Obstinação

Foto de Carmen Vervloet

Semeadura

Semeei em solo fértil
plantei a árvore da esperança
pari com amor
três belas crianças
teci poemas de alegria
semeei, pari, teci, sonhei
semeei minha semente
no coração
de três homens valentes
frutos da semente
do meu ventre
para que a entregassem
aos seus descendentes
pedi que a espalhassem
pelos caminhos
junto à minha obstinação
em plantar valores
mais profundos
um sonho de mudar
o perfil do mundo
observei, lutei, plantei,
trabalhei... como trabalhei
nem sempre colhi o que plantei
amei tantos quantos encontrei
amei outros por quem lutei
ofereci meu sorriso
para todos com quem cruzei
amei, sorri, cruzei,
ofereci...
e acendi uma chama
que brilha no olhar

Carmen Vervloet

Foto de Fernando Poeta

Guerreiros Tricolores

Impossível, é tudo o que não pode ser alcançado,
Inventado, pensado ou sequer imaginado,
É o que determina como ponto final,
Sem saída, inalcançável e inatingível,
Assim é o impossível...

No entanto, existe o porém, o entretanto,
Existem aqueles em que o impossível,
Nada mais é do que o alvo,
A meta a ser atingida, a suprema e irretocável
Força irresoluta que não se extingue...

Estes em todas as eras, em todas as línguas,
Eram definidos por atos e atitudes,
Por sua força, coragem, obstinação,
Por desconhecer o medo e o impossível
Então como Guerreiros, assim eram conhecidos.

O Impossível esteve à nossa frente,
O caminho que nos imputavam, era o da vergonha e escárnio,
Desafiaram inconseqüentemente, o maior de todos os gigantes,
E como se fosse um aviso, um chamado,
Os Guerreiros despertaram, na arquibancada e no gramado...

As batalhas foram imensas, suor, sangue e lágrimas,
Todos corriam, todos lutavam, cada um de sua forma,
Uma equipe em campo, uma Nação na arquibancada,
E juntos formaram um só coração,
Um enorme e Valente coração.

Então começamos e escrever um épico,
De Guerreiros incontestáveis, invencíveis,
De vitórias incomensuráveis,
Que aterrorizou ao mesmo tempo em que encantava,
A quem há pouco menosprezava.

E tornamos o impossível factual,
Fizemos nosso destino,
Marcamos nossa trajetória,
Arrebatando uma legião estupefata,
Pela glória demonstrada em nossa jornada.

Em milhões de cores, cores tricolores,
Gritamos aos milhares os nossos brados,
As nossas canções, que transbordavam do coração,
E carregamos nossos guerreiros em nossos braços,
Quando sentíamos que estavam esgotados.
Mas nunca, nunca fomos derrotados...

Porque fomos, somos e seremos,
Não apenas um time, não apenas uma torcida,
Mas uma Legião conhecida,
Como guerreiros por toda vida.

Foto de BIENVENUTI

Obstinação!!

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Avalio minha situação
busco na profundidade
tento ter compreensão
dessa minha insanidade...

Desligar não consigo,
nem cair no esquecimento,
Ser sómente amigo,
este é meu alento...

Não Estar com voce,
soa como inverdade,
pois vive dentro de mim,
e é minha felicidade...

Parece obstinação,
ou desejo desmedido...
de uma grande paixão,
que estou acometido...

Foto de Carmen Vervloet

Boa Semente

Boa Semente

Semeei boa semente.
Em terra fértil
plantei a árvore da esperança,
pari com amor
três belas crianças!
Teci poemas de alegria...
Semeei,
pari,
teci,
sonhei...
Entreguei minha semente,
boa semente,
para três homens valentes
para que a entregassem
aos seus descendentes,
para que a levassem
na bagagem
da longa viagem.
Pedi que a espalhassem
pelos caminhos,
junto a minha obstinação
em plantar valores
mais profundos
mudando o perfil do mundo.
Trabalhei,
lutei,
plantei,
observei.
Amei tantos quanto encontrei,
amei outros por quem lutei,
ofereci meu sorriso
para todos com quem cruzei.
Amei,
sorri,
cruzei,
ofereci.
E acendi uma chama
no coração
que brilha em meu olhar!

Carmen Vervloet
Todos os direitos reservados à autora.

Foto de Edevânio

EGITO, UMA DÁDIVA

Por Edevânio Francisconi Arceno

Quem deseja ser um bom “istor”, ou seja, uma testemunha, deve ser capaz de relatar um fato histórico com imparcialidade e credibilidade em suas observações. Será que um Historiador do século XXI, não pode escrever ou discorrer algo sobre a Pré-História ou Antiguidade, somente porque não testemunhou tais eventos? Claro que não, pois quem testemunhou sobre as famílias de Australopitecus evoluindo para Homens habilidosos e posteriormente eretos. Com o advento da Arqueologia, mal vista na idade média, pois suas descobertas colocavam em dúvidas certos mitos, no século XX atingiu seu apogeu e contribui de forma significativa e atualmente ela é imprescindível na reconstrução da nossa história. Através desta parceria, foram descobertas grandes civilizações, porém nenhuma está sendo tão elucidada quanto à história do Egito. Este povo que surgiu às margens do rio Nilo, transformou-se em exímios agricultores porque conseguiram dominar através de canais de irrigação a abundância do Nilo. Uma das riquezas retiradas das margens lamacentas do Nilo era o papiro que serviu para registrar não só a história egípcia, mas também a de outros povos. Da lama deste rio, também surgiu a matéria prima para a confecção de tijolos e vasos, objetos que fariam parte da sua cultura, muito mais do que imaginavam. Um dos fatores que transformou o Egito na sociedade antiga mais estudada e compreendida foi a riqueza de objetos, escritos, construções e esculturas ligadas a sua Religiosidade. O povo egípcio era politeísta, pois acreditava que para cada circunstância havia uma divindade e a eterna dualidade entre o bem e o mal, ficou a cargo dos irmãos Set, o invejoso e Osíris o virtuoso, e como em toda cosmogonia, o mal aparentemente vence. Mas a incansável deusa Ísis, demonstra toda a sua obstinação em reencontrar o amado Osíris, por isso é presenteada com uma gravidez milagrosa e concebe Hórus, que viveria e reinaria para sempre através dos Faraós do Egito. Por acreditarem que ressuscitariam após a morte, construíam gigantescas tumbas, verdadeiros monumentos que até hoje mexem com o imaginário das pessoas que atribuem estas construções a gênios da Arquitetura e até mesmo a seres de outro mundo. A prova cabal desta excelência arquitetônica são as Pirâmides, como as de Gizé, que resistem ao tempo por mais de 4,5 mil anos. A verdade é que o Egito não possuía apenas conhecimentos arquitetônicos e matemáticos, mas também dominavam algumas técnicas da medicina, pois já praticavam cirurgias e eram profundos conhecedores e detentores dos segredos da mumificação, conservando por mais tempo seus cadáveres. Observe o que relata a historiadora Joelza. Os Faraós construíam para si e sua família túmulos magníficos, como as pirâmides, que levavam muitos anos para ficar prontas. [...] Os túmulos podiam ter várias salas, onde eram guardados alimentos, objetos, armas e mobília para o morto usar na outra vida. (RODRIGUE, p.114). Cremos que de certa forma os egípcios conseguiram viver após a morte, não de forma eterna, pois a beleza de Nefertite não resistiu aos anos, mas a longevidade inerte de seus mortos, com suas tumbas e sepulturas tão ornamentadas, nos revelam a cada dia, a riqueza de sua cultura. Este povo obstinado como a sua deusa Ísis, que esperou o faraó Aquenaton morrer para voltar a ser adorada, nos enriquece com milhares de anos de História, e as mesmas dúvidas e inquietações que levaram Julio César a suspirar em companhia de Cleópatra diante da beleza do Egito, fazem-nos sentir da mesma forma, mais de dois milênios depois. Este é o Egito, uma civilização que por muito viver das dádivas do Nilo, tornou-se uma dádiva à humanidade.

REFERÊNCIAS RODRIGUE, Joelza Ester. História em Documento. 5ª Série. São Paulo: Ftd, 2006.

Foto de Carmen Lúcia

Fama

Subiu os degraus da fama;
deu de si o que podia...
o que pensou ser seu melhor;
atropelou o bem que havia
bem ao seu redor...
deixou à revelia
valores que engrandeciam.
Sem ponderação, ultrapassou limites.
Sentir-se lá no alto, observar de cima,
ser cortejada, inflar a auto-estima,
era mais que um desejo.
Uma obstinação!

Foi manchete de jornais,
notícia de colunista,
capa de revista,
da mídia, a sensação...
Chegou ao topo
das camadas sociais.
Tornou-se a maior atração.

Esqueceu-se da essência,
quis viver de aparência,
mas tudo que é supérfluo
tende a se deteriorar,
dá vazão à turbulência
e todo glamour se esvai.

Começou a despencar
sem ter onde se amparar...
Percebeu que o sol se esconde,
perde-se no horizonte,
que toda luz se apaga
quando a alma não tem chama...
E desalmada reclama
os valores imateriais
que lhe foram banidos,
tirando o colorido
de sua forma existencial.

Hoje, da fama à lama,
do cimo ao chão...
Esquecida, ensandecida,
ainda vive de ilusão;
pensa ser uma estrela,
a mais brilhante
de qualquer constelação.

(Carmen Lúcia)

Foto de Carmen Lúcia

"Caminhos de hortelãs"

Decidi dar tempo ao tempo;
deixar as horas passarem
e atenuarem os danos
causados pelos desenganos.
Baixarem toda a poeira
que o vento fazendo zoeira,
estagnou pelo ar,
circundando-me as beiras,
poluindo meu respirar.

Lembranças de tempos ruins;
nada que justifique seus fins.
Tempos ociosos, sem recomeços,
voltados para os avessos.

Ignorei dias, meses e anos...
Impedi que o passado sugasse meus planos
e ele foi se afastando,
trazendo de volta meus sonhos.

Esperei pelos amanheceres
e pelo casticismo dos bem-quereres,
refugiada nos anoiteceres...
Fui vulto andejo nos recônditos;
sombra que assombra e não mete medo,
a perambular, isenta de arremessos,
onde a luz só ilumina quem crê
e crer no novo é minha obstinação;
viver de novo, minha vontade insólita,
sair das trevas e ver raios das manhãs,
sem que me cegue a claridade
ao me defrontar com a veracidade
do amor- integridade.

Semente que frutificou
Pelos caminhos imaturos e verdes...
Por onde transitam belezas louçãs
e as pontas de meus pés saltitam
nos entremeios das folhas de hortelãs.

Carmen Lúcia

Foto de pttuii

Processo de fermentação

O desgosto de uma Florbela Espanca, aliado ao idealismo de um Fernando Pessoa, consubstanciado na alienação de um Luís Vaz. Junte-se umas pitadas de obstinação maometana, e frieza Visigoda. Mexa-se tudo muito bem, antes de finalmente deitar a irracionalidade romana.
A gosto, polvilhe-se tudo com fatias de uma carne multisabores, leia-se, bife do lombo da imigração. Serve-se tudo com um cocktail de vinho do Quadro Comunitário de Apoio, e no fim....Caros comensais, no fim tem-se um manjar que, espremido, não dá para encher nenhum estômago. Bom povo português, é o nome do prato.
Já passou do prazo há séculos, e continua a fermentar na quieta melancolia do imobilismo. As bactérias que gerem o processo usam todas gravata. Têm assessores, andam de 'espada', e,...cúmulo dos cúmulos, não têm a menor contestação do produto que fermentam. É o que elas querem. Usam, abusam. E o produto quietinho.
Chega a ser confrangedor. Refugiam-se no folclore. Nos festivais de gastronomia. Tudo micro, não esqueçamos das dimensões a que nos referimos. Mas não seja por isso!!!! Que no contexto minúsculo a quem nos referimos, há quem saiba viver à grande. É só ter estilo, acordar depois do meio-dia, ter um 'free-pass' no health-club mais caro, e transparecer que se vive de rendas. Facílimo, não é?
Pois, o pior é quando se passa tudo no 'passe-vite', e no final, não sai nada. Tristezas de quem nada espera deste grande processo de fermentação chamado vida.

Foto de Dennel

A escritora sem rosto

No silêncio de seu quarto, ela escrevia furiosamente. Era a única atividade que lhe dava prazer, uma vez que fora rejeitada pela sociedade que teimava em não reconhecer seu talento de escritora.

Amigos, não os tinha, e os que afirmavam sê-lo, o faziam por conveniência ou oportunismo; no entanto, ela não desistia de escrever, seus dedos calejados eram atraídos pela caneta que a seduzia, como um beija-flor é seduzido pelo néctar da formosa flor.

Sempre quisera ter filhos, mas a natureza lhe privara deste privilégio; em certos momentos de solidão, julgava que era melhor assim, pois acreditava que filhos traziam aborrecimentos e dissabores.

Sonhava ser uma grande escritora, admirada e reconhecida nos círculos literários. Escrever lhe fazia relembrar da imigração da sua família para o Brasil. Tempos difíceis aqueles, tempos turbulentos. Hoje, nada mais possuía, além da tradição do nome da família; tradição que não lhe trazia o reconhecimento esperado junto à sociedade.

Viu surgir sua grande oportunidade quando foi convidada, pelo diretor da revista Entricas & Futricas, a escrever uma coluna sobre personalidades famosas. Seu entusiasmo era visível com sua nova função; imaginava-se sendo laureada na academia de letras, ouvindo o burburinho de repórteres, implorando por uma entrevista.

Mas as coisas não saíram como era esperado, o número de leitores e comentários da sua coluna caía vertiginosamente. A direção da revista não teve alternativa, senão rescindir o contrato, pois apesar do talento para as investigações jornalísticas, ela fazia a cobertura do cotidiano de pessoas tão ou mais desconhecidas do que ela; evidentemente para a revista não interessava a vida de desconhecidos.

Tentou sem sucesso todos os argumentos que julgavam válidos, porém, o diretor fora inflexível. Via desabar diante de seus olhos o castelo de sonhos que erguera para si; sentiu um nó na garganta ao receber o veredicto fatal, a única ocasião em que sentira tamanha angústia fora numa solenidade literária, ao engasgar com um gole de água que bebera às pressas.

Passou dias desolada, lamentava a injustiça que sofria; a única que parecia compreendê-la era sua inseparável caneta. Agora escrevia como um autômato, descarregava toda a sua frustração nos escritos. Seus pensamentos não tinham unidade ou valor que levassem as pessoas a refletir sobre um modo de vida salutar, mas o que importava é que, escrevendo, sentia-se melhor.

Tomou uma decisão que avaliou lhe traria o reconhecimento que tanto buscava. Sabia que no mundo das letras havia o plágio; soubera inclusive do autor americano que fora laureado com o Nobel de literatura plagiando um escritor de outro país. Ela faria o mesmo, arrazoava consigo mesma que os fins justificam os meios. Quando se deparava com um texto que lhe agradava, ela o modificava ligeiramente, afirmando depois ser o mesmo de sua autoria. Para maior credibilidade, lançou uma campanha contra o plágio, defendendo os direitos autorais.

Sua obstinação de ser reconhecida levava-a ao ridículo, pois abordava pessoas desconhecidas na rua, propondo amizade, o que não raro produzia uma frase indignada do abordado: “Vem cá, eu te conheço?”.

Ela não se importava com estas situações vexatórias, lembrava-se de seus únicos ídolos, Hitler, Mussolini, Lampião e Idi-Amin Dada, que sempre souberam vencer preconceitos e dificuldades, tornando-se heróis para alguns e vilões para muitos.

Olhando-se no espelho, via as rugas a sulcar-lhe o rosto, o tempo fora implacável com ela. Lançando um olhar para a penteadeira, via as poucas fotos que retratavam sua vida; não havia semelhanças entre elas, de forma que se outra pessoa as visse, juraria que estava diante de um camaleão.

Sua atenção volta-se novamente para o espelho, cuja imagem parece lhe transmitir terrível acusação: “Você é uma fracassada”. Ela sente uma vertigem, apóia-se ligeiramente na penteadeira; ao lado, sua velha e fiel companheira parece convidá-la para escrever o último ato de sua existência.

Trêmulos, seus dedos agarram fortemente a caneta, que com a força empregada, se rompe, deixando um borrão de tinta na folha que um dia fora branca.

Juraci Rocha Da Silva - Copyright (c) 2005 All Rights Reserved

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"FILHA DO PECADO"

FILHA DO PECADO

Num berço de cetim atrás de um botequim
Foi onde ela nasceu
Com o destino traçado, com o presente estragado.
Assim ela cresceu.

Sua mãe de cama em cama
Com a profissão de mulher dama
Tudo lhe ensinou
Na sucessão de sua sina
Deixou de ser menina
E o oficio da mãe rejeitou.

Desprovida de amargura
Ela fez corte e costura
E num ateliê se empregou
Conheceu gente importante
Um milionário falante
Que o mundo lhe ofertou.

Sem tocar no seu belo corpo
Esse homem depois de morto
Sua fortuna lhe deixou
Agora rica e bonita
O que mais lhe resta ainda
É o amor ir procurar
E com a obstinação que tem
Há de achar alguém interessante para amar.

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