O noivo infiel

Era quase meia noite, Marcelo arrumava-se silenciosamente enquanto sua bela noiva Silvia dormia - pelo menos é o que ele achava - , pegou a jaqueta nova, banhou-se de boa quantidade de perfume e seguiu em direção ao carro, não sabendo ele que Silvia não estava mais na cama. Beth, uma linda mulher, alta, loira, em boa forma, o aguardava próximo dali. Ele destravou o carro, empurrou-o por uns quinze metros e então deu partida para sua aventura carnal. Silvia rangeu os dentes de fúria quanto sentiu o cheiro daquele perfume de mulher se aproximando: - Oi meu lindo! Se atrasou hein? – É que tive uns probleminhas com o carro meu amor, mas o importante é que estamos aqui juntinhos. Beijos e abraços calorosos foram trocados e Silvia lutava para conter sua raiva e manter-se inerte no fundo do carro. Marcelo segue pela deserta estrada cidade a fora, não quer correr o risco de ser visto por nenhum conhecido de Silvia e, como de costume, dirige-se para um restaurante-hotel a alguns quilômetros da cidade e, incomodada com esta fuga, Beth o interroga: - Marcelo, preciso que me esclareça algumas coisas. Você é muito misterioso para mim, me promete tantas coisas, se declara com tanto romance mas até hoje durante estes três meses que estamos juntos nunca me levou em sua casa nem me apresentou a ninguém e ainda por cima só sai comigo para lugares afastados, sinceramente estou começando a desconfiar que você é casado. – Que besteira meu amor! Eu não trocaria você por mulher nenhuma neste mundo. Estes últimos dizeres soaram como um tiro no coração de Silvia que deixou o instinto animal assumir o controle e atirou-se violentamente sobre marcelo quase arrancando-lhe as orelhas. Numa reação desesperada com o coração a ponto de infartar Marcelo após umas duas derrapagens de cada lado consegue parar o carro no acostamento. Sem saber o que fazer ele se vê diante de duas feras vociferando a seu respeito e diz: - Vamos sair desta estrada, vamos pra casa conversar com calma que aqui é muito perigoso. Desesperada e distribuindo lágrimas Silvia exclama: - Nunca mais saio com você seu cachorro! E não vou entrar em carro nenhum! Solidária com a companheira de decepção Beth grita: - Suma daqui! Estamos bem sozinhas! – há! É assim? Um complô, então tá! Mas não me responsabiliso por nada que possa acontecer – retrucou Marcelo indignado - , entrou no carro e saiu cantando pneu furioso. Não percorreu 200m e ouviu uma grande freada e gritos desesperados. Numa atitude quase involuntária rabeou o carro e voltou rapidamente encontrando Beth já desfalecida e Silvia agonizando em seus últimos segundos de vida. Examinou enlouquecido os dois corpos sem vida no chão, olhou a caminhonete pegando fogo barranco abaixo, caiu de joelhos e gritou com toda sua fúria e revolta para os céus. Saiu insandecido dentro do carro e pôs-se a dirigir no extremo da rapidez, parecia querer fugir do destino. Pouco tempo se passou e avistou uma mulher de branco parada de costas no acostamento, vestido sujo e rasgado, longos cabelos pretos levados ao vento.. freiou bruscamente ao lado da moça: - Silvia! Silvia! Meu amor! Por Deus entra aqui rápido! Naquele momento uma figura de rosto pela metade e órgãos expostos se vira e diz: - Quero uma carona Marcelo? Ele pisa no acelerador com tanta força que quase quebra o pé e de olhos fechados rezando, desesperado, acaba por se embrear no mato e para o carro. Respira fundo tenta se acalmar, tenta se convencer que aquilo não pode estar acontecendo quando ouve um barulho no mato acende os fárois e surge a imagem de mulher loira, banhada em sangue com os braços estendidos a frente. – Quero uma carona Marcelo! Marcha ré e só se viu mato e poeria subindo para todos os lados, motor ao máximo marcelo ja conseguia ver as luzes da cidade, totalmente descontrolado acabou por bater em um poste. Saiu do veículo cambaleando as pressas, mão na cabeça que sangrava um pouco, pôde avistar duas pessoas vindo ao longe, segurando sandálias nas mãos, no fim da deserta rua, foi quando pensou consigo mesmo olhando para cima: - Graças a Deus. Quanto retornou a visão para frente as duas mulheres já estavam bem diante de seu nariz, olhos negros e vazios, mãos geladas seguraram-lhe os braços. Faltara-lhe a voz e antes que pudesse morrer do coração escutou a voz suave de Silvia: Calma meu amor! Eu estou aqui foi só um sonho. Repleto de alívio, mãos ainda trêmulas, Marcelo abraça Silvia energicamente e declara: - Eu te amo tanto! Você é a mulher, a única mulher da minha vida! Olha pro relógio, é quase meia noite, pega o celular e corre para o banheiro. – Alô, Beth? Não tenho sido muito honesto contigo, infelizmente não poderei sair mais hoje nem nunca mais com você, eu amo outra pessoa, adeus.