Olhar

Foto de joão jacinto

Mortais pecados

Olho-me ao espelho, debruado de talha,
luminosamente esculpida, dourada
e pergunto-me ao espanto das respostas,
na assumida personagem de rainha má,
quem sou, para o que dou, quem me dá.
Miro-me na volumetria das imagens,
cobertas de peles enrugadas,
vincadamente marcadas,
por exageros expressivos,
de choros entre risos,
plantados nos ansiosos ritmos do tempo.
Profundos e negros pontos,
poros de milimétricos diâmetros,
sombras cinzentas, castanhos pelos,
brancas perdidas entre cabelos,
perfil de perfeita raiz de gregos,
boca carnuda, gretada de secura,
sedenta de saudosos e sugados beijos
de línguas entrelaçadas,
lambidelas bem salivadas.

Olho fixado no meu próprio olhar,
de cor baça tristeza,
desfocando a máscara, de pálido cansaço
e não resisto ao embaraço de narciso;
sou o Deus que procurei e amei,
em cumprimento do milagre
ou o mal que de tanto me obrigrar, reneguei?
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
ou a raposa velha, vaidosa, vestida de egoísta,
com estola de alva ovelha, falsa de altruísta?

No meu lamento, a amargura porque matei;
sangrando a vítima, trucidei-a em ranger de molares,
saboreei nas gustativas variados paladares,
viciadas no prazer da gula do instintivo porco omnívoro.

Rezo baixinho, cantarolando, beatas ladainhas
de pecador que se rouba e se perdoa,
a cem anos de encarceramento.

No aliciamento cobiçante de coxas,
pertença de quem constantemente
me enfrenta, competindo nas mesmas forças,
traindo-me na existência do meu possuir,
viradas as costas, acabamos sempre por fingir.
Entendo velhos e sábios ditados,
não os querendo surdir em consciência.
Penso de mim, a importância de mais,
que outros possam entender,
sendo comuns mortais,
minha é a inteligente
certeza do enganar e vencer.

Sadicamente bofeteio
rechonchunda face de idealista tímido,
de quem acredita e se deixa humilhar,
dá-me a outra, para também a avermelhar.

Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas,
de luxúrias terrenas, orgias, bacantes incestuosas,
sedas, glamour, jóias preciosas,
etiquetas de marca,
marcantemente conotadas
que pavoneiam a intensa profundidade da alma.
Salvas rebuscadas, brilhantes de pesada prata,
riscadas de branco e fino pó.
Prostitui-me ao preço da mais valia,
me excita de travesti Madalena,
ter um guru para me defumar, benzer e perdoar,
sem que me caía uma pedra na cauda.

Adoro o teatro espectacular,
encenado e ensaiado em vida,
mas faço sempre de pobre amador,
sendo um resistente actor.
Escancaro a garganta para trautear,
sem saber solfejar.
Gargarejo a seiva da videira,
que me escorre pelo escapismo do meu engano,
querendo audaciosamente brilhar,
descontrolando o encarrilhar,
do instrumento das cordas da glote,
com a do instrumento pulmunar
e desafino o doce e melódico hino.

Sou no vedetismo a mediocridade,
que se desfaz com o tempo,
até ser capaz de timbrar,
sem ser pateado.

Acelero nas viagens
que caminham até mim,
fujo do lento e travo de mais.
Curvas perigosas, apertadas,
que adrenalinam a fronteira do abismo.
Fumo, bebo a mais
e converso temas banais,
por entre ondas móveis,
que me encurtam a pomposa solidão,
nada é em vão.

Tenho na dicção um tom vibrado e estudado,
de dizer bem as palavras que sinto,
mas premeditadamente minto
e digo com propósito sempre errado.
Sou mal educado, demasiado carente,
enfadonho, que ressona e grunha durante o sono.
Tenho sempre o apreçado intuito do saber,
do querer arrogantemente chamar atenção,
por me achar condignamente o melhor, um senhor,
sem noção do que é a razão e o ridículo.
Digo não, quando deveria pronunciar sim.
Teimosamente rancoroso, tolo,
alucinado, perverso, mal humorado,
vejo em tudo a maldade do pecado.
Digo não, quando deveria embelezar a afirmação.

Minto, digo e desfaço-me de propósito em negação.

Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer,
tenho uma virtuosa e única qualidade;
alguém paciente gosta muito de mim.

Obrigado!

Tenho de descansar.

Foto de joão jacinto

Renascer de mim

Envolto por uma nuvem
da cor do sossego,
num céu carregado de anil
raiado de violeta,
como feto dentro do mater útero.

Luto com o instinto do desespero,
do sobreviver, sem dor ao parto.
Nascerei sete luas, antes do desígnio,
depois de uma gestação
de três infindáveis invernos
e de quatro não chilreadas primaveras.

Ainda não sei se nasci
ou se são as memórias de ter morrido.

Pousarei na suavidade do berço
as cansadas emoções,
sem a saudade
das lembranças.

Quero olhar para o firmamento
e perder-me a contar estrelas,
mas de pé,
seguro pela Terra.

Foto de TrabisDeMentia

Adeus amor (c/musica)

Música, arranjo e interpretação: Josué Gomes - Rascunho Musical
Letra: TrabisDeMentia
Clique aqui para ouvir

Amor
Vou para não mais voltar
Adeus
Hoje eu me vou sem voçê
Mas não deixe sofrer
Quando de mim lembrar
Adeus
Vou para não mais voltar
Amor
Hoje eu me vou
Mas se acaso chorar
Não deixe a dor lhe vencer
Eu sei que o tempo vai curar
Eu sei que o tempo vai doer
Eu sei que o tempo vai doer
Adeus

Adeus
Vou para não mais voltar
Amor
Eu sempre amarei voçê
E quando a noite descer
E sua mão me der
Amor
Eu dormirei a te olhar
Adeus
Eu dormirei
E ao dormir vou lembrar
Dos nossos momentos de amor
Eu sei que o tempo vai curar
A dor...

Foto de InSaNnA

PERDIÇÃO♥¨¨**¤°♥

Em meus sonhos,vi-me em teus braços,
entregue,as tuas vontades,
aos teus beijos,
ao teu tato..
A tua boca,
bebia na fonte,
da minha anatomia,
Nossos corpos unidos,em laços,
apertados..
Minha alma,o teu nome,gemia..
Perdia-me na tua boca,
Perdia-me nos seus desejos,
perdia-me nos teus abraços
Embriagava-me com o teu cheiro,
com o teu olhar vago..
Encaixei-me ao teu corpo, com maestria..
olhava o teu rosto,a procura ,
da tua fome,
da tua sede,
da tua alegria,
Domei teu corpo,com a minha rebeldia,
felina..
Como domadora, de tuas vontades,
eu me divertia,
menina..
Bailava no teu corpo,
ao som dos teus suspiros,
bailarina..
Roubando de tí,
todos os gemidos,
para que ouças,
o som dos meus delírios..
Ao ver você penetrar,
no meu mar de desatinos..

Foto de Anjinhainlove

Poema da solidão

Espero a hora da tua chegada
Mas o relógio bates horas erradas
Deixo rolar uma lágrima incerta
Na certeza da tua ausência
Chamo por ti na escuridão
Mas os meus gritos são mudos.
Entrego-me a ti
Mas sofro um abandono imcompreensível
Sonho com um sorriso
Que outrora me fez feliz
Anseio por um olhar
Que no passado me dizia "Amo-te" em cada pestanejar
Desejo o teu toque
Que me elevava ao limite da vida e da morte
Mas tu não vens...
Olho o horizonte em busca de um sinal
De uma sombra
Uma rasto
Algo que te pertença
Mas depressa entendo
Que não virás
Pois o coração que antes me pertencia
Partiu
E já não volta atrás...
E no mais pesado desespero
Desejo
Não ter de te dedicar este poema...

Foto de Lylyane

Amar

Amar e não ser amanda,
Viver e não ser vista,
Sorrir quando se tem vontade de chorar,
Assim é viver sem você, sem graça. É não ter a capacidade de olhar para o céu e ver a beleza do arco-íris, Eu me levanto todos os dias com uma vontade de morrer sem saber direito o porque que quando eu penso em você os meus olhos se enchem de lágrimas e meu coração flutua no espaço será por vontade de te ver? ou por não ter a oportunidade de tê-lo em meus braço como em meus sonhos todos os dias dormindo ou acordada, basta somente fechar os olhos e quem eu vejo?
Você, você me faz viver a vida de um geito diferente me faz sonhar em um dia tê-lo em braços de beijar sua boca e de te fazer sair do chão e voar junto ao meu coração.
Vem me amar e me deixe SIMPLESMENTE TE AMAR

Foto de Joao Fernando

Só deixaria de ser poeta...

Quando toda essa paixão em mim contida esvair pela tua indiferença.
Quando finalmente olhar teu rosto e nada ver,
Além de uma face fria e implacável.
Quando passares por mim e ignorar até a minha sombra
(Que um dia te protegeu do sol).

Só deixaria de ser poeta...

Quando não tiver mais a força pra aclamar a sua atenção.
Quando perceber em seus passos a tua declarada pressa pra se afastar...
Quando perceber em seus olhos que não é eu que eles enxergam.
Quando finalmente a dor em meu peito não tiver mais cura.
Quando perceber que lá você estava e mandou dizer que havia saído.

Só deixaria de ser poeta...

Quando no frio do meu leito eu perceber que nunca vou ter o seu calor.
Que tudo o que um dia podia acontecer, jamais sairá dos meus sonhos.
Que tudo que me dissestes foram palavras tolas, jogadas ao vento.
Palavras temperadas na mentira e na maldade.
E que o tempo que investi em você faliu e, me deixou miserável.

Só deixaria de ser poeta...

Se tudo que é fel em sua alma escarnasse pelas minhas entranhas.
Adentrá-se em meu peito e lá fizesse estragos.
Se de tua boca ouvisse só fiadas palavras de desprezo e de ingratidão.
Se tudo que era vida... Agora, tornar-se-ia morte!

Ah! Como lamento!...

Deixaria de ser poeta pra ser miserável!
Viveria na rua da solidão e dela seria pedinte de afeto.

Ou então seria poeta para sempre!

Amarrar-me-ia por vez, nas palavras que confortam as almas tristes.
Faria da poesia minha vida e vice-versa.
Procuraria novamente o amor, mas, dessa vez seria mais cauteloso.
Teria a ferida que um dia há de cicatrizar-se e, dela apenas recordações irão ficar.

Sim, seria poeta até morrer... É a minha sina!

Foto de Joao Fernando

FOI BOM

*O que era apenas pra ser uma brincadeira...
Uma transa e nada mais!
Foi crescendo, crescendo, me absorvendo e,
De repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia

Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar*

Guardo dos teu lábios as marcas do beijo ainda tímido
Embora, envolvente ficou no ar... Se perdeu no ar da inocência
Havia tanta coisa nesse momento pra se dar
Mas o tempo e o espaço foram implacáveis
E nos deixou ainda mais confusos e, ao mesmo tempo esperançosos

Há ainda sim a esperança de que tudo dê certo
Os seus olhos e os meus provam isso
Nossos corações estão à beira da rampa
Prontos pra mergulharem no mar da entrega e da paixão

Foi muito lindo... Foi ver você ali na minha frente
Quando te vi o aperto do coração foi inevitável
Havia as pessoas, os sons, o movimento mas,
Nesse momento só havia você e nada mais
Como és linda! Tanto quanto eu imaginei

Quando toquei nos teus braços meu corpo estremeceu
Senti uma espécie de alívio e tensão ao mesmo tempo
Alívio porque finalmente consegui te tocar
Tensão porque minhas palavras se calaram
Tanto queria dizer e nada disse

Disfarçei o meu olhar, os meus gestos
A minha ansiedade e os meus desejos
Não porque quisesse, mas foi inevitável
Pelas pessoas que alí estavam... Pelo medo também
Medo de que não me quisesse
Medo de que não me aceitasse

Procurava todos os motivos pra ficar ao seu lado
Queria dançar com você... Me colar no seu corpo
Beber da sua bebida... Me embriagar da sua presença
Sentar ao seu lado e sentir o seu cheiro

Tudo foi muito rápido ou, corria o risco
De falar tudo rapidamente e ser mal compreendido
Ou falava devagar e ver que o tempo não ia permitir falar tudo
Não havia outro jeito
O que restou foi a expontaneidade e a emoção...
Mas foi bom... Muito bom. FOI BOM! Foram as suas últimas palavras

* Parte da letra da música "sonhos" de autoria de Peninha.

Foto de angela lugo

Nosso Outono Amor!

È outono...
E quando olho através do vidro
Da janela do meu quarto

E ouço o vento soprando...
Olho as folhas amareladas
A caírem como plumas

E, eu a olhar...
Em cada folha que cai
Vejo o reflexo de seu rosto

Abro a janela...
E tento pega-la, mas que agonia...
É somente em meu pensamento

Quando a sinto na mão...
Sua imagem desaparece...
Como que por encanto

Mesmo assim continua a olhar...
Na esperança de teu rosto
Voltar a brilhar...

O tempo passou...
O outono se foi...
Como muitos outros...

O vento calou-se...
As folhas já não caem...
Olho a calçada tudo limpo...

Nada mais para olhar...
Apenas essa tristeza de...
Esperar... Esperar... esperar

Que logo chegue o outono...
E quem sabe ver teu rosto
Não nas folhas que caem

Mas bem juntinho ao meu
Para que possamos olhar
As folhas a caírem...

E nosso amor brilhar...
Assim como a lua ilumina nossas noites
E o sol ilumina nossos dias

Foto de Stacarca

Sonhos de um amor "solitário"

I

Fecho os olhos
Sonhos...

Oh sonho que a ti ansiava afagar
Que belo tu és, que belo tu és...
Mesmo que minh'alma vos abalar
Por ti quereis amar e amar
O cipreste do esquife rompe no alvorar
Ah bastardo, como podes? Queres me chagar?
A amplidão de treva envolve-me a vos maligno
Tortuosos caminhos hão de surgir ao benigno
Que triste tu és, que triste tu és...
Almejos simplórios de um coração "a sangrar"
Desça do pedestal da morte, um sonho estás a contar
- Não, não... Segredos posso revelar
E o coração puro da dama posso torturar
Que linda tu és, que linda tu és
Queres mesmo ler sobre a vastidão do meu querer?
O efémero pode durar, e escuridão posso pronunciar
Perdoe-me desde já, pois o poeta que escreve nunca amou.
O medonho da vida irá afligir... Uma forma de dor
Mostrarei o meu verdadeiro ser... Uma forma de morrer
Seu poema monotonia irá pasmar, irei escrever, mas
Triste irá ficar, Ah como irá ficar... Uma forma de amar.
Perfeita tu és, perfeita tu és, Ah como é!

II

Pondero a utopia de uma esperança a sonhar
Nele a sua alva face posso tocar
Ah como é lindo esse sonho que quereis viver
Toque-me, o infinito límpido irei buscar
Esperança? Saudade? Amor? Esse é meu ser?
Anelo que sonhei, Ah eu te encontrei, Ah eu encontrei!
Como és belo te amar, mesmo que numa ilusão de meu sonhar.
Não finda esse sentimento tão belo que brotou
Um dia... irei amá-la com outrora amou.
Sangra coração pútrido, chora olhos tristonhos
Rasga pele esquálida, morra alma maldita
Nesse instante onde o amor é um sentimento medonho
Não há para onde fugir, não... Não há saída
Tudo que toco, que sonho, que amo, é o você.
Mas isso é apenas mais um incógnito
"Amar-te, é ter a certeza que morrerei por um propósito"

III

Forja o fatídico lastimar no horizonte
Uma lágrima de sangue escorre de meus olhos
Ah maldito, ah maldito, queres estar em fronte?
Ávidas às lembranças tristes a recordar
O sepulcro do antanho retorna ao sonhar
Eu te odeio, mas a amo, e continuarei a amar
Dê-me um punhal, deixe-me mostrar o sangue escorrer
Meu pulso irei cortar para meu amor lhe provar
Sim, por você um dia (breve) irei morrer...
Sombras taciturnas de meu maldito olhar
Insistem em voltar, ah como sofro, e irei sofrer
O enfermo estás a sonhar, ah e viverá, ah e viverá.
Ó bestial, porque me atormentas? deixe-me apenas ansiar
Ó celeste, porque me ignoras? Deixe-me apenas amar
Não tenhas medo de minha morte amada
Foi apenas meu sonho, meu ódio, minha dor
Pois "A morte é apenas mais uma vida pérfida
Onde mais uma vez não terei seu amor"

IV

Ecos a serem ditos, ecos a serem ouvidos
- Você és linda, linda, linda.
- Obrigada, ouço responder uma voz infinita
- Seu sentimento és perfeito, perfeito, perfeito.
- Obrigada, ouço responder uma voz em devaneio
- Sua voz uma canção divina, divina, divina.
- Obrigada, ouço responder sua voz eternal
- Eu te amo, te amo, te amo e te amo
- ... O silêncio, resposta dum fim sepulcral.

V

Ah como foi linda essa minha ilusão
Pude te ter, te encontrar, te tocar
Ofegante da forja de meu coração
Pois mesmo que apenas em meu sonhar
Ah eu vou te amar, ah eu vou te amar...

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