Templos

Foto de Carmen Lúcia

Jesus Cristo dos Shoppings

As ruas das cidades engarrafadas,
Criaturas com embrulhos, de sacolas carregadas,
Num corre-corre pra lá e pra cá, agitadas,
Surpreendem-me, exasperam-me, atropelam-me...
Será esse o espírito de natal?
Levando as pessoas, ou por bem ou por mal,
A competirem...satisfação pessoal,
Por uma vaga de estacionamento
Num Shopping Center Magistral?
Numa explosão de fúteis sentimentos,
Extirpando valores, preciosos bens sociais!
Contemplo abismada o óbvio discrepante,
Imagino formigas gigantes em escadas-rolantes,
Em zigue-zague, buscando futilidades...
Cidades modernas, viadutos arqueados,
Amplas avenidas, reluzindo nos megawatts,
Tudo reluz, tudo conduz ao desejo assoberbado
Do poder de aquisição, de exposição, de ter e nada ser.
Soam as doze badaladas!
É Natal! Jesus nasceu !(E morreu!)
O trânsito congestionado é testemunho cínico
De um povo congelado, sentimentos flagelados,
Com a comprovação de meu olhar profundo e clínico.
As lojas estão cheias e os templos vazios
(Mesmo os que habitam em nós)
De orações, de devoções, de boas intenções...
Hoje o Natal foi destituído,
Por um termo genérico substituído...
A essência que outrora comemoramos
Trocada por "Festas de Fim de Ano..."
Nada mais é como era antes,
Das vendas, Cristo é um estimulante.
E às crianças famintas(mas esperançosas),
Assustadas pela violência...O que dizer?
(Recomendo a consciência, para esclarecer)
Após a ceia farta e amigo-oculto...
Feliz Natal ou Boas Festas?
Que belo indulto!

Foto de KarlaBardanza

Devadasi Amando...

Seda pura, mirra, henna,
sari, kajal, o Taj Mahal...
Sou eu e você na Índia
em alto astral.
Danço Odissi...
Quem te disse
que a Índia não é aqui?
Sou uma devadasi.
A tua face é música carnática...
Enfática te grito flores,
odores, incenso de jasmim.
Você é tudo, enfim.
Meu mundo é essa viagem
de colares, xales e beleza.
A Índia é uma princesa
de cabelos perfumados.
É um templo de deusas e poesia.
Sou eu beijando o teu dia,
com ares de sonho e silêncio.
Divindades, véus e céu...
sou eu te mostrando a vida
por um novo lado.
E nesse instante, nosso sonho é inventado.
Tâmara, româ, especiarias...
Onde irias se não fossem
meus braços de espera?
Mudras e mantras...
Onde irias sem essa
que te encanta?
Minhas mãos e pés pintados de vermelho...
Veja-me neste espelho.
Sou eu com minhas pulseiras,
e tornozeleiras de guizos.
Te aviso,meu tudo...
Nosso mundo cabe entre o beijo e a noite...
Minha alma floresce
e te oferece uma guirlanda de amor.
Abra as mãos.
Entenda o rito.
Abra seu sorriso de erva-doce
e abrace este aroma de canela.
Te devoto esta dança...
Te ofereço esta canção...
Sou eu esta pérola no teu coração...
Lírios de luz e vento,
finas sedas, diamantes de sol...
sou eu me revelando como um girassol...
Sou eu dançando Bharatanatyam...
Sou eu te amando,hoje, sempre
e mais amanhã...
Namaskar,Namaste...
A Índia...eu e você...

Karla Bardanza

*As devadasis eram dançarinas agregadas aos templos hindus e devotadas exclusivamente à adoração do deus Shiva, o “Supremo ator”. Oferecidas ainda meninas aos templos por seus pais, eram consideradas esposas do deus e, de fato, se casavam com ele em uma cerimônia semelhante ao casamento tradicional indiano. Eram educadas por grandes mestres na arte da dança e se apresentavam nas cerimônias do templo.
* Odissi e Bharatanatyam são estilos coreográficos de dança indiana

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