Seus olhos. Esses são seus?
Quais? Não os vê? Feche-os, morda-os, arranque-os!
Vejam os cegos olhando pra você. Por que tu não os vês?
Cortinas abertas, o espetáculo já começou. Sorrisos rasgados, luzes, aplausos. Veja!
Interprete a facécia desse seu escuro. Sua sombra... Ela é sua? Observe os movimentos oculares
Luzes ascendem. Brilhos, reflexos, criam-se os versos! Escritos seus sobre uma luz sombria
Cartas incandescentes! Por que tu não as vês?
Seus olhos trêmulos, preocupados. Cílios longos, escuros, colados
O sol raiou! Coisa essa que sua visão jamais contemplou
Detalhes percorrem as luzes. E tu, cego estás
Um mundo fechado, as mesmas palavras, os mesmos finais
O novo te observa. Novos tons, novas cores
Muitos amores, encontrados em novos olhares
Dê uma chance ao mundo vidente, que lhe sorri e lhe mostra os dentes
As cortinas estão se fechando. O sol já está indo e a noite chegando
Mais um dia se passou e você não me disse se é um viajante, um cego, a própria coisa, ou um sonhador
Se não quer ver, essa é sua escolha, sua hipótese, seu querer
No entanto, deixe a mim um dizer! Por que tu velho sábio e conhecedor, se abstém da vida, da glória, do medo, do horror?
(Melquizedeque de Melo Alemão, 18 de dezembro de 2010)