House dos Poetas

Na penumbra de teu quarto
Teu corpo estendido na cama
Desarmado e indefeso
Jaz entre os lençóis amarrotados
De semblante inalterado
Teu rosto amado
Um pouco nublado
Da sombra azulada
Da barba por fazer
De olhos fechado
De riso calado
Teu perfume no ar
Um eterno inebriar
Teus cabelos se espalham
Em contraste ao branco suporte
Que ampara pensamentos
Adormecidos
Ou sonhos vividos
Entregue
Suave
Estás tão perto
Posso estender minhas mãos
E acariciar tua mente
Mais que de repente
Contornar a tua face
Tornear os lábios teus
Afagar os teus cabelos
Percorrer com os dedos meus
Fazer viver a esperança
Que perpetua na lembrança
De teu rosto e o meu
Sussurrar em teu ouvido
Sem dor ou sem gemido
Frases que ocultei
Dizer que me libertei
Das algemas do passado
Que quero viver a teu lado
Que para sempre serei
Mais verdade que sonho
Mais refugio que fuga
Mais abrigo que adeus
Dizer que te amo mil vezes
Olhar nos olhos teus
Mas você está dormindo
Ou é mais um sonho meu?

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

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NÃO QUE EU PRESTE, NÃO QUE EU PRESTE...

Amiga, não te iludas com os meus termos.

São só versos, de um passarinho apenas

De um personagem fácil dos meus ermos.

O anjo protetor das minhas safenas!

Pássara, deixe que o vasto te toque.

Casto, me foque o peito como pasto

Do tépido pântano em que me arrasto

Enquanto me transubstancia a fibra.

A rubra fibra que tateia e vibra

Nas profundezas de um poço celeste

Só quer te ver a paz, de um poço em paz, mas

Digo-te: Não que eu preste, não que eu preste...

Uma Poesia incauta me veste!

Porém não há nisso nenhum perigo.

Amiga, não desdenhes por antigo

O manto que lhe cobre a antiga nudez.

Mas não essa da vez, não essa da vez...

Só quando a rubra vulva emancipada

De novo fulva pertencer ao espaço

Poderás casta descer ao abraço

Desse teu pássaro e da manhã raiada

Sem que tombes ao meu verso mais ruivo

Derradeiro esforço meu de te alinhar

Sem hecatombes por ouvir meu uivo

No altar das deusas (das que sabem uivar).

O anjo que ao te erguer abandonou o nicho

Hoje quer te proteger, como um bicho.

Loba, não te percam essas montanhas

Repletas dos nossos covis desertos

Que sempre estarei nas suas entranhas

Nos teus hormonais momentos incertos

Que uivam à lua a inata grandeza

Rubra grandeza de ser mulher fêmea

À espreita da última folha de outono.

Que o fogo desse nosso altar queime-a

E que seu incenso sublime o sono

E o sonho de querer-te... Poesia

Não te iludas com as destras linhas minhas

Doces bagas das vinhas que cultivo.

Cativo que sou, ermitão cipestre

Digo-te: não que eu preste, não que eu preste...