Trama de Sentidos

Acordei.
Olhei para o despertador que marcava as 4:07 da madrugada e levei a mão à cara. Tinha tido mais um daqueles pesadelos estranhos em que caímos num abismo inexistente e acordamos assustados.
Fui até à cozinha e bebi um copo de água fria, tão fria que tive de beber aos poucos para não doer a cabeça.
Pelo caminho de volta ao quarto olhei para o espelho sem querer e reparei na cara que tinha. Olhos semicerrados, cabelo despenteado, bochechas rosadas e um ar de quem não dormia há três dias.
Estava sem sono e ainda eram 4:20 da manhã, mas mesmo assim fui me deitar na esperança de adormecer e só acordar no dia seguinte perto do meio-dia, mas ao entrar no quarto deparei-me com algo que me parou: notei uma beleza em ti na qual ainda não tinha ainda notado.
Estavas deitado com a barriga para baixo, enquanto que os teus braços envolviam a almofada como se de uma amante se tratasse. As tuas costas nuas moviam-se ao sabor da tua respiração leve, mas ao mesmo tempo intensa. O teu rosto transmitia uma paz contagiante. Os olhos fechados que pareciam ver tanto, a boca levemente fechada e o cabelo deitado sobre a cama, faziam-te parecer um anjo. Os teus braços fortes pareciam mais suaves que as almofadas que abraçavam. O lençol que só cobria metade das tuas pernas, deixava ver a leve sombra da tua roupa interior, até cair sobre a cama na qual assentavas. Com uma perna flectida e uma disposta ao comprido, mantinhas o corpo numa posição que transmitia ansiedade, mas a tua cara dizia o contrário.
Aproximei-me devagar, ajoelhei-me ao lado da cama, tendo a tua face à frente da minha, podendo observar de mais perto as tuas feições. Nada no teu rosto demonstrava preocupação ou tristeza. Parecias estar no paraíso. Aproximei-me e beijei os teus lábios tão convidativos naquele momento, até que te mexeste. Afastei-me para não te acordar daquele momento.
Levantei-me e fui me deitar. Olhei para ti. Tinhas o corpo suado do calor e as mãos fechadas como se tivessem a agarrar a almofada para que ela não saísse dali. Aproximei a minha mão das tuas costas para sentir o calor que emanavas. Aquele calor só teu que me deixa tão segura, que traz tantas recordações, que me faz lembrar de todos os nossos momentos de paixão. Afastei a mão e o olhar de ti. Fiquei uns minutos em êxtase a interiorizar todo aquele sentimento.
Num momento apeteceu-me amar-te tanto e fazer-te tão feliz de modo a que pudesses ter sempre a mente em sintonia com o teu estado naquela noite, mas sentia-me com medo de nem poder deixar-te aproveitar aquelas horas.
Deitei-me ao teu lado e coloquei levemente o meu braço sobre as tuas costas. Estremeceste, mas segundos depois estabilizaste. Senti o odor do teu corpo. Aquele odor de noite misturado com o teu odor próprio.
Ali estavas tu. Na tua mais pura naturalidade. Despido de roupas, despido de pensamentos, despido de qualquer sentimentos, emanando paz, tranquilidade.
Moveste-te. Respiraste fundo e mudaste de posição. Viraste-te para mim, abriste levemente os olhos, um sorriso esboçou-se na tua cara. Aquele que colocas quando estás pronto a fazer-me sorrir, ou a desenhar-me umas manchas vermelhas no rosto e disseste: “Gostaste de passar a última hora a mirar-me?”.
Coloquei as mãos na cara e deixei-me cair em gargalhadas, enquanto me davas beijos suaves na cara para tentar livrar-me do embaraço, mas ao mesmo tempo te rias, deixando-me ainda mais envergonhada!
Quando deixamos de rir, olhaste nos meus olhos, deste-me um beijo cheio de amor e abraçaste-me.
Deitámo-nos abraçados. Pude sentir o bater do teu coração e o sangue a correr nas tuas veias. Pude ouvir e sentir a tua respiração e o cheiro do teu corpo. Pude olhar nos teus olhos e saborear os teus lábios, mas mais que tudo isto, pude sentir, ouvir, saborear, cheirar e olhar o nosso amor crescer naquela noite ao seu máximo.