Horas

Foto de Lauralemosrodrigues

De Laura para Eduardo (Laura Lemos Rodrigues)

Que bom ouvir a tua voz pela manhã.

Que surpresa agradável ...

Porque o destino foi tão caprichoso?

Porque demorei tanto para conhecer uma pessoa tão adorável quanto você?

Agora não me importam mais os caprichos do destino, o que me interessa agora é que estou contigo, e não pretendo abrir mão de sua presença sempre.

Nunca mais ...


Hoje só quero passar as melhores horas de minha vida ao seu lado. Te dar força para que as dificuldades cotidianas percam a aparência de obstáculos intransponíveis e ganhem dimensão de desafios a serem vencidos.
E nunca deixar que você esqueça que eu te amo

Laura Lemos Rodrigues

Foto de quimnogueira

Poema do esquecimento

Um dia ? Dois ?
Um minuto apenas e tu partiste !
Partiste e eu fiquei só e triste !
E agora o tempo corre vertiginosamente

e atropela o meu coração sangrento,
despedaçando-o contra as pedras do caminho;


o sangue correndo abrasador

tortura-me numa infinda dor...

As árvores do além, no silêncio da noite,

gemem baixinho:

imploram, com ternura, um beijo, um carinho.

As estrelas do céu cantam melodias, lentas,

plangentes...

Os astros não brilham, a lua já não sorri...

E tudo porque te vi partir !

E eu no silêncio da noite escura,

imaculadamente pura,

rezo, recordo e estremeço...

Um tic-tac lento despertou-me...

As horas terríveis continuam a correr,

fazendo-me sofrer por não te ver...

Elas marcam a hora em que me deixaste !

Escuto o meu coração implacável,

como esse relógio malfadado,

e sinto-o gemer também.

Tic-tac...tic-tac...

Queria fugir, fugir ao tempo,

perder-me no mar do esquecimento...

E...chorar, penar...

Fugir, fugir, perder-me com a minha dor

no mar que fora sempre cheio de amor,

em vez de tanta e tanta dor...

Corro então, corro mais que o tempo,

mais que o relógio; e na minha corrida

desenfreada, louca, eu já não choro,

já não sofro...

Os espinhos cravam-se em mim,

rasgam-me a pele e o sangue corre...

Tic-tac...tic-tac... Paro assustado!

O tempo afinal corre a meu lado

e me ultrapassa; fico para trás,

perdido no esquecimento...

Olho

Foto de Laksmi

Você me tem (Laksmi)

Você me inspira paz. Você me tem.

Ao acordar por um pesadelo assustada

Uma imagem sua ao meu lado se senta

E me acolhe com um afeto sem igual.

E faz com que eu me sinta amada

E essa terna lembrança me apacenta.

Recebo dos pássaros o canto matinal

E nesse instante, você me tem...


Você me inspira paz. Você me tem.

Eu sigo, mais uma vez, o caminho

Que costumo todas as manhãs traçar

Pensando no que gostaria de lhe dizer,

Pensando em como é triste ser sozinho

E não ter com quem dividir e conversar,

E pensando: "Que bom que conheci você!";

No meu trajeto, você me tem...

Você me inspira paz. Você me tem.

Observo atenciosamente o mundo,

O mesmo que nos cerca nesse momento,

E descubro dor, egoísmo e insensatez.

Mas em você, vejo um carinho profundo

Capaz de converter qualquer tormento

Num róseo estado de leve embriaguez.

Na minha alucinação, você me tem...

Você me inspira paz. Você me tem.

Muita gente num dia passa por mim

Mas eu desejo seus olhos o dia inteiro

E algo parece explodir em minha alma.

Se escuto sua voz, um pouquinho assim,

Mesmo que por um instante derradeiro,

Volta então ao meu coração a calma.

Nas horas de ausência, você me tem...

Você me inspira paz. Você me tem.

Procuro a saída desse vale perdido,

Labirinto obscuro de meu devir

Onde se camufla a minha inocência.

Tudo que há é um amor escondido

Que me faz chorar, que me faz sorrir,

Que me faz admirar sua inteligência.

Entre livros e saberes, você me tem...

Você me inspira paz. Você me tem.

Numa caixinha de estrelas flutuantes

Guardei meus sonhos mais angelicais

Para presenteá-los ao meu lobo amado

Numa noite de prazeres inebriantes

E no ar um perfume de notas musicais

Com versos de vaga-lume apaixonado.

No sono solitário, você me tem...

Você me inspira paz. Você me tem.

Não importa se eu me puser a negar,

Nem se meu refúgio secreto ruir

Porque ainda sentirei esse ardor

Da paixão que hesito em aceitar,

E por mais que eu pense em fugir,

Sempre ouvirei minha voz interior

A, subtil, sussurrar: Você me tem...

Laksmi (Quinta-feira, 10 de outubro de 2002 - 22:04)

Foto de quimnogueira

Queria ser o teu relógio...(Quim Nogueira)



...serei o teu relógio...

...dizia-te eu , há pouco...

...o relógio da tua alma e do teu próprio corpo...

...o relógio do teu sabor e do meu sentir...do meu riso...da minha voz...

...incendiando os teus desejos...

...serei o teu relógio...

...dizia-te eu, há pouco...

...o relógio da fruição sonora ecoando dentro de ti...

...não te fazendo esperar como os minutos desta hora deste relógio que há em mim...

...ecoando em ti...

...numa ânsia de libertação de desejos apaixonados...

...num libido mental em constante crescendo...

...serei o teu relógio...

...dizia-te eu, há pouco...

...o relógio das horas alucinadas e felizes dos encontros esperados e desesperados...

...duma espera na ânsia de que o relógio pare...

...e os nossos corpos se encontrem num momento eterno de paixão...

...e ardor, sentindo teu corpo leve de pele acetinada feito...

...deleitando-me com o fogo do teu querer...

...e também da minha vontade de ti...

...serei o teu relógio...

...dizia-te eu, há pouco...

...o relógio das horas sem repouso num corpo morno...

...denso e arrebatador...

...numa onda frenética de prazer e dor...

...nos momentos em que o relógio não conta os momentos de em ti deixar...

...todo o meu amor...

...e... o relógio pára...

...pára, para que o tempo não se esgote...

...pára, para que os nossos corpos se fundam

num misto de agonia...

...num misto de prazer, êxtase e dor...

...e não mais exista a monotonia das horas vividas sem ti...

...e no fim, em espuma me espraiarei sobre o teu corpo lindo...

...deixarei de ser o teu relógio...

...o tempo deixou de existir...

...passarei a ser a tua própria existência...

Quim Nogueira

Foto de quimnogueira

Ouvindo a noite...(Quim Nogueira)



alguém a ouve?...

...sentado nesta cadeira de frente para o meu computador, numa mesa de madeira, branca de sua cor, eu teclo nas letras paradas ao redor dos meus dedos...preparo um texto, sem contexto, com uma textura qualquer, talvez de amargura...não me preocupa a forma, nem as palavras que me vão deslizar pelos dedos e destes para o écran que, de vez em quando, olho prevenindo um possível erro de escrita...não me preocupa o tema, mesmo que sem lema não se torna um dilema neste plural sistema de escrever prosa ou poema...

...trata-se de fazer deslizar apenas o teclado pelos meus dedos e deixar sair as palavras da minha mente numa constante busca da semente do significado para aquilo que estou a fazer neste momento...e que faço eu, nesta hora, aqui, sozinho e agora, batendo lento ou apressado nas teclas do meu teclado...olho em frente e vejo um relógio que marca as horas lentas que passam por mim e que marcam o tempo de viver a sorrir e a amar...tudo e todos, sem olhar a quem...somente por amar...

...e que espero eu obter desse amargor doce da alma que sofrendo não chora, pelo contrário, vive e implora...e que espero eu senão encontrar o caminho mais leve que me percorra o corpo como quente neve branca como o luar que lá fora, no céu cinzento, teima em espreitar numa noite fria de chuva que se aproxima do meu solitário estar...

...não percorro os corredores do dia que passou nem choro as lágrimas que retive dos acontecimentos que por mim passaram como uma brisa leve pousando no lugar onde estou e me sinto pairar dentro do meu próprio eu...

...procuro o sentido da vida que não encontro, numa procura constante de mim mesmo, na luta insana da loucura que afasto de mim nem que seja por um instante...

...e esse instante está chegando na forma da noite que se aproxima, daquele estado de espírito que me anima, pois a solidão resta a meu lado sem um mudo som nem qualquer grito abafado de dor...

...e aqui fico...

...esperando a noite chegar para nela me agachar e aninhar...povoar nela os meus sonhos de aqui me sentir e de aqui gostar de estar, neste lado do meu mundo, sozinho, de dia ou de noite, a mim próprio mentindo...

...mentindo-me em constante delírio duma busca que ufana luta me provoca na mente que, pensando, não me escuta...

...e não me oiço a pensar, nem quero sequer isso imaginar; oiço apenas a noite chegar e a sua escuridão me abraçar, sem me possuir nem me ter, apenas me rodeando de um leve prazer por ouvir os seus sons sobre mim verter...

...e vertem-se esses sons em pancadas surdas de palavras mudas, livres e desnudas de sentido ou de intenção...

...a noite traz paz ao meu coração...ouvindo-a, fico sossegado e dou a mim próprio a minha própria mão...segurando-me para não a possuir...para ficar aqui e não ir...

...senti-la apenas num, pequeno que seja, luxuriante som...

...ouvindo a noite, parto para o êxtase do meu ser, não pretendendo ver, apenas ouvi-la...

...dentro de mim, a bater...

Quim Nogueira

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