Não consigo dormir. Acendo mais um cigarro. Já pensei em descer, sair da cama e beber um copo, mas sinceramente, não creio que seja solução. Um cinzeiro, um maço de tabaco, o isqueiro que me deste, a fotografia que me deste, um lenço humido, uma almofada fria, o sono que me tiraste. E eu choro, choro já sem saber porquê, mas choro, sofro. Olho para ti, tu riste-te. Não sei se te hei-de beijar ou rasgar, queimar ou encostar-te ao peito. Talvez me preencha este vazio, talvez a tua alegria me contagie um pouco. Mas não! Eu quero sofrer. Eu até gosto de sofrer. Eu mereço sofrer. Acendo mais um cigarro. A noite adivinha-se longa. Já nem tento dormir, quero escrever, para amanhã, talvez, te dar a ler. Mas não! Não quero crer, não quero querer. Vou descer e beber um copo. Uma garrafa e um copo cheio, uma sala vazia, o silêncio. O silêncio não! Ouço o tic tac do relógio e o soluçar do coração. Olho para ti, tu riste-te, parece tão fácil, mas não consigo, não consigo, não posso crer, não posso querer. Talvez escrever me distraia um pouco, talvez beber de novo um copo. Outro cigarro, outro minuto e eu dou comigo em louco. Eu estou louco. Eu estou louco. Não sei porque choro. Devia estar na cama. Apetece-me gritar, partir, cortar... Mas não! Prefiro manchar o papel com lágrimas, palavras, bobagens. Não consigo evitar. Olho de novo para a tua fotografia e desmancho-me. Porquê te ris? Devias fazer-me companhia, estar comigo, beber um copo, do mesmo copo, com a mesma sofreguidão, intenção. Mas não! E de pensar que tu te ris para mim, que me amas e eu que choro, por te amar, só pode. Se não te amasse ria-me tambem. Não sou ninguém, não sei amar, não mereço amar, não mereço a tua fotografia, a tua linda fotografia! Tenho ciúmes do teu passado, odeio o teu passado, a tua fotografia já é passado. Já nem sei o que digo. Estou confuso. Talvez um copo me ajude. Talvez um copo me iluda. Devia ir dormir. E o isqueiro que me deste! Tem uma serpente e uma pedra, que também não é preciosa, é da cor do meu coração. Pálida. Morta. Está velho e gasto, partido, mas não fui eu que o partiu. Ou fui?! O isqueiro ou o coração?! Também não sei! Distraí-me, Já não choro! Olho para ti, puxo-te para mim, e rio! Rio-me não! Choro de alegria, desta alergia que é o ciúme e que espero um dia, curar! E eu que só queria, não querer, não poder, mas saber te amar. Enfim, Já me esqueci do que me queria lembrar. Ou já estou bebedo, apaixonado, ou a sonhar. Vou dormir.