Mal amanhecia o dia
Lá ia seu Rabuja,
Com ar de ranzinza,
trajado de cinza
com um saco na mão.
Passava sob as janelas
de todas as ruelas,
caçando ilusões.
Suprimir sofrimentos,
catar pensamentos
caídos no chão.
Havia de todos os tipos;
alegres, pesados, sofridos,
sombrios,l eves, vazios,
em grande profusão.
Catava-os com muito carinho,
colocando-os um a um
dentro do saco, no chão.
E antes de cair a noite
voltava para casa,
com enorme satisfação.
Embora cansado, queria
fazer de seu sonho, realização.
E nas prateleiras da sala,
distribuía com gala,
pensamentos mil...
Dispostos em ordem alfabética,
Sem nada de rima ou métrica,
com gesto febril.
Na A, pensamentos de Amor,
Na B, de beleza interior,
Na C, compaixão, comunhão,
Na D, desapego, doação...
Os pensamentos doentes
eram todos separados,
pois, por ele eram tratados,
com zelo, cuidado e aparato.
E quando chegava a hora
era o momento de glória...
Num raro jardim secreto,
plantava todos pensamentos
já livres de sofrimentos.
Com um sorriso discreto
tratava-os com grande afeto.
Então vinha a Primavera
com seu poder de transformação;
cada pensamento virava
linda rosa em botão...
E de seu Rabuja, o jardim,
Era beleza sem fim...
Canto de passarinhos
que saíam de seus ninhos
Pra voar por entre as flores,
rosas de todas as cores.
E quando de lá partiam,
em seus biquinhos cabiam
as mudas que então espalhavam
em cada canto da cidade.
As rosas se multiplicavam,
os pensamentos se uniam
num misto de amor e felicidade.