Poemas Inéditos para Colectâneas

Foto de Arnault L. D.

Fora do Prazo

Se houvesse, amor ausente,
uma trégua para nós,
eu iria estar contigo,
lhe traria um presente...
Novamente o mundo a sós
abrindo espaços sem perigo.

Poderia ser a natureza,
que impele aos desejos,
impele a fazer promessa,
pele arrepia sem defesa
à eminência dos seus beijos,
em que a volúpia se confessa.

No ruborizar do rosto,
na língua o gosto tão bom
que seu corpo inteiro aboca.
Que ao si provar exposto,
espontâneo feito um dom
transcende-me a fome louca.

De alimentar-me a alma
da sua carne, que saliva,
até o soluçar do gozo
e o êxtase pousar a calma.
E não mais posto a deriva
retornaria... ao lar ditoso.

Foto de Arnault L. D.

Sementes nos bolsos

Eu trago sementes no bolso,
nos lábios, alguns assovios.
Acordes abertos e esparsos
das músicas que à mente ouço.
Soam preenchendo os vazios
do cotidiano que esgarço.

Na guitarra, as notas trago,
que ainda não foram tangidas;
na língua o sabor das palavras,
sal, açúcar, acidez, que trago
dos falares e nas bebidas
no degustar do corpo trava.

Preso de mim, em mim se encobre.
No potencial sem uma trilha.
Sou um desconhecido íntimo,
minha fina pele a carne cobre.
O espelho d água o céu espelha,
e o céu lhe guarda a profundidade...

Mergulhado, imerso as entranhas,
nos bolsos a vestir as mãos.
Olhando nas poças o luzir esboços,
assoviando canções estranhas,
desconhecidas, e minhas são.
Eu trago sementes nos bolsos.

Foto de Angelgoiabinha2

Pesar

Hoje eu queria um pincel
uma tinta que colorisse o papel
uma inspiração trazida do céu
para minha vida poder alegrar

pesar!

Hoje eu queria um poema bonito
e o sorriso mais belo
talvez reerguer meu castelo de sonhos
que a guerra cotidiana fez questão de derrubar

pesar!

Hoje eu queria voltar a infância
ser a menina de tranças
e não viver de lembranças
que o tempo fez questão de apagar

Foto de Francisco Petrônio Ferreira de Oliveira

Acasalamento

Meu bem, de olhos de sanhaço na muda
desancou-me, deixou-me assim, tão ai
que nidifiquei de amor.

Foto de Arnault L. D.

Seguindo estrelas ( navegante )

Enquanto a estrada
ligar o lá ao sei onde?
enquanto a esperança se esconde
no horizonte inalcançada.

Cheirarei a rosa dos ventos,
o perfume da estrela...
No afã de assim vencê-la,
ou na ilusão dos momentos.

Corre de mim o limite
neste olhar que se desfoca,
na humanidade, que soca
o falível que a alma omite.

Do sopro, encho as velas.
Este, que respiro e suspiro.
Enquanto o mundo orbita, eu giro,
a lugar sei lá... seguindo estrelas.

Foto de Francisco Petrônio Ferreira de Oliveira

Abandono

Não bastasse
que se batesse
contra toda parede branca
que havia, avezinha tonta,
bateu asas
e deixou sozinho,
no ninho,
meu coração de passarinho.

Foto de carlosmustang

"Paixonites"

Na maioria das meias duzias de "Paixonites" que tive na porra da vida, essa foi a mais estranha, rapida no envolvimento, vagarosa e grudenta de passar. O lado positivo, descobri cataratas avançadas em mim, que precisam ser tratadas, e meus olhos não me trair mais!

Foto de carlosmustang

Dignificando o Desejo

Meu amor é por um amor sábio,
De uma linda fêmea criadora
Preencheu meu coração vago
Com intenso carinho, formosura

No seu encanto feminino, linda
Sonha com um desejo não egoísta
Quer amor, somente a pura alma
Em sua cela, meu altruísmo a acalma

Eu, em contenção ao que sou
Cheio de Pulsão e amor
Um macho a possuir o seu mel

Fazemos-nos a grunhir de paixão
Eu no embate cortejando essa mulher
Ela evoluída instintamente, num amor voyeur!

Foto de regislima30

Sentimentos Controlado

Tentei de todas as maneiras, controlar meus sentimentos. Hoje percebo e entendo que posso viver 2,3,4 vidas e nunca vou conseguir controlar. Sentimento não se controla sentimento se vive" Quero aproveitar cada instante com você sem pensar no amanhã.

Autor Régis Ferreira

Foto de Arnault L. D.

Palavras sombrias

É preciso apagar as luzes
para qu’elas possam sair,
são as palavras noturnas.
Rompendo as covas e cruzes,
quando o breu as sobrevir
abrem elas suas urnas.

Entidades do escuro,
esperam a madrugada.
São também tão obscuras,
intimas do desconjuro,
que as faces enevoadas
mimetizam com as sombras.

Não espera, quem escuta.
Desapegam sua pena;
noturnas palavras são...
Ocultas, que a luz refuta.
Que o belo Sol condena
as frestas da escuridão.

Poesia do não poético,
das ruínas, do abandono,
de toda coisa sem brilho,
da contrário, do não rico,
das noites que falta o sono,
do amanha ao andarilho...

Do vulgar, do ofensivo.
O sutil prumo do desesperar
entre o apetite e a fome,
que suspende o lírico objetivo.
O que brota do esterco a florar
nutrido da dor que consome.

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