Sorte

Foto de Carmen Vervloet

Diferenças

Tem gente que nasce
com o gene da alegria
esbanja energia,
sorri, contagia...

Tem gente que nasce
com o gene da sorte
encontra suporte
no sul ou no norte.

Tem gente que nasce
com o gene do amor,
um coração protetor,
devoção para afugentar a dor!

Tem gente que nasce
envolto em fulgor,
atrai como atrai a flor,
impacta com tanto esplendor.

Tem gente que nasce normal,
sem nenhum adicional,
busca crescer sem aval,
um simples mortal,
mas vence afinal!

Foto de carlosmustang

INSTÂNCIA

Passou tempos em te querer
Tanto que nem vi passar
Mas foram tantos que saiu
A mudança foi imperfeita

Nem meu sorriso continua
Fácil de expor, só dor
Estrada tão imperfeita
Caminhei tanto com sorte

Sem nunca entender por amar
Tudo em você a desejar
Sonhar com seu corpo

Vivendo agora essa essa emoção
Revendo todo esse encanto
Corri tanto pra ti reencontrar

Foto de raziasantos

Justiça é tudo que o mundo precisa.

Justiça é tudo que o mundo precisa!

ENTRE O DEVER DE ASSEGURAR, E A PRÁTICA DO ATO ARBITRÁRIO

A população Brasileira clama por mudanças radicais em diversos setores da nossa sociedade. Mudanças em benefícios da saúde, educação, transporte, segurança e muito mais. Sem dúvida a violência sempre foi uma das causas mais repudiadas, com especialidade aquelas praticadas por aqueles que têm o dever legal de proteger e manter a ordem pública, como determinados membros da casta policial, em vista da imposição do terror e de toda sorte de abusos e malefícios disseminados contra uma sofrida classe de pessoas geralmente negras, pobres e acima de tudo, de um poder educacional menos favorecido.

Tais condições de menos valia levam o sujeito a uma condição de baixa auto-estima e absoluta impotência que o incapacita defender a si próprio, familiares ou amigos.

Movidas pelo sentimento de medo muitas vitimas não encontram forças para denunciar seus algozes tendo em vista a insegurança e incerteza quanto ao resultado justo e a certeza de que na larga maioria dos casos é a impunidade que predomina.

O anseio por ações mais rígidas no combate ao crime é plausível, o que não significa dizer que essas ações devam incidir contra a população de forma desrespeitosa desumana e abusiva.

Recentemente passei, juntamente com meu esposo, por uma situação muito constrangedora, gerando constrangimento, injustiça, além dos prejuízos de ordem moral, psicológica e financeira.

Trata-se da conduta abusiva por parte de um policial que ao abordar o meu esposo, apreendeu sua carteira de motorista, além de impor-lhe uma multa, tudo de forma completamente indevida, e posso explicar a razão:

“Ao sermos abordados meu esposo foi solicitado pelo agente de trânsito a apresentar os documentos do veiculo. Ao examiná-los, dito policial os devolveu dizendo que estavam corretos. Meu marido, por questões de respeito à referida autoridade, levantou a aba do capacete para agradecê-lo, momento em que este, quando meu marido já se distanciava para seguirmos viagem, o chamou, destacou uma folha do bloco de multas, e, simplesmente disse: você está sendo multado e a carteira vai ser apreendida por trafegar com a aba do capacete suspensa. Relevante informar que no momento em que a aba estava suspensa, meu marido se encontrava com o veiculo parado, o fez apenas para conversar com o policial, pois poderia o mesmo considerar desrespeitoso falar com ele ‘por debaixo do capacete’.

Foi então que meu marido tentou argumentar os seus direitos, dizendo que não estava trafegando com o rosto descoberto, mas estava parado e o descobriu apenas para conversar com ele. Nada adiantou, a carteira foi apreendida, a multa foi aplicada, e o mais estarrecedor, tal policial sequer deixou com a sua vitima, uma notificação ou qualquer comprovante do ato por ele praticado, num total desrespeito, descumprimento da lei e abuso de autoridade.

Assim, fomos vítimas de um ato totalmente arbitrário e covarde resultando no impedimento do direito de dirigir automóvel e pilotar moto. A conduta desse agente de trânsito vem causando danos e transtornos ao exercício de nossas funções, já que dependemos dos documentos para condução do veiculo que é o nosso único e exclusivo meio de subsistência, pois trabalhamos com eventos festivos e sem o referido veiculo, impossível se torna o transporte dos necessários materiais”.

Ora, estamos sendo tolhidos dos nossos direitos de trabalhar, de trafegar com nosso veiculo dentro de uns Pais que se diz democrático, livre e contra todo e qualquer tipo de ato injusto, lesivo, ultrajante, imoral e ilegal, e sem termos cometidos nenhuma infração. Fomos vitimas de uma inverdade, de uma ação praticada por parte de uma polícia estressada e totalmente despreparada para lidar com pessoas.

Não podemos admitir que na qualidade de cidadãos esclarecidos aceitemos desmandos, humilhações e injustiças, com especialidade em lugar público, cujo conduta foi praticada em presença de testemunhas o que, em tese, poderia servir de ‘alerta’ para impedir-se tamanha arbitrariedade.

A segurança pública é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos (art. 144, caput, da C.F), sendo essencial para o desenvolvimento da sociedade. A Constituição Federal assegura aos brasileiros (natos ou naturalizados) e aos estrangeiros residentes no País direitos, considerados cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser modificados por qualquer que seja o dispositivo constitucional, (art. 60, § 4º, IV), e o cumprimento de tais noras deve ser de forma imediata em prol da população.

A segurança, como direito fundamental assegurado ao cidadão (art. 5o, caput, da C.F), e sob a responsabilidade estatal, deve ser fielmente atendida através das competentes autoridades designadas à tal mister. Segundo Javier Barcelona Llop, “a forças de segurança têm como missão proteger o livre exercício dos direitos e liberdades e garantir a segurança dos cidadãos” (LLOP, Javier Barcelona. Policia y Constitución. Madrid : Editorial Tecnos S/A, 1997. p. 225).

Os direitos assegurados ao cidadão não seria efetivo sem a presença das forças policiais.

A Constituição portuguesa no art. 272.1 estabelece a missão a ser desenvolvida pelos órgãos policiais, segundo o qual, “A polícia tem por função defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os direitos do cidadão” ( LLOP, Javier Barcelona, op. cit., p. 228).

Os direitos fundamentais em determinadas situações, baseando-se na própria lei, pode sofrer restrições. A preservação da ordem pública autoriza as forças policiais a limitarem a liberdade do cidadão, sem que isso configure constrangimento ilegal, que somente existirá no caso de abusoou excesso no cumprimento do seu dever legal.

A missão dos agentes policiais é preservar a ordem pública e assegurar o livre exercício dos direitos e garantias fundamentais do cidadão. Para desenvolverem suas atividades os agentes encontram-se legitimados a empregarem a força, e quando necessário a utilizarem as suas armas.

Porém suas forças devem posicionar-se entre a necessidade de segurança do cidadão e o limite da lei. Não podem arvorar-se como legisladores, praticando atos alheios aos melindres das normas existentes em detrimento dos direitos de defesa do individuo e a coletividade.

Visando isso, é que suplicamos aos nossos jurisconsultos apresentem Projetos de Emendas Constitucionais tornando mais rígidas normas estabelecedoras contra atos criminosos praticados por todo cidadão independentemente de sua classe social ou qualquer outra condição. Como também, é de bom alvitre que haja aparelhamentos específicos no sentido de melhor orientar e preparar essa classe de autoridade nociva à sua própria corporação e a saciedade em geral. É o que esperamos!

Foto de imaginação

Meu vazio

Não tenho problemas em admitir que meu vazio está cheio de você.Cheio não quer dizer que está tudo bem é está saturado, somos enganados o tempo todo, no caminho e na estrada.O caminho é a tua escolha e pode ser leve e tranquila, a estrada é o sólido o firmamento que te conduz e percorre-la pode ser, pesada e cheia de buracos. Mas se estivermos sorte, talvez encontre quem me ajude a ir em frente.

Foto de Allan Dayvidson

Eu gosto de você

"É a declaração modesta de que não posso garantir que as coisas darão certo, mas prometo ser o mais honesto possível. É a possibilidade de me tornar alguém que te segure pelo braço caso você tropece... Eu não sou perfeito, mas não vou deixar você cair..."

EU GOSTO DE VOCÊ
Talvez eu perca o resto de minha eloqüência
E comece a dizer bobagens na sua presença;
Talvez comece a esbarrar em tudo que aparece;
Talvez tropece; talvez caia...

Talvez passe falar mais seu nome no meio das frases;
Ou talvez tente fugir e me proteger sob disfarces;
E pode até ser que, mais cedo ou mais tarde,
repita rigorosamente as mesmas falhas...

É que...
eu gosto de você...

E é possível que uma hora eu me sabote,
Mas digo por aí que apenas não tenho sorte,
Só porque ainda não garanto ser forte
E apenas me entregar....

A verdade é que esgoto todas as minhas forças
Pra garantir que eu não desmanche
Quando você cair na real e eu perder minha chance
E confirmar que sou só alguma farsa...

Mas eu...
Eu gosto de você...

E não tome este poema por uma desculpa ou algo assim,
Eu não sou nada fácil... mas gosto de você
Também não tô pedindo que dê esse passo por mim,
Só escuta bem o que eu disse... eu gosto de você...
Eu gosto de você...

Talvez pareça cedo dizer isso assim sério.
E que eu tô morrendo de medo não é nenhum mistério,
Mas levou uma vida pra eu falar com clareza o que quero
Porque eu sou meu empecilho...

Então, resolvi fazer de um jeito simples e honesto,
Dizer o que vier e depois pensar no resto
Então lá vai sem enfeites, performances e gestos
Só com seu próprio brilho...

É isso aí
Eu gosto de você.

Foto de cafezambeze

CARTAS COM ESTÓRIAS DE ÁFRICA (II/VII) (FEIJÃO MACACO)

Belém, 31/01/2006

RECARREGANDO CARTUCHOS E MAIS...

Uma coisa que gostávamos de fazer era caçar. Uma das poucas opções para passarmos o tempo nas férias. Mas munição custava dinheiro, que era algo que não tínhamos, e armas, nossos pais raramente as punham nas nossas mãos, senão na companhia deles.

O Aguiar, a quem já me referi, nos ofereceu usar a caçadeira do pai, mas... e cartuchos?

Descobrimos que o nosso vizinho, o sr Roque que nem arma tinha, possuia uma caixa com pólvora, chumbo, espoletas, enfim, os apetrechos necessários para a recarga.

Para quem não sabe, e nós não sabiamos, em cada carga, tanto a pólvora como o chumbo têm que ser pesados, e no caso da pólvora o peso varia também conforme o tipo.

Bem, pusemos a mão no material e resolvemos recarregar cartuchos usados.
Para medir a pólvora fomos cortando um cartucho até a encontrarmos. Essa seria a medida.

Cartucho com espoleta nova, enchíamos a medida com pólvora, umas vezes rasa, outras formando um montinho acima da medida (era tão pouco), outras comprimindo-a com o dedo, e lá vai a carga para dentro do cartucho. Uma bucha feita com jornal, cada uma com o seu tamanho, e o resto do espaço livre cheio de chumbo.

Com um saco cheio de cartuchos, chegamos à farm do Aguiar e fomos recebidos também pelo funcionário que na outra estória tinha dado o grito de aviso: cobra! cobra! Lembras? Ele tinha virado fã do teu pai e veio-nos mostrar o seu arco que era uma obra de arte de perfeição de acabamento e, certamente, ganharia de qualquer coisa industrializada. Me lembro que só tinha uma flecha. Se acertasse algo e o animal não caísse, ficava na pista dele o tempo que fosse preciso.

O teu pai pegou no arco e na flecha e começou a mirar uma pequena tabua de uns 20 x 40cm que estava encostada nuns bambus a uns 50 metros. Ele nunca tinha atirado com arco e pensei que ele só estava testando o arco...Que nada! A flecha partiu e foi cravar-se no centro da tabua.
Chiii!!!! Chiiii!!! Tem cuche-cuche! ponta maning! gritava o moço. Chi é uma esclamação de admiração, cuche-cuche é a palavra para feitiço, ponta é pontaria e maning era usada como muito/muita com concanetação de máximo.
Sorte de novato! Tentamos que ele repetisse a façanha, mas ele não caiu na armadilha.

Quando pegamos a caçadeira do pai do Aguiar, olhamos de esguelha um para o outro, pois o estado da arma era lastimável. Desengonçada, cheia de folgas, com vários pontos de ferrugem e com cara de quem nunca tinha visto um óleo na vida.
Mas tinhamos de experimentar os cartuchos. Tinhamos tido um trabalho danado e eles estavam tão bonitinhos...

O Aguiar, que ficou com medo de cobras, pegou o trator da farm.
Nos encavalitamos nele e lá fomos nós.

O primeiro tiro foi tão forte que a espingarda e o teu pai rodaram com o coice.
A espingarda ficou inteira?... Vamos continuar. Umas vezes o chumbo caía a poucos metros do cano, outras havia um coice violento, mas não havia estampido. Só um vuuummmm, como uma bazuca. Também sairam tiros normais. Me lembro de uma perdiz que o teu pai enchofrou e de que não se aproveitou nada tal a violência do tiro.
A espingarda do Aguiar não era tão má assim. Devolvemos ela inteira.

Montados no trator, a corta mato, acabamos inadvertidamente por passar numa moita cheia de feijão macaco. Porquê feijão macaco?
É uma vagem parecida com um feijão, mas coberta por uma penugem dourada muito bonita. Só que a penugem dourada, ao menor toque se solta, e provoca uma coceira danada. As rodas do trator levantaram uma nuvem que nos cobriu.
Não tinha parte do corpo que não coçasse. Quando chegamos à farm, já com o corpo vermelho de tanto coçar, corremos para tomar banho. Piorou! A mãe do Aguiar apareceu com uma pomada de não sei o quê. Nada adiantou. Nossa sorte foi um moleque que trabalhava na casa e que não parava de rir da gente. O Aguiar o ameaçava com porrada se ele não parasse com a gozação, mas ele ainda ria mais e emitava um macaco se coçando. Por fim, ele se compadeceu de nós e nos levou para o quintal onde nos deu um banho de terra.
Isso mesmo! A terra esfregada no corpo removia a penugem dourada...

Tãooo Bonitinhaaaa!

Foto de Allan Dayvidson

JEANS

"Um poema sobre ser inspirado pela ousadia, ou coragem ou mesmo pelo impulso criativo daqueles que puderam apresentar perspectivas diferentes, desconstruíram idéias, desestabilizaram algo que estivesse posto... É confortável ceder a ordem das coisas porque sempre parece que qualquer esforço em pensar diferentemente não renderá frutos e que nem mesmo seremos ouvidos... Este poema é um lembrete pessoal de que mesmo que pensar/agir diferente possa não ser o bastante para mudar algo, compõe minimamente uma modesta resistência... Pense na 1ª mulher séculos atrás que pensou que as mulheres poderiam não ser subestimadas, o 1º negro que acreditou que não há inferioridade na cor de sua pele, etc... Pessoas que provavelmente jamais foram ouvidas, sequer conhecidas... Será mesmo que eles não tiveram qualquer participação indireta no modo como tais questões são vistas hoje em dia?... É só uma tentativa de viver mais plenamente o que acredito... Desbote todos os seus jeans!!"

JEANS
=Allan Dayvidson=

Regras são erguidas feito muros ocos de um labirinto empoeirado;
A lógica é sempre de VIPs e Blacklists, de certo e errado...
E você estará realmente de que lado?

Sempre sob ameaça de ser a caça em mais um século do caçador,
dormindo sob uma inadequação estratégica como se fosse um cobertor...
O microdomínio é feito de pesadelos bem orquerstrados.

Mas quando você escapa por entre os dedos
e respinga tinta por aí
começo a pintar até desbotar todos os meus jeans!

E quando você abre janelas
mesmo só havendo paredes ali,
volto a viver até desbotar todos os meus jeans!

Todos estão encarando, fixamente te olhando de cima a baixo.
“O que está fazendo?”... “O que está dizendo?” ... “Sossegue esse facho!”
Você é uma chama e as convenções são inflamáveis

E com sorte é possível ver seu brilho carmesim.
É tão lindo ver todo esse colorido explodir;
Então, não desista... e coloque seu melhor jeans!

Mas o que uma voz ingênua pode
em meio aos gritos de ordem de uma longa história?
Você não sabe, mas não se cala...
e se recusa a facilitar o velho jogo de derrotas e vitórias!

E quando você sai dos mais precisos mapas
e dos mais confiáveis dicionários,
começo a escrever até desbotar todos os meus jeans!

E depois que você for embora,
mesmo que o mundo volte a ser solitário,
Não desistirei fácil de viver...

...até desbotar todos os meus jeans!...

Foto de José Bento

O velho e o rio

Navega o velho no rio
No barco velho, sentado
Ao lado o velho embornal,
Uma espingarda tacanha,
E um facão enferrujado

O olhar pregado no tempo
Absorto a contemplar
Ao longe, ao pé da serra
Uma ovelha a pastar.
E assim como a ovelha,
Também foi com os anuns
Onde haviam centenas
Hoje só restam alguns

Navega o velho do rio
Perdido em seus pensamentos
Trazendo marcas no rosto,
Sentindo o sopro do vento,
Que lhe traz recordações,
Lembranças e sensações,
Da vida em outros tempos

É assim toda manhã,
Antes do sol levantado
Navega o velho no rio
No barco velho, sentado

Segura a velha tarrafa
E a joga com cuidado
Vai lentamente puxando
O cordão todo emendado
Tenta pegar algum peixe
Se é que ainda existe
Porem o peixe não vem
Mas o velho não desiste.

Navega o velho no rio
No barco velho, sentado
Ao lado o velho embornal,
Uma espingarda tacanha,
E um facão enferrujado.

Volta pra casa a noitinha
Vencido pelo cansaço
Trazendo a pele queimada
E calões nos pes descalços
Quem sabe então amanhã
Mais sorte lhe seja dada
No despertar matutino
Ao cantar da passarada.

Lá vem o barco do velho
Descendo pela encosta
Trazendo o velho embornal
E a tarrafa que ele gosta
O barco desce sem rumo,
Parece não ser guiado
Morreu o velho do rio
No barco velho sentado

Desce o barco á deriva
Navegando lentamente
Arrastando-se nas curvas
Buscando o sol nascente
Como quem diz num aceno
Que o barco não volta mais.
Adeus meu querido velho!
Deus te guarde, siga em paz!

José Bento

Foto de Asioleh

Sua Perda

Hoje acordei em prantos,
sonhei que te perdia,
que por outro alguém,
me deixaria...
Me deixaria aos prantos, ao lamento,
minha dor inesplicávelmente desesperadora,
sem vergonha, nem medo,
eu chorei, chorei a dor insuportável que senti
a dor de ter que te ver partir.
Partir nos braços de alguém,
partir para todo sempre,
ali eu era apenas um ser impotente,
que não podia gritar, te roubar,
apenas me conformar e chorar.
Chorar ao te ver no altar,
desmoronando o meu sonhar,
não tenho mais saída
pois não tivemos despedida,
você não me disse adeus,
e eu não te desejei sorte,
hoje quero apenas a morte.
A morte amiga que venha me buscar,
porque eu não quero mais chorar.
Minha alma já se perdeu, está escura como o breu.
Minha dor não tem mais cura, em mim existe apenas amargura,
esperando minha sepultura.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro - Capítulo 9

Por três exatos milésimos, simultâneos, milimétricos, Dimas e a torta, seguros de toda a sorte, sentiam-se maiores que a morte. Mas então a dona Clarisse, e ela é escrita assim mesmo com dois "ésses", para que exista um ar mais nacional-socialista ao texto, interrompeu a alegria. O erro é proposital e sempre foi. Esse texto é um erro. Ele começou como uma história de amor, passou ao gênero fantástico, ameaçou ser sociológico, ou até mesmo filosófico. Meu aviso, aos que aguardaram um final para isso, é que essa estória ao menos não terá um desfecho religioso. Deus, e Ele fez os judeus, os cristãos, os muçulmanos, Deus não me orientou em que época situar os acontecimentos aqui descritos, se são verdadeiros, falsos, se é em primeira, segunda ou terceira pessoa. Mas assim segue. Eis o fogo em seu rosto, meu amigo.
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- Antes de a gente morrer, vou lhe dar o maior presente que se dá.

A torta se torna bonita por um instante.

- O maior presente que uma pessoa pode receber é um nome. Um nome é a identidade de um ser, é a sua alma expressa em um tempo. Um nome, e qualquer nome serve, desde que seja um nome, confere para a pessoa aquilo que há de mais sagrado, que é a sua consciência em fazer parte do mundo, que é se definir, que é ter valor, dignidade, no meio do lixo ou no meio da abastança. Eu vou te dizer o meu nome, Dimas. A única prova do meu amor por você é o meu nome, pois o seu eu já tive o prazer de ter nos meus lábios passageiros.

A vilã interrompe a sequência brechtiana.

- Chega. É hora de morrer.

- Não é.

- É.

- Não é.

- É.

- Então morra primeiro.

A infantilidade da disputa entre as duas meninas tornou uma grave situação de pavor em uma briguinha idiota por razão e sentimento. Mas os presentes e principalmente o autor não se importam com tanto. As mulheres serão sempre reducionistas. Sempre vão turvar as palavras em seu favor, na sua fragilidade superior, na sua sinceridade que nunca menciona tudo. A mulher é o tipo mais fascinante de ser humano, pois nunca em momento nenhum de suas vidas vão reconhecer que são um. Dimas era sonso e manipulável. O perfeito exemplo do que idealizaram Sade e Masoc, ainda que não os tenha lido, bem como os cinquenta tons do cinza, Dimas representa o herbivorismo, o verme que carregamos e nos faz sobreviver em um planeta de falsidades e maravilhas inigualáveis. Ele toma a oportunidade, para se tornar o homem que sempre quis e nunca teve forças para alcançar.

- Lasque-se. Ou foda-se. Vamos sair daqui.

Os capachos se tornavam capachos até segunda ordem. O líder agora mudou de cara.
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E a guerra tomou a tudo e a todos, como já fora imaginado. Não vou descrever o ocorrido, já escrevi oito capítulos, imagine o grande espetáculo, você pode fazer muito melhor que eu. A trama saiu totalmente do meu controle, e o prazer de quando isso acontece é surreal, arcadiano, barroco. Bombas aéreas, pessoas espatifando, "epitafiando", bacanais, como na época da peste negra, uma fila em frente a um campo de concentrações, de lamentações. Músicas ressoavam, vidas tomando e perdendo forma. Tudo dentro de si, da sua cabeça pensante, dos dez por cento que a sua alma declara que usa para a sua consciência, aquilo que você esconde de si mesmo, que não se lembra para a sua própria segurança. Os seus antepassados clamam por serem recordados, os seus antecessores clamam para sentir o calor do nosso Sol. Não se sinta culpado. Você é só uma pessoa, uma pessoa com os complexos e desejos, eu também, não se cobre perfeição alguma, eu vou repetir a palavra pessoa e aquelas que forem necessárias quantas vezes forem necessárias, ainda que não acrescente nada na sua vida. Voltarei agora ao diálogo, compreenda você ou não.
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- Corram, carreguem os que puderem, mexam-se todos, continuem a passagem!

Dimas resplandecia em utilidade.

- O meu nome é Tânia e eu te amo. Eu te amo e sempre vou te amar. Nunca se esqueça que eu te amo. Eu te amo e quero você, vou te prender se for preciso, e vou te prender se não for.

Os corpos seguiam no jogo do trabalho e na dança das mãos.

- O meu nome é Tânia, podia ser outro, mas agora é Tânia. Escute-o. É o que eu tenho pra te dar agora. Pode ser que mude, pode ser que se torne outra coisa com os anos. Mas é o amor que eu tenho para o momento.

Clarisse fugiu com seus olhos laranjas, seu nariz de porco, suas pernas de bode. Ela ficou feia e sem brilho. Talvez o anonimato deveria recuperá-lo.

A torta tinha uma aura que lhe cobria a pele. Era uma linda monstra, uma linda e esplendorosa monstra.

- Dimas, eu te quero para até depois do último dos seus dias.

Não havia tempo hábil para a recíproca.

- Corram, corram todos os que puderem...
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O texto não se define nem erudito nem popular. E ele acabou dessa maneira.

- Eu voltarei, pois só é forte aquele que subjuga o outrem, aquele que tem o poder e o tenta até o último suspiro, aquele luta com o destino na ansiedade de ser imortal definitivamente.

Clarisse dá margem para mais um capítulo, distanciando-se completamente da jovem na qual foi inspirada.

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