Ramos

Foto de RHANI

Aos poucos.(Amor)

Aos poucos,o tempo se arrasta.
Cada segundo que se passa,Parece milênios.
Que não passou junto a tí.

Aos poucos ,o tempo se passa.
Minha saldade fica mais escassa.
Pois cada segundo a mais.
É um segundo a menos para estar com você.

Aos poucos,meu coração.
Mas esta em sua mão.
Sorrindo com um amor.
Sincero.que tanto quero ter.

Aos poucos,minha vida.
Paixão não esqueçida.
Amor tão grande.
Que tenho por você.

Aos poucos,minha vida vira festa.
Cada gota de chuva almenta minha pressa.
Necessito do seu beijo.
Necessito de tí pra viver.

Sempre te quero em minha vida.
Não vivo sem você.
Amor forte e sincero.
É o que tenho por você.

Amor.
Maior dos sentimentos.
Otimo aqui por dentro.
Radiante esse sou eu com você.

Ao te dizer.
Mesmo não consigo te esqueçer.
oh! como te esqueçer ?
Rumas em meu sonhar,andas em meu viver.

A reposta:
Mesmo, Não há como te esqueçer.
Ontem,amanhã e depois.
Rio pois vivo por você

Amor.
Minha maior alegria.
Olhe o meu raiar do dia.
Rezando pra hoje,estar com você.

Alegria.
Muitos dos sentimentos que me das.
Ramos de todos tú me tras.

Amor.
More como sempre te chamo.
É o que mais digo em minha vida:TE AMO.

Foto de Ayslan

Não faz mal

Dizem que as moças namoram
Com todo e qualquer rapaz,
Tanto na porta da rua
Como na porta de traz!

Não acredito! É mentira!
As moças não fazem tal:
Se alguma dá seus passeios,
E se acaso tem amores,
Isto á moça não faz mal.

Dizem também que elas pintam-se
E usam quartos com babados,
Para ficarem bem feitas,
De corpos bem torneados.

Não acredito! É mentira!
As moças não fazem tal:
Se ás vezes usam rebique,
Isto é coisa natual;
Quartos, espartilhos, meias
E anchimentos! Não faz mal.

Contam que algumas casadas
Têm namorados escondidos;
E outras que fazem promessas
Pra que morram seus maridos.

Não acredito! É mentira!
Juro que não fazem tal;
Se alguma em casa se dana
Isto é coisa natural;
Brigam, depois ficam bem:
São casadas – não faz mal.

Falam que algumas viúvas
Que cansaram de chorar,
Vão correndo para a janela
Olhar o bonde passar.

Não acredito! É mentira!
Juro que não fazem tal;
Se alguma chega ao postigo,
Isto é coisa natural,
Se acaso pensa em casórios,
É viúva – não faz mal.

Contaram-me que as beatas
Quando vão para as orações
Com mil requebros de gatas
Vão e levam beliscões.

Não acredito! É mentira!
Juro que não fazem tal:
Se alguma palestra á esquina,
Isto é coisa natural:
Mesmo que elas façam tudo
Já são santas – não faz mal.

R.Ramos

Foto de SailingNoir

O Horizonte visto da Pedra

Passou'se há já algum tempo. Considerei este dia o melhor da minha vida, até aos dias de hoje. Não passou de um simples dia, passado debaixo de uma árvore iluminada pelo rasgão dos ramos da árvore da luz solar.
Foi ali que tudo aconteceu. Associei aquele dia ao "dia Perfeito". Era ali que existia a Pedra, a Pedra onde passava dias e dias sob o chilrreado dos pássaros e sob a brisa que levantava o meu cabelo, suave e delicadamente e que me fazia fechar, lentamente, os olhos devido á intensidade da luz que ali permanecia. Mas, naquele dia, algo de diferente se estava a suceder. Dei por mim, sentada na Pedra, a mirar o Horizonte. Nunca tinha visto o Horizonte como o belo que ele é, olhava-o como um infinito da paisagem. Mas, no dia Perfeito, olhei-o com olhinhos de ver e, ao mesmo tempo que ia anoitecendo, o Horizonte ia ficando cada vez mais maravilhoso, era brilhante, luminoso, avermelhado, era , era Único. Havia as sombras das árvores que me impediam de focar a visão no mais perfeito do Horizonte, a sua infinidade. Aproximei-me e, maravilhada, ali fiquei, horas a fio, em pé, um pouco longe da Pedra, a deixar-me invadir pela brisa que provinha do infinito do Horizonte .
Pensei nunca ter um dia tão simples, mas ao mesmo tempo tão único e, normalmente, "desejado" devido a algo tão único.
Foi assim que aprendi a obversar o que, muitas vezes, nos passa completamente ao lado, sem nos apercebermos.
A infinidade das coisas, afinal, existe ...

Foto de Margusta

E, porque me amas...

Sob esta infinita abóbada celestial
No azul perfeito, pressinto o teu olhar
Aquele , que, com o amor me despe
Quando é chegada a hora de te amar

O verde dos teus olhos, meu doce amor
Nos ramos dos pinheiros está gravado
Libidez de corpos, entrelaçados sem pudor
Quando se entregam em desejo compassado

A natureza alberga a tua imensidão
Nela respiro o teu perfume. A minha vida!...
Nesse teu cheiro de aromas celestiais

Alimentando-me a alma e o coração
Fazendo-me sentir a Musa mais querida
Deusa Rainha, habitando entre mortais...

@Margusta
Pinhal da Lagoa de Albufeira
14/09/2008

* Reservados os direitos de autor*

Foto de Rozeli Mesquita - Sensualle

Entrega Total - Due Rozeli Mesquita & Edson dos Santos

Te amo!
Te quero no meu jardim
Dou-te minha pele morena
Quero na tua boca pequena
Sentir a exaustão do teu prazer.
Vem desacatar meus pudores
Degustar nossos sabores
Sedução...amor...paixão
Me de teus braços num abraço
Pega-me no colo e me leve pra cama
Perca a razão...De asas a imaginação
Me ame por inteira...
Orifícios, aclives, declives e fendas
Quero tua língua percorrendo meu corpo
Não tarde a vir
Impaciente...Estou impaciente pelo teu tocar
**Rozeli**

Em teu jardim eu estarei
Os teus ramos eu quero banhar
E no orgasmo de tuas pétalas
O meu orvalho eu vou derramar
Depois quero ser o teu sol
Para a tua pele queimar
E pro canteiro da minha cama
Em meus braços eu vou te levar
Vou te fazer perder a razão
Pela força do despetalar
Ver teu botão se abrindo em flor
No canteiro desse nosso amar
E tal qual um beija-flor faminto
Do teu néctar eu quero provar
E no orgasmo dessa jardinagem
O teu corpo eu vou lambuzar
**Edson dos Santos**

Foto de ana beatriz formignani

Amor e Loucura

Amor e Loucura

"Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades
dos homens em um lugar da terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre muito louca, propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE
sem poder conter-se perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos
e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos
saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA,
que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar: a VERDADE preferiu não esconder-se.
"Para que se no final todos me encontram?"- pensou. A SOBERBA opinou que
era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não
tivesse sido dela ) e a COVARDIA preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro, ... - Começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA que caiu atrás da primeira
pedra no caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da
sombra do TRIUNFO que, com seu próprio esforço, tinha conseguido subir
na copa da árvore mais alta. A GENEROSIDADE quase não conseguiu
esconder-se, pois cada local que encontrava parecia perfeito para algum
de seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a
copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o vôo de uma borboleta,
o melhor para VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE.
E assim acabou escondendo-se num raio de sol. O EGOÍSMO, ao contrário,
encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas
para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano ( mentira! ela se
escondeu mesmo foi atrás do arco-íris ) e a PAIXÃO e o DESEJO,
no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO... não me recordo onde
se escondeu mas isso não é o mais importante...
Quando a LOUCURA já estava lá pelos 999.999 , o AMOR ainda não
havia encontrado um local para esconder-se pois todos já
estavam ocupados, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente,
decidiu esconder-se entre suas pétalas.
- Um milhão! - terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos da pedra.
Depois, escutou-se a FÉ discutindo zoologia com DEUS no céu.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Em um descuido,
encontrou a INVEJA e claro, pode-se deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu de
seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e ao se aproximar de um lago,
descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois estava
sentada em uma cerca sem saber de que lado esconder-se...
E assim foi encontrando todos: o TALENTO entre as ervas frescas,
a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris
( mentira! na verdade estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO,
a quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local...
A LOUCURA procurou em baixo de cada rocha do planeta,
atrás de cada árvore, em cima de cada montanha...
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a remover os ramos, quando,
no mesmo instante, escutou um grito de DOR. Os espinhos
haviam ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o
que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou,
pediu desculpas e perdão e prometeu ser seu guia eternamente...
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de
esconde-esconde na Terra:
O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha."

Foto de Joaninhavoa

O Segredo da Secreta

Num estarlar de dedos
Estaladiços! Quebro o vício
De te ter em mim como Dionísio
Por Zeus! Deus dos vinhos

E das delícias as mais raras
Como podeis imaginar! Experimentai
Pode quem pode! O podar das vidas
São obra pr`a quem não sabe! Falai

Vegetação! Aqui há parras
E onde há parras há uvas! O cultivo
Das vindimas! O fazer o vinho
Benditas árvores frutíferas

E em vasos vou bebendo
Pelos chifres e com os ramos
Destas árvores prenhas! Derramo
Mistérios afrodisíacos! Demoníacos

Bacanália! Meu segredo
Resvelo em ti meus enlevos
Meus mil e um desejos! Me deleito
Prazeres! Por vós só conhecidos

JoaninhaVoa, In "Vinhas da Vida"
(Em 2008/05/02)

Foto de Henrique Fernandes

FUNERAL DO PASSADO

.
.
.

O teu ser tem as medidas certas para me preencher
Não és mais nem menos do absoluto que me completa

Simples reconhecer-me no universo das tuas palavras
Ouço-as num altar que imortaliza a verdade entre nós
Ouço-as puramente em todos os momentos de ti
Em qualquer sentimento que em mim entra
Através dos tons inocentemente sinceros da tua voz
Escalando em mim a culpa das tuas vontades adultas

És ave voando livre pelo núcleo do meu pensamento

Tua simpatia é beleza que passeia pela minha alma
O sorriso que não consegues evitar ao meu provocar
Esculpe os teus contornos no teor da minha procura
Tu sabes tão bem pousar nos ramos da minha loucura
E fazes teu ninho na minha mais saudável leveza
De ser homem que cresce por labirintos sábios

As sensações que crio para te traduzir em mim
São emoções recíprocas á espera de uma razão de ser
Ao fundo de um corredor sem portas nem janelas

Onde o meu desejo é um corpo que abre brechas
Para o sol entrar no meu eco de paixão fundido em ti
Ancorando o que há de melhor em mim na tua aragem
Vadia pelas paisagens para lá da linha do horizonte
Em planícies de alegrias reflectidas em cada pôr-do-sol
Despontando os meus sentimentos no teu sol nascente

Esquece tua mão na minha mão que te lembrará a vida
Vem comigo ao funeral do passado
Recordando-o a meu lado

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E O PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 3)

Assim que o primeiro lilás de manhã rasgou delicadamente o horizonte, a montanha pôs-se a se catar, sentindo ainda o mesmo pressentimento da tarde anterior, que não a havia abandonado. Procurou em cada uma das suas reentrâncias, em galhos e entre relvas, porém, nem sinal do seu amigo pintassilgo. Nem uma sujeirinha que, ironicamente, lhe alimentasse a esperança. Então, com toda certeza ele não dormira na montanha. Ora, “sua” montanha tola ― ela tentou recompor-se falando sozinha ― serves de abrigo a tantos animais, tu mesmo dissestes a ele: Que me importa, azar o teu. Pois tome vergonha nesta tua cara larga e esqueça o pintassilgo. Quando precisar de ti ele te verá de longe e não se perderá nos seus caminhos de vento. Aliás, vento é o que não falta naquela sua cabecinha.

Piadinhas e ironias serviam para aliviar a tensão da montanha, porém não se pode tapar o sol com uma peneira. E no caso, o sol estava do lado de dentro. Por algum motivo incompreensível, que entretanto, naquele momento, tinha importância de último grau na sua lista de prioridades, ele havia se tornado tão querido, que os diversos perigos do vale se afiguravam muito mais que ameaçadores. A montanha havia criado um sentimento de proteção que jamais experimentara emergir dos seus subterrâneos. Apesar de crer na esperteza e admirar a agilidade do passarinho, via-o por demais pequeno e frágil. Em se lhe retirando as penas quase nada restaria. Era uma coisinha assim, à toa, que tinha medo até de vento... Onde já se viu? Medo de vento... Devia isso sim se preocupar com cobras, gatos e gaviões, que lá por baixo são em grande número e se aproveitam da mata densa para se aproximar sem que sejam percebidos, ou emboscar os desavisados. Não bastassem todos estes perigos, ainda haviam as redes espalhadas entre os ramos por caçadores impiedosos. Deve ser uma morte lenta e desesperadora ― ela gemia só por imaginar ― a se debater e embaraçar-se cada vez mais. E à noite, então? Preso na rede, logo chamaria a atenção de um morcego, que se regalaria a chupar calmamente o seu sanguinho tão pouquinho. Isso é menos o atendimento de uma necessidade básica e bem mais um exercício de degustação, nada charmoso na opinião da vítima.

Enquanto a montanha se catava, se torturava imaginando sanguinolentas desgraças, o sol prosseguia em seu caminho. Rapidamente a tarde chegou e logo os lilases acenavam no horizonte, o dia partia e a escuridão da noite não se demoraria. Durante aqueles imensos minutos, a montanha buscou freneticamente algum sinal do pintassilgo mas, para seu desespero, inutilmente. Então, entregue à sua própria fragilidade emocional, lamentou ser uma montanha. Tantas vezes invejara o pintassilgo quando ele saltitava em sua dança, ou quando fazia espetaculares manobras de vôo, ou ainda quando, tão despreocupadamente, ele simplesmente se espreguiçava. Observando-o nesses momentos, ela tinha a impressão de que, com tão comezinho gesto, ele era capaz de libertar do seu corpinho todas as energias noduladas e indesejáveis. Ah, como a montanha, há tantos milênios acomodada sob o próprio imenso peso, gostaria de saber fazer isso também. E com certeza não poderia fazê-lo em poucos meses.

Naquela noite a montanha não conseguiu pregar os olhos. Sabia que os pintassilgos não são notívagos, não havia uma chance de que ele surgisse das sombras, nem mesmo de que cantasse. Mas a cada pio de outros pássaros ela se permitia a ilusão, como forma de combater o desânimo, com base no reconhecido talento do pintassilgo para imitações. Chegou o novo dia e, um por um, seguiram-se vários outros dias e noites. A montanha havia se determinado a não desistir jamais e, investigando os sons do dia e da noite, descobriu uma grande variedade de animais que habitavam suas encostas e platôs, sem que, contudo, houvesse lhes dado antes alguma importância. Além disso, descobriu também uma outra variedade, em muito maior número, de animais que não emitiam nenhum tipo de som, mas que não apenas existiam como também mostravam-se muito ativos. E que todos tinham em comum uma relação vital consigo. Por todas as partes, na superfície e até mesmo nas suas entranhas, eles nasciam, viviam, se proliferavam e morriam. Muitos deles não viviam mais que um único dia, entretanto, enquanto esperava o reaparecimento do pintassilgo, a montanha pode acompanhar a vida de seres que vivem meses, no passo das estações climáticas, e de outros que vivem ainda por mais tempo. Nenhum deles substituiria o seu tão querido pintassilgo, que ela não cansava de esperar; nenhum deles, por mais tempo que vivesse, tinha longevidade comparável à da montanha; entretanto, nos últimos tempos ocorrera uma mudança de que apenas agora ela se dava conta. Não se tratava de uma mudança de nenhum dos animais individualmente, mas sim da própria montanha, e isso aumentava enormemente a ausência do pássaro, tão pequeno e tão importante, tão frágil e tão soberano na sua fantástica memória milenar. Mantivera com ele, até que desaparecera, um contato por demais curto, tempo usado na maior parte para críticas e julgamentos de pontos de vista particulares; todavia, ele estivera de tal modo presente na incansável busca da montanha, na esperança obstinada, que conseguira o que fora impensável para ela, somente por ser o motivo para isso: o pintassilgo não movera a montanha, mas fizera com que ela mesma deslocasse o seu próprio centro.

(Segue)

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E O PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 4)

A se catar, como passara a fazer diariamente durante os últimos anos, a montanha se surpreendeu com algo estranho, entre ramos franzinos de um jovem arvoredo. Já havia visto coisa parecida e sabia não ser nada que a natureza produza de boa vontade. Logo a brisa trouxe um cheiro desagradável e ameaçador de fumaça, e tudo então ficou claro. Aquilo era uma gaiola, dentro havia um pássaro aprisionado e do lado de fora uma rede. O pássaro preso cantaria o seu canto, isso provocaria outro pássaro da mesma espécie, que viria reclamar seu direito aquele território e pronto, ficaria também este aprisionado para o resto da vida. Só pode ser coisa de gente ― asseverou a si mesma ― em nenhum lugar do mundo a natureza é tão cruel por tanto tempo. Embora possa parecer também cruel, o fardo do Criador é leve e o seu jugo é brando. A alguns metros para baixo dois homens, um maduro e outro bem jovem, fumavam os seus cigarros de palha, e riam, sabia Deus do que, tentando não fazer barulho.

Indignada pelo uso das suas encostas para tais fins, ela pôs-se a matutar numa forma de fazê-los correr de ladeira abaixo. Depois, em um segundo passo, encontraria um jeito de libertar o bichinho, de quem já se compadecia por demais. Até porque, ele parecia um pouco com o seu querido pintassilgo. A montanha começou então a produzir uma série de truques, como fogos-fátuos e sismos comedidos, pequenos segredos de uma velha montanha que, entretanto, não surtiram o efeito desejado e ainda assustaram a bicharada. Impaciente, a montanha batucava numa laje com as pontas dos dedos, usando para isso a queda d’água de uma tímida cascatinha que havia por perto, quando o pássaro da gaiola começou a piar a cada vez com mais disposição. Era um indício certo de que logo ele estaria cantando a todo peito. Necessário se fazia que agisse mais rapidamente, o que, para uma montanha milenar, não é lá uma coisa das mais fáceis e cômodas, a se fazer naturalmente.

Como os homens se mostravam inabaláveis, talvez insensatos por sequer imaginar o imenso poder de uma montanha, pensando bem, por demais burros simplesmente, ela optou por tentar impedir que o passarinho desse vazão aos seus impulsos canoros. Para isso, ela se aproveitou de um ventinho e se aproximou do arvoredo dissimuladamente. Chegou-se bem pertinho e, respirando antes profundamente, entrou na gaiola. Todavia, tamanho foi o seu susto, que saltou do ventinho e recolheu-se nas suas profundezas. E lá perambulou durante algum tempo. Aquilo tudo mais lhe parecia uma peça do destino. Vagou por entre as suas lembranças sem fim, relaxou nas suas profundas escuridões, onde os sóis jamais chegaram, e banhou-se nos seus refrescantes lençóis subterrâneos. Reconheceu por fim, que poderia estar fugindo da verdade, e isso é algo que uma boa montanha jamais deve fazer. As montanhas são sábias e fortes. Vivem muito e é justo que o sejam. Não conhecer uma determinada verdade pode ser um direito, mas tentar impedir a sua revelação é uma idiotice, uma fragilidade. A mentira ou a ilusão podem ser mais agradáveis à razão em certos momentos, no entanto corrompem os sentidos de ser e existir. Estava tentando criar uma certa realidade paralela e perdendo com isso um tempo muito precioso, que talvez custasse caro a outros pássaros.

Outra vez tomou-se de ânimo e voltou à gaiola. E lá, todas as suas parcas esperanças se dissolveram, à luz claríssima do sol que já se erguera todo acima do horizonte. Não podia mais negar, era mesmo o seu pintassilgo e, misteriosamente, cantava como um menino. Mas que ironia cruel! Teria que tentar interromper a sua inspiração, depois de tanto tempo lamentando a sua ausência. E nem tinha naquele momento mais tempo para as suas reflexões, pois um outro pintassilgo, pleno dos arroubos naturais da sua evidente juventude, já cantava e fazia manobras rasantes cada vez mais próximas à rede, com intuito de intimidar o outro, um velho inconveniente e abusado, um intruso, imperdoável. Embora não pudesse concordar inteiramente, a montanha percebia os pensamentos e a determinação do jovem, corajoso e afoito como todos os jovens. Mas a Providência concede maior proteção a eles, e ela estava ali para exercer esse papel. Ao antecipar que no próximo rasante ele ficaria preso na rede, numa atitude exageradamente emotiva para uma montanha, ela pressionou suas entranhas com tanta força, que os gases subterrâneos liberados provocaram uma ventania súbita e empoeirada. Correndo para encontrar um abrigo, os homens se afastaram, sem se dar conta de que o ramo não suportara o peso e a gaiola havia caído na relva.

Os segundos tornaram-se angustiadas eternidades. Ela viu os ventos se enfraquecerem até pararem por completo. A gaiola tinha uma pequena porta corrediça que com o tombo se abrira, os homens voltariam para buscá-la a qualquer instante, porém desgraçado era o desespero da montanha, porque o pintassilgo não encontrava a saída. Pulava pra lá e pra cá, estranhava os poleiros que estavam então na vertical, pendurava-se nas varetas de cabeça para baixo, porém nada de sair. Enfim, o mais jovem dos homens chegou a tempo de fechar a portinhola, satisfeito por ver o bichinho ainda do lado de dentro, e voltar ao encontro do mais velho. E a cascatinha afinou-se mais ainda, como o choro triste da montanha, perdeu a ansiedade.

(Segue)

Páginas

Subscrever Ramos

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma