Sangue

Foto de Otávio Gomes

A pior Viagem


Quinze horas na estrada, uma longa viagem
ficar longe de ti uma tremenda maldade,
dormia pra esquecer e matar essa saudade
mas acordava em poucos minutos por que via tua imagem

Mas parecia a morte, a luz da passagem
não queria ir embora, ficar contigo era minha maior vontade
ao entrar naquele ônibus que me trazia uma mensagem
para eu não ir, e preparar nossa carruajem.

Teu Véu trazia o céu, mas parecia uma miragem
A noiva dos lábios de mel, com beleza e santidade
Ao mero plebeu deu a chance de teu sangue tua linhagem
Me deu todo seu amor, seu ardor sua bondade.

Se um dia minha senhora eu fizer-lhe algum mau que tenha piedade,
Que seja compreensiva, mas que imponha tua autoridade
Que seja aparente e prove tua veracidade
E eu serei pra sempre teu, por toda eternidade.

By: Otávio Gomes.

Foto de Maria silvania dos santos

Não prometo te esquecer

Não prometo te esquecer

_ Não prometo te esquecer, mas prometo nunca mais te procurar, talvez você não sabe quem sou, mas poderas ter certeza de que a minha amizade você sempre a desprezou, a minha amizade você nunca deu valor...
Por isto não quero mais a sua amizade mendigar, não estou só, tenho outras em outro lugar, o seu lugar, estaras vazio, ninguém irá ocupar, mas poderei eu em outros corações morar...
Não digo que te esqueci, pois nada disto é verdade, se eu tivesse te esquecido não estaria escrevendo o que estarei a escrever nas linhas a a seguir, a única verdade é que estou vivendo uma outra realidade...
Estou do lado de quem és meus amigos de verdade, sei que você é tão carente de si mesmo, que você mesmo colocou barreiras entre nossas amizades, amizade que te tem uma pessoa especial...
Que pena! Você não conhece o verdadeiro sabor da amizade!
A amizade é a raiz da nossa felicidade, é um complemento para vivermos sem tanto sofrermos, esqueceu que é o amigo que nos segura quando tropeçamos, se este não, talvez o outro sim, mas sempre temos uma mão a segurar, a amizade é uma riqueza que não podemos a desprezar...
Pois nossa pobreza, poderar mais tarde nos machucar.
Ainda me lembro quantas vezes dirigi ate você, quis que sentisse que sou sua amiga, você me inguinorou, de chata me chamou, minha reputação no chão você jogou, pisou, pisoteou, cuspiu, meu coração você feriu, sobre minha amizade você dizia que tanto faz...
Cansei, hoje refleti no que vivi, não quero mais mendigar sua amizade, não es necessário, sei que es ovelha perdida e me deixas entristecida, mas irei curar minhas feridas, mas de você, não irei desistir, pois sei que de uma forma ou de outra ainda pensa em mim, sendo assim, ainda viverei eu em sua memória.
Mas agora, prefiro deixar o destino agir, dele, mesmo que queremos não podemos fugir...
Sobre a minha reputação, a qual um dia você jogou no chão, pisou, pisoteou, cuspiu e a desprezou sem pensar no futuro e sem examinar meus sentimentos, confundiu e não sentiu nenhum lamento, hoje eu a reconstri, quero e vou seguir um novo caminho, sei que nosso destino está marcado pelas gotas de sangue que em nossas veias estão misturado. Se um dia você acorda e lembrar da minha amizade, não tenhas duvidas, tenhas certeza que ela ainda existe como sempre existiu, porem com grandes diferenças...
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de poetisando

Pedaços de mim

Pedaços de mim
Pedaços de solidão calada
Pedaços com vontade de gritar
Pedaços de mim de vida amargurada
Pedaços de solidão e de ternura
Pedaços de ingratidão e de tanta falsidade
Pedaços que tento manter com esperança
Pedaços de mim desde tenra idade
Pedaços como ainda sendo criança
Pedaços de sonhadora solidão e de solidão
Pedaços que podem fazer de mim um vencedor
Pedaços de amor e paixão
Pedaços da minha vida
Pedaços de mim para não perderem a ilusão
Pedaços de um coração em ferida
Pedaços de desilusão
Pedaços de sangue do meu coração
Pedaços de mim do meu ser
Pedaços de mim que não consigo dizer
Pedaços restam-me só o eu querer morrer
Pedaços meus cansados de tanto sofrer

De: António Candeias

Foto de carlosmustang

PALAVRAS IRREPRIMIDAS

Se palavras são alimentos
Que encantam sua alma
Nutrem seu sentimento
Te acalma

Sentimentos desiludem
Com palavras estragadas
Palavras malditas, vomitadas
Não se é possivel reengolir

Como flechas,doloridas, atravessou o coração
Contamidas de anseios, espectativas
não atendidas, picuinhas malfadas

Palavras que abalroou e tirou do seu caminho
Nobre sentimento leal ao amor, carinho
Amargou o puro sangue, duas almas separou

Foto de vânia frança flores

Hagar no Deserto

Hagar no Deserto
Gênesis 21: 8 a 21.

Meus amados, vejamos que Deus maravilhoso. Podemos ver que versículo 19 Deus abriu os olhos de Hagar e viu um poço de água. Acontece que não havia um poço de água alí. Mas o nosso Deus faz brotar a fonte no Deserto . Se você está num deserto e não vê futuro nem esperança. Deus quando ouvir a tua oração, as tuas lágrimas ele já deixou preparada a benção para tua vida, abra os teus olhos que você irá ver. Deus esta mandando você olhar com olhos espirituais e verás a benção que Deus preparou para tua vida. Deus está mandando você olhar.

Hagar abriu os olhos e viu a fonte. Encheu de água o odre e deu de beber ao rapaz que estava delirando.

O profeta Isaias no cap. 12:3 está escrito assim: Vós com alegria tirareis águas da fonte da salvação. Sabe o que significa isto? Hagar estava alí jogando água no menino,dando água para ele beber e se alegrando e gorificando a Deus e dizendo: Ismael Deus ouviu você mais uma vez, Deus ouviu a tua oração, Deus enviou um anjo.

Apareceu uma fonte aqui no meio do Deserto eu estou jogando esta água no teu rosto te dando para você beber porque esta água de salvação foi enviada pelo Deus de Abraão, foi enviada pelo teu pai, o Deus do teu pai. Ismael recobrou a vida, foi salvo naquela hora, e veja que Deus não agiu mal com Ismael nem com Hagar, ainda que eles dois tudo parecia um abandono, mas Deus continuava no controle. Amém? Ainda que em muitos momentos da tua vida pareceu que Deus te abandonou, eu te digo Deus continua no controle, está no controle e por isso esta lhe permitindo ler esta ministração e abrir a fonte de salvação diante de você e lhe dar água viva para beber, para te salvar, para te recuperar deste estado de fraqueza em que você se encontra.

Olha que coisa tremenda. Deus estava com o rapaz, que cresceu habitou no deserto, e se tornou flecheiro. Habitou no deserto de Parã: e sua mãe o casou com uma mulher da terra do Egito. Deus tinha prometido que iria fazer deste menino aqui, um rei e que a sua descendência seria numerosa.

Amados quero lhes mostrar no capítulo 16 e ver se Deus agiu bem ou não com Hagar e Ismael. Voltando agora a 16 anos também, na vida de Hagar e Ismael quando Hagar ainda estava grávida de Ismael, aquela primeira vez que hagar fugiu, (hagar quer dizer fuga) podemos ver que a vida de Hagar era uma vida marcada mesmo.

A mulher tinha no nome um princípio de vida. Ela vivia fugindo, o destino dela era fugir. Até de Deus ela fugiu, mas mesmo fugindo no deserto Deus a achou. E aqui no capítulo 16 quando o Anjo do Senhor lhe apareceu pela primeira vez no verso 9 está escrito: Então disse o Anjo do Senhor: Volta para a tua senhora, e humilha-te sob suas mãos. Disse-lhe mais o Anjo do Senhor: Multiplicarei sobremodo a tua descendência, de maneira que, por numerosa, não será contada. Hagar tenho um plano na tua vida, não fuja de mim não. Disse-lhe ainda o anjo do Senhor. Concebeste, e darás a luz um filho, a quem chamarás Ismael, porque o Senhor te acudiu na tua aflição. Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem; a sua mão será contra todos, e a mão de todos será contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos. Ismael vai ser o pao dos Àrabes.Quando diz aqui ele serás como um junto, quer dizer homem bravo. (Voces já viram os árabes conversando?). O árabe quando esta sendo gentil ou mesmo quando ele esta dizendo EU TE AMO, parece que ele esta xingando ou brigando. (é uma atrapalhada de falar alto). Porque árabe fala bravo. E ele será bravo, Deus falou para Hagar. O menino que va nascer será bravo. Não que ele seria bravo, mas o jeito de falar que parecia ser bravo. E Deus prometeu que sua descendência seria numerosa. Deus disse para Hagar: Ergue-te levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo. Deus vai cumprir isto ou não? Vamos ver? Tem que cumprir, pois ele disse que sempre cumpriria as suas promessas em nossas vidas. Vamos ver quem são os descendêntes de Ismael: São estas as gerações de Ismael, filho de Abraão, que Hagar egípicia, serva de Sara lhe deu à luz.

Estes os filhos de Ismael, pelos seus nomes, segundo o seu nascimento: o primogênito de Ismael foi Nebaiote, depois Quedar, Adbeel, Mibsão, Misma, Duma, Massa, Gadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá> Doze principes de seus povos.

Os anos de vida de Ismael foram cento e trinta e sete;e morreu, e foi reunido ao seu povo.

Amados creia que os planos de Deus jamais serão frutados em suas vidas, se Ele prometeu irá cumprir. Não adianta vir pessoas enviadas por satanás para tentar te tirar da presença de Deus ou alguem rogar qualquer praga para a tua vida, porque voce é lavado e remido no sangue do Cordeiro, raça eleita, escolhido e de ti sairá uma grande nação. Deus não vai te desamparar, mesmo que você esteja triste com sua família, um filho(a). Deus vai ter grandes alegrias coma tua parentela, com a tua casa, você vai ver a obra de Deus na tua família. Ainda que você pense que Deus te abandonou, eu te digo, Deus vai cumprir todas as promessas na tua vida, tudo que Deus tem prometido em fazer ele vai fazer.

Agora Deus quer que você se erga, levante desta prostração. Beba da água da vida. Voce estava num deserto, agora você esta num ponto em que Deus esta enviando um Anjo para te dizer. Venha meu filho, venha beber da água. Eu sou o teu pastor.Quero matar a tua sêde e dar vida e vida de verdade, quero te colocar em um lugar seguro, quero te abençoar. Para que seja preciso, precisa que você dê um passo de fé, se você não erguer, e tomar uma posição agora. Deixa a vida errada, ou quem sabe você já conhece as minhas palavras, mas se desviou. Retorne faça a renovação da tua aliança comigo, pois eu sou o teu Deus.

Medite: Uma conciência tranquila, é um travesseiro macio.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro - Capítulo 8

E o gueto seguia a sua sina. Agosto continuava. De um lado, haviam uns pobres-diabos, de sangue quente e ralo, fracos como sua carne. De outro, os de sangue frio, os nobres, os prostituídos. É impressionante como esse universo em que vivemos sempre apresenta dualidades. O bem e o mal, a ordem e o caos, o positivo e o negativo. A vida e a morte. O destino e a discórdia. Parece que a chave da nossa existência, consciente, até que prove o oposto, é o puro e estúpido conflito entre um lado e outro. Como o branco e o preto, o homem e a mulher, eu e você. O amor e o ódio. A indiferença... As aparências enganosas...
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Clarisse, puta e fresca, mandava e desmandava após a morte do déspota Justo. Ela o envenenara, diziam os mais ácidos. De todo jeito, exercia seu poder de forma objetiva, sem rodeios para punir ou matar. A fome crescia. As rixas entre uns e outros esquentavam a frieza da antítese coletiva do buraco onde estávamos. Os tons variavam, para Clarisse, cinza e vampiro, para o povo, vermelho e sombrio. As facções tomavam conta do que o poder não se importava. E a turba, tarada e convulsiva, cantava assim:

- Morte aos infiéis! Aos traidores da fé e radicais! Morte aos sujos, aos virais! Que Deus abençoe os puros de espírito e só eles!

Clarisse ouvia e fingia que não.

- Esse bando de idiotas... Pensam até que fazem alguma diferença no mundo...

Clarisse se enfeitara de todas as jóias, roupas, perucas e os mais escandalosos adornos. Maria Antonieta sentiria inveja dela, se hoje possuísse a cabeça no lugar. Ela fizera um acordo com os dominantes, que poderiam explorar o que e quem bem entendessem do gueto sem interferências, desde que mandassem o mínimo de dinheiro e suprimentos para baixo. Uma troca perfeita. Bugigangas por ouro. Espelhos, pentes, pelo Pau-Brasil. Água potável por celulares. Qualidade de vida pela favela, e por aí vai. Enfim, tudo ia calmo e sossegado, até que os seres superiores decidiram controlar o crescimento populacional do gueto. Seu plano era jogar cocaína nas fontes de beber aos babacas de sangue quente. Marginalizar, culpar, destruir. Mas o efeito que obtiveram foi muito diferente do esperado.
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Pois bem, um Belo dia os dominantes jogaram o pó na água:

- É o pagode!

E o povo continuava:

- É o pagode!

O mantra se espalhava como a sangria de um cordeiro indesejado. Barrabás sorria. O reino dos homem resplandecia em alegria e empolgação.

- É o pagode!

Os dominantes jogavam o pó, jorravam, Clarisse deixa o canibalismo rolar solto. A massa é burra. Mas por ser massa, é manipulável. Quero dizer, todos ali tinham vontade própria, mas podiam ser condicionados. Outra hora eu estava falando com o Skinner, e foi isso o que ele me disse. O Planck discordou, mas o Planck discorda até dele mesmo. Já o Zeca Pagodinho assinou embaixo. Eu gosto do Zeca. Ele é legal.

Não se sabe bem como, mas em determinado avanço do batuque, as macumbas se intensificaram e o fogo começou. Não sei se o fogo foi proposital, se foi um gaiato que tocou, ou se foi uma empreiteira. Eu só sei que a chama subiu pelas paredes, madeirites, celulares de tela plana. O fogo destruia os crediários, os baús da felicidade, as roupas de marca, toda a tristeza de barriga cheia que o gueto alimentava para continuar a receber esmolas. Uma pomba andava os telhados, indiferente à baderna, uma cabra vadia olhava a correria e nada entendia. Eu só sei que a favela pegava fogo e não queria ficar lá para pegar fogo também.
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Eu corria e a torta segurava a minha mão. Os colegas, apesar do amor que eu sentia por eles, tentavam me pisotear e jogar contra o fogo. A tragédia era mesmo anunciada. Clarisse tinha anunciado aos macumbeiros que não interrompessem seus rituais, ainda que fossem consumidos pelas labaredas. A torta me puxava e impedia que a tara de me matar se consumasse.

- Dimas, não deixa esses porcos te matarem!

Não sei bem porque, eu por uns três milésimos de segundo valorizei minha vida. Me imaginei bem e feliz, realizado, sem medo de porra nenhuma. Obedeci a mulher que me amava e segui em frente.
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O fogo carbonizava colegas que eu sabia o nome e que não sabia. a cena era muito feia. As pessoas não tinham onde ficar, crianças choravam, vigaristas encenavam uma tristeza de forçar um choro inexistente, catárticos e sadicos apreciavam a ruína. O lixão da novela parecia um cenário de ficção, se bem que o lixão da novela é um cenário de ficção mesmo. Uma voz de olhos laranjas paralizou a escapada que a torta havia pensado com tanto cuidado.

- Calma lá, seus condenados! Chegou a hora da queima de arquivo.

Dona Clarisse queria nos mandar para o micro-ondas.

Foto de Maria silvania dos santos

Curva do teu corpo

Curva do teu corpo

_ Imagino-me loucamente nos amando, de tanta emoção meu coração quase parando
O meu sangue, ferve entre as veias, quero navegar neste amor e sentir o teu calor. Sangue agitado, amor descontrolado, quero para sempre ficar do teu lado.
Teu corpo, de desejo me consome, quero te sentir meu homem. Quero navegar com emoção, a cada curva do teu corpo, atravez delas ir de encontro ao teu coração .
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Carmen Vervloet

Súplica à Rosa

Não fale linda
e sublime rosa...
Apenas me deixa ver
a sua estonteante beleza,
suas pétalas rubras,
(feito o sangue
que alimenta meu corpo)
e me embeveça com este
seu delicioso perfume
alimento da minh’alma!
Desabroche no meu peito
e faça do meu coração
sua eterna morada.

Foto de Maria silvania dos santos

És gotas do meu sangue que percorre em minha veia

És gotas do meu sangue que percorre em minha veia

_ Era apenas uma demonstração do que eu sentia, do que no meu coração floria, minha satisfação de te reencontrar era tão grande que eu nem mesmo podia me controlar, eu me punha sozinha a falar, mal podia esperar o tempo de te reencontrar, ao lembrar de te, o meu coração pulsava tão forte que parecia meu peito estourar...
Apesar de não te conhecer direito pois nos vimos quando aremos apenas duas criança, mas és gotas do meu sangue que percorre em minha veia... Já fazia tempo que eu não o via, meu coração estava cheio de esperanças, nele marcas de uma lembrança, pena que tudo foi apenas uma ilusão, acabei ferindo meu coração.
Eu queria poder te abraçar, sentir teu calor, falar dos meus sentimentos, deixar claro que podia contar comigo, mas de surpresa veio os muros impedindo nossa relação de amigos...
Por falta de cuidados por ambos lados, fungos vieram nascer, nasceu e cresceu contaminando nossa amizade... A pequena planta tão valiosa que deveria crescer tempo ao tempo, não foi zelada e com o tempo ao envez de crescer veio a falecer, isto não poderia ser...

A companhia da sua pessoa alegrava tanto meu curto tempo, deixando-o mais prazeroso.
Hoje sinto tua falta, porque fingiste de meu amigo se todo tempo brinco comigo?

Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Rosamares da Maia

DECÁLOGO DE UM AMOR NO DESERTO

DECÁLOGO DE UM AMOR NO DESERTO
Um amor que sobreviveu as diferenças e contradições.

I

Vivemos como o vento errante do deserto
Construindo, revolvendo e desfazendo as dunas.
O ar é quente, sufocante, irrequieto e apaixonante.
Desperta a minha emoção, tomando os meus sentidos.
Tocando-me por inteiro, arrebatou-me a alma,
Virou-me do avesso e colocou-me em sua palma.
Mas, era vento e partiu. Invadiu-me a solidão.
Eu, deserta e plena de ti, embora antítese do teu ser,
Das incertezas do desejo e medo de amar.
Pacifiquei meu ser, pois meu amor amava ao vento.

II

Um perfume vem do deserto, está por todo o ar,
Nas dunas escaldantes por onde andas e transpiras,
Está o teu cheiro - o cheiro do meu homem.
No sussurrar do vento posso ouvir a tua voz.
Lembro o encontro da minha boca com a tua, de sonhar,
E a vida real? Somente promessas em território hostil.
Negando evidências, vivemos o que desejamos sentir.
Ignorando a verdade, tornamos surreal nossa vida.
Lembro a dor e da saudade, de sussurrar em oração.
Preces, solidão e areia quente - preces da tua boca ausente.

III

O vento trás de volta meu ar – o meu Califa.
O vento que em sua companhia fora guerrear,
Agora trás meu homem, mais moreno e magoado...
Vem curar suas feridas, recuperar o brilho do olhar.
Sonho e creio que finalmente voltou, agora é meu.
Amamos na areia quente, também em sua tenda,
Entre as almofadas, luxuria em panos de seda.
Inebriados pelo ópio, essências de mirra e benjoim,
Entre pétalas de rosas, tesouros em jóias pilhadas.
Serei eu somente mais uma entre suas as prendas?

IV

Soçobrou outra vez o vento do deserto – ele se foi.
No meio da noite, d’entre almofadas e sedas, roubou-me.
Dos meus braços partiu – Não podia! Era meu, só meu.
Amaldiçoei suas batalhas sem compreender as razões.
Neguei meu desejo, maldizendo a vida. Fiquei deserta.
Minh’alma não é mais minha, também parte, se esvai,
Galopa no dorso do seu árabe a minha vida - ao vento.
Deixo-a para morrer com ele, se tombar em batalha.
Não mais me pertence. Submeto à sua barbárie milenar
Meu frágil e multifacetado mundo ocidental, desmoronado.

V

Tudo que vivemos foge ao meu entendimento.
Seus cuidados, suas ordens, mesmo os seus carinhos,
De certo me quer cativa dentre os seus tesouros.
Como se cativa espontânea não fosse. Amo-o sem pudor.
Novamente ouço o vento que traz o odor das batalhas.
No espelho, vejo seus olhos negros, a mão brandindo a espada,
O semblante altivo de comando o torna cruel.
Seu mundo não é o meu, tudo nos confronta e agride.
Sinto frio e dor. Meu corpo tem o sangue das suas mãos.
Agasalhada em sua tenda, sufoco entre lagrimas e incensos.

VI

Pela manhã fujo, vago errante entre as dunas,
Quero sucumbir nas areias da tempestade anunciada
O sol é escaldante. Quem sabe uma serpente? – Deliro.
E delirando sinto o vento. É sua voz – quente.
Sinto a sua boca que me beija e chama – agonizo,
Na febre ultrapassei o portal de Alah - quero morrer.
Vejo-te em vestes ocidentais – como uma luva.
Olhando por uma janela, de horizonte perdido.
Não há delírio, não é morte – Desperto no Ocidente.
Reconheço-me neste ambiente – a mão para a luva.

VII

Aqui o vento é frio, sem motivos é inconseqüente.
À areia banha-se por mar fértil, de sol brando e casual.
Não brota a tâmara nos oásis, para colher a altura da mão.
Será fácil esquecer a claridade das dunas quentes?
Mirra e benjoim exalando, almofadas e panos de seda?
Não fazemos amor nas tendas, no sussurro do vento quente.
No Ocidente fazemos sexo em camas formais, monogâmicas.
Homens possuem concubinas ilícitas e, não é bom amar a todas.
Sempre há cheiro de sangue no ar, sem batalhas declaradas.
Não nos orientamos pelo sol ou estrelas – estamos perdidos.

VIII

Eis meu mundo que corre de encontro ao teu,
Desdenha das diferenças, da antítese de nossas culturas.
De Oriente e Ocidente, da brisa do mar e do vento do deserto
Teu amor violentou as tradições para devolver-me a vida.
Aqui também estas ao sol, mas tua pele morena é contradição.
Há perfumes sofisticados, frutas, panos e almofadas de seda.
Não há o trotar do teu árabe, vigoroso, mas a ti cativo,
A mirra e o beijoim não cheiram como em tua tenda.
As tâmaras são secas e raras. Não está a altura da mão nos oásis
Meu amor violentou tuas tradições – em ti, a vida se esvai.

IX

Teus olhos vivem em busca de um horizonte distante,
Perdem o brilho do guerreiro que fazia amor nas areias.
Ama-me com um amor ocidental, sem paixão, comedido e frio,
Não há paladar da fruta madura em tua boca, ou o frescor da seda,
Tua alma quer o vento quente do deserto, escaramuças e batalhas.
Muitas esposas entre almofadas e sedas - o mercado das caravanas.
Aqui existem muitos desertos de concreto, janelas inexpugnáveis,
Batalhas invisíveis e diárias, nem sempre com armas nas mãos.
Mas a língua dá golpes certeiros, tiros de preconceitos mortais.
Meu amor em ti morre, sucumbe ao vento frio da tua solidão.

X

Teu amor ensinou-me a ser livre. Como negar o vento do deserto?
Aprendi a ter a companhia das dunas, sempre mudando de lugar,
O deserto deu-me um homem para amar nas tendas nômades,
Mostrou-me a lógica das batalhas e como perguntar por e ele ao vento.
Ensinou-me a sorrir com o brilho dos seus olhos simples e negros,
Meu corpo está acostumado com o toque quente da sua pele morena.
Novamente fugi - do meu deserto. Temi tempestades e serpentes,
Supliquei a Alah, para que em sua misericórdia houvesse vida,
No ar, um doce perfume de benjoim, na pele, o delicado toque da seda,
Meu Califa ama-me com o gosto das tâmaras maduras – e vai guerrear.

Rosamares da Maia
2005/ JAN/2006

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