Poemas Inéditos para Colectâneas

Foto de Joaninhavoa

Num piscar... (Poema em construção...)

***
**
*
«... e foi naquele momento
de fantasia que saltei e mergulhei
um estado de tábua rasa
um clik um piscar
um mar de naufragar
...».

Joaninhavoa
(helenafarias)
2012/05/24

Foto de William Contraponto

Espero de Ti

Eu não espero alguém civilizado
Que saia dum conto encantado
Eu não espero alguém sensato
Para dizer o que fazer
Se formos vítimas de outro boato

Eu não quero chegar em casa
E ver você num sofá
Eu quero um amor que diga “sei lá”
Que não se importe com a grama a cortar
Mas quando eu precisar, vá
Onde for para me encontrar

Eu espero que sejas verdadeiro
Demonstre sua face direita
Pois a esquerda já é suspeita
Por ter chamado minha atenção

Eu te quero livre ou ocupado
Sem medo do que vão falar
Te espero sem pecados
Para juntos todos praticar

Foto de carlosmustang

CORRIDA APAIXONADA

Já vi alguém ir embora
Mas não dei valor
E outros alguém se foi
Fingi que não notei

Todos observam alguém que deixei
Mas não Melissa, essa gata
Essa gata que amei
Tão surpreendente que a deixei

Bela não podia me deixar
E eu a deixei
Bela quis, eu a amei

Bebe, não me deixe
Eu ti amei
Se viver aqui,te amo

Foto de Joaninhavoa

Timbre...

***
**
*
«... uma bandeja de palavras
desenhadas
uma obra uma empreitada
transmutada
um círculo um quadrado
um redondo
uma metáfora algemada
d`algum anil d`cariz
timbrado.»

Joaninhavoa
(helenafarias)
2012/05/23

Foto de Remisson

À minha mãe

Quisera hoje ver-te, ó mãe querida,
contigo estar no meu torrão
e te contar da minha Vida,
da dor que me aperta o coração.

Quisera alegrar teus olhos cansados,
curar da falta a grande ferida
que te faço e me fazes. Já quebrados
os meus planos, minh'alma está partida.

É tão longa a distância, mãe amada,
que me consola esta página amarelada
onde me debruço a chorar o meu tormento.

Contudo, mãe, se são desfeitos os meus planos,
meu Coração, mesmo entre tantos desenganos,
tanto te ama e não te esquece um só momento.

Foto de Remisson

Substância

Para Rosangela de Fátima

Encontro-me tantas vezes pensando em ti
e visualizo tua perfeita forma de mulher,
o dia a aflorar-te nos lábios de veludo,
a noite a escorrer-te pela seda dos cabelos.
Se estás longe de mim, dia após dia
transformo-te na delícia do fruto que aprecio,
no frescor da água que me sacia a sede
e na substância, enfim, que me permite o amanhã.
Posso te sentir na suave brisa matutina,
nos primeiros raios do sol que me aquecem
e ouso ver-te em cada objeto, em cada rosto,
em cada gota de orvalho da verde grama
e no ruflar das asas das andorinhas...
Sou pequenino ante tua presença
e obscuro na tua transparência,
mas meus olhos mantenho cerrados
enquanto o dia corre,
enquanto a hora vital não chega,
até que te encontro, nascida do nada,
florescida, cristalina ante meus olhos,
e bebo da taça dos teus lábios
e aqueço-me do sol do teu sorriso
e me desfaço em infantil alegria...
E vão-se do meu rosto a sombra e a amargura
e tudo o que me faz sofrer quando não te tenho.
Onda que vem
e que vai
e vem novamente
e torna a partir,
mas que não escoa nunca,
neste oceano de delícias que é o teu corpo,
que banha o meu corpo,
que faz nascente o sol no meu rosto.
És a delícia, a doçura dos meus dias
e a cada hora te espero
para reinares sempre em minha vida

Foto de Remisson

Transición

¡Es tan frío el hueco, tan oscuro el huerto
donde depositan mi cuerpo doliente!
—¿Cómo el hueco es frío si el cuerpo está muerto?
A partir de ahora sólo el alma siente...

Ah! Esta cama tosca donde estoy echado
y este cuarto oscuro y tan bien cerrado!
Quiero levantarme, pero estoy cansado...
¿Que rumor es ese en el cuarto al lado?

Hay un jardín cerca: siento aroma a flores.
Quiero levantarme, pero estoy cansado...
Estoy tan cansado pero sin dolores.
Y el rumor aumenta en el cuarto al lado.

—¡Bajen el cajón!— dice alguno ahora.
¿Quién murió en tanto estuve durmiendo?
Cercano a la puerta oigo alguien que llora,
lamenta la suerte de quien va partiendo.

Quiero levantarme, con fuerza tamaña
inertes mis manos y mi cuerpo duro.
Reza el sacerdote en una lengua extraña,
mientras quedo preso de este cuarto oscuro.

Va cayendo tierra sobre mi tejado.
Parece que el mundo se está derrumbando...
El aire me falta del cuarto cerrado
y una multitud fuera está llorando.

Siento un temblor leve, un escalofrío...
Casi nada escucho; nada estoy sintiendo.
¿Por qué no me sacan de este cuarto frío?
Alguien murió mientras estuve durmiendo.

¡Es tan frío el hueco, tan oscuro el huerto
donde depositan mi cuerpo doliente!
—¿Cómo el hueco es frío si el cuerpo está muerto?
A partir de ahora sólo el alma siente.

Traducción: Graciela Cariello, para la Revista Internacional de Poesía "Poesía de Rosario" N. 18 (http://www.revistainternacionaldepoesia18.es.tl/)

Foto de Remisson

Os dançarinos

Melancólica e sonolenta, eis a Lua,
Flutuando sobre as águas do oceano.
Alheio a tudo, imerso na noite e no mundo
Meu pensar também vaga neste plano.

Ei-la, imagem erradia na pista do mar,
Entrando, dançando, bailando nas ondas vadias...
Minha imagem também entra, dança, baila
Embalada pela aquátil melodia.

Qual casal de dançarinos da esperança,
Vestidos de amor e de alegria
Deslizamos sobre as águas nessa dança.

Já desperta e alvacenta, eis a Lua,
Causadora dessa bela fantasia
Que nos tira do real e nos flutua.

Foto de Remisson

Realeza

Por que em tudo quanto vejo cuido vê-la?
Por que não fico um segundo desta vida
sem pensar na minha amada e esquecê-la,
se é uma jóia que pra mim está perdida?

A cada fim-de-semana tão sofrido
me transformo nas flores que lhe oferto,
mágica forma que creio ter aprendido
para vê-la, pra senti-la, pra estar perto...

Abdico hoje da tristeza,
do sofrer e da amargura abdico,
qual um rei que não quer na dor a realeza.

E como antes para tê-la eu me dedico,
para ser rei, mas rei feliz e tenho certeza:
quando a tiver, serei de todos o mais rico!

Foto de Remisson

Poema furtivo

O poeta ao falar de si fala dos outros,
que cada um tem um quê do outro.
Tudo é como se fosse um amarrio de cordas
seguidas, compassadas, continuadas.
O poeta ao falar dos outros fala de si,
que cada um outro tem um quê de nós,
cada um vive a vida alheia sem saber
e morre na morte do outro.
Cada poema é impessoal, é de todos,
ainda que impregnado de evidências da mão.
O meu seu poema dele não existe.

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