Polícia

Foto de Marsoalex

Que país é esse?

Que país é esse?
Que dizem ser meu Brasil
Onde só tem coronéis
Onde só tem generais
Onde uns poucos são tão ricos
cheios de ouro e fuzís
E dos poucos sobram tantos
Pobres e marginais...

Que país é esse?
que dizem ser o meu berço
Onde a justiça so serve
Àqueles que têm dinheiro
Onde o ladrão de gravata
É sempre um homem direito
Que assalta os cofres públicos
E nunca, nunca vai preso
E nem devolve o dinheiro

Que país é esse?
Que dizem ser minha terra
Onde não tem saúde,
justiça ou educação
Onde polícia e bandido
Faz a sua propria guerra
E o povo entre esse fogo
É só bucha de canhão

Que país é esse?
Que dizem ser o meu lar
Onde vivo ao relento
com fome e sem moradia
Onde as crianças de rua
Não dá nem pra calcular
E para sobreviver
Elas roubam, se viciam

Que país é esse?
Que dizem ser meu torrão
Onde o povo é como gado
Mantido sempre em curral
Ali só é procurado
Quando chega a eleição
E para esquecer suas mágoas
Ele brinca o carnaval
Que país é esse???

Foto de Osmar Fernandes

Aparição do Capeta

Certo dia, noite escura, num terreno baldio, próximo da Igreja Católica, três moleques levados pegaram uma abóbora e fizeram dela uma caveira... Fixaram uma vela acesa em cima de um toco e a puseram por cima. Ficou parecendo o demo, o capeta mesmo!
A missa acabaria às vinte horas. Os fiéis que passariam por ali, a pé, certamente a veria. A caveira ficou num ponto estratégico, bem na esquina.
O pessoal ao sair da missa, ao vê-la, gritou: “Valha-me Deus! Jesus tende piedade! Minha Nossa Senhora da Aparecida! Salve-me Senhor!
Foi gente pra todo lado... Os três capetas caíram na gargalhada... Quando o local esvaziou, saíram da moita e se depararam com um corpo estendido no meio da rua. Joãozinho, o nanico, gritou: “É dona Julieta! Ela tá mortinha da silva! E agora?! Estamos fritos!!!” Pedrinho, o gago, disse: “Vixe, agora lascou tudo!!! Vou deitar o cabelo!!!” Luquinha, o mala, disse-lhes: “Calma aí seus frouxos, ninguém viu a gente! Não vai nos acontecer nada!!! Ela morreu de susto! E daí?!... Vamos tirar a caveira dali e vamos embora.”
Feito leopardos esconderam os apetrechos do Demo e deitaram o cabelo...
Não demorou muito e a polícia chegou ao local. D. Julieta foi levada ao hospital, acordou do susto, foi medicada e falou: “Meu Deus o que era aquilo?! Eu preciso falar com o Padre Bento!... Era o Demo! Valha-me Deus!!!”
O médico e a enfermeira diziam para ela ficar calma porque na idade dela era normal ver coisa que não existe... Deram-lhe um calmante e a fizeram dormir até o dia seguinte.
A notícia ganhou a cidade que Dona Julieta tinha batido as botas... Os três capetas estavam assustados e escondidos nas suas casas.
O pai do Joãozinho disse para esposa: “Bem, Dona Julieta viu o capeta e morreu! Estão falando que o Demo veio buscá-la. Faladeira como é, não duvido nada... Amor, toma cuidado, viu!
- Tá louco, homem, eu não falo da vida de ninguém não!
O marido deu uma risadinha maliciosa e foi trabalhar.
O investigador de polícia fazia uma busca no local do crime e achou um chinelo de tamanho trinta três. Era a pista que tinha em mãos.
Chegou na delegacia e disse ao Delegado:
- Senhor, aqui está à prova do crime!
Dr. Clécio riu, e lhe disse:
- Quer dizer que o capeta esqueceu um chinelo e saiu correndo pro inferno! KAKAKAKAKAKAK (RIU TANTO QUE SE ENGASGOU...). Vá amolar outro, Cido! Tenho mais o que fazer nariz de Pinóquio! Cada uma que me aparece! Você não percebe que essa cidade está de perna pro ar... Se esse povo não melhorar Deus vai aniquilá-la assim como fez a Sodoma e a Gomorra.
O Investigador abaixou a cabeça e saiu chateado e pesou: “Vou pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó... Ateu eu não sou não, mas acreditar que isso é obra do Demo já é demais para minha inteligência.”
O Padre Bento assim que soube do acontecido entrou no terreno baldio e fez uma devassa, procurou por todo lado e achou a cabeça de mamão e a vela jogados debaixo dum pé-de-mato, e disse a si: “Eu sabia que não tinha diabo nenhum nessa história! Esse meu povo inventa cada uma! Perdoai-os ó Deus!!!”
Com a notícia da aparição do capeta a Igreja superlotou e o dízimo aumentou sobremaneira e o Padre ficou pensando se dizia ou não, no sermão, sobre a cabeça de mamão... Pensou... E, calou-se.
Os três capetas se reuniram e Luquinha disse:
- A velha não morreu... Com o susto desmaiou. Dona Julieta sairá do hospital hoje à tarde.
Pedrinho, o gaguinho, disse:
- Mas a polícia está investigando. O que nós fizemos é crime. Se a polícia descobrir quem fez isso, a cidade toda ficará sabendo... Nós vamos ser linchados!
Joãozinho, o nanico, disse:
- Eu sou coroinha, vou me confessar com o Padre Bento e vou lhe contar tudo. Se o meu pai souber disso vou levar uma peia, uma surra daquelas de tirar o coro.
Os dois amigos disseram juntos:
- Você não tá nem doido! O Padre nos mata!
Joãozinho:
- Eu tô com medo!
Os três amigos fizeram um pacto: “Nunca contariam sobre a caveira pra ninguém, levariam esse segredo para o túmulo.”
Joãozinho confidenciou: “Perdi um pé do meu chinelo, presente do meu pai, fui na data procurar e não achei. Temos que achar o chinelo logo.”
Os amigos não deram importância nisso e foram embora.
O investigador conhecia todo mundo da cidade, saiu de casa em casa perguntando se aquele chinelo pertencia a alguém daquela residência.
Luquinha ficou com os olhos estatelados ao vê-lo em sua casa perguntando à sua mãe se ela não tinha dado falta de um pé de chinelo.
Luquinha reuniu seu bando imediatamente e disse:
- Vamos roubar aquele pé de chinelo hoje à noite. Cido vai sempre jogar no Tunguete... Vamos aproveitar esse momento e vamos em sua casa buscar o pé de chinelo. Não tem outro jeito. Ou fazemos isso ou esse sujeito vai descobrir tudo.
O Delegado foi à Igreja e logo após a missa disse ao Padre Bento: “Padre o meu investigador tem uma prova cabal do malfeitor... Creio que dentro de poucas horas iremos elucidar o caso.”
- Meu filho, que prova é essa?
- Respeito-lhe demasiadamente Reverendo, mas isso é segredo de Estado, não posso dizer de jeito nenhum.
- Mas meu filho, eu sou o Pároco, pode me falar, vou guardar segredo... Quantas vezes você já se confessou comigo?!
- Padre Bento isso não é um pecado, é segredo profissional.
- Meu filho, eu lhe vi nascer, lhe batizei, lhe crismei, foi meu coroinha... Vai ter coragem de fazer isso comigo? Conta-me logo que prova é essa?!
- Conto não! Não posso!... O senhor pode falar sobre as confissões dos fiéis?
- Claro que não! Você tá doido, perdeu a cabeça. Jamais violarei o segredo do Confessionário. Exerço minha função com a fé em Deus e obedeço piamente com o que preceitua no CANON 1388 (1), que diz: O confessor que viola diretamente o sigilo da confissão incorre um sententiae (automática latae) excomunhão reservada à Sé Apostólica.
- Eu também não posso falar sobre essa prova! Não posso violar a confiança do meu investigador, estaria cometendo um crime.
O Delegado foi embora com a pulga atrás da orelha e pensou: “Por que tanto interesse do Padre nessa prova?!”
Paulinho viu seu filho descalço e lhe disse:
- Joãozinho, cadê seu chinelo? Já lhe dei de presente para não ver você descalço... Não ande descalço menino! Vá calçar o chinelo agora!!!
Joãozinho correu na casa do amigo e lhe pediu o chinelo emprestado, e Carlos lhe disse: “Mas você tem que me devolver logo, senão meu pai me dá uma surra se me ver descalço também.”
Pedrinho era muito religioso e naquele dia às dezessete horas resolveu se confessar com o Padre... Contou tudo e admitiu que estava com medo do investigador descobrir toda a história, porque seu amigo tinha perdido um pé do chinelo que ganhara de presente do pai.
Padre Bento pensou: “Mas Cido é ateu... Tenho que dar um jeito de calar a sua boca...”
O Padre arquitetou um plano e mandou o seu Sacristão chamá-lo, urgentemente... Rubens, o puxa-saco do Padre Bento foi à casa do investigador e disse-lhe:
- Cido, o padre Bento quer vê-lo, agora, já. Ele disse pra você ir lá, correndo, imediatamente, agora mesmo!
- Mas, que diabos o padre quer comigo? Num devo nada para Igreja... Nem em Deus não sei se acredito?!
- Não fala assim não rapaz! Deus é tudo e tudo é amor. O padre não tem diabo nem um. Vai logo e saberá. Quando o padre chama é como se fosse Deus nos chamando, né?!
- Fala pra ele que mais tarde eu passo por lá.
Dona Julieta visita o padre Bento e lhe diz: “Padre, eu nunca vi bicho mais feito no mundo que aquele. Era o Demo, o Demônio em pessoa!... Minha Nossa Senhora da Aparecida! Eu fiquei frente a frente com o Demo, Padre!... Eu já preparei uma novena. Vamos começar amanhã cedo... Padre, eu disse para os que me visitaram no hospital que se o Demo está nos visitando é porque estamos sem fé, é um sinal dos céus. Por isso vamos fazer a novena!”
Aquele acontecimento abalou a cidade. Nas ruas, nos bares, nas casas, nas roças, nas Igrejas, em todo lugar o boato corria solto: “O Demo está fazendo tocaia na nossa cidade!”
O Padre Bento ficou com a consciência pesada e pensou “Será que devo falar sobre essa história hoje na hora do sermão? Será que devo levar o assunto ao Bispo?!”
Dona Julieta foi rezar e depois foi para sua casa...
As Igrejas protestantes começaram a fazer cultos durante o dia todo. Até os ateus temeram... A cidadezinha pacata acordou... Era gente acendendo velas no Cruzeiro do Cemitério... Despachos nas encruzilhadas... Novenas... Enfim, os religiosos se mexeram de forma jamais vista naquele lugar. Em todas as Igrejas as oferendas aumentaram significativamente. O comércio de produtos religiosos vendia como nunca.
A palavra numa das Igrejas Protestantes era brilhante e dizia:

Ezequiel [Capítulo 28:13-18]

Tu estiveste no Éden, jardim de Deus ;cobriste de toda pedra preciosa: A cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até o dia em que em ti se achou iniqüidade. Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem.

Mateus [Capítulo 4:1-11]

Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então lhe ordenou Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o Diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram

E o pastor encerrava seu sermão dizendo: “Na casa do senhor não existe satanás, Xô satanás! xô satanás!”

O Investigador chegou à Casa Paroquial, adentrou, foi imediatamente atendido pelo Padre Bento que o levou ao seu escritório e lhe disse:
- Meu filho, eu lhe peço encarecidamente que pare com a investigação sobre a aparição do Capeta.
- Padre o senhor está me pedindo algo que não posso atender.
- Por que meu filho?
- Padre, eu quero pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó. Ela quase bateu as botas... Tenho certeza que não tem nada a ver com coisa doutro mundo. Isso foi coisa de moleque, de vândalo; brincadeira de mau gosto... Se não fizermos alguma coisa para punirmos esse tipo de “brincadeira boba, idiota”, ainda vamos perder um ente querido. O senhor não acha?
- Meu filho, nem tudo parece o que é. Deus tem desígnios que só pertence a Ele. Veja o movimento da nossa cidade!... O povo voltou à igreja, voltou a ter medo dos castigos de Deus. Isso vai fazer a criminalidade zerar. Nunca se viu tanta reza por aqui. O povo voltou a temer a Deus! Os meninos e as meninas voltaram para o catecismo. O fervor da fé voltou a tomar conta da nossa cidade... Nunca vi você na missa. Falam que é ateu... Mas, pare com essa investigação?
- Padre Bento, eu sou agnóstico... Não estou lhe entendo! O que tem a ver uma coisa com a outra?
- Meu filho, eu sei que você é um exímio Investigador de Polícia, mas essa história não pode ir adiante. Pare de investigar... Essa história acabou fazendo um milagre por aqui. O povo voltou a ter Deus no coração. Isso não é bom?
- Padre, eu acho que o senhor está sabendo demais... Já descobriu a verdade?
- Não!!! Vieram me dizer que você anda perguntando nas casas se alguém deu por falta de um pé de chinelo.
- É verdade! Eu achei um pé de chinelo novinho em folha naquele matagal, local do medo. Vi muitos pisados por lá... De pés pequenos... E, cheguei à conclusão que tem mais de um moleque envolvido nessa tramóia. Padre, eu vou achar o criminoso que quase matou minha avó, custe o que custar!
O Padre franziu a testa, várias vezes, e pensou: “Vou ter que falar com o superior desse traste e pedir para que o transfira daqui.”
O Investigador foi embora e não hesitou em dizer para o delegado sobre a sua visita na Casa do Padre:
- Doutor, eu estou vindo da casa do padre...
- Que diabos você estava fazendo na casa do Bento?!
- Eu fui lá porque ele mandou me chamar... Estranhei, mas... O senhor sabe, Padre é Padre, enfim.
- E o que a Igreja queria contigo?
- Só faltou se ajoelhar pra mim Doutor... Implorou para eu parar com as investigações sobre a aparição do capeta.
O Delegado coçou seus poucos cabelos da cabeça e disse: “Aí tem coisa!” E disse ao Cido:
- Você me traga o pé de chinelo e me entrega ainda hoje.
- Doutor ele está aqui na minha mochila, pega!
- Então essa é a prova que temos?... Pois é, a partir de hoje em diante essa investigação é minha. Você está fora desse caso. Vai cuidar de descobrir quem roubou o Jumento do Zé, que ele está me enchendo o saco e até hoje você não descobriu nada.
O Investigador de Polícia sem ter o que dizer, simplesmente obedeceu seu superior e saiu à procura do ladrão do Jumento...
O Doutor Clécio foi ter com o Padre Bento cinco dias depois e disse:
- Padre eu tenho a prova do crime aqui em minhas mãos e já descobri tudo. Vou prender quem fez isso.
- Doutor Delegado o senhor tem o quê em mãos?
- Eu tenho o pé de chinelo.
- Pé de chinelo!!! O que isso tem a ver com a aparição do Capeta?
Padre, isso tem tudo a ver! É a prova que não existe Capeta nenhum, isso provavelmente foi armação de quem não tem o que fazer na vida e fica assustando as pessoas de bem.
- Esse chinelo não prova nada. Qualquer pessoa pode ter ido naquele matagal e o esquecido.
- Será Padre?!
- Claro meu filho!
Padre, o senhor está muito interessado no encerramento dessa investigação, por quê?
- Não meu filho, eu não estou não! Mas, se você pensar bem, depois que viram o Capeta, a cidade melhorou muito. A Igreja não cabe de tanta gente nas missas. Não se falou mais de roubos, mortes, vadiagem, etc. Nunca vendeu tanto produto religioso como agora. Pense no sossego que nossa cidade vive hoje!
- É Padre Bento, pensado por esse lado o senhor está coberto de razão. Minha delegacia está um deserto, nem um B.O, nem de briga de casal. Nunca vi tanta calmaria em nosso Município.
- Então, pra quê elucidar esse episódio? Deixa o povo pensar que o Diabo está de olho bem aberto e bem pertinho de cada um.
- Mas, Padre Bento, o Capeta não anda de olhos arregalados pra todo mundo mesmo, doido para tomar conta da nossa alma?!
- Sim... Mas essa já é outra história...
O Delegado deu o pé de chinelo para o Padre e deu o caso por encerrado.
O Padre chamou Joãozinho e lhe deu o pé de chinelo e lhe disse: “Vê se não o perde mais...”
Os três capetinhas voltaram a participar assiduamente de todas as missas e a ajudar o Padre no catecismo.
Toda vez que o povo fraquejava, desanimava, deixava de ir à missa, a aparição do Capeta era automática.

Osmar Soares Fernandes

Foto de Osmar Fernandes

Proibido para menores

Não pode mais tirar a roupa.
Nasceu pelado, mas agora é proibido.
Ao nascer era lindo, comum...
Agora, vira caso de polícia.
O ser - humano é engraçado.
Antes era meigo, divertido.
Hoje é cabeça oca!
Ficar nu é incomum.
Quem diria?!
É proibido ficar pelado.

Parece coisa de maluco!
Nos filmes das tardes,
Ver índio nu é coisa normal.
Tem gente que nunca viu um eunuco...
A lei é paranormal.
O cérebro está cheio de sardas.
Nu, só na intimidade.
A censura tem vários atalhos.
Toda fidelidade é falha.
Não há uma verdade!!!

O que era já não é mais.
O que podia, é proibido.
O mundo está de cabeça para baixo.
Esse fardo está pesado demais.
Pelado, só na praia de nudismo.
Acho ridículo o uso da Burca...
Choque de cultura ou revanchismo?
Coitadas dessas senhoras!
Não entendo essa política caduca!
Daqui a pouco: “Proibido nascer menor!”

Foto de pedro felipe

Diário da vida não desejada

Essa história relata a vida de um garoto
Que o tempo em que viveu por seus pais foi mimado
Sim, seus pais faziam tudo o que ele queria
E se ele fizesse algo de errado
Eles permaneciam calados
Ele foi o primeiro filho do casal
Aquele muito querido
Mas com o tempo, aquela pessoa especial
Estava sendo treinada para ser um bandido
Afinal ele tinha tudo o que queria
O mundo para ele era só alegria
Não conhecia a palavra obediência
E agia sempre com violência
Pois depois dos 13 anos de idade
O filho seus pais começou a maltratar
Ele estava com um tipo de mentalidade
Impossível de apagar
Pois tudo era como ele queria
E era assim que ele vivia.
Como o tempo não para nessa vida
O filho completou os 17 anos de idade
E ele começou a perceber uma grande ferida
Mas a ferida era a falta de autoridade
Era uma ferida no coração...
Ele se viu em um caminho sem direção
Drogas ele passou a usar e vender
Começou a enfraquecer
Suas dívidas com os traficantes foram aumentando
E daquele jeito ele estando
Começou a assaltar
Pessoas, lojas, banco e até bar.
Até que um dia, a polícia o prendeu
Levou ele para a prisão
Sua vida logo perdeu
Pois pegara 80 anos
E uma incurável ferida em seu coração
Foi ai que ele olhou para trás de sua vida
E começou a ver o seu “diário”
Logo ele viu, que dês de seus 13 anos já não tinha saída
E que mesmo com seus pais, ele sempre foi solitário.
Começou a se jogar contra a grade
Sua cabeça na parede começou a bater
E agora a sua única vontade
Era morrer.
Depois de muito machucado
Pediu para seus pais ali chamar
Eles vieram desesperados
Sem saber o que pensar
Chegando lá viram a situação
E logo deu aquele aperto no coração
O filho sem forças, na beira da morte
Tentou ainda ser forte
E ao seu pai e sua mãe começou a dizer
Pai...
Olha bem para mim, veja a minha situação
Isso que aconteceu comigo, foi falta de amor.
A verdade é que você não teve a paixão
Dessa minha história, você foi o autor.
Mãe...
Com tudo, nunca me corrigiu
Mostrou-me o mundo como uma fantasia
Aquela simples criança evoluiu
E infelizmente não foi como Deus queria
Eu? Comecei a pensar que tudo nesse mundo era do meu jeito
Pensei que tudo o que eu queria,
Com um simples pedido eu teria
Pensei mãe, que eu era perfeito...
Nunca ouvi um não
Depois aqui na prisão
Murro na minha cara era um carinho...
Nunca falaram pra mim sobre Jesus
Que talvez em minha vida tivesse colocado a luz
Minha vida foi sempre nas trevas
Mas não esquece de mim não mãe
Apesar de tudo, o amor ainda fica aqui no meu coração
Brigando por espaço com minhas feridas
Mas o que me resta dizer então
É que isso é uma despedida
Deus me chama, não sei se com ele irei
Pois na maldade eu sempre mergulhei
Depois destas palavras o seu olho fechou
Ali morto ele já estava
Seu pai já era velho, e não agüentou
E seu coração fraco, logo parou.
A mãe com aquela dor que não cabia em seu ser
Escolheu para si, também morrer.
Uma faca pegou com muito jeito
E logo colou contra seu peito...
Essa é a história da vida não desejada
Não esqueça que a vida é uma longa estrada
E se você esquecer da palavra autoridade
A vida não deseja você terá
Essa é a verdade.

Foto de Rozeli Mesquita - Sensualle

Brincadeira de Criança

Roda, roda, roda...
roda meu corpo e o seu
Polícia ? Pega Ladrão !
Roubaram meu coração

Levante o pezinho,
pule com uma perna só
Amarelinha...caminho do céu
Não fujas de mim...Tenha dó!

A corda não é pra amarrar
É pra pular bem juntinho...
Demorado, lado a lado
Ficar o dia todo agarradinho!

Pera, uva ou maçã?
Veja lá o que vai escolher
Quero um beijo bem gostoso
Estou de olho em você!

Passa , passa três vezes
Passa quantas vezes quiser
Stop... estátua...
quero ser tua mulher!

Não brinque de esconde esconde
Nem de telefone sem fio
Prefiro que roube um beijo
Daqueles que dá calafrio

Gangorra, balanço, Pingue- pongue
Corrida, domino ou escorregador
Essas brincadeirinha só revelam
Como é grande o nosso amor!

Peteca, trava língua, ioiô
Elástico, memória e bambolê
Morto-vivo ou de casinha
Quem sabe assim “amarro” voce

Brincadeirinhas a parte
Venha comigo comemorar
Amor puro , de forma infantil
E nossa união eternizar

Foto de Osmar Fernandes

Pichador

Pichador
Em outros tempos, era um movimento social...
O artista expressava seu pensamento.
Sabia apontar seu chacal...
Protestava com sentimento.

Hoje em dia, no Brasil, é vandalismo.
Jeito mesquinho de aparecer na televisão...
Disputa entre gangs, revanchismo.
Desejo espúrio de competição.

Essa faccão não teve infância, nem diversão.
Comete o crime no delírio de sua euforia.
Pensando ser sua arte uma criação,
Espalha sua tinta como embolia...

Essa turma vegeta em constante adrenalina.
Não tem medo da morte.
Vive correndo da polícia.
Seu mundo é obscuro, sem norte.

Como vampiro, ataca de madrugada.
Onde põe sua marca faz o objeto chorar...
Virou vício, doença desalmada.
Sua assinatura é um lixo a lamentar.

Osmar Soares Fernandes
Publicado no Recanto das Letras em 26/02/2009
Código do texto: T1457855

Foto de Osmar Fernandes

De modelo só a propaganda

De modelo só a propaganda

Na cidade grande é assim:

O trânsito fica enlouquecido.

O guarda quase engole o apito.

O pedestre fica perdido...

É fúria na hora do pico.

É briga no engarrafamento.

É difícil prever o fim.

Ninguém respeita o acostamento.

No “ligeirinho” há sempre confusão.

Um sempre grita: – pega ladrão!

Outro: – tira essa mão boba daí!

No centro a lei obriga pagar o “Estar”.

Para o engravatado há sempre um táxi.

Nas lombadas o “pardal” está sempre acordado...

É obrigatório bater continência para o senhor Radar.

Quem é multado perde ponto... Paga caro.

No sinaleiro é comum ser assaltado.

Nas rodovias, o soberano ladrão, é o pedágio.

O motorista está sendo crucificado.

O IPVA é o cupim – o vírus do ágio...

O “DPVAT” dá nó no cérebro da democracia.

Ao povo resta-lhe o recado da sorte:

“Quem sai de casa fica à mercê da morte.”

O trânsito virou caso de polícia.

À noite a vida não demora passar.

O homem do viaduto tem sono trágico.

O bandido sai à caça para matar.

Impera a lei do poder do tráfico...

Homens-cavalos puxam suas carroças,

Limpando a cidade, sonhando em voltar pra roça.

Atraídos pelo mundo moderno que encanta,

Choram ao descobrir, que, de modelo, era só a propaganda.

Foto de angela lugo

(PEDOFILIA)

"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos."
Sigmund Freud

Pena ter alguns que não fazem uso da inteligência

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Hoje vendo o jornal da tarde fiquei estupefata com a notícia.
“Pai estupra a filha de um ano e um mês,”-senti um arrepio na alma e chorei.
Nesta hora queria ser um Deus ou mesmo o Freud para tentar entender o que se passa na cabeça de um ser humano – se é que é possível chamar de humano uma pessoa que assim, se faz presente em nossa sociedade.
O que leva um homem destes a sentir prazer com um bebezinho que não sabe e não conhece a palavra SOCORRO. Que força negativa é esta que se apossa de um ser para que possa cometer uma barbaria destas.
A mãe estava entregue ao pranto e quase não conseguia falar para os repórteres, com a voz fraquinha, foi contando o sucedido em sua casa, em rede nacional.
“Estava na cozinha fazendo mamadeira para a bebê quando ouvi seus gritos”, como poderia imaginar que não era de FOME e sim de DESESPERO que ela gritava.
“Entrei no quarto eles estavam nus sobre a minha cama”, como pode este homem despir sua própria filha e se deitar em cima dela,- NÃO ME CONFORMO.
“A minha filhinha estava com o cobertor no rosto”, covarde cobriu o rosto da filha para nem sequer lembrar que ela de fato era sua filha, mas mesmo que não fosse como pode fazer tamanha barbaria, para um bebê.
“A cama estava ensangüentada o sangue estava também no berço dela”, cá com meus botões fico pensando: porque ela demorou tanto para ir ver o que estava acontecendo, claro, qualquer mãe não pode nem imaginar que o pai que está lá cuidando da filha possa de fato com tamanha maldade a estuprar e quase a matar.
A menina foi hospitalizada devido ao grande “estrago” em seu corpinho. Quanto tempo será que este “monstro,” esteve com a bebê. Como pode usar e abusar dela. Fico aqui me perguntando e entro em desespero por nada poder fazer
Minha religião prega que não devemos tirar a vida de ninguém, mas nestes tipos de casos infelizmente eu sou a favor da pena capital.
“Pai do céu” me perdoa pelo meu pensamento, mas não consigo parar de pensar, ela é apenas, UM BEBEZINHO INDEFESO.
A mãe diz: “se eu chamar a polícia ele falou que me mata”, aplaudo esta mãe que denunciou sem se preocupar com a ameaça de morte e espero que muitas sigam o seu exemplo e coloquem estes, “monstros,” no lugar em que deveriam estar desde o dia em que nasceram, - ALIAS NEM DEVERIAM TER NASCIDO, - no inferno da prisão.

“Quanta falta de amor
Quanta falta de humanidade
Quanta falta de discernimento
Do verdadeiro amor
Quanto... Quanto pode pesar
O desamor no coração de alguns”

Foto de pttuii

Aristóteles de Sousa Escrivão

Num futuro assustadoramente próximo, a fúria de um homem servirá para abrir todos os telejornais do mundo. Cansado de assumir os despistes da condição humana, Aristóteles (chamemos-lhe assim) vai pegar em armas e virar-se contra o poder dos mitos. Sem precisar de andar muito irá, um dia, sair de casa e encarar, olhos nos olhos, a diva da ópera. Luísa Todi, imortalizada num busto de virginal mámore branco no centro de Setúbal, será sequestrada. Tudo se vai passar tão rápido, que quando as pessoas se aperceberem já será tarde de mais. Num dia de Verão, mais um a prenunciar a careca de ozono de que o planeta já padece, Aristóteles colocará em prática anos a fio de saber livresco. À hora a que estas linhas estão a ser produzidas, o criminoso do futuro estuda afincadamente a metodologia dos protagonistas dos mais famosos quinze minutos de fama do mundo. Manuel Subtil, Al Pacino em 'A dog´s day', Vladimir, o ucraniano que sequestrou o dono da pastelaria 'Sequeira' na Avenida da República, em Lisboa. Será rápido na abordagem, terá de conseguir prever todos os possíveis erros e, acima de tudo, ter óptimos pulmões para que todo o mundo o consiga ouvir. Num futuro assustadoramente próximo, Aristóteles vai rodear o busto de Luísa Todi com suficiente C4 para rebentar com a Casa Branca. Com o detonador numa mão, e uma AK 47 na outra, vai esperar que todas as unidades especiais da Polícia cheguem. Depois, logo a seguir, virão dezenas e dezenas de jornalistas. Para finalizar o cortejo da decrépita condição humana, marcarão presença milhares de aves necrófagas. Altos, baixos, velhos, novos, brancos, pretos, amarelos. A capa é humana, mas o interior será com certeza animalesco. Aí, e só aí, quando estiverem reunidas todas as condições necessárias para que o mundo saiba quem é Aristóteles, é que quem estiver a ler este texto perceberá, por esta altura, que esteve a ser enganado. Eu, o autor, identifico-me como Aristóteles Sousa Escrivão, bêbado profissional neste mundo há 53 anos. Acabei de apedrejar o busto de Luísa Todi e, neste momento, estou preso num calabouço policial a tentar imaginar que sou uma pessoa importante. Ai de quem se atreva a quebrar uma ilusão que, além de não pagar impostos, prova a teoria evolucionista de Charles Darwin. Deus nunca teve nada a ver com os macacos fodilhões. A má sorte de mais tristonho dos Austrolopitecus, é que está na origem da minha estadia nesta cela.

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nosso mundo

Talvez eu só deseje que esse nosso mundinho seja diferente, toda manhã em que acordo minhas esperanças se renovam, mas toda a noite quando chego à minha casa e vejo o noticiário, elas simplesmente se evaporam, cada vez mais o mundo se torna cruel e as pessoas insensíveis uma com as outras, o egoísmo é total e o ditado de cada um por si e Deus por nós todos precede...
É político corrupto, e o povo reclama, mas na próxima eleição esquece tudo e coloca-o no poder novamente, é guerra de traficante com policiais é polícia corrupta, é o crime organizado comandando, é jatinho de 2.000.000., 00, e o povo brasileiro passando fome sem recurso na saúde e na educação, é a natureza revoltada com as atitudes dos homens e derramando toda sua fúria sobre eles, são os jornais falando sobre o aquecimento global, e noticiando que o g8 está se reunindo para tentar solucionar o problema, é o mais rico país prometendo diminuir as poluições que causam para ajudar o mundo, e aí que eu me pergunto uma coisa que os cientistas vinham prevendo há tanto tempo, tínhamos que esperar chegar ao ponto culminante para tentarmos tomar uma atitude? É o USA invadindo o Iraque e matando milhares de pessoas, somente pra mostrar que pode mais e depois o presidente americano com a maior cara de pau criticando os terroristas, é pra ficar indignado, afinal o que ele está fazendo é terrorismo ou só por que são iraquianos e não americanos podem ser mortos como animais?
Todo o mundo está vendo isso, mas ninguém faz nada, cada um está tão preocupado com seu próprio nariz que o problema alheio não importa, mas ninguém pensa que amanha depois o problema pode atingi-lo e aí será seu também...
Se cada um fizesse a sua parte com certeza viveríamos num mundo melhor e também deixaríamos um mundo melhor para os nossos filhos, pois é, é nessa hora que minhas esperanças se evaporam, pois há quanto tempo falamos sobre cada um fazer a sua parte e cada vez o mundo está pior?
Até quando isto acontecerá?Chegará à hora em que a situação será irremediável, e eu ainda ouvi certo senhor dizer em rede nacional ‘VAMOS VIVER O HOJE, O AMANHÃ A DEUS PERTENCE’.
AGORA EU ME PERGUNTO E TE PERGUNTO, SE AS COISAS CONTINUAREM COMO ESTÁ HAVERÁ AMANHÃ PARA DEUS PERTENCER?

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