Para sempre, ou o esforço inglório de tornar portugal num país que reflicta a luz em dia de excessiva humidade.
Acto único.
Cena única.
Dois simples homens. Um florete por afiar. Uma vontade inalienável de fazer algo de bom pelo mundo, indeterminada entre os dois sujeitos. Pós primeira refeição do dia, problemas de espírito num dos indivíduos. Tradução: dores na boca do estômago.
1.º homem:
Caso o amigo um dia me achar boa pessoa, aperte o nariz do cão que cria desde cachorro. Quero vê-lo, a si, a sofrer tanto por um insulto gratuito.
Coro invisível, que o autor introduz para dar um sentimento autofágico de tragédia grega à cena.
- Mata, mata. O dia só é dia quando a morte se passeia pelos intervalos da chuva. E não tarda está a cair uma borrasca.
2.º homem (portador das dores de estômago)
- De somenos importância amigo. Não tenho créditos bancários, recuso-me a dar alvíssaras a quem mas pede, e não tarda vomito.
Chove. Mas chove tanto, que dois homens que se desprezam continuam a desprezar-se, mas começam agora a pensar que o auto-desprezo pode ainda ser mais forte do que a ideia de começar a odiar alguém de morte.
1.º homem:
- Mesmo assim, quero vê-lo a sofrer. Acho que o senhor me insulta diariamente, e é assim: Dois mais dois continuam a ser quatro. Só que honra, eu como-a a todas as refeições do dia.
Coro, que a cena é portuguesa, e como tal não tarda é hora de comer outra vez:
- A nós, a nós desavindos senhores. Navegar é preciso, porque à falta de melhor jargão, resta o que temos tatuado nas nossas peles invisíveis.
Parou de chover. Não faz mal, porque a cena acabou. Desmonta-se o cenário pré-crime, porque na realidade viver em sociedade são sempre coisas que nunca ninguém percebe.
2.º homem:
- Fica-se sempre com a sensação de que as pessoas não gostam de nós só porque um dia lhes pusémos o pénis dentro de um copo de água no restaurante mais caro da cidade. Mas não faz mal. Eu sou estupidamente resistente ao que é pusilânime.....