Madrugada

Foto de Lucianeapv

PROFUGUS ANGELUS ou ANJO FUGITIVO

PROFUGUS ANGELUS
ou
ANJO FUGITIVO

Um sino toca o despertar da madrugada
Escuto ao longe e penso logo em meu amor que se foi...
Tão só me encontro e me recordo de outros tempos
Em companhia de um alguém que me deixou...

Penso, ao luar, sentindo o frio em minh’alma:
Por onde andas angelus perfidis
Pois triste fico lembrando-me do aconchego
Que tive em seus braços, mas alguém levou...

Meus desenganos não passam de saudade
Meus conflitos não entendem e nem explicam
Mas nada há de se fazer se um se foi e o outro espera,
Impaciente,
Uma nova forma de alguém conseguir amar...

Foto de diny

NAMORADO

Namorado:
Ter ou não ter, é uma questão.
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si
mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado
de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,
lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer
proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase
desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda,
decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de
aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o
gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um
envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.

Nao tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas,
medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Nao tem
namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar
sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Nao tem namorado quem faz
pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a
felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Nao tem namorado quem nao sabe o valor de mãos dadas; de carinho
escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue
de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico
Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a
meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô,
bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Nao tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta
abraçado, fazer compra junto. Nao tem namorado quem não gosta de falar
do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro
dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Nao
tem namorado quem nao redescobre a criança própria e a do amado e sai
com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton
Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical na Metro.

Nao tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem nao dedica
livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu
bem ser paquerado. Nao tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem
curtir; quem curte sem aprofundar. Nao tem namorado quem nunca sentiu o
gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou
meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Nao tem namorado quem
ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de
obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Nao tem
namorado quem confunde solidão com ficar sozinho. Nao tem namorado quem
não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você
vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve,
aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções
de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de
si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua
janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de
fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu
descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda nao enlouqueceu aquele pouquinho
necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.
Elou-cresça.

(Carlos Drummond de Andrade).

Foto de CarmenCecilia

PRIMEIRO DE MAIO (HOMENAGEM)

PRIMEIRO DE MAIO (HOMENAGEM )
No meu trabalho ralo...
E como ralo!
Ralo
Às vezes ralho...
E se ralho
Às vezes falho.
Sou diurno...
Sou noturno...
Sou da madrugada.
Atrevo-me...
Ouso… melhor dizendo.
Recolho-me
Estou bem...
Muitas vezes mal
Sou etc. e tal...
Um “tal” de fazer coisas
Com tamanha euforia
Que me levam ao
Encantamento
À alegria
Deslumbramento
Dedicação a toda prova
É o que eu sou.
Renovo... Inovo...
Recomeço de novo.
Repentinamente
Tormento...
Sou rotina...
Sou motim...
Sou tristeza…
Sou tudo enfim.
Mas ai de mim...
Sem meu trampo...
Sem meu campo...
Os cabelos arranco…
Mesmo nos contratempos.
Pois o trabalho
Preenche os meus vazios,
Faz-me progredir.
Seguir em frente...
A minha meta
É produzir...
Marchar adiante...
É semear...
plantar…
Colher…
E rechear a vida...
Com a dádiva do trabalho

CARMEN CECILIA & MARIA GORETI ROCHA

Foto de José Bento

ALMA DE POETA

Uma pequena homenagem a todos os meus amigos poetas, homem ou
mulher, que sabe interpretar como ninguem os sentimentos humanos.

O poeta é igual ave que encanta,
Mas se esconde entre o verde da folhagem.
É forte e é frágil.
Ás vezes é silêncio que canta.
Mas que também grita
E nem sempre agrada,
E mesmo agradando, ele também espanta.
É um sóbrio delírio, instante breve,
Que reluta ao furor da ventania.
É o ombro amigo,
A voz que acalanta.
Traduz e interpreta os coraçõs errantes,
Na sombra da noite.
No claro do dia.
São tantos os desejos delirantes
Que se escondem por detrás face nua.
Por dentro de casa,
Andando na rua.
Mas quem se importa?
E quem quer saber?
Só a alma do poeta interpreta,
E acredita nas razões do própiro ser.

Já passou de meia noite e estou só.
Silêncio na rua.
Ouço um carro que passa e gente correndo.
De repente, um susto!
Um pássaro noturno dá um grito,
Rascante e horrendo!
Depois, mais um, e ainda um terceiro,
Agora distante.
Outra vez o silêncio!
Dessa vez, tão intenso, que dói os ouvidos.
É alta madrugada.
Das alturas ouço um avião pequeno,
Que logo se vai, plainando, sereno
Quem será que vai nele?
Alguém os espera,
Anciosos por sua chegada.
São pais e são filhos,
Parentes, amigos...
Mãs quem se importa?
E quem quer saber?
Pois somento o poeta se ocupa
De enxergar o que quase inguém vê.

Agora, o vazio.
Silêncio eminente.
Ouço tão somente um grilo que canta.
Quem dera sentisse a paz que aparento.
Fico remoendo pensamentos vãos.
E no coração, um leve desalento.
Sinto um vento frio.
É chuva chegando
As horas se passam
O sono não vem!
Agoniza lenta, a madrugada fria
E os minutos vão passando devagar.
Vejo a lua inválida,
Com a face pálida
Declinar de leve.
Num instante breve, pensei em alguém.
Momentos vividos,
Desejos sentidos e a saudade morna.
Mas quem se importa?
E quem quer saber?
Só a alma de poeta interpreta,
E acredita nas razões do própiro ser.

José Bento.

Foto de William Contraponto

AS FLORES DO ANOITECER

Parece super natural
Sair sem rumo a procura
Das flores do anoitecer,
Sentir sua cores e perfumes
Até a madrugada vir

O encanto da cidade reaparece
Toda vez que estou com vocês,
Esse charme me chama
E vou de encontro
Onde quer que estejam

Nas mesas dos bares ou em conversas arejadas
As flores do anoitecer espalham belezas
Das mais variadas,
Me dando a certeza
Que a naturalidade das diferenças
Trás ao mundo equilíbrio... felicidade

Salve as flores do anoitecer,
Salve o brilho que elas teem
Em cada forma, cor e diversidade qualquer

Foto de William Contraponto

RUAS DA CIDADE

O que pode parecer loucura
É a verdade mais pura
Que alguém já disse:
A cidade e suas ruas
São fontes de conhecimento, saber.

Ontem durante a noite
Lembrei da orientação,
Parti, era quase madrugada
Sem nenhuma direção
Então, te vi iluminada
Me aceitando como novo camarada.

Com o encanto da brisa,
Mesmo parado, voei alto
Decolando pela avenida até
o céu estrelado,
Onde suspendi por minutos
Alguns juízos perfeitos, calculados

E foi desrespeitando esses limites
Que consegui perceber:
O sistema existe pra te manipular,
Te dizer quando deves rir ou chorar.

E foi pelas ruas da cidade
Que pude despertar,
Liberto em parte
Por suas loucas fontes de saber.

Foto de Maria silvania dos santos

Venha, quero sem limites te devorar

Venha, quero sem limites te devorar

_ Venha, envolva em meus braços, juntos sentirmos um só desejo, entre caricias e beijos, deixe o calor, o suor da minha pele banhar o teu corpo, nossos liquidos se misturar e se aconchegar em um só lugar...
_ Deixe que o desejo do meu corpo te deixe loco...
_ Deixe a essência do nosso amor transborda a qualquer lugar, vamos juntos delirarmos , libidos em juras de amor eternos...
Percebas-tu, que a sua essencia es contagiante e me deixa ofegante, venha delirar em meus braços fazermos trocas de amaços...
Durante a noite, sozinha, não posso suporta, nua , pronta a me entregar, quero dos meus desejos me liberta...
Venha, mergulhe nesta loucura de amor, é que meus desejos já transbordaram, minhas fantasias aumentaram...
Suga de mim este mar de desejo que me tira o sono, durante a madrugada, lembro de você e sinto um desejo que me consome, começo naturalmente a rebolar , imaginando em seus braços estar, quero mergulhar em teu corpo, sentir teu calor, é que já sinto o cheiro de amor que no meu corpo já exalou;..
Te imagino com seu membro já esposto, já na mira de penetrar, quero senti-lo, inteiramente e gulosamente minha entranhas a sugar, quero sentir seu liquido dentro de meu utero jorra, em seguida com minha lingua aspera com sede de sugar, aproveitar cada gota de esperga que escapar...
Venha, quero sem limites te devorar, suas fantasias a qual for realizar!...
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Carmen Lúcia

Palavras, palavras,palavras...

Que as palavras fluam soltas
e falem o que entala a minha garganta,
declamando o que não consigo falar...
Apenas sentir e calar.

Libertas, entre as flores entreabertas,
felizes, contagiando os matizes,
festeiras, celebrando com os colibris
botões de rosas azuis anis,
renascidas com o amanhecer
a decantar o novo que virá,
entonações em simultaneidade com as canções
tocadas em flauta doce,
modulações em sons de blues...

Palavras que não se unem à fusão das cores,
permanecem nítidas, únicas e puras,
paridas do coração, geradas pela emoção,
correndo pelos trigais, dourando os girassóis,
roçando violetas, borboletas, acácias azuis,
vivenciando o desabrochar dos arrebóis,
bendizendo as manhãs de cada dia,
entrelaçando, à noite, a estrela-guia,
e na madrugada silenciam,
pois sabem que o silêncio
faz parte da magia
e acorda a poesia.

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Esse poema...

No instante em que o silêncio nascia,
veio este poema. O espaço preencheu,
na paz que até então, no tempo jazia;
seu infinito, nesta manhã renasceu...

Lá fora, as folhas todas já caíam,
num outono, a cercear todo o tempo,
para eternizar as cores que morriam,
enquanto eram levadas pelo vento...

Em um coração que ainda hoje arde,
o nada preenchia o todo, fragmentado,
nasce este poema. Agora já se faz tarde...

Sem a força do amor, já desencantado,
na madrugada triste, sem seu orvalho,
resta-me este poema, o único agasalho...

_Oswaldo Genofre & Carmen Lúcia_

Foto de poetisando

Morte

Essa figura que é tão sinistra
Que vem sem sequer avisar
Entramos pela porta dentro
Sem pedir licença de entrar
Seja rico, pobre ou remediado
Não faz qualquer distinção
Para ela somos todos iguais
Na dor também na consternação
Ninguém está livre da sua visita
Seja de dia, noite ou madrugada
Dessa figura que é tão sinistra
Porque vem sem ser convidada
Quando ela nos faz a sua visita
Cerimónia para ela não existe
Nem dor ou mesmo sofrimento
Ou se alguém vai ficar triste
Essa figura tão sinistra que é
Trata-nos sem formalidades
Quando somos por ela visitados
Nem admite quaisquer vaidades

De: António Candeias

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