Quinze

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"NOS TEMPOS EM QUE O HORROR SE VESTIA DE VERDE OLIVA "

“NOS TEMPOS EM QUE O HORROR SE VESTIA DE VERDE OLIVA”

As ilusões ficaram para traz...
Os sonhos já não eram os mesmos...
Aos quinze anos não era mais rapaz...
Minhas noites viraram pesadelos!!!

A brutalidade a mim aplicada...
Com certeza foi um exagero...
Não tinha feito nenhuma coisa errada...
Mas mesmo assim me impuseram o desespero!!!

Aqueles que ganhavam para servir aos cidadãos...
Acabaram por me crucificar...
Não aceitaram nenhuma explicação...
A preocupação era me humilhar!!!

Após este lamentável episódio...
Tive medo até de pensar...
Afastei-me dos estudos...
Com pavor de os reencontrar!!!

Classe de homens inúteis...
Que sequer sabem servir a Nação...
Soldados com afazeres fúteis...
Faziam um desserviço aos cidadãos!!!

Com medo de serem suplantados...
Generais impunham o terror...
Jamais foram punidos...
Por terem espalhado tanto horror!!!

Agora décadas depois das atrocidades...
Vejo que a eles nada aconteceu...
Meu Brasil não apurou as verdades...
E a todos medalhas deu!!!

Pobre espaço de tempo...
Que tanto este País envergonhou...
A nós as vitimas só sobrou o esquecimento...
Mais uma vez o mal triunfou!!!

Foto de Graciele Gessner

11 de Junho, Eternamente! (Graciele_Gessner)

Ah, se pudéssemos voltar no dia 11 de junho de 1998...

Lembro-me como se fosse hoje, mas foi numa quinta-feira, num dia ensolarado e friozinho. Naquela cachoeira você me levou, estávamos feitos duas crianças travessas.

Creio que não parava quieta, e sei lá, por que deslizei daquela pedra. Só sei que por ti fui segurada, você me pegou em seus braços e me confortou em seu colo.

Sem você saber eu já estava amando-te em silêncio. Meu coração pulsou fortemente, você tão perto de mim, tudo tão possível de acontecer. Olhares fixos penetrantes, os lábios praticamente juntos.

Então, em seu colo não existia mais o perigo de cair e acho que provoquei mostrando a língua, feito uma menina levada.

Hoje, parece que ainda sinto aquele beijo, um beijo suave e sem malícia, um beijo inocente. Apenas um detalhe, não fui eu que roubei o beijo, parece-me que provoquei e ambos na vontade de cometer uma loucura se beijaram. Por fim, não cometemos nenhum pecado, creio que já estava destinado.

Dez anos se passaram, e que saudade deste momento!

Eu, uma moça de quinze anos na época estava amando! Eu estava completamente feliz e com um brilho diferente no olhar! Ah, que amor inesquecível!

Simplesmente por lembrar deste dia, dedico meus versos e meus beijos graciosos para o meu primeiro amor!

11.06.2008

Escrito por Graciele Gessner.

* Se copiar, favor divulgar a autoria. Obrigada!

Foto de Sonia Delsin

CHÁ DE ROSAS...

CHÁ DE ROSAS...

Maria Lúcia tentava deixar a mesa bem bonita. A amiga Leonor era tão reparadeira.
Ela nunca fora muito de arrumações. Na verdade odiava estes detalhes de mesas bem arranjadas.
Etiqueta não era com ela.
Gostaria que a amiga se sentasse na cozinha mesmo e as duas se pusessem a conversar como nos velhos tempos.
Que tempos aqueles!
─ Puxa! Como seus peitinhos cresceram, Malu!
─ Leonor, cria modos, menina!
As duas cheias de segredinhos. Mauro era lindo e as duas o desejavam.
Desejavam sim, por que dizer o contrário?
Os milhões de hormônios. Quinze anos. Malu tão triste sempre. A falta da mãe e Leonor a lhe fazer companhia todas as tardes.
─ Ela melhorou, Malu?
─ Que nada. Nunca mais sai daquela clínica...
─ Como pode? Uma mulher tão bonita ir parar num lugar daqueles. Tenho pena de você. Sabe que sou sua amiga até embaixo d’água. Pode contar comigo sempre.
O abraço da mocinha a confortá-la.
─ Ele passou pela calçada hoje e só faltou torcer o pescoço de tanto olhar para trás.
─ De quem está falando?
─ Do tonto do Jonas.
─ Ainda vai se casar com ele.
─ Isto é que não. Malu, eu quero o Mauro.
─ Ele gosta da Vânia.
─ Que sortuda ela é! Os olhos daquele cara são de matar...
Enquanto arruma a mesa Maria Lúcia se recorda dos tempos da juventude.
Leonor se casou mesmo com Jonas e como se deu bem na vida. Não poderia encontrar melhor marido. Mauro não se casou com a Vânia. Acabou mudando e casando-se em outra cidade. Voltou umas duas vezes à cidade e todos comentavam que ele se casou com uma mulher muito bonita.
Ela se casou com Normando e foram felizes naqueles dez anos que passaram juntos, mas a morte o levou cedo demais. Marina ainda não tinha sete anos quando ele se foi.
Irmãos ela não tivera, e a amiga de tantos anos não era a mesma de antes.
Malu não era de fazer amizades com facilidade e vivia muito só. A filha já estava com nove anos e estudava à tarde. Leonor havia ligado que viria para um chá.
A amiga ficara cheia das frescuras e ela continuava a ser a mesma de sempre.
Vestia um longo vestido indiano, que era como gostava de se vestir. Nos pés trazia umas sandálias leves. Os cabelos ainda continuavam muito negros e ela os trazia pelo meio das costas.
Era uma bela mulher. O sofrimento não lhe marcou o semblante.
Acabou a arrumação da mesa, ligou o som num volume bem baixinho e ficou a aguardar que a amiga chegasse. Ainda tinha vinte dias de férias pela frente.
Pensara em viajar, mas a filha estava em aula. Não conseguira desta vez conciliar as férias da filha com as suas.
A campainha a fez sobressaltar-se. Já estava a divagar. Havia se esquecido que aguardava a amiga.
Foi atender e a aguardava uma enorme surpresa.
Mauro! Não mudara tanto naqueles anos.
Ele estendeu a mão.
─ Como vai, Malu?
─ Bem, e você? Que surpresa!
─ Soube que ficou viúva. Sinto muito por você. Só fiquei sabendo há uns três meses. Meu primo esteve me visitando e contou.
─ Fico grata que tenha se lembrado de vir até aqui...
─ Eu tenho muitas coisas a lhe contar...
─ Estou aguardando uma visita.
─ Quem?
─ Espero a Leonor.
Mauro franziu a testa, demonstrando desagrado.
─ Volto outra hora.
─ Estou de férias. Volte amanhã para conversarmos.
Com um abraço ele se despediu.
Depois de dez minutos a amiga chegou e Malu notou que Leonor estava excessivamente maquiada, vestia uma roupa de péssimo gosto, trazia os cabelos numa cor exageradamente avermelhada.
Beijou-a e a fez entrar na casa, tentando uma conversa amigável.
Não gostou quando Leonor fez alguns comentários desagradáveis, mas tentou ignorar.
Diante da mesa ela comentou que havia ficado a desejar com a arrumação da mesa.
Malu havia aprendido com o marido que os calados sempre vencem e ela o recordava ainda mais neste instante.
Normando nunca gostara de Leonor.
─ Que chá preparou para nós?
─ Um chá de rosas...
─ Que horror! Eu não tomo uma coisa destas...
Malu a olhou demoradamente nos olhos e descobriu que a amiga de tantos anos se tornara uma estranha. Uma estranha!
─ Estou brincando. Preparei o seu chá preferido. Chá preto.
─ Quem lhe falou que gosto de chá preto, querida? Eu gosto de chá mate natural. Natural...
─ Eu preparo num instante...
A mulher seguiu em direção à cozinha. Não diria à amiga que Mauro estivera lá. A intuição lhe dizia que nada deveria contar.
Preparou o chá rapidamente, por sorte tinha uma caixinha de saches de chá mate.
Agüentou pelo resto da tarde as conversas banais da amiga e esta por fim comentou sobre Mauro.
─ Se recorda como éramos loucas por ele, Malu?
Maria Lucia nada disse. Ficou esperando que ela falasse.
─ Ele está separado. O casamento não deu certo. Dizem que tem um filho e vivia um inferno com a mulher.
Ela ficou a ouvir sem nada comentar.
Logo que a amiga saiu, ela foi até o colégio buscar a filha, que naquele dia tivera aula de reforço. Marina tinha muitas dificuldades em matemática.
As duas voltaram abraçadas. Marina era muito alta, quase a alcançava aos nove anos. Havia puxado ao pai.
Ela contou à filha que a amiga Leonor passara parte da tarde com ela e ocultou que um velho amigo também a visitara. Achou que seria melhor nada comentar.
As duas jantaram e ficaram vendo TV.
─ Gostaria tanto que estudasse de manhã, minha filha.
─ Mamãe, sabe que tenho preguiça de me levantar cedo...
Ela acariciou a testa larga da filha e ficou recordando o marido. Ele fazia falta, como fazia!
Beijou a filha e as duas foram dormir.
Mauro voltou a visitá-la no dia seguinte.
Ela vestia um velho jeans e uma sapatilha de tecido. Os cabelos estavam presos com uma pequena presilha no alto da cabeça.
Estava muito bonita e se divertia com um jogo de quebra-cabeça da filha quando a campainha tocou.
Mauro também vestia uma calça jeans e uma camisa azul clara. Quase na tonalidade de seus olhos.
Ela o convidou a entrar e ele se encaminhou até o quebra-cabeça quase montado, encaixando rapidamente as peças que faltavam.
Malu ficou a olhá-lo quietamente.
─ Não me convida a sentar?
─ Claro. Sente-se. Fique à vontade, Mauro.
Ele se sentou numa poltrona e ela puxou outra bem à sua frente.
─ Também estou só ─ disse ele.
─ Não entendo porque me procurou...
─ Sempre fui apaixonado por você. A Leonor vivia a me dizer que você não podia nem me ver. Passei quase toda a minha vida sonhando com você. Por fim acabei indo embora daqui quando a vi casar-se com o Normando.
Ela o olhou demoradamente.
─ Apaixonado por mim?
─ A Leonor nunca contou?
─ Não. Ela me dizia que você era apaixonado pela Vânia.
─ Tantas vezes eu a procurei e pedi que lhe falasse que eu a amava.
─ Não posso crer.
─ Estou dizendo a verdade.
─ Não posso crer que minha amiga tenha feito isto comigo. Ela sabia que eu também...
─ Você o quê?
─ Eu também o queria tanto...
Mauro levantou-se da poltrona e pegou a pequena mão de Maria Lucia entre as suas.
─ Sonhei tanto com você. Tanto que nem pode imaginar. Quando aqui cheguei pensei em procurar a Leonor para pedir que viesse lhe falar de mim, mas a vi um dia ao lado do marido e ela me olhou de uma forma que me fez desistir. Em seu olhar havia algo que não gostei nada.
Os olhos de Malu o fitavam e Mauro aproximou-se dela ainda mais. Sua boca a procurou e quando deram por si estavam se abraçando e beijando apaixonadamente.
─ Eu nunca a esqueci. Casei-me com a Dora para tentar esquecê-la, mas cometi um grande erro. Um casamento destes nunca dá certo.
─ Eu fui feliz com meu marido. Ele era uma pessoa maravilhosa.
─ Fico feliz por você. Eu vivi num inferno. Por sorte me libertei. Sinto pena do pequeno Franco que sofre sem ter culpa de nada.
─ Quantos anos tem seu filho?
─ Seis anos. É um menino de ouro. Eu pensei em continuar casado com a mãe dele, mas quando soube que você estava só fiquei maluco. Tivemos uma discussão e a deixei.
─ O que pretende fazer?
Gostaria de me acertar com você.
─ Não é tão fácil, Mauro. Temos filhos. Tenho meu trabalho aqui e você mora em outra cidade. Minha filha precisa de mim, seu filho também...
Abraçando-a ele não deixou que ela continuasse e falou:
─ Você me quer, sua boba... isto é o que importa... vamos morar em outro lugar... começar uma vida nova. Eu cuido de sua filha como se fosse a minha.
─ E o seu filho?
Ele baixou os olhos tristemente.
─ Eu o perdi a partir do momento que deixei a mãe dele. Dora nunca me perdoará... ela é uma mulher vingativa. Vai fazer tudo para que meu filho me odeie.
─ Ele não o odiará.
─ Você não conhece aquela mulher.
Malu estreitou-se nos braços que a enlaçavam e deixou que a paixão comandasse sua vida. Na verdade nunca estivera apaixonada pelo marido. Tinha-lhe carinho, respeito, mas não o amara. O sentimento que guardara no peito desde os tempos da juventude lhe explodia no peito. Mauro sempre estivera em seus sonhos. Acalentara por tantos anos o sonho de ver-se olhada por aqueles olhos azuis.
Estava na sua hora de ser feliz. Tudo o mais não importava tanto. Importava mesmo é que se sentia a mais feliz das mulheres.
Começariam sim uma vida nova.
Lamentava por Leonor que lhe dera abraços de Judas. Fora traída por ela e não lhe tinha ódio, mas se afastaria dela de uma vez por todas. Nunca mais lhe prepararia chá algum...
Recordou o olhar azedo quando comentara banalmente que havia preparado um chá de rosas...
Ela perguntou-se como alguém conseguia agir daquela forma e com tanta naturalidade. Não sabia se doía mais perder a única amiga que tinha ou constatar que ela na verdade nunca fora sua amiga.

Foto de Sonia Delsin

“O QUE SE DIZ, O QUE SE CONTA”

“O QUE SE DIZ, O QUE SE CONTA”

Dizem os antigos da cidade que em noite de lua cheia ela saía a cantar.
Toda de branco vestida sempre saía em noite de luar.
Se a alguns chegava a encantar, a outros chegava a assustar.
Os longos cabelos soltos pelas costas escorrendo. A longa saia ia o chão varrendo.
Em certas horas caminhava pelas ruas sem calçamento.
E por vezes ia correndo.
De repente parava, erguia os braços.
Parecia que rogava.
Será que Deus a escutava?
Ou era à lua que ela implorava?
Era uma mulher alucinada. Uma pobre coitada.
Diziam que foi enjeitada.
Tudo que conto escutei de um velho contador de estórias.
Ele arregalava os olhos à medida que me contava e me assustava.
Eu pedia que falasse mais e ele falava, falava.
Hoje em dia eu acho que ele inventava.
Eu perguntava se ela era uma bruxa. Ele me garantia que não. Me falava que era uma mulher movida pela paixão.
Acho que exagerava em tudo, pois dizia que ela era linda com seus cabelos desgrenhados. Que eram uns cabelos muito dourados.
E que o luar tingia de prata. Ficava igual uma fada. Uma mulher encantada.
Dizia que tinha os olhos grandes. Me garantia que eram os maiores que vira na vida.
Me falava até que pareciam dois faróis azuis.
Eu ficava imaginando.
Que beleza poderia haver numa mulher com faróis em vez de olhos e ele falava que era bela como a mais bela sereia. E que cantava em noites de lua cheia.
Falava que as melodias por ela cantadas eram lindas. Tão choradas.
Perguntei certa vez o nome dessa mulher e ele jurou não saber. Mas que talvez alguém soubesse e que quando descobrisse ia me dizer.
Passou o tempo e eu acreditando na mulher que passava as noites cantando.
Um dia o contador de estórias partiu e que ele criava tudo aquilo eu ficava pensando.
Mas em certa noite fui eu a ver.
Ela estava a correr.
Não nas ruas, que já eram todas asfaltadas.
Mas numa estrada dentro de mim. Na verdade naquela hora eu fitava um jardim.
Pensei que estava ficando igual ao contador. Também já podia ver, contar, escrever.
Éramos nós dois, eu e o Sebastião, dois criadores de estórias fantásticas. Desse dia em diante comecei a escrever meus contos. Tinha quinze anos então.
Ai que saudade de ti, meu velho Sebastião!

Foto de Graciele Gessner

Saudades Daquele Amor. (Graciele_Gessner)

Os anos se passaram, a minha caligrafia não é mais a mesma. Escrevo apressadamente, o tempo é muito curto.

Hoje, já não dou muita importância se escrevo bonito, como se fosse uma lição escolar.

Dez anos se passaram e me tornei outra pessoa. Não tenho mais quinze anos, tudo mudou.

Mudei a minha maneira de pensar e ser, de agir e silenciar. A única situação que jamais mudou foi o meu amor por você! Continuo a te amar como se fosse o primeiro dia que me apaixonei por ti.

Saudade daquele Amor...

22.01.2008

Escrito por Graciele Gessner.

*Se copiar, favor divulgar a autoria. Agradecida!

Foto de Graciele Gessner

Precisei Fazer Escolhas. (Graciele_Gessner)

Entre você e o amor, escolhi o amor. Entre tudo que já vivemos e decidir em seguir a minha vida de cabeça erguida, escolhi a minha determinação de vencer na vida.

Até que um dia, você me reencontrou. Então, mais uma vez, esperançosa, deixei-me envolver, dando a oportunidade de reviver o nosso amor. Admito em nome do meu coração que jamais te esqueci. Amo-o com toda a intensidade da minha alma, por tudo que você significa para mim.

Você foi o meu primeiro amor! Tão intenso e inesquecível; tão arrebatador e fantástico... Você foi tudo que uma garota de quinze anos desejaria viver. Hoje só me restam recordações, fotografias, momentos.

Mais uma vez, precisei fazer escolhas que me feriram profundamente. Entre você e a nossa história, escolhi ficar com as inesquecíveis e graciosas recordações do nosso amor. Entre você e a minha vida, escolhi viver intensamente cada momento, pois são dos momentos que se encontra a felicidade.

Meu coração relutou pela despedida, é teimoso igual à dona. Entretanto, você estava adormecido no meu coração, o amei em silêncio e ninguém jamais soube. Você foi sortudo demais! Esta chamada máquina do tempo precisa ser destruída, antes que não me reste mais o meu amor-próprio.

Não sirvo para segundo plano, nasci para ser protagonista do amor. Teve momento da minha vida que te escolhi, mas hoje, prefiro escolher um lindo e puro amor.

Precisei escolher entre a imaginação e a realidade; entre a paixão e o amor; entre você ou eu. Por fim, escolhi! Escolhi a vida, o presente, a realidade, um puro e verdadeiro amor. Escolhi a me valorizar e deixar a vida seguir o seu rumo. Creio em vidas passadas e acredito que você é a minha alma gêmea que se perdeu no destino.

Não sirvo para ficar suspirando por você. Não me enquadro para ficar sofrendo de solidão e ficar idealizando uma possibilidade de um dia, quem sabe talvez; de quem não sabe se me quer realmente.

Desculpa-me, é inevitável não chorar. Minhas lembranças me fizeram lembrar do que um dia, uma amiga me disse: “nenhum homem vale as lágrimas de uma mulher”. Realmente, hoje precisei concordar amargamente.

Hoje, escolhi seguir a minha vida. Nunca é tarde para mudar. Cada segundo que se vive existe em nossa frente à oportunidade de recomeçar.

21.01.2008

Escrito por Graciele Gessner.

* Se copiar, favor divulgar a autoria. Agradecida!

Foto de Wilson Madrid

PEDRINHU, TUNICO I JUÃO, AI MEU DEUSO QUI CUNFUSÃO!

IV Evento Literário de 2008 - "É com nóis mesmo, cumpade"

PEDRINHU, TUNICO I JUÃO, AI MEU DEUSO QUI CUNFUSÃO!

* ACRÓSTICO COM A LETRA INTEIRA
* DE PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO
* de autoria de Osvaldo Santiago e * Benedito Lacerda

C umadres e cumpadres desti arraiá di iscritô
o ceis num imagina u qui eu vi acontecê
m ais aceitanu u desafiu da Fernanda, vô contá pro ceis vê...

a gora pegui us banquinhus qui é causo cumpridu dimais da conta sô...

f oi fais muito tempus lá pras bandas du sertão di sum paulo
i ncrusive já faiz tantu tempu qui nem mi alembro adondi
l ongi de tantu tempu que inté a minha memória faia
h oji vô tenta contá daquilo que inda mi lembru
a us menus du qui é qui foi us principá...

d exandu di ladu us bra bra brá iniciár
e indu logu pros qui quase qui finarmentis mesmu vô logu contá...

J uão, Tunico e Pedrinhu era tudo muleque i amigus du peitu
o ndi um tava, tava us treis, era tudo muintu unidus
ã ndavam mais juntu qui vagão du mesmu trem
o ndi um ia e lá ia us otros dois tumem...

A mesma cigonha que troce um logo despois troce os otros dois
n asceru tudu no mesmo lugá e viviam no mesmu arraiá
t odus us dia essis mininus tavum juntus à brincá
ô uviam us mesmu cantus dus passarinhus do lugá
n adava peladus nas lagoas e nu rio qui passava por lá
i nventavum brincaderas qui inté us mais veios gostavum di oiá
o s pai delis inté gostavum di vê us seus mininus sempre a si acompanhá...

i nté o seu padri da igreja separava us santinhus pra mor di us abençoá
a té mesmu nu sermão das missa custumava us trêis elogiá...

s i um tinha probrema us otros dois sempre vinha logu ajudá
e lis era tudo comu irmão i era comu si fossi um só coração iguarzim...

c asa di um era iguar a casa dus otros
a cumida das casa delis era comu si fossi dus treis
s ó u sapatu du Tunicu num servia pro Pedrinhu nem pru Juão
a lancha do Tunicu paricia inté a arca di Noé daquela inundação
r isadas Juão e Pedrinhu davum di vê u Tunicu naquela situação...

M ais u Tunicu discontava tudim daquelas tristi gozação
as oreia du Juão era iguarzinha as du avião
s empri qui u Juão falava du sapatão u Tunicu fingia sê aviação...

P edrinhu era magrelu feito um posti di sebu di festa junina
e quandu eli falava du sapatão du Tunicu ele falava do posti pru Pedrinhu
d epois das brincadera tudo acabava bem pruquê era tudu alegria
r isadas e gozação mais us treis amigos era tudu comu irmão
o ndi inté as brincadera era feita cum respeito e inté cum cumprimentação...

f oi u tempu passanu i us meninu foi tudo viranu moçu
u s tempus di brincadera forum viranu tempus di namoração
g íbis, pião, bolinhas di gudi i pipas foram sendu dexadus di ladu
i agora us amigus só atinava em namorá as donzelas daquele lugá
u ma delas de nomi Rosinha era a mais formosa qui tudu mundu queria oiá...

c omu uma rosa vermeia du jardim ela vivia cercada di beja-floris querenu ela bejá
o ndi ela passava os rapaiz batia as caras nus postis di tantu fica oiandu pra tráis
m ais ela num si vexava i pra todus sorria e inté se divertia di tanta trapaiação...

a Rosinha era fia do Seu Juão qui era u maridu da Dona Creuzinha da Conceição...

n unca tinha namoradu ninguém i já ia compretá quinze niversárius
o Tunicu iscreveu um bilhetinhu i si decrarô pretendenti du seu amor
i u Juão i u Pedrinhu tubém iscrivinharu qui quiriam aquele mesmu violão
v eja oceis qui situação: cum tanta sobranu us treis querenu u mesmu coração
a vida é muintu isquisita depois di tanta amizadi os treis nessa cumpricação...

N um sabenu u qui fazê a Rosinha dicidiu: vô namora u mais românticu dus treis
a queli qui escrevinhá meior as coisa pra mi agrada i u meu coração conquistá...

h istória iguar a esta eu to pra vê iguar in quarqué lugá desti azur praneta
o amor di uma formosa donzela ser disputadu num duelu di lápis i caneta
r imandu paixão i coração numa disputa di irmão numa loca emoção
a chu qui issu até feiz us treis de repenti virá inté mesmu quasi poeta...

d icididu a arma du duelo chegô a hora das disputa daquela prenda especiar
e foi um tar di rabisca pra lá i pra cá qui nunca si viu naquele lugá...

i u Tunico
r abiscô anssim:

P rincesinha Rosinha:
r ainha eu vô fazê de ocê
o meu coração ti dô di presenti...

a minha vida eu dô tudinha pro cê
l avu inté us teus pé
t rabaiu inté di dumingo
a rrumo us pratus i as cuié
r egu as frôres du teu jardim...

A ceita eu amô meu, ocê é meu querubim...

f oi dificir, mais u Juão iscrivinhou tumem:
o cê Rosinha é uma fror
g anhei calo nus pensamentu di tantu pensá em ocê
u ma veiz sonhei com nóis dois casanu
e uma penca di fio crianu
i ncrusive tudo cum nomis de flor
r egistradus nu cartóriu du Dotor Philomeno
a cordei suadu di tanta emoção qui inté duia u coração...

e u seio qui num sei iscrevê Rosinha
s ô um pobre lavradô
t udim u qui eu seio na vidinha minha
á gora confessu meu anjim: Ocê é u meu amô...

q uasi qui a Rosinha dismaiô só di lê essas coisa
u ma minina qui nunca tinha recebidu mimus iguar a essis
e la nem sabia qui rumo tomá na vida
i ainda fartava us rabiscus du Pedrinhu
m ais ela já tava mais perdida qui piru dispois da cachaça
a quilu era muintu cumpricadu pra tadinha
n um sabia dizê não pra tanta e tamanha elogiação
d izia pras amigas: Ai meu Deuso! Qui tamanha cunfusão
o Tunicu i u Juão inté bagunçaru u meu coração...

e intão veio u Pedrinhu i botô fogu na foguera da situação:

u ma fror iguar a tu ieu nunca oiei im jardim ninhum
m ais formosuda i tão bela qui meu coração faiz tum tum

b ela Rosinha ieu ti digo qui nóis dois corri pirigu
a tua belezura é tão grandi qui mi faiz virá bandidu
l oco ieu fico ao oiá ocê passiandu na pracinha
ã ntis di oiá ocê ieu nem ligava prus jardim
o ia as fror cum zóio qui só oiava capim

e agora ieu só pensu im ocê Rosinha vermeinha
s ão tão formosuras tudas as fror qui oia pra mim
t udas elas é coluridas i cherosas tumem
á ssim como ocê minha fror num ixisti mais ninguém... Ti amu!

s ó Deuso sabi comu é qui fico a Rosinha dispois disso
u ma minina cum cara di i agora u quiqui ieu façu?
b iliscava inté us pé pra mor di sabe si tava druminu
i nté resorveu ir lá pras bandas di Minas Gerais
n umas férias inventada pra num fica dispirocada
d espois dissu vortaria cum a decisão finar tomada
o uvinu us conseios da avó, a Dona Quitéria da inchada...

A viagem dimorada dimais
n inguém tinha notícia di nada
t udu mundo só quiria qui quiria
ô vir u resurtadu daqueli duelo rabiscadu
n adica acunteceu nus tresi meis que assucedeu
i nvernu já acabanu i a primavera já cheganu
o s amigus tudu priocupadu só Rosinha aguardanu...

E entonces assucedeu u dia da Rosinha vortá
s eus pretendendis ficarum nu maió arvoroçu
t odus querenu sabê u qui ia acontecê
a Rosinha intão chamô os treis lá na pracinha
v irô cum treis rosa nas mão i falô
a s rosas é duas branca i uma vermeia...

C ada um vai ganhá uma dessas frô
h oji eu dô duas branca pra dois amigus
o tra vermeia pru meu iscoido amô
r asgadu tá meu coração qui só podi escoiê um
a minha vontadi era podê amá oceis treis
n um possu fazê isso pruque issu é erradu
d ô então as rosa branca im sinar di gratidão
o ceis tudos mi fizerum feliz i guardu oceis nu coração

e ntregô a primera rosa branca pru Juão

P egô a otra rosa branca i intregô pru Pedrinho
e a rosa vermeia intregô pro Tunico cum bejinhu
d eu bejinhu nu Juão i nu Pedrinhu i agradeceu u carinhu
r ecebeu delis tumem um bejinhu cum carinhu e cum respeitu
o Tunicu abraço us amigus i di braçus dadus foi imbora com a Rosinha...

e u tempu passou i a vida continuô...
s ó Deus sabi us destinus di tudus nóis...
t udu tava incaminhadu...
a vida é uma caxinha di surpresa...
v ai e vorta, vorta e vai...
a s veiz as aparênças ingana...

f oi intão qui Juão foi estudá na cidade grandi lá im Belu Horizonti
u Pedrinhu foi sê garimpero na Serra Pelada lá pras bandas du Pará
g anhanu u disafio, Tunico acabô viranu sordadu do arraiá
i nvolvida cum o namoro a Rosinha pro casório foi si prepará
n as prendas da cuzinha i das custura a sua mãe começo a insiná
d espois di um ano interinhu ela já tava prontinha pra casá
o pai chamo o Tunico e falô pra ele tudu providenciá...

e lê intão fico noivu da Rosinha i dinherô começo juntá...

n esses tempu um trem a Rosinha começô a repará...
o Tunico era homi bão mais du Pedrinhu começo a si lembrá...

f icava inté chatiada mais num consiguia daquilo si livrá
i nté pra Santu Antonho começo tudu dia a rezá
m ais quantu mais ela rezava mais a sombração do Pedrinhu aparecia...

d eu ismola pra tudu qui pricisava
e nfiava a muringa nágua fria da bacia
s acudia a cuca pra mor du pensamento voá
s algava us cabelus cum sar grossu
a tirava bilhetes cum pedrinhas nu riu...

h inus di igrejas cantarolava
i magis di cristar di anjus comprô
s empri consurtava as cigana
t omô inté chá di arruda
ó trás veiz jogô u jôgo das conchinha
r unas i um treco di números consultô
i a im tudu qui é cantu pro mor daquilo pará
a inda assim só sonhava cum u Pedrinhu no Pará...

a ssim passô us dia qui demorava mais a passá
o Tunico tudo assanhadu pra mor di pode casá...

a Rosinha priocupada cum u dia qui ia chegá
p ra ninguém nunca contô o segredo qui vivia a enfrentá
a chava qui tudu aquilo ia um dia logo ia passá
g uardava e bordava us panus du seu inxovar
a prendia tudinhu u qui a sua mãe tinha pra insiná
r espirava sempri fundu quando du Pedrinhu vinha si lembrá...
-
s etembro foi u méis qui iscolheru si casá
e ntranu a primavera a Rosinha ia desabroxá...

a data do casóriu era u dia 23 iníciu da primavera...

f oi tudinhu preparadu
o padri foi comunicadu
g randi festa arraiá nunciada
u s padrinhus i madrinhas escoídas
e u vistidu di noiva pela mãe foi custuradu
i nté a banda municipar foi contratada pra tocá
R eginardo Rossi chamadu pra A raposa i as uva cantá
a pois a banda i o corar tocá i cantá a marcha nupiciar...

J uão vortô quasi formadu contadô i foi cunvidadu pru casóriu
o Pedrinhu ninguém nunca mais viu dispois qui partiu
ã Rosinha ficava cada veiz mais linda i formosa
o Tunicu todu cheiu num via a hora di si casá...

c hegô a primavera i as froris tudas vortarô
o s jardim ficô tudu cheio de frores coluridas
n u ar os prefumes delas espaivam nu arraiá
s ó mesmu tandu lá pra senti as emoção
o s noivus tudo emporgadus pru grandi dia
l umiavam mais inté mesmu as estrela
a lua miava di emoção i u sor espaiava calorão
v entanias soprava tudo resfrescanu a istação
a finar chegô a hora i u dia da grandi cerebração...

A praça da Matriz ficô tudinha lotada
n a igreja num cabia nem mais uma agúia
t odo arraiá tava infeitadu pra tão isperada hora
ô Tonico chegô todu alinhadu di ternu i inté gravata
n o artar tudas as madrinhas e padrinhus alinhadus tumem
i nté o padri istreou uma istola novinha i dorada
o sinu badalô treis veiz i a noiva Rosinha tudo branquinha chego i entrô...

Q uem tava lá nunca mais si isqueceu du que se assucedeu
u ma cena qui só mesmu nus cinemas di roliúde talveiz já assucedeu
e u arraiá tudinhu despois dissu nunca mais si isqueceu:

c asóriu im andamentu...
a hora da onça bebe água chegô...
i spectativa nu ar...
u padri pregunta: Tem arguém aqui qui podi impedi esti casório?

n a pracinha da matriz iscutasse um forti trotá i uma forti vantania
a montadu num lindu cavalu brancu cum arreio di oro surgi Pedrinhu...

b rincus, colaris, pulseras i inté esporas tudu di oro brilhanti
e leganti num ternu todim branquim cum cravu vermeio na lapela
b atia nu peitu cum uma linda i maraviosa rosa vermeia na mão
e gritava pra tudu mundu ouvi: Rosinha minha fror: EU TI AMU!!!
d ismaius, correrias, arvoroçu gerar, inté u padri si assusto i correu pra sacristia...
e finarmenti resorvida i dicidida Rosinha correu i montô na garupa du alazão...
i à galopi Pedrinhu i Rosinha sumiro na iscuridão da noite i fôru feliz pra sempri...
r evortadu Tunicu tomô treis garrafa di pinga chorava i dizia: u qui é du homi u bichu num comi!!!
a judadu pelo amigu Juão qui virô inté seu conseieru, u Tunicu largô da pinga, nunca mais quis si casá i virô inté sacristão... I essis tumem fôru feliz pra sempri...

ESTE ACRÓSTICO QUE EU FIZ COM A LETRA INTEIRA DA MÚSICA PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO ( de Osvaldo Santiago e Benedito Lacerda) PARA PARTICIPAR DESTA BRINCADEIRA TÃO LEGAL, MOTIVADA POR ESTA ÉPOCA DELICIOSA DA NOSSA CULTURA POPULAR DE FESTAS JUNINAS, EU DEDICO A TODAS AS AMIGAS POETISAS E A TODOS OS AMIGOS POETAS, QUE TÃO CARINHOSAMENTE ME RECEBERAM NESTE MARAVILHOSO SITE, COM O MEU MUITO OBRIGADO PELO CARINHO E PELO APOIO DE SEMPRE...

FIQUEM SEMPRE COM DEUS!

PAZ E BEM!

BESOSSSSSSSS....

http://www.damanit.com.br/forrocacana_pot_pourri_3.mid

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"IV EVENTO LITERARIO DE 2008"

“SANTO ANTONHO”

Ara Santo Antonho...
Num querdito mais no Sinhô...
Já passei da hora...
I casamento que é bom, nada...
Sabe aquela novena???
Quinze veiz...
I o jejum???
Esmagreci deiz quilos...
Tem jeito não doto...
Santo Antonho me desconjurô...
Intè aquela véinha sem dente, sabe...
Óia, nem ela qué sabe mais deu...
E a loirinha La da praça???
Nem cum dinheiro...
Dia desses tava eu me confabulando com o cumpadi...
E ele me abriu us òios...
Eu preguntei, pro que é que Santo Antonho num me atende...
E ele me expricô pruque eu falo inrrado dimais...
Se quisé que Santo Antonho me atenda...
Tem que pelo menos o nome dele dereito falá...
Será???

Ai então resorvi...
Uma Oração fazê...
A Santo Antonho eu prometi...
Seu nome consegui iscreve!!!

Meu Santo Antonho querido...
Se o sinhô me ajudá...
Prometo que me afundo nos livro...
E seu nome vou consegui escrivinhá!!!

Mas pur favo faça sua parte...
Uma custela arruma pra eu arranhá...
Execute sua bela arte...
Que é di faze a todos casa!!!

Foto de Edson Cumbane

NA CALADA DA NOITE

Na calada da noite
Pensei em mim
Aliás, pensei em todos
Se calhar, senti-pensei
Passo, a expressão

Na noite deste maio
Que rima com o quinze
Pensei em forma de sentimento
Senti em forma de pensamento

Na hora zero
Zerei tudo, tudo mesmo
E descobri os zeros do meu...
... Pensamento... sentimento

Ah, como pode o mundo
Ser tão cheio de mistérios
Que trazem mil questões
Que questionam minha forma
De viver, sentir, pensar, estar...

Na calada da noite
O silêncio traz a realidade
A divindade encontra sossego
Eu não! Fico encostado
Em mim, retraio-me
Zero tudo! Fico em êxtase.

Pontualmente arrebato a
Retrospectiva do dia
E penso
E sinto
Na calada da noite!

Foto de Wilson Madrid

AS FORMIGAS APRESSADAS

*
* CRÔNICA
*
*
18:30' de um dia do mes de abril de 2003.

Estação Sé do metrô de São Paulo, uma das cinco cidades mais habitadas do planeta, com cerca de quinze milhões de habitantes.
No saguão interno da estação, acontece uma exposição denominada “Êxodos – a humanidade em transição – 1993-99”, trabalho de Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro consagrado internacionalmente pela sua arte fotográfica, voltada para os problemas sociais da humanidade, expondo fotos das vítimas e refugiados das recentes guerras e conflitos sociais ocorridas em vários países do mundo.
Sucesso de crítica e de público em vários países, a apresentação do trabalho informa que “movido pelos milhões de refugiados, migrantes e destituídos do mundo, o fotógrafo Sebastião Salgado documentou a situação em 41 países durante quase sete anos. Por quê? "Espero que tanto como indivíduos, grupos ou uma sociedade, façamos uma pausa para pensar na condição humana na virada do milênio. Na sua forma mais brutal, o individualismo continua sendo uma fórmula para catástrofes. É preciso repensar a forma como coexistimos no mundo."
Mesmo sendo gratuita para os milhares de usuários que passavam pelo local, apenas cinco ou seis pessoas apreciavam a obra prima do excepcional artista, cidadão do mundo e profeta da injustiça social mundial.
Ao lado da exposição, uma multidão de pessoas passava apressadamente, ignorando completamente tão importante trabalho.
Naquele horário, aquele local parecia um “formigueiro” de pessoas preocupadas em chegar logo aos seus destinos, provavelmente, algumas indo para o trabalho, outras para a escola e a maioria, certamente, retornando do trabalho e indo para as suas residências, onde, após o jantar, costuma dedicar algumas horas da noite assistindo a nossa programação de tv, repleta de futilidades e tão carente de programas educativos e culturais.
Foi impossivel deixar de me lembrar do “maluco beleza” Raul Seixas, que algum dia deve ter sentido o que mesmo que senti naquele momento e denunciou ao compor S.O.S.: “Lá por detrás da triste e linda zona sul, vai tudo muito bem, formigas que trafegam sem por quê...”.
Quanto aos cinco ou seis "desocupados" que dedicaram parte do seu tempo apreciando a exposição, tenho a certeza de que sairam enriquecidos no conhecimento do quanto o individualismo e o egoísmo humano é capaz e do quanto é urgente e imprescindível conscientizar as pessoas para o combate à toda e qualquer injustiça pessoal ou social, cada um fazendo o que estiver ao seu alcance para o bem comum, porque a injustiça social é gerada pela somatória das injustiças pessoais, na esperança de um dia ver toda e qualquer injustiça varrida da face da terra, para a humanidade, finalmente, poder assumir o seu direito natural e divino de poder viver em paz.
Para os que ainda não conhecem ou não souberam da realização da exposição de tão importante trabalho naquela oportunidade, ainda existe a possibilidade de conhecê-lo através do site www.terra.com.br/sebastiaosalgado.
Quanto aos demais componentes do “formigueiro”, deduzi que ocorreu uma falha grave por parte dos organizadores, no que diz respeito ao despertar do interesse geral pela exposição: esqueceram-se de contratar algumas recepcionistas com peitos e bundas de silicone; alguns seguranças "sarados" e espalhar pelo chão, em torno dos painéis que continham aquelas impressionantes fotografias, algumas pitadas de açúcar, misturadas com um pouco de fama, dinheiro e poder...
Porque as “formigas apressadas” aprenderam que “tempo é dinheiro” e que “o importante é levar vantagem em tudo, certo?” e o que elas ganhariam perdendo seu "precioso tempo" ou que vantagem levariam para ver umas fotos em branco e preto, feitas por um tal de Salgado, de algumas pessoas amarguradas, desconhecidas, pobres e excluidas do direito à dignidade humana, que nem sequer participaram do Big Brother Brasil?

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