Na solidão do meu remorso do bem que pude fazer e não fiz,
porque não pude ou porque não quis ?...
Eu revejo meus erros e me transformo em borracha;
borracha que apague a razão de aqui estar !
Na solidão do meu erro, do cometido consciente
ou do inconsciente assumido,
eu choro pelo vazio não preenchido,
pela vaga existente...
Por ficar, não ter ido...
Na solidão da minha mágoa sentida eterna e cadente,
eu revejo a ternura que em ti vive,
o carinho ardente do amor que busquei e... não tive.
Parto então em nuvens de gritos abafados
dum coração que arde sangrando,
não pela cruz que carrego mas pela cruz que outros,
irmãos meus, vão transportando.
As nuvens abafam meus gritos
sufocando as gargantas dos Deuses,
que nos seus pedestais,
me negam suas existências para num só Deus,
eu me mergulhe no cais.
Cais onde aporto meu arfar;
cais onde aporto meu ardor;
cais onde me fico, onde me sinto,
onde sou aquilo que sou !
As amarras então se me soltam e do cais me vejo partir...
Para onde vou ?...
Se é aqui que sinto que sou !...
Então, me agarro mais uma vez
e as ondas me embalam devagarinho...
ora fortemente, ora docemente...
E, então, o frio me invade.
Mas é nesse frio que me aqueço;
no frio das lágrimas dos que lentamente
enchem os sulcos do meu mar, deixando antever,
num só olhar, os adeuses perdidos
os choros sentidos
dum barco, só...a navegar !
E as amarras se me soltam...
e as ondas se revoltam...
e os outros barcos nunca mais aportam !
E na solidão do meu remorso do bem que pude fazer e não fiz,
sinto-me voar em altos céus
desejando vencer a inércia do meu desejo,
lutar a teu lado, meu Deus,
sentir-me junto, como um afago,
vencendo os medos,
vencendo os choros,
vencendo as ondas,
vencendo os gritos !
Quim Nogueira