Marido

Foto de Lou Poulit

A TRAPAÇA DO DEDO DURO

CONTO: A TRAPAÇA DO DEDO DURO
AUTOR: LOU POULIT

Do outro lado da prateleira de livros, um rosto. Um belo rosto, de uma bela mulher. Chamava-se Afrodite, mas ele ainda não o sabia. No entanto sabia ser a mesma que procurava sempre, durante o horário de almoço. E para seu contido contentamento, volta-e-meia a encontrava vagando de uma lojinha a outra dentro do shopping. Era de tez trigueira, roliça, mas sem ser gordinha, seios fartos e comportados, gestos calmos e imensos olhos de mel claro, sobre os quais havia sempre uma parte da franja dos seus cuidados cabelos castanhos-escuros e ondulados. Além da estética, mostrava uma característica talvez ainda mais sedutora: Era muito delicada, tal como uma flor.
Sansão ainda não se decidira a abordá-la. Parecia-lhe preciosa demais para que se precipitasse. Difícil reconhecer que não se sentisse muito seguro. Era um homem bem mais velho, cinqüentão, com certeza quase o dobro da idade dela. Sansão era um tipo machista de viúvo-feliz, de bem com a vida, inconfessavelmente rico para as mulheres e meio sovina para os seus funcionários. Barrigudo? Não... Bem, só um pouquinho. Sempre dizia que sua barriguinha era o suficiente para que fosse confortável. Ao seu ver era um charme.
Distraído pela visão da mulher, ao puxar um dos livros derrubou vários outros no chão da livraria. No susto, havia conseguido pegar apenas dois, os demais fizeram uma barulheira danada. Abaixou-se rapidamente, para esconder o seu constrangimento e recolher os volumes, mas ao reerguer-se, com um sorriso talhado no rosto especialmente para ela, já não a encontrou mais do outro lado. Seu olhar desesperado a buscou pela loja, depois pelos corredores, porém em vão. Ela havia sumido. E lhe deixara mal consigo próprio, com uma sensação de perda. Queria ter aproveitado a oportunidade de se desculpar com ela, embora não o houvesse feito com o dono da loja.
Várias semanas se passaram sem que ele a reencontrasse, apesar do esforço que fez para isso. Seu ânimo começara a ceder à idéia de que nunca mais a veria e se culpava por isso. Aos poucos uma tristeza tenaz, e cada vez mais inconformada, ia e vinha, tomando seu coração de assalto e fazendo, à noite, com que demorasse a pegar no sono. Porém, como os homens pensam saber sempre, toda mulher desejável é apenas uma questão de tempo e sempre acabará vindo, eis que, finalmente, a sorte lhe sorriu pela mais simples natureza das coisas.
Sansão estava prestes a voltar para casa. Havia sido mais uma noite infrutífera de peregrinação pelos corredores do shopping. Mas resolveu fazer um lanche antes de sair e assim, sem saber, propiciou que se manifestasse a natureza das coisas. De longe, reconheceu Afrodite vindo para a praça externa de alimentação. Observou que ela procurava uma mesa para si, preferindo ficar protegida pelo toldo. Vendo que atrás dela havia outra mesa vaga, ele apressou o passo para que ninguém chegasse antes. Ela estava de costas, mas Sansão sentia uma enorme felicidade. Ao menos ela estava bem ali, a poucos centímetros. Na verdade era uma situação inusitada, ela nunca estivera ao alcance da sua mão carinhosa. Entretanto, ele dizia a si mesmo que precisava se conter. E ajeitou-se na cadeira para observar melhor aquela mulher que tanto lhe seduzia.
Numa mesa ao lado, dois garotos tomavam refrigerante. Procurando uma forma de criar uma situação em que pudesse abordá-la, ele viu, do lado oposto à sua mesa, que uma senhora idosa e faladeira havia amarrado a correia do seu irrequieto cãozinho à própria cadeira, enquanto comia um sanduíche enorme, para espanto da sua amiga. Sansão sentia o tempo escorrer rapidamente. Tinha que fazer alguma coisa e talvez não dispusesse de muitos minutos. Subitamente teve uma idéia arriscada para um senhor da sua idade, mas ele se decidiu a pô-la em prática. Na primeira oportunidade em que as velhotas olhavam para o lado, ele soltou a correia do cachorro, que saiu em disparada e sem direção. As velhotas não perceberam e Sansão apressou-se em alertá-las.
A dona do cãozinho começou um escândalo desesperado, para que alguém se prontificasse a ajudá-la. Olhava para Sansão, já que a tinha alertado, mas ele se limitava a assistir. Não tinha mesmo a menor intenção de sair do seu lugar, pois esperava o momento para o próximo passo do seu plano. E não demorou. Aproveitando-se da balbúrdia reinante e da oportuna piedade de Afrodite para com a velhota, Sansão trocou o copo de refrigerante de sua pretendida com o de um, já vazio, dos garotos da mesa ao lado. Depois sorriu para si mesmo satisfeito. Fora arriscado, mas havia conseguido realizar a parte mais difícil. Ajeitou-se novamente, com mais conforto em sua cadeira e esperou pelo momento certo.
Com tanta gente apiedada da senhora, o cachorro não conseguiu ir muito longe. Logo um dos guardas do shopping veio trazê-lo, mas na ponta dos dedos, porque o bicho protestava tentando mordê-los. Voltando todos à calma, Afrodite finalmente se deu conta de que o seu refrigerante havia sumido do copo. Como não era mulher de escândalos, matutava olhando em volta, procurando uma resposta para aquele mistério. Quando viu-se vazado pelo olhar desconfiado da mulher, Sansão não teve dúvida e prontamente apontou para o garoto, que ainda tentava entender como o seu refrigerante havia reaparecido dentro do seu copo. Ela a princípio duvidou, mas como os garotos aparentavam seriedade pela surpresa, acabou convencida de que eles haviam feito aquela travessura. Afrodite não tinha filhos mas adorava meninos, porque em sua família só houveram meninas. Sansão sentiu-se decepcionado ao ver que ela não quis ralhar com os garotos, mas achou que era tarde demais para desistir do seu plano. Chamou um dos garçons e pediu dois outros refrigerantes, um para ela, sem que percebesse.
Quando o garçom retornou e Afrodite se mostrou surpresa, Sansão finalmente pode lhe dirigir algumas palavras educadas: Me desculpe, mas não vai terminar o seu sanduíche a seco, vai? Por favor, aceite antes que perca o gelo – disse a ela. E não perdeu a calma quando ela rejeitou sua oferta lhe agradecendo. Ora, por favor... Trata-se apenas uma pequena gentileza. Vamos, aceite de bom grado, veja, também gosto... Afrodite mostrou-se indecisa e ele se aproveitou para sentar-se à mesa com ela, antes que pudesse dizer alguma coisa. Posso? Meu nome é Sansão... Afrodite não respondeu de imediato e ele manteve a pressão sorrindo: Seu nome é algum tipo de segredo?... O meu é Afrodite... Afrodite?! Uma deusa, somos ambos de origem divina...
Só então ela compreendeu que aquilo era uma cantada e, recapitulando o que houvera acontecido ali, desconfiou que talvez fora tudo uma trapaça dele!... Seu primeiro instinto foi o de recusá-lo. Porém, como nunca se precipitava, começou uma vertiginosa avaliação de outros aspectos. O homem mais lhe parecia um tipo de garanhão em fim de carreira e sua reduzida experiência com esse tipo havia sido desastrosa. Se ao menos já se conhecessem seria mais fácil, mas julgava nunca tê-lo visto antes. Sempre dissera que não gostava de homens carecas mas, naquele momento, tentava admitir que ele não era tão careca assim. Também lhe parecia barrigudinho demais, de pouco preparo físico e tônus muscular, entretanto... Bem, mudando o ângulo de visão, ele tinha um rosto forte, fora com certeza um belo rapaz. Testa alta, indício de inteligência. Olhar contundente, mas também algo meigo. Mãos grossas, tivera origem humilde e seria trabalhador. Era um homem grande, talvez um metro e noventa centímetros... Boa perspectiva. Simpático, bem vestido, culto, relógio de ouro autêntico, do tipo que sempre pensa saber de tudo... Por que não? Olhando bem... Era um belo homem!
Ao apagar das luzes, ainda na praça, Sansão insistiu em levá-la para casa e, assim, descobrir onde ela morava. Porém ela decidiu que era a hora de começar a estabelecer limites. Ele não conseguiu convencê-la. Também não conseguiu marcar um encontro no fim de semana, já que ela alegou que iria viajar. Ficou olhando o ônibus se afastar levando embora sua nova deusa. Mas lembrou-se de algo que pusera no bolso. Era um cartão de um escritório de advocacia... Pondo o óculos devassou cada letra dos poucos dizeres que nele havia. Um número de telefone! E de um bairro bem próximo. Eis uma coisa muito importante naquela situação. Aquele número era o único elo, um simples resquício do encontro, mas sentiu-se capaz de jogar fora todos os demais cartões e anotações que tinha consigo. Era o cartão de uma deusa! Sansão não gostava muito de mulheres advogadas, mas adorava as adjuntas. Dizia aos amigos que adjuntas não são advogadas, ainda não têm seus vícios. Pois, deve-se aproveitar, antes que venham a tê-los.
Afrodiiiiiiiiite!!! Não acredito que você vai fazer isso de novo, garota. Você sabe que isso não dá certo. Você já tentou antes, viu no que deu. A não ser que você queira simplesmente dar um golpe do baú!... Diana! Você sabe que não é bem assim... A irmã mais velha pôs as mãos na cintura e olhou para Afrodite erguendo uma das sobrancelhas, hábito que herdara do pai desaparecido. Afrodite se atirou no sofá choramingando, sempre virava uma menininha frágil quando tinha que enfrentar Diana.
Viviam juntas havia há bastante tempo. O pai de Diana fora o primeiro homem de sua mãe, mas nunca ficava muito tempo. Vinha, se instalava, mas em pouco tempo sumia de novo. Num desses retornos encontrou a futura Afrodite ainda na barriga da mãe. Então, esbravejou, xingou e praguejou contra a mulher que, pessoa muito simples e curtida da sua vida sofrida, a tudo suportava. E ainda serviu ao seu homem um verdadeiro repasto de rei, para as parcas disponibilidades da época. Ele comeu como um boi e foi-se embora como um cavalo. Entretanto três anos depois, ficou sem dinheiro e reapareceu, como se nada houvesse acontecido. Sem saber como enfrentá-lo, a mulher acabou concordando em que ficasse até que se arrumasse. No dia seguinte ele já dava as ordens em casa. E na noite de sexta-feira Diana arrastou a pequena Afrodite para sua cama. Hoje você não vai poder dormir com a mamãe – Disse à irmã, que não entendia os gritos abafados e os urros desvairados que se ouviam pela porta entreaberta do quarto.
Ele ficou, dessa vez por quatro anos e inexplicavelmente a vida ficou melhor durante esse tempo. A mãe conseguiu boa freguesia para as suas costuras. O proprietário do apartamento, doente e no fim da vida, desistiu de se aproveitar dela e, por admirar a sua fibra mais do que o seu traseiro, acabou por lhe entregar uma escritura definitiva do apartamento, por uma soma simbólica. Contudo, nem isso foi capaz de conter o instinto inquieto do pai de Diana. Justo quando Afrodite já se afeiçoara, já o tinha como referência de homem, ele saiu para beber no bar e nunca mais voltou. Pois para a bela e doce menina dos olhos de mel, a irmã ocupou esse lugar.
Meu amor... Pare de se fazer de vítima. Você sabe o que a mamãe dizia, “quem gosta de velho é fundo de rede”. Você tem mania de super-heróis. Por que não arranja um mais novinho, Afrodite?... Então, Diana, o Sansão é muito mais bem conservado que aquele grosseirão da banca de jornal. É educado, culto, generoso... É, velho, careca e barrigudo – Completou Diana... Ah, não dona adivinha, barrigudo ele não é não, você nunca viu, como pode saber?... Vai me dizer agora que ele não tem nem um pneuzinho... Ah, um pneuzinho? Tem, mas é fofinho... Depois não venha choramingar no meu colo, não diga que não lhe preveni... Ah, ele é tão grandão e tão gentil. Bem que pode ser o meu super-herói... Não sei, Afrodite. Mas se você gosta, pode ser, otimistamente, o seu homem-borracha... Diana foi para o seu quarto. Oh! – Afrodite fez-se de ofendida – Você é que é a mulher-látex! Do quarto, Diana arremessou o travesseiro, que foi parar na cozinha, e as duas irmãs riram-se uma da outra.
...
As manhãs de sábado eram de faxina geral. Afrodite herdara da mãe o mérito dos temperos, porém, como trabalhava fora, nos fins de semana a cozinha era território só seu, o que incluía a limpeza. Diana lavava, pelo lado de fora, a porta que dava para o corredor, assobiando uma música para dar ritmo ao esforço. Sem conhecer o lugar e com um embrulho generoso de flores nas mãos, Sansão abriu a porta do elevador cuidadosamente. Tinha a esperança de fazer uma surpresa para sua deusa, mas foi surpreendido pela visão do traseiro de Diana, que se curvara para dar brilho no metal da maçaneta.
Ao ouvir o falso pigarreado do homem, Diana voltou-se de um pinote. Ia começar uma espinafração para dissimular o seu constrangimento, porém, vendo aquele homem grande com um sorriso respeitável por trás das flores, conseguiu se conter por alguns segundos, enquanto refletia. O suficiente para ele olhar mais uma vez as anotações em um papel de bloco e tomar a iniciativa da conversa: É aqui que mora a Senhorita Afrodite?... Diana não respondeu de imediato, mas já não tinha dúvida sobre quem era o grandalhão à sua frente. Ele correspondia às descrições, trazia flores e tinha na mão um papel com figuras aguadas de anjinhos, tal e qual o bloquinho de anotações que a irmã usava. Então, deduziu, a danada não lhe contara a estória toda. Já estivera com ele uma outra vez... Pelo menos.
Quando resolveu que lhe daria uma resposta séria, para mostrar que aquilo não era a casa-da-sogra, Afrodite antecipou-se, pelas suas costas, cumprimentando-o com meiguice, sua arma mais fatal: Oi, Sansão... Que lindas, meu anjo!... E logo apresentou sua irmã Diana. Todo derretido pelo sorriso carnudo irrecusável de Afrodite, Sansão quis ser gentil também com a outra, de cuja existência ainda não sabia: Meus Deus, mas que sorte a minha! Trouxe flores para duas deusas belíssimas... Afrodite aceitou a partilha com bom humor, mas Diana preferiu levantar novamente uma das sobrancelhas, mas sem deixar de ser simpática. Afinal, conhecia sua irmã, sabia que ela estava pondo seu plano em prática, e que já era tarde para tentar interrompê-lo. Saiu da frente da porta e ele entrou, puxado pela mão por Afrodite.
O almoço avançou rapidamente. Depois da canja com muitos miúdos, do filé de frango à parmegiana, salada de legumes e arroz branco, a sobremesa foi apresentada com pompas. Afrodite lhe fizera contar qual seu doce predileto, e trouxe para a mesa um enorme pavê de chocolate, que deixou o homem com os olhos arregalados. Depois de satisfeita a sua gula, Sansão não comeria nem mais uma cerejinha, pela mais absoluta falta de espaço. Afrodite sugeriu que se acomodasse no sofá e, descontraídos, foram os três. Suas pálpebras lhe pesavam, porém, cercado por duas deusas que gostavam tanto de vinho, o homem não admitia a idéia de dormir. Deliciava-se observando todos os detalhes. Quando ria, os seios de Afrodite tremiam sedutoramente. Diana, agora completamente à vontade, não tinha o sorriso luminoso da irmã, mas ganhava dela no traseiro imenso. Era bem branquinha e, vez por outra, mostrava belas e pouco comportadas coxas. Passaram a tarde conversando e brincando como três adolescentes. Quando uma saía, para o banheiro ou para a cozinha, ele aproveitava para atiçar o fogo da outra. Entretanto, estava acontecendo algo que ele não percebia naquele momento e não perceberia, até que não soubesse mais o que fazer.
Já à noitinha, Afrodite se fazia algo compenetrada. Sem mostrar sua preocupação, levantou-se e foi à cozinha anunciando que iria preparar um cafezinho bem forte. Mas do fogão, enquanto esperava a água ferver, de vez em quando esticava os olhos para espiar os dois no sofá. Aquela não era uma situação nova. A seu ver, Diana sempre acabava se jogando para cima dos seus namorados. Essa era uma questão antiga, que vinha desde o tempo em que elas eram bem mais novas. À medida em que seus corpos se definiam, a diferença de idade ficava cada vez menos importante. Como, nessa época, Diana era tida como feinha e tinha jeitão de menino, não fazia seu gosto seduzir os garotos como a irmã. Mas depois sempre arrumava um jeito de tentá-los. Depois que os julgava mais confiáveis e mais fáceis de controlar. Isso já dera panos para muitas mangas, algumas escaramuças mais sérias. Parecia tudo esquecido, coisas do passado. Porém, agora Afrodite sentia seu sangue esquentar. As lembranças voltavam a galope. Por isso serviu o cafezinho e arranjou argumentos, para fazer com que ele sentisse que estava na hora de se retirar. E ele se foi, feliz da vida.
...
“Afrodiiiiiiiiite!!! Não acredito que você vai fazer isso de novo, garota...”, não foi assim que você me disse? Agora eu é que lhe digo, Diaaaaaaana!!!... A outra mostrou-se indignada: O que foi que eu fiz, posso saber?... Você sabe muito bem do que eu estou falando, sua sonsa. Não é a primeira vez. Eu vi você beliscando o Sansão bem no sofá, no sábado passado... Euuuuu, Afrodite?!... Sim, você!... Mas foi ele que me beliscou primeiro!... Ahaaa! Eu já imaginava. Eu não vi não, mas tinha quase certeza. Você acabou de admitir que beliscou o meu namorado... Não tendo mais como negar, Diana mudou a estratégia: Ora, mana, foi só uma brincadeirinha... Eu conheço as suas brincadeirinhas há muitos anos... Depois, ele não é bem seu namorado ainda, que eu saiba...
Ela sabia ser aquele um argumento definitivamente decisivo. Por pior que fosse, Diana tinha razão. Afrodite sabia exatamente o que a irmã queria dizer. Enquanto sua relação com Sansão não se consumasse, Diana seria uma concorrente, uma inimiga no ninho. Precisava afastar o homem de casa. Ou não? Bem, pensando melhor, enquanto estivessem os três juntos, fosse onde fosse, seria mais fácil controlar o velho garanhão. Se continuasse saindo a sós com ele, até que ele se decidisse, Diana teria também esse direito. Resolveu então que a melhor maneira de controlar as coisas era as duas fazerem um acordo. Pois já tinha uma proposta para a irmã.
Diana estava sentada na sua cama, remexendo na velha caixa de costuras, que fora de sua mãe, chamada Heralda e tratada por Hera. Aqueles apetrechos, linhas e retalhos, pareciam guardar na caixa muitas lembranças da “Velha” que, entretanto, morrera moça, levando para o túmulo apenas alguns cabelos brancos e um coração que nunca fora realmente amado por homem nenhum. Além da caixa, herdaram o apartamento e as traquitandas que ninguém quisera comprar. Com a venda dos móveis as duas haviam pago as últimas despesas do tratamento e do enterro. Restaram também alguns livros antigos, dentre os quais um velho volume sobre mitologia grega, de cujas ilustrações a Velha ria e se admirava, como se houvesse entendido profundamente o que se esforçava tanto para ler.
Hera trabalhara muito para criar as filhas sem marido. Mas já fora muito sofrida, desde antes, quando adolescente morria de medo do padrasto, e por ele fora inclusive molestada. Ele fora o capataz da fazenda onde Hera nascera. Um homem que sabia se mostrar meigo quando queria, mas que, noutros momentos, era extremamente violento. Diana o odiava, a partir do que Hera lhe contou, e qualquer homem que a fizesse lembrar dele era para ela igualmente odiável. Desde mocinha sentiu vontade de capá-lo à faca, queria ter tido uma oportunidade para fazer isso. Tinha o mesmo desejo em relação aos seus poucos e inocentes namorados, mas nenhum deles ousara o bastante. Não queria sofrer como a mãe, nas mãos de homens bem servidos que, entretanto, não valiam nem a comida que comiam. Já tinha sua própria experiência e achava que havia sido suficiente para saber que os homens são todos iguais. Entregara-se ao último deles por amor sincero, mas não durou muito tempo porque descobriu que teria que dividi-lo, ou pior, capá-lo.
Afrodite interrompeu suas lembranças e a surpreendeu novamente, fazendo uma proposta bastante interessante: Sansão ficaria com aquela a quem ele próprio escolhesse. Mas então – Diana quis esclarecer – quer dizer que você lhe perguntará a quem escolhe?... Não, Diana. Isso aqui não é uma loja comercial oferecendo promoções... Então, como saberemos com certeza?... Afrodite parou para pensar e Diana completou: ganha aquela que primeiro perder com ele a virgindade!... Está louca, Diana? Sabe que você não é virgem... Mas ele não sabe disso... Mas ele não vai perceber?... Digo que meu hímen é complacente... Não! Sua trapaceira! Como você poderia saber disso antes de ter uma experiência?... Digo que fui molestada pelo meu ginecologista... Mas que coisa sórdida! Que lembrança mais infeliz... Qual o problema? – No caso da mamãe não foi um médico educado e nem de mãos limpinhas. Depois, ele ficará com peninha de mim, Afrodite, até terá um sentimento de proteção, muitas mulheres tiram partido disso... Não era você que não suportava mentiras?... Afrodite, ele não sabe de nada e você não vai bancar a dedo-duro dessa vez... Eu? Dedo-duro, Diana?... Você mesma, sempre me delatou desde criança... Mas que mentirosa... Você sabe muito bem, Afrodite. É apenas para efeito desse nosso trato. Ah sim, outra coisa, isso terá que acontecer aqui em casa, noutro lugar não vale. Deixemos que ele faça a escolha livremente. Combinado?
Não era bem esse o acordo que Afrodite imaginara, contudo, pelo menos agora havia um acordo. Sentia-se em desvantagem. Caso Diana o convencesse de que é virgem, isso poderia pesar na sua decisão a favor dela. Os homens dão muito valor a isso. Afrodite vinha evitando encontrar-se com Sansão desde o último sábado. Achava agora que ele era tão sem-vergonha quanto Diana, porém queria primeiro acertar as coisas com ela, torná-la mais previsível, para depois poder ficar com ele. Bem, já no dia seguinte ao do acordo, foi encontrá-lo no shopping durante o horário de almoço. Entretanto, ele não estava lá. Começou então a telefonar, mas a ligação caía na secretária eletrônica. Será que estava com Diana? Telefonou para casa, Diana atendeu e disse que não... De jeito nenhum... E agora? Precisava voltar para o trabalho – Afrodite sentiu um princípio de desespero. Esforçou-se para controlar a agonia. A tarde passou muito lentamente e assim que pode ela se despencou para casa. Ao chegar tentou agir normalmente, porém prestando atenção em cada detalhe, na expectativa de encontrar algum indício de que ele estivera ali durante o dia. Mais tarde estava aliviada, porque não havia visto nada de diferente. Contudo, estranhava o bom humor da irmã, algo exagerado.
Nos dias que se seguiram tudo se repetiu. Não o encontrava, não conseguia fazer contato e nem descobria nenhum indício em casa, a não ser Diana, que dera para assobiar mais que de costume. Ele havia sumido sem dar uma palavra e isso era o mesmo que futucar uma ferida antiga. Trazia a lembrança do sofrimento de sua mãe. Então queria perguntar à Diana por que isso não a incomodava. Ao contrário, parecia mais feliz. Mas sempre deixava essa pergunta para depois. Preferia absorver o acréscimo de agonia que vinha a cada dia. Na sexta-feira de manhã, enquanto Diana foi se banhar, ela sentiu uma vontade quase incontrolável de fuçar as coisas da irmã. Mas demorou a se decidir, depois achou que não daria mais tempo e acabaria chegando atrasada no trabalho. À noitinha, já voltando para casa, era só desânimo. Nem se alimentou direito e foi dormir cedo, com o coração pesado demais. Porém, não chegou a entrar em estado de sono profundo. Foi despertada pelos gritos desesperados de Diana, que vinham sufocados pela porta fechada do banheiro: Afrodiiiiite!!!... Ai! Afrodiiiiite!!! A tocha!!!... Afrodiiiiiiiiiiite, me acuuuuuda!!!... A tocha!!!...
Muito à contra-gosto, por Diana ter interrompido seu sono tão difícil de conseguir naquela noite, Afrodite foi se arrastando para o banheiro. Já sabia do que se tratava. A válvula do aquecedor de gás estava com defeito havia algum tempo. Por duas vezes o faxineiro do prédio já viera consertá-la. Levava algum dinheiro, mas o problema reaparecia, o gás vazava e fazia um fogaréu. Bastava fechar o registro na parede e esperar um pouco, mas tomada de pavor, Diana não era capaz de fazê-lo. Afrodite fechou o registro e voltou para a cama resmungando. E agora, Afrodite, vou ter que me enxaguar com água fria?... Da cama ela respondeu: É bom, Diana. De vez em quando é bom pra lhe aliviar do seu próprio fogo...
Quando Diana voltava para o seu próprio quarto parou na porta do quarto de Afrodite. Mas ela fingiu que já estava dormindo novamente. Era noite de sexta-feira, porém não tinha ânimo nenhum. Pensou que naquele instante o shopping e os bares deviam estar borbulhando de gente se divertindo. Mas seu coração estava triste demais. Se resolvesse se vestir e sair? Talvez encontrasse Sansão em algum lugar. Mas, o que faria então? Não... Não era uma boa idéia. Isso podia por tudo a perder de vez. Esforçava-se para ouvir os ruídos que Diana fazia no seu quarto, e deduziu que ela se preparava para passar creme no corpo. Imaginou então a irmã fazendo isso, mas com o pensamento em Sansão. Afrodite sentiu um tremor de raiva lhe percorrer o próprio corpo e enfiou a cara no travesseiro. Queria dormir e rápido. Precisava afastar esses pensamentos da mente. De súbito algo lhe sacudiu o coração: E se Diana contasse a ele sobre o trato que haviam feito? Não se considerava mais delatora do que a irmã. Remexendo a memória, achava que eram duas delatoras quando alguma competição o justificava. Dedo-duro? Eu que sou a dedo-duro? Pois sim, a mim ela não engana – Afrodite adormeceu inquieta.
...
“Afrodiiiiiiiiite!!!... Venha ver quem está aqui!... Afrodite chegou às pressas, para confirmar a intuição que havia desprezado desde que se levantara da cama. Lá estava novamente aquele sorriso por trás do embrulho de flores, embora dessa vez nem tantas. Mas eis que, enquanto trocavam olhares, Diana se antecipou e trouxe Sansão para dentro pegando-o pela mão. Nesse momento, Afrodite se convenceu definitivamente de que seus planos estavam sob sério risco. Precisava dissimular que se sentia roxa de ciúme. Lembrou-se então de que naquele sábado tinha o compromisso de ir ao escritório, para fazer a pró-forma de um contrato importante para a empresa, de modo que estivesse nas mãos do cliente na segunda-feira antes do almoço. Mas qual, essa devia ser a razão dos constantes assovios de Diana. Ela devia saber que teria várias horas a sós com ele.
Afrodite precisou fazer um esforço muito grande, mas conseguiu se controlar. Preparou um cafezinho, e começou uma conversa descontraída. Para diverti-lo, contou a estória do defeito na válvula de gás e do desespero da irmã. Entretanto o tempo era mesmo curto. Deixou o almoço adiantado e foi para o escritório, mas não sem antes exigir dele a promessa de que esperaria por ela. Ao passar pela porta, olhou para a irmã com seriedade, e percebeu que ela dissimulava um sorriso sarcástico de quem dizia: Não tenho culpa... Diana não quis perder nem um minuto. Pela janela deu um até-loguinho para Afrodite e, assim que ela virou a esquina, foi logo sentando no sofá ao lado dele, ou melhor, quase no seu colo. De short curto e blusa de malha, podia perceber que Sansão seria facilmente seduzido. Alguns minutos depois já estava sentada de fato no seu colo. Porém, achando que ele estava menos ousado do que devia, Diana alegou que a janela da sala estava aberta e o levou para o quarto. Então o homem pôs de lado a timidez e começou a despi-la, e ela a ele. Já deitados na cama, Sansão sentiu seu próprio sangue se multiplicar. Diana era uma mulher bela, apesar de não ter a simpatia da irmã. Ele admirou seu corpo por alguns instantes, sua pele muito clara, e viu que alguns músculos tremiam involuntariamente. Ela era um poço de desejo. Mas quando ele começou seus carinhos o telefone tocou. Diana não queria atender, pensava ser uma trapaça da irmã, mas Sansão, que não desconfiava, insistiu. Argumentou que podia ser algo sério e que eles tinham bastante tempo.
De má vontade Diana foi à sala atender. Depois voltou furiosa, dizendo que se tratava de um homem desconhecido, perguntando se aquele telefone era do açougue. Sansão desfez a zanga dela com alguns toques certeiros e ela correspondeu. Os minutos passavam rápidos para ela, mas ele não demonstrava nenhuma pressa. Seus carinhos vinham e voltavam aos mesmos lugares, mudava e tornava a mudar a posição dela, porém nada além de carinhos. Diana então achou que ele não podia continuar no comando, e passou a tomar a iniciativa. Porém, no instante em que ia consumar sua conquista postando-se sobre ele, ouviram o som da campainha. Algum miserável estava na porta - disse ela a si mesma, fingindo não ter escutado. De novo a campainha tocou e Sansão perguntou se ela queria que fosse atender. Diana estava a ponto de explodir de raiva, mas controlou-se para não tornar as coisas ainda mais difíceis. Levantou-se, tirou do armário um quimono atoalhado e foi para a sala, abrindo a porta abruptamente e fazendo cara de poucos amigos.
Da cama, onde permanecera, Sansão ouviu Diana dizer que ele voltasse noutro dia, que não poderia consertar coisa nenhuma naquele dia. Era um funcionário e tentava explicar a ela que haviam pedido o conserto, telefonando para a empresa que o contratara. Se o serviço não fosse feito naquele dia, então quem pagaria a sua diária? Ela entrou no quarto bufando, pegou sua bolsa e dela retirou dinheiro suficiente para despachar o “senhor consertador do gás”, mas Sansão interferiu de novo. Para convencê-la, alegou que o problema do gás era muito perigoso e que o conserto sairia mais caro do que comprar outro aquecedor. Calma, temos tempo... – repetiu ele para desespero dela.
Duas horas depois, justificando-se pela pressão que ela fez para que fosse mais rápido, o homem deu o serviço por terminado, tendo feito uma limpeza geral e trocado a válvula defeituosa por outra já usada, mas que, como podia ver, funcionava perfeitamente. Diana sentiu que aquela não era uma boa solução, mas tinha outra prioridade no momento e tratou de se livrar do inoportuno. Quando o homem foi-se embora ela olhou para Sansão, sentado no sofá esfregando com a mão a própria barriga, e deduziu o óbvio. Ele estava com fome, ela teria que servir o almoço e deixar a sua prioridade para depois. Ela ainda perguntou para confirmar se havia entendido bem o gesto, numa tentativa de protelar. No entanto Sansão confirmou que já estava sentindo fome, e mais uma vez lhe disse que tinham muito tempo, “só tenho pressa para o que não gosto de fazer...”. Diana respirou profundamente e foi para a cozinha, tentando manter um bom ânimo para não demonstrar a sua raiva.
Ela tentou fazer com que Sansão terminasse rapidamente a sua refeição, porém ele não teve pressa para isso também. Comeu e repetiu, elogiando os dotes de cozinheira de Afrodite. Nesse dia não havia pavê de chocolate para a sobremesa, porém havia metade de um melão na geladeira e, como ele disse que adorava melões, Diana não conseguiu tirar o fruto do cardápio. Sansão comeu toda a metade do melão sozinho. Diana olhava para o homem empanzinado de tanto comer e para o relógio, que ficava sobre a prateleira da sala. Ele lhe parecia uma criança. Para um homem da sua idade comia demais. Quando Sansão finalmente terminou, ela tratou de aconselhar que se deitasse um pouco, na cama, que seria mais confortável. Ele aceitou e ela voltou à carga, tomando novamente a iniciativa dos carinhos. Porém, bastou que ela fosse ao banheiro por alguns poucos minutos, para que Sansão pegasse num sono profundo. Meia hora depois, sentada na cama ao lado dele, ela se perguntava onde havia errado, e ele roncava sem nenhuma cerimônia.
Quando, mais tarde, Diana tomou coragem e decidiu acordá-lo, antes que fosse tarde demais, o telefone tocou novamente. Ela alegrou-se por ele ter despertado, mas logo perdeu a esperança. Era Afrodite, avisando que já estava voltando, mais cedo do que imaginara. Normalmente, ela levaria vinte minutos no trajeto entre o escritório e o apartamento, mas Diana sabia que, naquela situação, chegaria bem antes. Talvez já estivesse dobrando a esquina. Desanimada, ela disse que Afrodite já estava chegando e Sansão pediu para tomar uma chuveirada bem rápida, só para tirar a lombeira.
Quando Afrodite chegou usou a sua chave para abrir a porta, contudo encontrou os dois fazendo um lanche à mesa. Com algumas poucas trocas de olhares desconfiou e, pela receptividade dele convenceu-se, de que o pior não havia acontecido. Que alívio! Sentiu-se tão feliz que se jogou nos braços dele como nunca fizera antes. Depois tentou se recompor, mas não evitou a raiva da irmã, que dirigiu-se ao banho sem conseguir dissimulá-la. Afrodite disse a Sansão que não se preocupasse, que ela era assim mesmo e que depois de um bom banho voltaria ao normal. E foram os dois trocar afagos no sofá. Porém, embora pudessem ouvir o som do chuveiro, pelo buraco da fechadura Diana os observava. Quando percebeu que ele já acariciava o seio de Afrodite, não pensou duas vezes. Tratou de terminar o falso banho e saiu de repente do banheiro para o seu quarto, enrolada na toalha, para provocar a irmã. Como resposta, Afrodite convenceu Sansão a ir com ela fazer um passeio no shopping. Ele perguntou à Diana se ela não gostaria de ir também, mas dessa vez foi Afrodite quem se antecipou, dizendo que ela nunca ia ao shopping e não haveria de resolver ir justamente quando estava chuviscando, “não é mesmo, mana?”. Ao saírem na calçada, Sansão olhou para o céu da noitinha, em que já despontavam as primeiras estrelas, e perguntou a ela pela chuva. Quando saí do escritório estava caindo um chuvisco, explicou ela. Ele olhou então para o chão, completamente seco e sem poças, mas preferiu não perguntar mais nada. Afinal, que diferença fazia?
Em casa, deitada na cama, Diana roia as unhas. Trapaceira que você é, Afrodite... – dizia consigo – Primeiro arrumou alguém para ligar perguntando por outro número, e logo pelo número do açougue! Depois telefonou para pedir o conserto do aquecedor... Com certeza escolheu a empresa mais trambiqueira da lista. Ah, maninha, você me paga... Mas no shopping ela não poderá conseguir nada, o trato é que tudo se decida aqui no apartamento. Depois, ele só virá novamente no próximo sábado... Bem, agora quem tem tempo sou eu. Terei uma semana para estudar isso com muita calma.
Na praça de patinação, enquanto se divertiam com os tombos dos que se arriscavam, Sansão perguntou se ela havia ligado durante o tempo em que esteve no escritório. Afrodite explicou que estavam fazendo uma nova instalação e todo o prédio estava sem sinal telefônico. Portanto, por mais que precisasse não poderia telefonar. Mas não ligou para pedir o conserto do aquecedor? – Insistiu ele. Não, Sansão. Quando saí, perguntei na portaria pelo faxineiro, que costuma fazer esse serviço. O porteiro disse que ele havia sido demitido, mas que procuraria o número de uma firma, que já havia feito isso em alguns apartamentos. Só que ele poderia demorar um pouco a chamar, porque há alguns anos não ligava para essa firma e não sabia de cabeça onde estava o caderno antigo de telefones. Mas por que essa pergunta sua?... Por nada, aliás foi muito bom. Mandaram alguém lá consertar. Precisava mesmo, esse tipo de problema é muito perigoso... Afrodite, apenas balançou a cabeça, mas já ficou imaginando como estava a cabeça de Diana.
...
Afrodite chegou do escritório bem mais cedo do que de costume. Havia almoçado junto com todos os funcionários no pequeno restaurante que ficava no andar térreo do mesmo prédio. Comemorava-se o aniversário do dono do chefe, um velho e bem sucedido advogado, e seu filho, também dito homem das leis, criou o evento porque viu nele uma boa oportunidade para, mais uma vez, tentar convencer Afrodite a ser mais que uma simples secretária. Porém ela, além de já tê-lo recusado inúmeras vezes, por pura intuição só pensava no momento de voltar para casa. Para não fazer desfeita, foi e almoçou, mas muito rapidamente. Ela sabia que o velho não gostava muito dessas ocasiões e não se demoraria a ir embora. Pois logo depois que ele passou pela porta, de saída, foi ela a se despedir de todos. Para desespero do seu preclaro admirador.
Entrou no apartamento, como vinha fazendo, em silêncio, usando a própria chave. Entretanto, para sua surpresa, estava vazio. Foi ao quarto da irmã e logo deduziu que ela havia saído. A julgar pelos cabides que ficaram vazios no guarda-roupa, fora bem vestida. Um resto do perfume ainda estava pelo ar, retido pela janela fechada, e o sapato de salto novo não estava na caixa. Já convencida de que eles haviam saído, Afrodite teve vontade de gritar, o que não era do seu temperamento. Sentia que aquele homem era realmente importante. A expectativa de perdê-lo lhe parecia algo terrível, e a de ter que conviver com os dois debaixo do seu nariz era ainda muito pior. Sempre dizia que sua intuição nunca falhara.
Tomou um banho morno e demorado para tentar relaxar. Vestiu uma camisola fina e confortável, e foi para a cozinha. De tanta ansiedade quase esvaziou a geladeira, fazendo um lanche que seria capaz de saciar até mesmo a Sansão. Pensava que sua irmã, por vezes, parecia ter razão em coisas absurdas. No caso, Afrodite remexia na faca de pão e se lembrava da fixação da outra por capar alguém. Começou a achar que alguns homens bem que podiam merecer mesmo. Ainda estava à mesa quando a porta abriu e por ela passaram os dois. O primeiro impulso de Afrodite foi explodir com Sansão. Mas vendo que Diana passou emburrada para o seu quarto, sem dar nem ao menos um “boa tarde”, preferiu esperar um pouco. Vendo-a com cara de açougueiro, passando o polegar no fio da faca, embora estranhando Sansão veio todo dengoso.
Em tom baixo ela exigiu umas respostas, antes de qualquer outra coisa. E ele prontamente começou a descrever a própria versão do que havia acontecido. Não, Diana não havia telefonado. Ele sim, para deixar o recado de que teria de viajar novamente no fim-de-semana, porque ninguém atendia no telefone do escritório. Então Diana lhe dissera que dava o recado, mas que queria conversar e marcou um encontro no shopping. Foi só isso, meu amor... Afrodite olhava dentro dos olhos de Sansão, fazendo expressão de quem não acreditava muito. E do shopping, vocês foram para onde?... Lugar nenhum, minha deusa... Sansão... – Ela remendou mostrando sua impaciência... Ora, só fomos assistir o filminho do dinossauro pra passar o tempo. Mas por que está achando que fizemos alguma coisa de mais?... Porque você não tem vergonha nessa cara... Euuu? ... – Sansão levantou-se da cadeira, surpreso com a atitude dela, fazendo-se de vítima... Porém, olhando para a calça que ele vestia, ela completou vitoriosa:... E porque sua braguilha está manchada... Sansão, que dinossauro mais guloso esse!!!
Enquanto ele pensava numa saída para aquela situação, Diana passou do quarto para o banheiro, ainda dando os bofes para ele. Não abre demais o gás! – Disse Afrodite assim que a irmã fechou a porta. Sansão começou a contar o que certamente seria uma mentira deslavada, mas Afrodite achou que já estava tudo bastante claro. Pegou o homem pela mão e praticamente o arrastou para o seu quarto. Empurrou o seu corpo imenso para que caísse de costas na cama e começou a soltar o cinto. Novamente surpreso, ele ia argumentando alguma coisa, porém ela lhe disse que calasse a boca, com o tom de uma ordem, e prosseguiu a despi-lo sem cerimônias. O homem não estava acostumado àquilo, era para ele inusitado, porém... Pensando bem, por que não? Afinal de contas, não era o que vinha desejando havia tanto tempo? Muitas vezes imaginara uma viagem bastante semelhante, com a diferença de que ele estava na poltrona do piloto.
Diana nem se dava conta da água que deslizava abundante e quente pelo seu corpo, ainda trêmulo, mas agora pela raiva que ela sentia. Como Afrodite pudera adivinhar o dia e a hora com exatidão? E por que Sansão se demorara tanto a decidir trazê-la de volta? Quis ver a porcaria daquele filme até o final, a ponto de urinar nas próprias calças, antes de chegar ao mictório do cinema! Ele adorou saber seu segredo mais precioso, de que era virgem, porém nem assim quis sair até que passasse a última cena. Ela precisava pensar em alguma coisa rapidamente. Cada minuto era uma perda enorme de tempo. Mas, sob tensão, nada lhe ocorria que pudesse fazer.
Na cama, Sansão parecia estar no paraíso. Afrodite era mesmo uma mulher e tanto, uma deusa da beleza e da sensualidade. Suas formas eram esculturais, sua pele deliciosa e cheirosa, seus gemidos e sussurros bem medidos arrancavam das cavernas da sua ancestralidade um indomável instinto de animal macho. Ele só raciocinava o suficiente para retardar a consumação. Queria que fosse o melhor de todos, o mais belo himeneu desde a Grécia antiga. Entretanto, para Afrodite, nada disso era necessário. Bastava sair-se vencedora, depois disso ele poderia entrar do jeito que bem entendesse. De tudo ela fazia para que, na iminência de um orgasmo, ele se apressasse a enfim fazê-la mulher e feliz. Contudo Sansão era um homem experiente. Se o hímen tivesse um limite de tolerância matematicamente calculável, ele saberia fazer essa conta com a mais absoluta precisão.
Diana diminuiu a vazão do chuveiro, enrolou-se na toalha e abriu a porta do banheiro cuidadosamente. A porta do quanto de Afrodite estava fechada e Diana não resistiu à tentação de olhar pelo buraco da fechadura. Não dava para ver muito, mas aquele traseiro branco e grande se remexendo só poderia ser do Sansão! Então a sua intuição estava certa, Afrodite estava jogando duro, uma cartada decisiva. Diana entendeu que: ou fazia alguma coisa em pouquíssimo tempo, ou não adiantaria mais. Entretanto, fazer o que? Sua irmã estava rigorosamente dentro do trato. Diana buscava uma forma de interromper a brincadeira daqueles dois sem quebrar o acordo que haviam feito. Além disso, tinha torcer para que o homem fosse tão controlado com ela quanto fora consigo.
No ninho das suas delícias Sansão mantinha o controle. Porém isso também se devia a certo escrúpulo por parte dela. Durante aqueles minutos de idílio, apesar do grito preso na garganta, Afrodite se recusara duas vezes a por em prática uma idéia ousada. O homem que, bem maior e mais forte, sobre e entre as coxas dela julgava ter absoluto domínio da situação, sequer imaginava o que passava naquela cabecinha. Como os homens sempre acham, a mulher era uma simples coadjuvante e apenas ele tinha o poder de decidir o momento da consumação, conforme melhor aprouvesse. Afrodite gemia, pedia, implorava, porém ele só ia até o limite. Então recuava e dizia a ela que tivesse calma, ponderava que esperasse um pouco mais, que ainda não era o momento. Apesar de estar quase enlouquecendo, ela esperou estrategicamente e logo ele voltou a pressionar. Foi no exato momento em que se ouviu um pequeno estrondo e em seguida os gritos sufocados de Diana: A toooocha!!!... A tooocha!!!...
Assustado, Sansão levantou a cabeça, olhando na direção da porta. Fez menção de se levantar, porém Afrodite havia trançado as pernas nas suas costas. Lá do banheiro Diana pedia socorro e gritava: A toooocha!... Enquanto, agarrada ao corpo dele, Afrodite lhe implorava: Atoooocha, meu amor... Bem, ao menos por bom-senso, devemos admitir que mesmo um homem experiente, tem o direito de parar para refletir. Pois no caso, antes não o tivesse. Foi justamente nesse exíguo instante de reflexão, que Afrodite cedeu à idéia que lhe perseguia os escrúpulos. Sabia que aquela gritaria era mais uma trapaça de Diana. Pois haveria de ser a última. Sentindo-se na iminência de perder sua melhor chance, de um só golpe, certeiro e contundente, enfiou o dedo médio no traseiro do amante que, no susto, rompeu afinal o limite... Que isso, mulher? Ficou maluca?... Ah, meu amor, você conseguiu, estou tendo um orgasmo orgulhosa de você... – Ela mentiu com um sussurro suplicante... E como os homens sempre pensam saber que têm a verdade nas mãos, e também noutras partes, e que isso lhes dá poder sobre o certo e o errado, ele cedeu cavalheirescamente: Então atoooocha!...

Foto de Dirceu Marcelino

MORENA DE ALMA LIMPA

BELA SENHORA

Não sabia como te chamar:
Moça... Garota... Mulher...!
Flor... Rosa... Rosa Morena...!
Porém, meu desejo é te parabenizar:
Feliz aniversário, Parabéns para você...
Muitas felicidades...

Mas só isso não basta, preciso falar mais de você...

Pois és tão bela... Mulher...!
Tão sexy, quando falas ou se mexe...
Quando andas, sentas ou se remexesse...

Teus olhos negros são como dois laços,
Que depois de lançados, enlaçam,
Amarram e amordaçam...

Teus cabelos tão longos,
Tão belos e cuidados,
São mantos
De uma Rainha Morena

Mas teu jeito sedutor
E o teu desprendimento
Demonstram que és mais...
É uma Linda Mulher.

Tuas unhas tão afiladas,
Cuidadosamente esmaltadas,
Parecem garras ou agulhas
Que seguram corações...
Como de teu marido,
Honrado por ter o teu amor...

Vê-se que és livre de corpo e alma...
Mulher liberta e independente.
Professora critica e serena
Em sua sensibilidade negreira...

Relembras que é sinônimo de força
Mãe de crianças saudáveis
Futuras mulheres e homens robustos
Como seus ancestrais...

Dignos representantes humanos
Mas que não aceitarão os grilhões...
Isto jamais!!!
Mas sim, querem mais...
Pois seus filhos...
Homens e mulheres!

Homens e mulheres
De alma limpa
Gritavam e continuam gritando:
_”Respeito”!

Como pôde uma cor
Causar tanto sofrimento.
Mas será o preconceito?
Ou, simplesmente,
A ânsia do poder.

Não aceitem a desvalia,
Não aceitem nenhum estigma
Fora as etiquetas
Tão absurdas!

Exprimam sua força,
Soltem a sua alma,
Sua força
Seu orgulho
Que seja a negritude
A cor realeza
Com sua cultura extraordinária
Ora representada em ti Mulher,
Mãe, verdadeira Rainha
Que aniversarias...

Parabéns, muitos anos de vida...
Felicidades...

Foto de Barzissima

Historia de Amor e Saudades -4

Curitiba, 07 de setembro de 2007 (data original que a carta foi escrita)

Meu amor!!!!
Ontem eu vi o eu carro no bairro de novo. Será que você me viu também? Ai querido. eu to tão desanimada com meu casamento..... acho que se continuar assim não vai durar muito mais.... Isso faz eu pensar muito,muito mais em você.... fico imaginando que se eu estivesse com vc eu estaria muito feliz.com alguém que realmente eu amo muito....... Acho que o fim esta muito mais perto agora... porque não quero mais tentar, porque sei que o meu grande amor não esta comigo... e eu tenho esperança, de um dia poder estar ao seu lado, te amando muito... Sabia que não chamo meu marido de amor? Nem ele me chama. Nos chamamos pelos nomes mesmo... sabe porque isso? porque não estou com meu amor de verdade.... Queria mesmo era poder te falar estas coisas pessoalmente.. com todo carinho do mundo..... será que você também tem pensado em mim? A minha amiga Ju conversou com seu primo sobre nós sabia... sobre nosso encontro no mercado, lembra? Cara a cara... nossa! que sensação eu tive naquela hora... meus pés sairam do chão... ainda bem q estava terminando minha compra, senão esqueceria o q tinha q levar... meu coração foi a mil por hora.... então... eles conversaram sobre esse encontro, e vc tb comentou com ele, ou com sua prima não sei, só sei que minha amiga me disse que vc tambem ficou mexido em me ver.... que fala em mim tambem, assim como eu... então eu acho que vc tambem pensa em mim... sabe, as vezes, eu sinto como se você estivesse muito perto de mim...... acho que nossas almas gritam uma pela outra....que lindo isso né.... mas acho que sim.... o desejo de ficarmos juntos é muito grande (pelo menos eu gostaria que fosse assim).... pena que uma serie de coisas nos separam... Hoje eu tenho quase uma certeza... você também sente o mesmo que eu....só não é certeza absoluta porque não ouvi isso de você....

Foto de Lais Pereira

Totalmente AMOR !

O garoto que com palavras mágicas sempre consegue me fazer sorrir...
O homem que com olhares me encanta e me tira completamente do sério !
O menino que eu escolhi pra ser meu eterno namorado, amigo, amante, marido...
E não há nenhum jeito de tira-lo dos meus pensamentos !
Ele é perfeito, é meigo, é doce... mas também é forte, é ruim, é bravo e é homem !
Ele é o meu chatinho com cara de anjo ! Meu anjo meio chatinho !
Ele é meu namorado com jeito de MARIDO ! Meu MARIDO com jeitinho de namorado !
Ele é meu paraíso, meu sonho !
É as ondas do meu MAR ! É as estrelas do meu céu !
Sem ele nada nunca vai ser completo...
Por isso não sei nem pensar em viver sem ele !
Porque ele é simplesmente a razão da minha existência !
Foi só pra ama-lo que eu nasci !
André... nunca me deixe só ?
Sem você a vida não é vida... O mundo não é mundo !
Eu não sou eu....
Eu TE AMO !

Foto de Dirceu Marcelino

ESTÓRIAS QUE SE REPETEM

“ESTÓRIAS QUE SE REPETEM”.

Este conto se baseia na estória de “Eros” e “Lara” e de “Marcílio”, os dois primeiro personagens fictícios de nossa poesia denominada Súplica.
As estórias de “Eros” e “Marcílio” podem ser comparadas a do francês Jean Genet .
Sabe-se que “Genet nasceu de uma união ilegal. Sua mãe abandonou-o na primeira infância, tendo sido criado até a adolescência por uma família substituta e depois teria passado alguns anos em orfanato do governo, em Paris. Sempre se sentiu ‘um enjeitado’, pois seus irmãos adotivos o chamavam de ‘bastardo’, consideravam-no “ovelha negra” da família, a quem imputavam os atos mal feitos que fizessem e consta até que fora vítima de violência sexual”.
Aos poucos até os demais membros da pequena comunidade passaram a lançar-lhe a responsabilidade de todos os atos anti-sociais que aconteciam na localidade e passaram a chamá-lo de “ladrão” e “homossexual”. Desse modo, não tendo pai, não mantendo contatos com a mãe, sem ninguém com quem se identificar, foi assumindo a única identidade que poderia internalizar.
Porém, nosso personagem “Eros”, apesar de ter estória muito parecida com a de Genet, ao contrário, tinha pais e vários irmãos. Aliás, estes se destacavam no pequeno vilarejo em que moravam por serem trabalhadores, construtores de “calçadas de pedrinhas”. Eram muito requisitados para fazer seus serviços e “Eros”, com cerca de quatorze de idade podia ser visto acompanhando-os quase todos os dias pela manhã quando a família saia para o serviço diário e só à tardezinha retornava para casa.
Ao entardecer observa-se que “Eros” se associava ao grupo de adolescentes do bairro, pequeno grupo da vizinhança, grupo de amigos, autênticos. Passava a gozar dos folguedos juvenis típicos daquela região e sempre terminavam as brincadeiras em “peladas de futebol”. Após as mesmas, permaneciam por algumas horas conversando, raramente seu grupo mantinha contatos com meninas, apesar de que nas proximidades e no mesmo horário formar-se outro grupo de moças.
O primeiro dos adolescentes que passou a se associar com as moças foi “Eros”, que logo começou a namorar uma delas, a mais bonita por sinal – “Lara”. Esta aos dezesseis anos se destacava por sua beleza. “Eros” também era um rapaz bonito e logo começou a namorar “Lara”, um casal lindo de namorados e inseparáveis. “Lara” engravidou e apressou-se o casamento que sequer havia sido programado. Casaram-se e passaram a morar em uma casa doada pelos irmãos de “Eros”. Tiveram um casal de filhos, duas crianças que se destacavam por sua beleza e gentileza.
No mesmo período em outra pequena cidade vizinha eis que surge - “Marcílio”. Também, ao contrário de GENET, tinha pais. Mas eram ambos sexagenários. Alguns dizem que essa é uma grande dificuldade de pais que concebem muito tardiamente, pois quando alcançam a terceira idade já não tem energia suficiente para cuidar dos filhos adolescentes e acompanhá-los nos primeiros anos e após atingirem a maioridade. Parece-nos que foi o que aconteceu com “Marcílio”. Não teve o privilegio de ser assistido por seus pais já idosos, na sua infância e adolescência.
Mesmo sendo um belo rapaz, ao contrário de “Eros”, não se interessou por namoradas. Ao contrário, diziam que se interessava por rapazes. Apesar desses comentários na realidade nunca ninguém comprovara tal fato. Destacava-se no colégio onde estudava por ser inteligente e vivaz. Logo começou a ser chamado pelos colegas adolescentes de “Marcília”. Percebeu-se que não se preocupava com essas difamações, e aos poucos foi assumindo essa “identificação diferencial”. Como Genet assumiu a identificação de homossexual.
Porém, mais grave do que a assunção dessa identidade foi o fato de “Marcílio”, num mecanismo de fuga e evasão, passar a fazer parte de outro grupo pernicioso, uma “gangue” de usuários de drogas.
Talvez, tenha passado a associar-se a este grupo inconscientemente, induzido pelo casal que praticamente o adotou, fazendo-nos lembrar do slogan que hoje vemos afixados nas traseiras de ônibus caminhões e em alguns locais públicos:

“Adote seu filho, antes que ele seja adotado”.

“Marcílio” após ser adotado pelo casal, de alguma forma começou a se relacionar com outros jovens, pessoas de outra cidade, maior e próxima, e prosseguindo naquele mecanismo de busca de identificação, e de evasão, passou a fazer parte de um grupo formado por pessoas de fora do circulo familiar e da comunidade local, membros clandestinos, ocultos, que compareciam à pequena cidade para adquirir alguma coisa que só o “respeitável casal” comercializava muito livremente, pois além de vendedores de roupas – mascates – também eram respeitáveis no círculo dos ricos, dos mais abastados, pois moravam em uma das mais belas casas da pequena cidade e assim seus relacionamentos se estendiam aos altos círculos sociais.
Provavelmente, os pais legítimos de “Marcílio” gostaram do interesse do casal por seu filho, mesmo porque além de morar bem, do aparente sucesso material o varão exercia respeitável cargo público.
Com bom grado deixaram que “Marcílio” com eles permanecesse, trabalhasse, até morasse. Pensavam que ele trabalharia no bar, dormiria na casa do casal, mas na realidade o jovem passava os dias no bar, no recinto de jogo e à noite passava ao relento a perambular pela outra cidade vizinha, a “trotoir” pela praça e pelas ruas quase desertas até o amanhecer.
Ainda que se resumisse à jogatina ou a promiscuidade sexual o casal de velhos não teria muito com o que se preocupar. O problema era ainda mais grave. “Não percebia o velho casal que seu filho passava por problemas individuais que ‘induzia-o’ à fuga e ao refúgio no consumo de estupefacientes e ao cometimento de infrações conexas”
Aos poucos o respeitável casal que o “adotou” começou a utilizar “Marcílio”, para outros comércios que faziam além das vendas de roupas, que ofereciam para seus clientes de casa em casa.
Percebeu-se então que era um comércio clandestino e ilegal quando alguns cheques emitidos pelo casal foram objetos de registro de boletim de ocorrência na delegacia de polícia local e nas investigações procedidas constatou-se que apenas a assinatura era verdadeira, as demais escritas eram todas falsificadas. O casal dono do cheque, mesmo prejudicado desejava apenas resgatá-los, mas de forma alguma queriam que fosse aberto inquérito. Pois diziam que não pretendiam responsabilizar o adulterador, pois este era “Marcílio” “seu filho adotado” que já tinha naquela ocasião algumas passagens nesta mesma delegacia, por pequenos furtos e não pretendiam prejudicá-lo ainda mais. Por que será?
Ninguém sabia o que estava acontecendo, pois, geralmente, esses atos anti-sociais são imperceptíveis aos que não conhece a subcultura da localidade.
No seio dos grupos secundários que se interligam de modo imperceptível, através de um mecanismo de “transmissão cultural”, “alimentam uma tradição delinqüente com o seu peculiar sistema de valores anti-sociais, que se transmite de uma geração de residentes à seguinte”.
Na realidade “Marcílio”, não era apenas um pequeno delinqüente, hoje reconhecemos, também era vítima. Vítima tão culpada quanto aos delinqüentes traficantes de drogas. Durante as investigações dos estelionatos praticados por “Marcílio”, percebe-se que ele usava apenas camisas de mangas longas, com o propósito de esconder as inúmeras marcas de picadas intravenosas nas dobras dos cotovelos.
Mas como de fato cometera delito de estelionato, foi indiciado em Inquérito Policial e respondeu ao respectivo processo criminal.
“Marcílio” até então conhecido como “homossexual”, agora, também, passou a ser considerado “toxicômano” e “ladrão”. Embora a comunidade local o rejeitasse como sempre, surgem não se sabe como, pessoas abnegadas que espontaneamente oferecem ajuda nas horas de desespero e assim com colaboração de representantes de uma grande indústria local, conseguiu-se sua internação na instituição especializada na recuperação de toxicômanos.
Lá permaneceu por algum tempo nesta instituição, esperando o julgamento do mesmo processo a que respondeu, sendo condenado, foi recolhido à Cadeia Pública da Comarca, para cumprimento da pena de um ano e quatro meses de reclusão. Permaneceu recolhido no regime fechado até ser beneficiado com progressão para o regime de prisão albergue e passou a pernoitar na casa de albergado.
A Casa de Albergado era uma das poucas existentes, que pouco a pouco foi desativada, como as demais.
No mesmo período em que “Marcílio” permanecia internado, o “respeitável casal” que o adotara, também, foi preso, em flagrante por tráfico de entorpecente e ao final condenados as penas de três anos.
A “Respeitável Senhora” depois de um mês de reclusão na cadeia local foi transferida para uma Penitenciária Feminina do Estado. Lá teve algumas dificuldades de relacionamento com as demais reclusas, em face de ser esposa de funcionário público. Porém, com apenas nove meses de reclusão ela foi beneficiada com prisão albergue domiciliar e retornou para sua casa.
O “respeitável Senhor”, também, beneficiado com prisão albergue domiciliar, permaneceu preso apenas por um ano e dois meses.
Atualmente, ambos vivem felizes na mesma casa e continuam a ser respeitados na pequena comunidade. Consta que não reincidiram.
Ocorreu que, enquanto o respeitável casal saía do sistema prisional, logo depois, “Marcílio” ingressava, justamente, em razão daquele cheque adulterado cuja vítima era a “Respeitável Senhora”, pois fora condenado por estelionato.
Neste mesmo período Eros deu entrada na mesma cadeia em que estava recluso Marcílio, chegando a morar por pouco tempo juntos na mesma cela. Em razão disso saberemos a seguir o que acontecera com Eros.
“Eros” e sua bela mulher, também eram fregueses do respeitável casal e, provavelmente, além de roupas compravam outras “mercadorias”.
Logo a toxicomania de “Eros” o subjugou.
Inicialmente, por não conseguir acompanhar seus irmãos no trabalho de construção de calçadas, passou a ter dificuldades financeiras para suprir as necessidades da família e, provavelmente, para adquirir as substâncias entorpecentes de que necessitava, então passou a praticar pequenos furtos. Logo foi indiciado em inquérito. Mas sua primeira prisão ocorreu por porte de entorpecente. Tal infração era afiançável, porém, como nenhum de seus familiares se prontificou a pagar o valor arbitrado, chegou a ser recolhido à cadeia pública.
Consta que nessa oportunidade um dos presos, também oriundo da mesma comunidade, tentou seviciá-lo sexualmente e por resistir com afinco aquele não conseguiu seus intentos. Saiu da cadeia, invicto, mas marcado por uma das mazelas da prisão. Ainda dizem que a cadeia regenera, não foi essa primeira experiência de “Eros” o suficiente para ele.
Pouco dias depois, novamente ”Eros” foi preso por violação de domicílio. Desta vez, consta que o presidiário “Bárbaro” investiu sobre ele com intenções inconfessáveis e para resistir ele fingiu que estava tendo um ataque convulsivo, inclusive, espumando pela boca. Nesse estado foi socorrido e de alguma forma separado de ala da pequena cadeia, onde não poderia ser alcançado por seu algoz.
Ao saberem do sucedido seus irmãos e esposa fizeram esforços para pagar advogado e libertá-lo. Porém, consta que sua bela esposa inconformada do ocorrido, ou seja, com as constantes tentativas de sevícia a que o marido sofria, ameaçava-o abandoná-lo, caso não se corrigisse e retornasse à cadeia.
Foi o que ocorreu, pois decorridos mais alguns meses, outra vez “Eros” foi preso em flagrante por furto. Neste terceiro período consta que, totalmente, subjugado foi presa fácil de “Bárbaro”. Pior do que isso ao saber do ocorrido, sua esposa, o abandonou de vez. Logo arrumou outro companheiro.
“Eros” não foi abandonado apenas por ela, mas também, por seus irmãos e pais. Abandonado, não tendo trabalho e condição de comprar drogas, tornou-se um verdadeiro alcoólatra “bêbado de rua” e nos quatro ou cinco anos que se seguiram, retornou à prisão por flagrantes e condenações por furtos e uso de substância entorpecente.
Este foi o relato de “Marcílio” do ocorrido com Eros, porém, reservou-se a contar se “Bárbaro” tentara alguma coisa contra si. Chegou a dar a entender, que, o que importava saber sobre isso, se ele já era conhecido como “homossexual”.
Infelizmente, não foi longo o período de observação de “Marcílio”, pois ele que era conhecido como “alcagüete”, algum tempo após revelar esses casos que segundo a subcultura carcerária deveria permanecer oculto, e ainda por dar informações sobre outros delitos praticados na região, principalmente os relacionados ao tráfico de entorpecente, em certa data ao ausentar-se, descumprindo o horário de entrada na casa de albergado, foi morto num bairro de uma grande cidade próxima.
“Marcílio” morreu por “over-dose’ de cocaína, mas segundo dizem poderia ter sido forçados a tomar uma dose excessiva, ou seja, fora assassinado. Por quem? Não se sabe, pois esta é uma das estratégias do crime organizado.
Casos como o de “Eros” e “Marcílio” nos fazem lembrar e comparam-se com o de Jean Genet, mas agravados por serem estigmatizados, além de ladrões e homossexuais como “toxicômanos”, “alcagüetes” qualidades negativas que não são aceitas na sub-cultura carcerária, colocando-os na última categoria da hierarquia existente entre eles.
Estórias como de “EROS” e “MARCÍLIO” mesmo fictícias comprovam a dura realidade de nossos dias, mas o que é interessante são estórias que se repetem. Repetem...

Foto de Cecília Santos

HOJE VAI SER ASSIM:

HOJE VAI SER ASSIM:
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HOJE VAI SER ASSIM:
Comer pão com manteiga e açúcar,
Manga com sal,
Morango com mel.
Sentar na janela, deixar o
relógio andar.
Observar o céu, sentindo a
brisa passar.

HOJE QUERO SER ASSIM:
Menina sapeca, levada,
mas muito amada.
Aconchegada no colo da mãe,
ouvindo cantigas ao luar.
Brincando de esconde-esconde,
dentro do armário do quarto.

HOJE SOU ASSIM:
Mulher amadurecida pela vida,
Sábia pelos ensinamentos
que recebi.
Que já conheceu todos os tipos de dor.
Mãe que ama, chora e ensina.
Esposa que ama seu lar, seu marido.

MAS HOJE QUERO SER ASSIM:
Anjo, fada, pássaro, borboleta.
Ter asas e poder voar, alcançar as nuvens.
Trazer algodão doce pra você.
Usar a magia das fadas, transformar o céu,
num lindo manto pra te embelezar.
Mas sou simplesmente uma mulher.
Sem asas, sem varinha de condão, que admira o
canto dos passarinhos, e a beleza das borboletas.

Direitos reservados*
Cecília-SP/06/11/07

Foto de Dirceu Marcelino

SÚPLICA

Meu Deus!

Meu vestido esfarrapado,
Por que não o torna num
Longo vestido de cetim?

Meu marido embriagado,
Por que não o torna num
Homem sóbrio e limpo enfim?

Olhai! Senhor!
Minhas mãos tão calejadas,

Porque tanto trabalho assim?

Minhas preces enviadas,
Para o anjo Serafim
Não serão ouvidas
Para que ele volte pra mim?

Senhor!
Minhas faces tão queimadas,
Por que tu não as tornas
Em cor bela como carmim?
Não quero ser rejeitada
Por que não me tornas,
Tão bela, e formosa assim?

Meu Pai!
Quero ser amada!

Mesmo ainda que não reabilitado
Tenhas esse homem assim.
Faça com que seja encontrada
Por meu príncipe encantado
E tudo isto chegue ao fim.

Foto de CINTIA LOURENÇO DA MATA

Nosso amor....

Nosso amor é como a chuva mansa que cai
É a flor a desabrochar
É o sol a resplandecer no céu
Nosso amor é a lingua que somente nós entendemos
É o silêncio que procuramos
É o sabor de mel adocicado
Nosso amor é a pele pedindo toque
Os lábios querendo beijo
O corpo querendo abraço
É o meu olhar pedindo o brilho do teu
Meu segredo pedindo revelação
É o meu sorriso ao ver o seu
É a minha lágrima ao ver o seu pranto
É o meu sonhar
Meu acreditar
Meu querer mais profundo
É o meu peito a gritar de dor
Minha respiração em conjunto com a sua
Meu desejo de ter você
É o meu tudo, meu nada
É o meu coração apertado, dolorido, triste e solitário
É minha fé que me transporta até você
É a minha esperança
É a minha certeza de que nós seremos o nosso amor..
Meu marido, nosso bebê e eu...

Nosso amor....

Foto de opoeta josé carlos martins de lima

juntos

e tao bom ver voce sorrir e sentir que nossos sonhos se tornam a cada dia real e que juntos neles caminhamos em direcao a felicidade e que ela so sera compreta ao seu lado quando voce me pergunta se eu te amo eu primeiro lhe dou um sorriso e logo digo que sim pois em minha alma o sim para esse amor se torna eterno pois seremos marido e mulher teremos muitos filhos e netos e quando eu ou voce desse mundo partir iremos lembrar de que nao a mas sonhos para realizar e o que sentimos um pelo outro nao vai acabar quando o coracao parar de bater pois o sim para esse amor foi eterno alem da morte entre eu e voce .

Foto de Zedio Alvarez

A Deusa do Xadrez

Sou professor de xadrez e admiro muito esse esporte que me conquistou pela lógica dos seus movimentos, pela magia que impõe à nossa vida, fazendo-nos ser guiados pelo mundo quadrado e mágico de um tabuleiro, representando o nosso universo imaginário, elevando a nossa auto estima, fazendo-nos pensar a cada momento, trazendo satisfação e com isso antecipando a nossa felicidade num simples xeque mate da eternidade.
Sempre participo de torneios pelo Brasil e América do Sul , aumentando ainda mais a vontade de jogar, pois abre o nosso leque de amizade transpondo as fronteiras dos idiomas fazendo dele, o xadrez, uma linguagem universal.
Eu tenho muitas histórias para contar do mundo do xadrez e sem dúvidas a mais espetacular de todos os tempos foi uma experiência vivida na Argentina, mais precisamente em Buenos Aires, em fevereiro de 99, quando disputei um torneio em nível mundial, contra enxadristas de várias nacionalidades.
Tive a oportunidade de conhecer alguns grandes mestres de xadrez e viver uma aventura apoteótica com uma Mestra Espanhola, chamada Lucy Polgar, que agora passo a contar nos mínimos detalhes no tabuleiro da minha vida.
Ao começar a primeira rodada enfrentei um mestre argentino, Luiz Martinez, de grande potencial e que tive muitas dificuldades para enfrenta-lo e vence-lo, não só por causa de sua habilidade com um jogo muito forte, mas com um obstáculo por ter me desconcentrado do jogo, uma boa parte do tempo, vindo a ameaça de uma retumbante derrota, da outra fileira de competidores.
Quis as coincidências que só o Deuses do xadrez explicam, que a Mestra Lucy Polgar ficasse justamente a minha frente. Ao apresentar-me na recepção do Hotel Ondas Del Mar, a mesma já lançava olhares venenosos para minha pessoa, como se já arquitetando algumas jogadas para um possível encontro “enxadrístico” entre nós, provocando por inteiro a minha libidinosidade,
Ela era uma das maiores enxadristas de todos os tempos e possuía um jogo denso, cheio de combinações e ciladas, convidando a nossa vontade para duelá-la.
A mesma estava em processo de litígio com o seu esposo que não concordara com a sua vinda para participar daquele torneio. Eu já era fã incondicional daquela beleza morena de cabelos negros e de um sorriso simplesmente fantástico.
Durante toda partida com o argentino, ela ratificou o que antes já fizera no nosso primeiro contato, só que além dos olhares cruzados, ela lançou uma nova arma sedutora, que foi uma amostra de suas coxas roliças e a cada cruzamento dos nossos olhos, contribuía para que em alguns momentos eu vislumbrasse a sua calcinha azul, me atraindo para aquele campo minado de tesão. Ela estava com uma minissaia Jean, que serviu de pretexto para que aquela cena maravilhosa de suas lindas pernas, fossem vistas pelos meus olhos de radares.
A cada intervalo das rodadas nossos caminhos se cruzavam e os flertes eram incisivos. Chegamos a duo monologar em alguns instantes sobre a forte pressão do momento, fazendo com que o coração e a voz desentoasse na sinfonia, pela falta de respiração. Num desses momentos falei do filme, Lances Inocentes que estava em cartaz, e propositadamente iríamos assistir na parte da tarde.
Chegamos juntos ao cinema e sentamos lado a lado. Permanecemos alguns minutos sem propalar nenhuma palavra, incentivados pela emoção que nos causava uma ebulição corporal. Ficou claro que o filme seria um motivo, para aquele primeiro encontro. Fazendo jus ao nome “lances inocentes” começamos a participar do estrelato sendo protagonistas daquela fita. Ela começou a falar da sua vida matrimonial, que não estava bem entrosada e que aquele torneio tinha sido o estopim para desencadear a sua separação. Falamos muito sobre xadrez é claro, mas principalmente da minha admiração e minha idolatria pela aquela beleza basca. Ela contra atacou falando que já tinha visto algumas partidas minhas e que era seu sonho me conhecer. Fiquei lisonjeado com a afirmativa da Dama do xadrez.
Nossos scripts foram deixados de lado e começamos a atender o que a emoção pedia insistentemente. A essa altura estávamos abraçados e nossas bocas começaram a ir de encontro fazendo uma junção perfeita, amaciada pela saliva quente com gosto de hortelã. A língua como sempre fez seu trabalho de coadjuvante. A partir daí as nossas mãos tomaram um rumo ignorado pela razão, mas aceito pelo desejo, que mandava na nossa contracena. Elas procuraram a sua fenda quente e orvalhada que foi totalmente massageada. As dela também fizeram a sua parte indo de encontro ao meu instrumento medidor de temperatura que estava fumegante e já a ponto de explodir diante de tanta pressão. Foi quando fomos interrompidos pelo final do filme, “o outro”, e tivemos que nos retirar do ambiente. Fiz um convite formal à mesma para jantarmos a noite no meu apartamento, aproveitando para estudarmos algumas táticas, estratégias, revermos algumas jogadas e jogarmos algumas partidas. Ela prontamente aceitou.
Justamente às nove horas ela bateu suavemente na porta, cujas batidas ecoaram na minha imaginação com o acompanhamento do meu alegre coração que vibrava com aquele encontro triunfal da minha vida.
Ao abrir a porta, deparei-me com aquela beleza rara, a qual estava com um vestido azul, que trazia um decote deixando-a praticamente com seios à mostra, fazendo com que a temperatura ambiente do cenário preparado, se elevasse deixando o clímax a beira do pecado. Surpreendi-me quando fui tomando de assalto num beijo interminável, sendo que as nossas salivas misturadas produziram uma fórmula química que alterava ainda mais o nosso ciclo hormonal fazendo girar em energizar todo nosso corpo, provocando o aceleramento dos batimentos cardíaco.
Eu como um bom estrategista, senti-me na obrigação de tomar a iniciativa do combate e ali comecei a depenar sem pressa aquela Águia Real de plumas azuis. Queria degustar de todas as regiões daquele corpo escultural. Comecei a usar uma das minhas armas fatais, a língua, num passeio pelas suas coxas queimadas e sua duna que possuía um farto areal. Fui a cada localidade sempre a reverenciando com palavras poéticas, com a língua banhando suas fartas áreas e dando o seu recado. Nos seus seios com forma de pêra passei um bom tempo mamando e me alimentando daquele leite afrodisíaco, com a voracidade de uma criança faminta.
Todo ritual seguia o que planejei para uma estratégia vitoriosa. Comecei a pegar o caminho em direção a gruta do amor, contornando o umbigo que a fez suspirar. E chegamos a Terra prometida. Deparando-me com aquela fonte maravilhosa de prazer, constituída de pelos escuros cuja superfície já estava molhada provocada por uma chuva de essência nectal. A essas alturas a paciente Rainha me pedia para dar-lhe um xeque mate de imediato formalizando um convite para ser o dono do seu reinado do amor; mas ainda tive a humildade de pincelar toda aquela arquitetura lapidada pela natureza que minava através de uma água salobra, fazendo com que a minha sede aumentasse ainda mais. Ela retribuiu toda minha receptividade lingual e deu um verdadeiro show no meu universo corporal. Matematicamente falando, nossos corpos paralelos, traçaram perpendiculares, e numa junção geométrica, construímos várias figuras, num jogo constante e simultâneo de trocas de carícias e gentilezas.
O incrível é que a cada variante escolhida através dos meus planos ela já conhecia, seguindo o caminho que nos levava ao desfecho extasial, ditando palavras ofegantes e sussurrantes, no bailar da dança de nossas massas corpóreas. No balanço produzido pelas nossas almas, havia um sincronismo perfeito no vai vem dos nossos músculos picantes.
E chegamos ao ápice final de uma partida magistral. Levando-a para um tabuleiro de almofada prontamente preparado para aquele duelo, executei-a atendendo a sedutora ordem expressa, vinda da voz desesperada de uma fêmea. Estávamos no limite e uma explosão não tardaria. Foi justamente o que veio acontecer, com um mate único e preciso na história de um amor enxadrístico. Invadi o castelo de amor, da minha Deusa com fervor. Aquela bela rainha virou uma felina feroz quando despejei todo meu líquido seminal naquela fenda quente e gostosa. Foi um momento único e monumental. Sem dúvidas foi uma das maiores experiências amorosas que tive na minha vida.
Desfalecemos e sonhamos... Ao acordarmos pela manhã jogamos mais uma partida, que também foi espetacular. Fizemos alguns planos e decidimos concluir o torneio, o qual faltava apenas duas rodadas para o seu encerramento.
– Ah! Vocês querem saber da nossa colocação no torneio de xadrez?
– Deixa pra lá... (risos)
Ela queria conhecer o Rio de Janeiro, falando que um dia tinha sonhado desfilando numa escola de samba carioca. E pegamos o primeiro vôo para o Rio numa viagem onde não nos desgrudamos nenhum segundo um do outro. Ainda vivíamos das imagens da noite de amor inesquecível.
Eu tinha um certo conhecimento com a diretoria da Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio e conseguindo contatá-los, prontamente atenderam o nosso pedido, viabilizando a participação da mesma numa ala de destaques da Escola, tornando possível a realização do sonho de minha Rainha Espanhola.
No dia seguinte embarquei a mesma para Barcelona. Nunca deixamos de nos corresponder... Só quando a saudade resolveu entrar em cena...
Um ano depois ela resolveu voltar ao Rio de Janeiro para morar, se tornando uma Professora de xadrez e hoje trabalha nas comunidades carentes, divulgando a nossa nobre arte enxadrística. Reatou por questões de conveniências com o seu marido e de maneira parcial ele resolveu acompanha-la. Mas o mesmo não vai a torneios justamente para evitar a ciumeira doentia que ele tem, e assim tempos a oportunidade de “jogarmos” muitas partidas de xadrez por esse Brasil afora. Mas ele tem razão, porque ela chama atenção do público com a sua exuberante beleza em qualquer local onde esteja.
Continuo me comunicando com aquela Realeza através do MSN, e quando sobra um tempo dos meus afazeres no estado de Pernambuco onde trabalho, vou ao encontro daquela fêmea fantástica, participar de torneios e realizando partidas espetaculares fazendo dos nossos “lances inocentes”, um lance surpresa para alimentar a nosso espírito na eterna jogada da vida.

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