Por que veio súbita essa estrela
dançar aos meus pés cansados?
Pois, alheio, nem penso em vê-la,
tantos séculos assim depois
de passarem tantos passados,
que nenhum deles compôs,
espelhada sobre o silêncio meu,
a quietude que esse lago me deu?
Que seio seu ainda me sustenta,
sem ao menos dizer a que veio,
a morbidez terçã de querê-lo
e de deitar nele o branco do cabelo?
Que horizonte ainda acalenta
como destino de tão vagos penares,
se em meus vagares nunca o vejo,
por que tanto me tenta o desejo?
Volte, estrela, às tuas profundezas.
Tua galáxia já te espera aflita.
E leva de mim as tuas tristezas.
Anda, vai... E pelo caminho reflita.
Ou tirarei meus pés e pronto!
Espero (a tona ao repouso reverte)
a ver-te a agonia ao ponto
de ser mais uma estrela inerte.
Mas não me tomes por ingrato...
De fato tivemos nossos momentos...
Mas folhas secas só se alardeiam
quando passam ventos e se esbatem;
pelo caminho do perdão, rodeiam.
O estranho passa, os cães latem...
Mas não há mais do que vingar-me.
Poesia, só da paz de dar-me me arme!
Porque uma outra estrela me verte
e ver-te vinho, vinagre amargo
sem embargo de mim vazado,
não me apraz, nem envaidece.
Hoje ledo, o velho lagar pisado,
legado ao momento não envelhece
o peito, ao tato do relento no convés.
E conhece a sua estrela... Pelos pés.