I, Tarde II e Noite III, compostos de versos bem interligados e riqueza de vocabulário.
«...Almas fugidias
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.»
Porquê fugir? Quando há predestinação?
Agradeço, por ter tido o prazer de ler seu poema!
Aí tem voto?
Tem.
Grande abraço, de
JoaninhaVoa

Joaninhavoa

Foto de Lou Poulit

A julgar pelo "habitual", minha amiga é leitora contumaz dos meus textos... Tens razão, no mais das vezes meus poemas de versos livres são construídos em um formato mais simples. Que bom que vc gostou do truque escondido nos versos aos quais fez referência.

Com mais frequência do que imaginamos, fujimos da nossa predestinação. No caso deste poema, acho que o "eu" lírico faz isso porque sua conciência astral sabe que a predestinação une as duas almas e os dois tempos e uma coisa só, e também porque sente que serão muito felizes. Ora, querida, quantas vezes receamos pelo que desejamos? Maquiamos isso de várias formas. A poesia serve para mostrar o ser, nu e cru, tal como o é, apesar dos metaforismos.

Mui grato pelo seu elogio generoso. Beijos e pius.

Lou Poulit

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