Tema

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Análise duma poema de Luís de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Este poema não intitulado, escrito por Luís de Camões, apresenta como tema principal a paixão do sujeito poético para coma sua amada, que, para tristeza, morreu jovem. Como a amada do sujeito poético já se despediu para sempre, o tom desse poema é simplesmente revoltado por um ambiente amargo e triste. O poema também tem a função de revelar a saudade do sujeito poético à sua amada que, provavelmente, o pode ouvir do céu. O poema é constituído por quatro estrofes, duas quadras e dois tercetos. As duas quadras apresentam rima interpolada e emparelhada e os dois tercetos rima cruzada.
A primeira estrofe introduz a situação dos amados. Logo no início do poema, o sujeito poético invoca a sua amada emocionadamente através da designação amorosa “alma minha gentil”, dando-nos a conhecer que o poema é dedicado a uma pessoa que ele ama com alma. Depois desta apóstrofe, também no primeiro verso, revela que ela já tinha falecido. O verbo “partiste” neste contexto tem o significado de morrer, mas o sujeito poético não quis utilizar “morrer” para nos dizer que a sua amada só partiu para um mundo diferente, mas continuará viva. No segundo verso, o advérbio de intensidade “tão” reforça o adjectivo “cedo” dizendo-nos que ela morreu ainda muito nova. Nos dois versos seguintes o sujeito poético mostra outra vez que acredita que a sua amada continua viva através do verbo “repousa”; o determinante demonstrativo “lá” fez o céu parecer não tão misterioso por ser o local onde ela vive. Note-se que “Céu” é escrito com maíuscula referindo-se ao “Paraíso”. Os advérbios “eternamente” e “sempre” são muito intensos, ambos são sem fim, com a ausência da noção do tempo. Os dois amados estão assim separados pelo céu e terra, pelo que não se vislumbra reencontro.
Na estrofe seguinte, o sujeito poético faz um pedido para a sua amada não o esquecer. O “assento etéreo” é referido como “céu”. Ele suplica para que no céu as pessoas vindas da terra continuem a ter a memória do que se passou com eles quando estavam na terra, para que a sua amada não se esqueça “...daquele amor ardente / Que já nos olhos meus tão puro viste” (es2,vs3-4). A expressão do “amor ardente” está a realçar o quão apaixonado o sujeito poético está pela sua amada, amor que está escrito nos olhos puros dele. Como o adjectivo “puro” significa sem mistura, e os “olhos” são a porta para a alma e coração, caracterizando os seus “olhos” como sendo “puro(s)”, ele quer dizer que tudo nele é somente a paixão verdadeira e honesta por ela.
O terceto que vem a seguir diz exactamente como ele ficou depois de ela ter morrido – doloroso, magoado e sem remédio, que são apresentados em forma dum assíndeto no último verso da estrofe “da mágoa, sem remédio...”. A amada do sujeito poético é como se fizesse parte física e psicológica dele, porque, depois de a perder, ele ficou “sem remédio”.
Na última estrofe do poema, o sujeito poético pede a sua amada para pedir a Deus para que ele morra também mais cedo, para poder ver a sua amada. Na segunda parte do primeiro verso, houve uma inversão “..que teus anos encurtou”. O verbo “encurtou” está, mais uma vez a referir que a morte da sua amada é jovem de mais, a sua vida foi curta de mais. O segundo verso é o pedido que ele quer que a sua amada faça a Deus, o advérbio de intensidade “tão” serve para enfatizar “cedo” que ele também quer morrer, e o desejo que ele quer ver a sua amada. Finalmente, o sujeito poético não se esqueceu de relembrar outra vez a insatisfação que sente pelo facto de o destino ter levado a vida da sua amada demasiado depressa. “Meus olhos” é uma sinédoque, “olhos” é apenas uma parte do corpo mas está a representar o corpo todo, os olhos não podem ver a sua amada é mesma coisa de estar separada dela. Neste verso também o advérbio “cedo” que se está a referir à morte da sua amada, este “cedo”, juntamente com o do verso anterior, formam uma epanalepse. Por fim, a utilização de vários pronomes de segunda pessoa “te” ao longo do poema faz-nos pensar que no pensamento do sujeito poético, no mundo só existia ele e a sua amada.

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Gostar é muito fácil

Gostar é muito fácil...
Gostar é tão fácil...
Talvez seja tão simples,
tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar:
aprenda a fazer bonito o seu amor.
Aprenda, apenas,
a tão difícil arte de amar bonito.
Tenho visto muito amor por aí:
amores mesmo, bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros,
cheios de entrega, doação e dádiva,
mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito.
Apenas isso: bonitos...
Amores que são verdadeiros,
eternos e descomunais de repente
se percebem ameaçados apenas
e tão somente porque não sabem ser bonitos:
cobram, exigem, rotinizam, descuidam,
reclamam, deixam de compreender,
necessitam mais do que oferecem,
precisam mais do que atendem,
enchem-se de razões.
sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre
se sente no direito (e o tem) de reivindicar,
de exigir justiça, equiparação,
sem atinar que o que está sem razão
talvez passe por um momento
de sua vida no qual não possa ter razão.
Nem queira...
Ter razão é um perigo:
em geral, enfeia o amor,
pois é invocado com justiça mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência!
Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto,
da ação, da reação, do olhar,
da saudade, da alegria do encontro,
da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não...
Cheio ou cheia de razões,
você espera do amor apenas aquilo
que é exigido por suas partes necessitadas,
quando talvez dele devesse pouco esperar,
para valorizar melhor tudo de bom que
de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre,
e sofrendo, deixa de amar bonito.
Sofrendo,
deixa de ser alegre, igual criança.
E, sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo.
Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas
e enfeite a ca beça de quem você ama.
Adie sempre, se possível, com beijos,
aquela conversa importante que precisa ter,
arquive se possível,
as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama,
toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção
pode ser toda atenção possível.
Quem ama bonito
não gasta o tempo dessa atenção
cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor, ame.
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente
de tudo o que você teme, como a sinceridade,
não dar certo e depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito),
abrir o coração, contar a verdade
do tamanho do amor que sente.
Jogue pro alto todas as jogadas,
golpes, espertezas,
atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido):
seja apenas você no auge de sua emoção e carência,
exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado,
mas todas as manhãs,
falando besteiras, mas criando sempre,
sentindo o coração bater
como no tempo do Natal infantil.
Revivendo os carinhos que instruiu
em criança sem medo de dizer:
eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito,
ou fazer bonito o seu amor ou bonitar
(a ordem das frases não altera o produto),
sempre que ele seja a mais verdadeira
expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram,
conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Ame-se o suficiente para ser capaz
de gostar do amor e só assim poder começar
a tentar fazer o outro feliz.

Foto de Lilaluzzz

Sexo Virtual (Lilaluzzz)

Mulher de família tradicional, bem criada, com profundo senso moral.

Estudou nas melhores escolas e agora se aventurava pelo mundo da internet.

No início consultava sites para pesquisa apenas.

Depois, começou a entrar em salas de bate-papo. Logo se adaptou ao mundo cibernético, teclando com todos os tipos de pessoas.

Muitas vezes, homens lhe propuseram sexo virtual.

A primeira vez que isso aconteceu ela ficou chocada...


Mandou o cara cuidar dos hormônios e tomar uma chuveirada fria.
Mas depois se sucederam tantas e tantas propostas com o mesmo objetivo... que ela foi se acostumando e nem ligava mais. Simplesmente os ignorava.
Pelo começo da conversa ela já até sabia onde o fulano do outro lado queria chegar.
Eles pecavam pela falta de criatividade ao abordar o tema.
Geralmente começavam com as perguntas padrão... de onde tecla ? idade ? profissão ? casada ? e logo partiam pra pergunta senha, entrada para o mundo proibido: "Como você está vestida ?"
Quando o sujeito soltava esta pergunta, ou até uma outra variação... ela já sabia o que viria em seguida.
Eram todos muito previsíveis, e isso não aguçava em nada o desejo dela.
Ultimamente teclava com amigas virtuais que se admiravam pelo fato de nunca ter feito sexo na net. Todas já haviam experimentado e garantiam que era bom. Uma até lhe disse que melhorou seu relacionamento com o marido depois de uma experiência dessas.
Ela começou a ficar curiosa, mas nem se atrevia a topar qualquer coisa com qualquer um que fosse. Mesmo porque, além de ter fortes apelos de moralidade na área do sexo... ela muito culta, perdia qualquer sombra de vontade se o cara escrevesse uma palavra errada.
Tudo bem, ela não era tão exigente a ponto de se frustrar com um simples erro de digitação, mas erro de ortografia... de concordância nominal... concordância verbal ! Eram suficientes para ela simplesmente deixar o cara falando sozinho !
Se negava responder depois de um "esigente" um "cinal" ou uma "considencia" ! O papo podia estar maravilhoso, eles podiam estar falando até sobre a arte de Van Gogh (pintor que mais admirava) mas se o cara, por uma infelicidade digitava algo estranho

Foto de FERNANDO_JOSÉ

Amar-te (Fernando José)

Para a minha amada Rosinha

Amar-te é um sentimento quente

que está sempre presente

que continuamente se sente...

amar-te é ser audaz

é sentir a tua paz

é querer guerra de beijos

ter a coragem de mil desejos

é querer mimo incontido

é um carinho a partilhar

é sentimento bem sentido.


Amar-te ? Oh amar-te, é alegria

é transformar uma noite fria

num quente aconchego

oh !!! amar-te é pintar o sentimento

aquele que sinto cá dentro

de uma forma total e pura

numa tela bem segura

e saber que o tema a expor

pintado não a uma só cor

será sempre o nosso amor !!

Fernando José

Foto de quimnogueira

Ouvindo a noite...(Quim Nogueira)



alguém a ouve?...

...sentado nesta cadeira de frente para o meu computador, numa mesa de madeira, branca de sua cor, eu teclo nas letras paradas ao redor dos meus dedos...preparo um texto, sem contexto, com uma textura qualquer, talvez de amargura...não me preocupa a forma, nem as palavras que me vão deslizar pelos dedos e destes para o écran que, de vez em quando, olho prevenindo um possível erro de escrita...não me preocupa o tema, mesmo que sem lema não se torna um dilema neste plural sistema de escrever prosa ou poema...

...trata-se de fazer deslizar apenas o teclado pelos meus dedos e deixar sair as palavras da minha mente numa constante busca da semente do significado para aquilo que estou a fazer neste momento...e que faço eu, nesta hora, aqui, sozinho e agora, batendo lento ou apressado nas teclas do meu teclado...olho em frente e vejo um relógio que marca as horas lentas que passam por mim e que marcam o tempo de viver a sorrir e a amar...tudo e todos, sem olhar a quem...somente por amar...

...e que espero eu obter desse amargor doce da alma que sofrendo não chora, pelo contrário, vive e implora...e que espero eu senão encontrar o caminho mais leve que me percorra o corpo como quente neve branca como o luar que lá fora, no céu cinzento, teima em espreitar numa noite fria de chuva que se aproxima do meu solitário estar...

...não percorro os corredores do dia que passou nem choro as lágrimas que retive dos acontecimentos que por mim passaram como uma brisa leve pousando no lugar onde estou e me sinto pairar dentro do meu próprio eu...

...procuro o sentido da vida que não encontro, numa procura constante de mim mesmo, na luta insana da loucura que afasto de mim nem que seja por um instante...

...e esse instante está chegando na forma da noite que se aproxima, daquele estado de espírito que me anima, pois a solidão resta a meu lado sem um mudo som nem qualquer grito abafado de dor...

...e aqui fico...

...esperando a noite chegar para nela me agachar e aninhar...povoar nela os meus sonhos de aqui me sentir e de aqui gostar de estar, neste lado do meu mundo, sozinho, de dia ou de noite, a mim próprio mentindo...

...mentindo-me em constante delírio duma busca que ufana luta me provoca na mente que, pensando, não me escuta...

...e não me oiço a pensar, nem quero sequer isso imaginar; oiço apenas a noite chegar e a sua escuridão me abraçar, sem me possuir nem me ter, apenas me rodeando de um leve prazer por ouvir os seus sons sobre mim verter...

...e vertem-se esses sons em pancadas surdas de palavras mudas, livres e desnudas de sentido ou de intenção...

...a noite traz paz ao meu coração...ouvindo-a, fico sossegado e dou a mim próprio a minha própria mão...segurando-me para não a possuir...para ficar aqui e não ir...

...senti-la apenas num, pequeno que seja, luxuriante som...

...ouvindo a noite, parto para o êxtase do meu ser, não pretendendo ver, apenas ouvi-la...

...dentro de mim, a bater...

Quim Nogueira

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