Poema dos Amantes
Insano é despertar
Das horas nuas,
Apear dos lençóis,
Deixar teu aroma
Com o raio da aurora,
Abdicar de tua pele,
Veludo profano,
Toque de absinto,
Favo de mel.
Fere-me a luz.
Nenhuma manhã
Será o bastante.
Deixa-me voar
Para as tuas noites
De puro pecado,
Perder em ti
O rumo abominável
desta realidade.
Quero consumir
Teu fogo, satisfazer
Desejos, derreter,
Para que recolhas
Os mistérios do
Meu ser em concha.
Num beijo úmido,
Profundo, único,
Sugando-me a vida.
Nenhuma manhã
Será grandiosa.
O dia não vale a pena.
Eu vivo da noite,
Da tua cama
Onde a vida se esvai.
Ferida pela claridade.
Escondo-me, espero-te,
Para renascer contigo,
Emergir dos dias vazios,
Das horas desertas,
Da vida perdida,
Do desencontro de almas
Queixume de bocas,
Do frio cortante.
Há pouca coragem
Para mudar, buscar,
Ralar-se em nova dor.
Se te deixo fugir,
Toco a tua ausência.
É tarde demais
És denso, ficastes no
perfume das fronhas e
Lençóis, grudado em mim,
Penetrando-me o corpo,
Fertilizando-me a alma.
Espero-te na penumbra.
Nenhuma manhã, nada,
Terá a beleza
Das tuas noites.
Nenhum raio de sol
Poderá traduzir-te como
o poente que te despe
Teu enigma noturno é
Livro da lua cheia,
Que a nova decodifica
E se este amor de fases,
Sempre e mais se multiplica,
Sou tua lua crescente,
Lua de amor e fel.
Lua dos amantes,
Lua de mel, clara e nua.
Rosamares da Maia
26.06.2000.