Gente

Foto de patricia teixeira

saudades tuas pai

Pai
É tão estranho
Os bons morrem tao cedo
Quando me lembro de ti
foste embora sem uma despedida
partiste Cedo demais meu pai .

Eu continuo aqui,
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de ti em dias assim
Um dia de chuva, um dia de sol
E o que sinto não sei dizer.

É tão estranho
Os bons morrem antes
lembro me de ti
E de tanta gente que se foi
Cedo demais

Tu marcastes a minha vida
Tu marcas te a vida de toda gente
Tu era único,simples,humilde não tinhas maldade
Sempre preocupado connosco
A tua vida era tao diferente
Sempre geriste a tua vida em funcao do bem dos outros

Pai sempre me disseste
Para lutar por tudo que queremos
Para olharmos para ti apsar de tudo que passas
Todos os dias andavas com sorriso na cara a lutar pela vida
sem não te queichares do destino que deus te deus.

So há uma coisa que me sossega
Saber que não sofres te Que deus achou melhor assim
Onde quer que estejas rezo por ti
Pai as lagrimas correm no rosto quando me lembro do teu sorriso
Do teu geito de chamares por mim de chamares o mano único e carinhoso so tu sabias…

PAI Chego a ter medo do futuro
E da solidão que me deixas te no coracao
amamos te tanto temos tanto orgulho
No homem, no pai no ser humano que foste
Amamos te demais e para sempre

Foto de Danilo Henrique Pereira

Nostalgia

A gente começa, do jeito errado, mas no final o otimismo permite, nos ajuda a continuar, a buscar pelo certo, sempre uma gota a mais para beneficio próprio, a gente sorrindo e outros chorando, o ideal seria pensar em todos de forma plaina, igual, e não como em uma balança, a verdade é que isso não acontece, pode-se haver casos, claro, exceções existem.
Bom, o ideal é começar pelo começo. Acredito que tenha sido pelos meus 15 anos, era das flores adolescentes, hormônios, lagrimas, angustias e sorrisos claro. Tinha um nome fascinante, Iohana, eu gostava, achava assim perfeito para seu rosto, seu humor, lindos cabelos loiros, era atraente, bastante atraente, e não era apenas meus olhos, não, de jeito nenhum, era cobiçada, e bastante, tinha assim um nariz pequeno, boca rosada, queixo fino, bochechas levemente avermelhadas, vivia sorrindo, dentes brancos, a suas bochechas tinham aquele furinho, era um charme, e o melhor de tudo, lindos e sublimes olhos verdes, grandes, vivos, sempre atentos, gostava de dar aquela “encarada”, por assim dizer, seguia com os olhos quem permitia, era linda sim. O melhor disso é que a gente tinha uma amizade, tinha sim algo até mais que amizade, num sei porque não deu certo. Meus estranhos hábitos, meio tímido, e a mesma idade atrapalhava também, mulheres são sempre mais velhas que os homens, isso é fato. Acabara por achar que eu fosse infantil, sei lá. E também tem aquela magia que faz a gente pensar que a adolescência nunca vai passar, sempre vai existir a falta de preocupações, a falta de tomar iniciativas, sempre tranqüilo, o pior de tudo é que nunca tivemos nada, nem um romance nem sequer um beijo, mas tínhamos uma coisa especial, sabe quando se sente, o “gostar de alguém”, o sentimento inocente e novo, que só vem uma vez. A lembrança também é gostosa, faz nos sentir mais jovens, faz nos sentir daquela forma de novo, a verdade é uma só, essa foi a maneira que deixei uns dos meus mais inocentes amores ir embora, junto da minha adolescência e dos meus vídeos games, meus amigos da infância, meu quarto, meus CDs, minha bicicleta, nossa, são coisas que fazem um cara com eu, feliz.
No geral, o passado no fundo deixa as pessoas mais felizes, não é só da Iohana que sinto falta, é de um todo, de uma época, a nostalgia é a lembrança mais agradável que consegue me deixar triste. Eu confesso que se pudesse, voltava a viveria tudo de novo.
(Danilo Henrique)

Foto de Nero

EU SOU O POVO

EU SOU O POVO

Chamam-me povo, gente ou comunidade. Mas então
eu me questiono: quem poderia me chamar de povo, não
sendo ele parte do povo?

Eu sou o povo

Dizem-me que reclamo muito, exijo muito, nunca estou
satisfeito e nunca agradeço o bem que me é feito. Mas
então eu me questiono: como posso reclamar ou exigir
muito, se a minha voz para vós não passa de um
sussurro insignificante?

Eu sou o povo

Dizem-me que sou pobre e miserável porque detesto
estudar e trabalhar. Mas então eu me questiono: como
não gosto de estudar se desde pequenino, caminho
quilómetros à pé para chegar a escola mais próxima?
Como não gosto de trabalhar, se executo os serviços
mais humilhantes e desprezíveis para vós?

Eu sou o povo

Dizem-me que sou humilde, respeitoso, cordial, hospitaleiro,
sempre disposto a cooperar, a respeitar e a obedecer. Mas
então eu me questiono: como não podia ser humilde,
respeitoso e obediente, se eu sou APENAS o povo?

Eu sou o povo

Dizem-me que sou o responsável por toda confusão e
desordem na humanidade. Mas então eu me questiono:
como posso ser responsável pela desordem na humanidade,
se eu sou a PRÓPRIA humanidade?

Você e eu somos o povo!

Foto de Osmar Fernandes

Coisas que ficarão somente em memórias

Cadê aquele amor tão gostoso,
Aquele cheiro de mato,
Que a gente vivia sonhando?
Nosso destino era um fato.
Hoje o tempo é saudoso...
A saudade continua apelando!

Não gosto de nostalgia...
Mas pensar em você é normal.
Perder nosso amor, foi covardia!
Como foi triste aquele final...
O mundo obscureceu, tudo desmoronou.
A vida perdeu a graça.
O sonho chorou...
Não se edificou a casa.

Lembranças, boas recordações.
De um amor de conto da fada.
De um amor marcado em várias canções....
Mas, infelizmente, tudo se acaba.
Agora, depois de tanto tempo,
Estou aqui, escrevendo minhas histórias...
Você faz parte deste sentimento.
Coisas que ficarão somente em memórias.

Foto de Carmen Vervloet

NATAL... TEMPO DE AMOR

O natal entrou nos meus olhos de criança
dourado ao sol como bolha de sabão
e se perpetuou nas minhas singelas lembranças
num pisca-pisca de luzes de gigante amor em ação

Imaginava que no berçário de um mundo conturbado
nascendo Jesus do ventre da Virgem Maria
jamais fosse ver tantos braços cruzados
diante da dor, da fome, e da agonia.

Mas outra hoje é a realidade do mundo,
a terra é infecunda e não renasce do amor a semente
e entre lágrimas e suspiros profundos
vejo a decepção, a revolta e o sofrimento de tanta gente.

Papai Noel um velhinho simpático, mas cruel
usado pelo selvagem regime capitalista
para poucos é só bondade, sorrisos e mel
mas a grande maioria é excluída da sua seleta lista.

Onde está o perfume do amor que exala das almas?
Onde estão os ensinamentos que nos trouxe o Menino?
Mãos estendidas... Vazias as palmas...
O Natal crucificado pelo egoísmo e tantos desatinos.

Carmen Vervloet

Foto de L.Guerreiro

HINO DA ALEGRIA

Passei uma tarde inteira a rir.
Não sabia do que ria.
Quanto mais escrevia mais ria.
Vou morrer? e ria.
Escrevo mal? e ria.
Penso mal? e ria.
Saí para a rua ainda a rir.
As pessoas que passavam na rua, olhavam para mim e riam.
Todos riam.
Chegava mais gente a rir.
No fim fizemos uma roda, e cantámos o hino da alegria a rir.
No fim do hino chegou mais gente a rir.
Despedi-me sem conseguir parar de rir.

Foto de Lefurias

Canção de Vida

Sinto uma sintonia,
Música que contagia,
Sinto felicidade,
Música de alegria,
Sinto um calor,
De paixão ou de amor,
Sei lá, sei lá:
Eu só quero é gostar,
Sendo música,
Seja de quem for,
Que seja cantor,
Ou minha cantora do amor.

A minha vida,
Tem sido felicidade,
Mais aqui em minha cidade,
Eu não poderei ficar,
Crescendo pro mundo,
Meu amor profundo, vou passar,
Amar toda gente,
De pobre à indigente,
Vou tentar nos ajudar,
Estou cansado de tanta injustiça,
Confiar na polícia?
Não vou mais confiar.

A segurança está mau,
De telhado em telhado,
Aqui ladrão foge assim,
Mais se já está ruim,
Assim não pode ficar,
Isso já está demais,
Não podemos deixar piorar.

Já não ficar olhando o tempo passar,
Vou me movimentar,
Vou tentar melhorar,
Não posso deixar como está,
Vou fazer alguma,
Vou arriscar meu pescoço,
Que seja pra marcar,
Se só assim,
Poderemos nos salvar.

Foto de betimartins

Conto de Natal Moço...

Conto de Natal

Moço...

25 de dezembro? Dizem que é a o dia do nascimento de cristo.
Muitas famílias se reúnem para comemorar
Outras famílias trocam telefonemas por motivos de distancias,
Outras famílias vão visitar seus entes na cadeia, outras nos hospitais, e a vida continua no dia 26,27,28...
Conheci um cidadão há alguns anos que me falou assim do natal, em um dia de natal:
A policia subiu na favela sabe muitos soldados, invadiram nossas casas quebraram nossos moveis e etc. Estavam prometendo que a paz iria retornar na favela assim que os traficantes fossem embora. Eles prenderam drogas armas .
Mas sabe moço, eles não prenderam nenhum traficante.
Hoje moço, a policia esta lá na favela guardando a favela ,.
Moço sabe porque eles invadiram a favela ?
Eu disse não, não sei, mas me diga porque?
Moço, eles invadiram a favela porque é final de ano moço, e os traficantes nos davam o que comer e beber e presentes para nossos filhos , Sabe moço se os governantes olhasse por nós da favela e não fossem apenas buscar os nossos votos para se eleger , a gente teria um pouco de dignidade e seria mais feliz moço.
Eu fiquei olhando aquele cidadão, e perguntei a ele. Tudo bem, mas porque você esta aqui e tão longe do seu lugar, a favela??
Sabe moço, disse o cidadão: Eu sai da favela e não volto mais para lá não porque vai passar o final de ano e no ano que vem volta tudo como era antes e sabe moço eu quero ter paz , e aqui nos centros da cidade a policia não vem quebrar nada e nem bater na gente , mesmo sabendo nós da favela que é aqui nos grandes centros e grandes casas que moram os verdadeiros traficantes que alimenta o vicio na favela .
Moço? - Me disse o cidadão. Eu disse continue,
Moço eles chamam a favela de comunidade, mas na verdade eles querem que nós ficamos longe da comunidade.
Moço posso te fazer uma pergunta? Disse o cidadão juntamente com sua mulher e filho que ali estava a minha frente .
Eu disse: - Esteja à vontade, pergunte.
Moço, eu queria um pouco de água e um pedaço pão para meu filho o senhor pode me arranjar?
Eu disse sim aguarde um momento, por favor.
Entrei peguei algumas coisas e fui levar ao pedinte ( cidadão).
Entreguei as coisas ao cidadão, e ele me disse assim:
Obrigado moço. Até amanhã, pois todos os dias eu faço a coleta do seu lixo e dos demais aqui neste bairro, pois sou gari , .
Fiquei olhando aquela família a seguir.
Quantas vezes fiz julgamentos das pessoas que morava na favela, sem mesmo eu saber que o coletor de lixo que sempre manteve a frente da minha casa limpa morava por lá.

Igual a mim infelizmente com certeza muitos brasileiros pensa assim .
Será que um dia isto vai mudar ???? Ou continuamos a viver uma falsa democracia???

Ailton .`.

www.betimartins.prosaeverso.net

Foto de Nailde Barreto

"ASSALTO"

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Verbo presente do indicativo;
No singular ou plural
Nos deixa cada vez mais passivos...

Delito inconsequente;
Autoria primária ou secundária
De maiores ou menores delinquentes...

Ato sem pudor;
Arremetida súbita de ladrões
Causa medo e dor...

À mão armada;
É o retrato do descaso
Contra pública e privada...

Ações deprimentes;
Deixa marcas nos inocentes
Assusta toda gente...

Viver um momento assim é possível;
E a reação do silêncio ou das palavras
Conduz o extremo para o ser ou não ser invisível...

Nailde Barreto
09/12/2010

Foto de Ozeias

Os lábios de pitangueira

Antes de tudo, quero deixar bem claro que não sou uma prostituta, nem uma mulher qualquer. Ora, se meu marido tinha uma amante, que era nada mais, nada menos do que sua secretária, por que eu não poderia ter um amante? Bem, eu o perdôo; isso são coisas de instinto de caça do homem. As mulheres também têm os seus instintos. Pelo menos eu.
Sempre que eu ia até a padaria, notava o olhar faminto daquele moleque robusto, tão moço e já com postura de homem. Era vigiada minuciosamente por aquele par de olhos felinos, astutos. Com o passar do tempo, minha ida à padaria deixou de ser apenas à procura de pães. Eu queria também aquele olhar voraz que me despia e comia por inteira. Comecei a ir sempre aos horários em que ele estaria lá depositando os pães frescos na vitrine, para que pudéssemos ter nossas trocas de olhares secretas.
Na cama, em vez de meu marido, fazia amor com o padeiro. Em mente, o chamava, mesmo sem saber seu nome. Já não agüentava mais de desejo, então decidi tomar providência.
Eram seis horas da tarde, quase hora do seu expediente encerrar. Tomei meu banho e saí para a varanda, à espera dele. Eram seis e vinte quando eu o avistei sair do estabelecimento.
- Ei, moleque!-Gritei.
Ele me olhou, curioso. Apontou o dedo para si, como se estivesse perguntando se eu o havia chamado. Respondi que sim. Desconsertado e sem jeito, ele veio em minha direção.
-Sim?
- Será que você poderia me dar uma ajudinha ali dentro?
Ele ficou hipnotizado pelo meu vestido azul claro, meio transparente, que o permitia ver os meus seios. Pigarreou antes de falar.
-Sim, claro...
- Então venha.
Deixei que ele entrasse primeiro. Assim que entrei, fechei a porta e deixei meu vestido cair. Seus olhos esbugalharam-se e ele ficou imóvel. Tentou dizer algo, mas nada saiu daquela boca. Olhava-me de cima a baixo.
- Qual... Qual é... O que posso fazer para ajudá-la?
- Quero que me devore. Sou todinha sua, moleque- Disse deslizando minha mão sobre o meu corpo, parando em minha boceta. Dei um sorriso malicioso para ele, que engoliu em seco. Caminhei em sua direção, que recuou alguns passos, até que suas costas encontraram a parede.
Peguei suas mãos, que estavam frias e trêmulas, e levei-as até os meus seios, dando lentas voltas. Seus olhos se fecharam. Desci com elas pelas minhas curvas, depois as levei diretamente à minha boceta, agora úmida. Levei seus dedos úmidos até a minha boca e comecei a lambê-los. Depois, novamente peguei suas mãos e as depositei sobre minhas nádegas.
Até então, as únicas poções de massa que aquele rapaz havia manejado eram apenas as dos pães. Acostumado apenas a eles, ele apertou minhas nádegas fortemente com suas másculas mãos e começou a remexê-las como um padeiro experiente.
- Tá gostando, moleque?-Perguntei.
Ele não tinha voz. Suas mãos pareciam tremer mais; eu podia ver o suor deslizando por sua testa e seu pomo de adão subir e descer a cada engolida em seco que ele dava. Seus olhos de devorador brilhavam.
-Beije- Ordenei manhosa, empinando minhas nádegas em direção ao seu rosto.
Os lábios daquele pivete eram experientes. Mas eu tinha certeza que não era graças às mulheres, mas sim às pitangas e mangas que eram cultivadas em seu quintal.
Ouvimos um barulho do lado de fora. Assustado, ele afastou-se rapidamente, tentando recompor-se. Ver sua expressão de espanto fez com que eu risse, deixando-o ainda mais sem graça.
- Fica calmo, molequinho, meu marido não volta hoje.
Eu estava mentindo, meu marido poderia chegar a qualquer hora, mas ainda estava muito cedo para ele retornar. Ele nunca havia chegado em casa naquele horário, não seria naquele dia que ele chegaria.
- Vem de novo- Disse empinando-me novamente, acariciando as nádegas úmidas pela saliva dele.
Hesitante, ele foi aproximando-se lentamente até que novamente aqueles lábios já estavam a me lambuzar.
Na cama, comprovei que ele era completamente inexperiente. Ainda assim, tinha uma pegada forte. Fez-me gozar duas vezes. Primeiro, com sua língua; depois, com seu protuberante pênis.
Antes de partir, perguntei-lhe seu nome.
- Ernesto- Respondeu-me ele já na porta.
- O meu é...
- Marta!- Completou sorrindo.
Fechou a porta. Alguns instantes depois, enquanto estava no meu banho, Jorge chegou.
Jorge era advogado e estava envolvido num caso muito complexo. Com isso, passava o dia todo trabalhando, sem direito a pausa para o almoço ou café. Naquela noite ele estava cansado demais para me procurar.
- Amor, cheguei.
- Jorginho, meu amor, eu tive que dar uma saída e cheguei agorinha há pouco. Nem deu tempo de aprontar a janta, ainda. – Gritei do chuveiro.
- Tudo bem, eu estou sem fome. Vou tomar um banho e dormir, porque o dia hoje foi longo!
Desliguei o chuveiro.
- Quer que eu te dê banho?
Ele riu.
- Não precisa, amor. Estou cansado, mas não morto.
-Sei essa sua canseira- resmunguei baixo enquanto eu me enxugava. Era óbvio que ele transou com a secretária dele.
Durante a noite, enquanto ouvia os roncos do meu marido, tentei reproduzir os gemidos do moleque. Olhei para Jorge e tive uma espécie de remorso que logo se foi ao pensar na secretária com jeitinho de ingênua que tantas vezes fora a aquela casa nos jantares e almoços. Sob os roncos no quarto e gemidas em mente, adormeci.
** *
Mal dormi naquele dia. Não conseguia acreditar que havia transado com a musa inspiradora de minhas masturbações. Meu coração pulava a cada momento em que as imagens daquela tarde me vinham em mente. Minhas mãos nos seios fartos, em sua boceta molhada... Meu amigo Alfredo tinha que saber de tudo.
- Seu mentiroso duma figa!-Disse-me Alfredo, após eu ter lhe contado toda a história.
- Eu juro pra você. Ela me chamou pra ajudá-la em sua casa. Quando entrei, ela tirou a roupa e transou comigo.
- E por que eu acreditaria? Ela é a mulher do advogado, você acha que, se ela fosse trair ele, ela trairia logo com você? Além do mais, ela deve ter uns quarenta anos, não seria louca de se deitar com alguém da nossa idade.
Quando abri minha boca para falar, vi aquela figura graciosa surgindo na esquina, vindo em nossa direção com um sorriso no rosto. Marta...
-Olá, meninos...
-Oi- Disse Alfredo surpreso.
- Será que alguém de vocês poderiam me ajudar a trocar a luz da cozinha?-Perguntou dirigindo um olhar sugestivo para mim. Era como se os olhos dissessem “se ofereça!”.
-Eu!-Respondi no mesmo instante.
Alfredo olhou para ela, depois para mim, desconfiado.
- Ótimo! Dá licença pro seu amigo me dar uma ajuda?
-Claro- Alfredo forçou um sorriso.
Quando nos afastamos, pude ver a expressão de incredulidade no rosto dele.
Naquela tarde, transamos duas vezes.
- Você fuma?-Perguntou-me ela, que havia acabado de acender seu cigarro.
- Não.
- Qual sua idade, mesmo?
-Dezesseis.
Ao ouvir minha idade, ela engasgou-se e apagou o cigarro.
-Quer dizer que estou transando com um pivete que nem idade de homem tem?-Tapou os seios com lençol, como se estivesse envergonhada.
- Me desculpa, pensei que você soubesse minha idade. – Ia me levantando da cama, quando ela segurou meu braço e sorriu.
- Seu bobo, você pode até não ter idade de homem, mas tem o necessário que muitos, mais velhos que você, não tem. -Me beijou, depois recostou sua cabeça no meu peito, arranhando levemente meu braço.
Permanecemos assim calados por um longo tempo. Ouvíamos nossa respiração e os passos das pessoas lá fora.
- Até quando?- Perguntei, quebrando o silêncio.
- Até quando o quê?-Parou de me arranhar olhando para mim.
- Até quando vamos nos encontrar?
- Para de pensar nisso, seu bobo. Até quando nós dois quisermos.
- E se eu ainda quiser e você não?
Apesar de eu ter falado sério, ela riu. Senti-me incomodado por ela não ter levado a conversa a sério. Ao ver minha expressão, ela perguntou o que havia.
- Nada.
- Vamos, diga, meu molequinho.
- Você não está me levando a sério.
- Ora essa, esqueça isso de até quando. Se depender de mim, vamos ficar assim até você se cansar de mim.
- Mas eu não vou me cansar.
- Está vendo? Pra que se preocupar, então? Agora vá que meu marido está pra chegar. –Levantou-se da cama e saiu do quarto. Logo ouvi o barulho do chuveiro. Despedi-me dela beijando sua calcinha que estava caída ao pé da cama.
Quando saí da casa, vi a figura de Alfredo sentado na calçada da esquina. Ao me ver, ele levantou-se rapidamente com um sorriso largo e veio em minha direção.
- Então é verdade mesmo?
- Agora acredita?
Ele balançou a cabeça euforicamente. Seus olhos vibravam.
- Bico calado entendeu? Nem pense em dizer isso pra ninguém.
- Eu não sou dedo duro!
Enquanto caminhávamos, Alfredo, curioso de tudo, queria saber todas as coisas sobre mulher e sexo, como se eu fosse experiente.
- Você é muito sortudo!-Repetia ele a todo instante.
- Não se preocupe, você também vai fazer isso.
Despedi-me dele com mais uma advertência de que ele não dissesse absolutamente nada sobre aquilo.
Certa vez, enquanto eu acendia meu cigarro-Sim, eu comecei a fumar- após uma intensa transa, Marta perguntou-me se eu havia falado algo sobre o nosso caso para meu amigo Alfredo.
- Não- Menti- Por quê?
- Já reparou como ele nos olha? É como se soubesse...
- Vai ver ele desconfia.
- Aquilo não é olhar de desconfiança, é de certeza. – Pegou o cigarro de minha boca, tragou- Ele passa aqui em frente olhando pra cá, como se estivesse procurando alguma coisa.
- Vai ver ele também gosta de você.
Ela riu, depois voltou ao seu tom sério.
- Você não disse nada mesmo, não é?
- Claro que não, medrosa. Por que eu falaria? –Disse acariciando seus cabelos negros.
- Não sei. Vocês moleques gostam de contar vantagem de garanhão.
Tomei o cigarro de suas mãos e o apaguei no piso de madeira do quarto.
- Vou te mostrar que não preciso tirar vantagem de garanhão!
Transamos mais uma vez, só que dessa vez, com uma força que jamais havia feito antes. Pensei que ela fosse reclamar, mas parecia estar gostando. Chamou-me de coisas que jamais imaginei ouvir de uma mulher.
Ao sair da casa, encontrei-me com Alfredo dobrando a esquina, como se estivesse vindo da mesma direção que eu.
- Alfredo!
Notei que ele assustou-se ao ouvir chamá-lo, mas virou-se para mim com uma expressão de surpreso.
- Ernesto, garanhão!- Cumprimentou-me.
- Marta está desconfiada de que você sabe sobre nós.
- Como?
- É culpa sua! Você olha pra ela como se soubesse de alguma coisa, passa pela casa, curioso como se já soubesse que eu estaria lá. Seja mais discreto, porra!
- Desculpe, Nesto.
- Tudo bem , mas fique na sua. Não posso nem imaginar se ela souber que eu te contei.
***
Foi inacreditável a rapidez com que o moleque foi ganhando experiência na cama. Em poucos dias, ele já sabia as manhas para me deixar completamente louca. O que é pior, ele soube como entrar em mim, impregnar-se em minhas entranhas, tatuar-se em minha alma. As coisas estavam tomando outro rumo. Já não era mais apenas um desejo, uma atração, era um fogo que queimava meu peito e carbonizava qualquer razão que me viesse à cabeça.
Seu rosto infantil, seu olhar devorador, seu corpo esbelto, suas palavras doces e engraçadas me prendiam a cada dia mais e mais. Estar ao lado dele me trazia uma sensação que eu jamais havia sentido antes. Era como se ele fosse meu protetor, como se aqueles tenros e torneados braços que me envolviam fossem uma fortaleza. Contava-me histórias engraçadas, chegava a até recitar poesias. Por vezes, me surpreendia com propostas absurdas.
- Você fugiria pra viver comigo?
- Aceitaria um filho meu?
Eu sempre achava graça o que fazia com que ele ficasse um pouco chateado. Depois, nas madrugadas em que ele me assombrava, ficava pensando em suas propostas. Eu me repreendia quando, ainda que em pensamento, dizia-lhe que sim.
Quando me deitava com Jorge, tinha uma estranha sensação, como se estivesse traindo meu moleque, não o contrário.
- Você está bem?-Perguntou-me meu marido assim que terminamos de transar.
- Sim, por quê?
- Faz dias, você quase não fala. Na cama está mais acanhada...
- Impressão sua, meu amor- Disse forçando um sorriso e beijando-lhe. Depois voltei aos meus pensamentos. Em poucos instantes, Jorge já roncava.
Como não conseguia dormir, decidi tomar um ar fresco na varanda. Recostei-me no balaustro e fechei meus olhos, sentindo o vento soprar meu rosto. Quando abri, assustei-me com a figura do amigo de Ernesto. Ele me olhava com malícia e um meio sorriso desabrochado. Ficou assim por alguns instantes, depois cumprimentou e saiu caminhando. “ Impossível ele não saber de nada. Ou o moleque mentiu, ou ele nos espiona”, pensei voltando nervosa para dentro. “Amanhã darei um jeito.”
No outro dia, decidi dar uma volta pelo bairro, a fim de encontrar o amigo do meu moleque. Não demorei muito a encontrá-lo sentado com outros garotos na praça jogando baralho. Caminhei em sua direção.
- Sua mãe pediu pra te dar um recado. Está te chamando. –Menti.
- Minha mãe?- Indagou confuso.
- Sim. – Respondi-lhe dando meia volta e caminhando lentamente. Em poucos segundos, podia ouvir seus passos apressados atrás de mim. Quando ele já ia passando por mim, disse-lhe que era mentira.
- Se minha mãe não está me chamando, o que é então?
Disse-lhe que precisava tratar de algo muito importante e que precisava ser já. Levei-o para minha casa e pedi para que ele se sentasse e me esperasse, enquanto fui à cozinha buscar suco e biscoitos. Quando voltei, o encontrei com um sorriso ansioso no rosto, que logo se desfez ao me ver com a jarra e a bandeja. Parecia esperar outra coisa.
- O que a senhora quer?- Indagou enquanto pegava um biscoito.
- O que você sabe sobre mim e o seu amigo?
Ele parou de mastigar por um momento, depois olhou para o pé do sofá e respondeu que nada.
- Nada? Ora, vamos, diga.
- Eu juro. O que há entre vocês dois que eu deveria saber?
- Bom, nada... Vamos, não minta que eu sei que você sabe!
- Eu não sei de nada, te juro!
- Que pena... Seria tão mais legal se brincássemos nós três...
Ele engasgou-se. Seus olhos se mostravam surpresos. Aproximei-me dele, sentei ao seu lado e sussurrei em seu ouvido.
- Tem certeza de que ele não falou nada?-Passei a mão por sobre o volume que já se mostrava em sua calça.
- Bom... Já que a senhora insiste... Ele me contou que vocês dois tem um caso, mas eu não acreditei... Ai!
Minha mão apertava com força o seu pênis.
- Escuta aqui, moleque, se você abrir esse bico pra alguém, eu juro que te capo, ouviu?
- Sim, ai!- Sua expressão era de dor.
- Agora vai!
Ele levantou-se mais do que depressa e saiu disparado pela sala.
Então meu moleque havia mentido para mim. Será que ele não pensou no que poderia acontecer se o seu amigo resolvesse abrir a boca? Minha cabeça já começava a doer, tamanha a raiva. Iria terminar tudo, acabar com aquela insanidade perigosa naquele dia. Decidi esperá-lo ali mesmo no sofá.
Quando ele chegou, veio sorridente em minha direção. Levantei-me rapidamente e, com toda a força que podia, esbofeteei-lhe.
- O que foi?-Perguntou massageando o rosto, com os olhos d´água.
- Seu moleque irresponsável! Você disse tudo praquele seu amigo, não é? Você não tem ideia do risco que você colocou a gente? Se ele resolve abrir a boca por aí, estamos mortos!
- Eu não disse nada.
- Seu mentiroso, cínico, ele confirmou!- Disse tão alto que parecia um grito.
Ele fitou o chão, silencioso.
- Me desculpe, amor...
- Não vou te desculpar, seu imbecil. Vocês homens, quero dizer, crianças! Agora saia já daqui que não quero ver você!- Minha cabeça parecia explodir. Lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas antes que saísse alguma palavra, eu ordenei que ele saísse tão braviamente que minha garganta chegou a doer. Cabisbaixo e ainda massageando o rosto, ele saiu pela sala. Assim que porta se fechou, caí aos prantos no sofá. Por que é que ele tinha que ter feito aquilo? Não estava bom aquele segredo só nosso? Tomei um remédio e fui para uma ducha fria.
***
A dor da bofetada que Marta me deu não foi nada comparada a da idéia de não tê-la em meus braços naquela tarde, nem nas que viriam. Eu estava furioso comigo e com Alfredo. Por que é que eu não guardei segredo? Eu não sabia o que fazer. Chorava copiosamente enquanto caminhava de volta pra casa. Decidi dar uma volta até que eu me acalmasse, antes de retornar para casa.
Enquanto caminhava, vários pensamentos me vieram. Entre eles, o de esganar Alfredo com minhas próprias mãos. Ou então de amarrá-lo num tronco e chicoteá-lo até a morte. Tantas foram as formas de sua morte que me viera a cabeça, que logo decidi como ia fazê-lo. A porradas! Sim, ia socá-lo tanto no rosto que iria desfigurá-lo! Minhas mãos cerravam, meus dentes apertavam os lábios a cada acesso de raiva que me viam junto com essas idéias.
Quando virei a esquina da praça, notei a figura de Alfredo no meio do grupo de sempre. Com as têmporas aos pulos e dentes e mãos cerradas, corri em sua direção. Ao me ver, ele levantou-se rapidamente assustado, como se soubesse o que iria acontecer a seguir. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, desferi-lhe um soco na boca. Ele cambaleou de lado e logo caiu. Levantou-se e veio em minha direção tentando revidar, mas antes de o fazer, chutei-o fortemente na barriga, derrubando-o no chão, sem fôlego. Antes de eu investir pra cima dele, os meninos me separaram. Furioso, eu tentava me soltar aos gritos.
- Me larguem que eu vou quebrar a cara desse fofoqueiro filho da puta!
- Pelo amor de Deus, Ernesto, o que deu em você?-Perguntou-me Pablo, espantado com minha fúria.
Não conseguia dizer mais nada a não ser “me larguem”. Enquanto eu tentava me soltar, olhava furiosamente Alfredo, que se contorcia de dor no chão.
- Tirem o Alfredo daqui!-Disse Pablo afastando-me de perto dele.
Em poucos segundos, levaram Alfredo dali. Tentei me desprender de Pablo para que pudesse socar o fofoqueiro novamente, mas eu não conseguia. Demorou bastante tempo para que eu pudesse me controlar. Sentei-me no banco ofegante, abaixei minha cabeça e voltei a chorar novamente.
À noite, não consegui dormir. A imagem de Marta me vinha toda vez que eu fechava meus olhos. Seus seios rijos, sua pele alva com algumas pintas que ornavam seu ventre e pescoço, suas nádegas volumosas, seu quadril largo, carnudo, seus lindos lábios avermelhados pelo batom, sua boceta úmida, o perfume das colônias em sua pele, dos cabelos negros... Mordi o travesseiro de raiva.
O cheiro de manga no quintal fez com que eu me recordasse do dia em que, nus no chão da sala, enquanto eu levava a manga em minha boca, ela tomou-a de mim, descascou-a e começou a lambuzar-se.
- Vem chupar. –Disse enquanto deslizava a fruta por entre seus seios. Depois apertou a manga em cima de sua boceta, de modo que o caldo se concentrasse nela. Enquanto eu a chupava, sentia-a tremer, diante do enorme prazer. Logo, o doce da fruta perdeu sabor diante do gozo dela. Depois fomos nos banhar, onde lhe ensaboei a boceta e as nádegas.
Levantei-me da cama e segui para o quintal à procura da manga que eu havia acabado de ouvir cair sobre as folhas. Assim que encontrei, segui para o banheiro me despindo rapidamente. Comecei a chupar a fruta, deixando o caldo derramar sobre o meu corpo. Enquanto eu me lambuzava, masturbava-me relembrando do corpo melado de Marta. Quando gozei, entreguei-me à dor da realidade de não tê-la mais.
***
Eu não estava odiando meu moleque, mas não conseguia perdoá-lo por ter colocado nós dois em risco. Decidi nos separar para protegê-lo, mais do que a mim. Só Deus sabe o que aconteceria com ele se meu marido soubesse de alguma coisa.
Por três vezes ele veio aqui em casa se desculpar, mas eu não o quis ouvir. Dispensei-o dizendo-lhe coisas grosseiras. Da última vez, quase não resisti àqueles olhos vorazes que me fitavam com tristeza. Por alguns segundos, pensei em convidá-lo para entrar e matar toda aquela vontade de tê-lo novamente, mas aí me veio a imagem dele caído no chão com uma bala no peito. Estremeci.
-Saia daqui, agora!-Enxotei-lhe do portão.
Jorge teve que fazer uma viagem de repente, pois ele precisava acertar alguns detalhes para o adiantamento de um tal processo.
- Quantos dias?
- Quatro.
Decidida a não ficar sozinha, liguei para minha prima convidando-a para passar alguns dias comigo. “Eu bem que gostaria, mas a tia Adelaide está aqui”, desculpou-se ela. Eu sabia que se eu ficasse aqueles dias sem meu marido, eu não resistira à tentação de perdoar o meu moleque.
Antes de meu marido sair, tomamos um drinque. Quando ele saiu, continuei a beber. Eu já havia esvaziado quase meia garrafa de uísque. Consultei o relógio, estava quase na hora da padaria fechar, então fui para a varanda. Não demorou muito para que eu o visse saindo do estabelecimento, a passos lentos, meio cabisbaixo.
- Ei, moleque!-Ele parou, olhou para mim e sorriu. Depois veio caminhando apressadamente em minha direção.
- Você está me desculpando?
- Não seja bobo e entre aqui.
Apressadamente, ele abriu o portão e veio de encontro a mim. Nós nos abraçamos ali mesmo, na varanda.
- Eu te amo tanto- Disse-me ele, apertando-me em seus braços ainda mais.
- Eu também, moleque. – Disse beijando-lhe ali mesmo. Peguei sua mãe e o levei para a sala. Antes de fechar a porta, vi que a vizinha nos olhava da janela, curiosa. Forcei um sorriso para ela, que me olhava com desaprovação.
Naquela tarde, fizemos amor como nunca. Ele me apertava como se quisesse nos unir, me penetrava como se quisesse estar dentro de mim, dizia-me coisas bonitas que me excitavam ainda mais.
- Te quero muito, meu moleque. Eu te quero até morrer. –Repetia-lhe essas palavras em meio às gemidas.
Transamos na sala, no quarto e no banheiro, quando fomos nos banhar.
- Volta amanhã?-Perguntei.
- Sempre!-Disse-me ele com seu sorriso.
Naquela noite, pela paz de tê-lo novamente e pela meia garrafa de uísque, adormeci logo.
Em todos os dias em que meu marido esteve de viagem, transei com meu moleque. Esses dias foram longos e curtos, ao mesmo tempo.
Quando Jorge chegou, foi como se tivesse acabado de sair. Mesmo assim, fingi empolgação e exclamei “amor”, assim que a porta se abriu. O abracei e disse que estava morrendo de saudade e louca para fazer amor com ele.
- Dá pra ser depois? Agora estou cansado da viagem. –Disse deixando sua mala no chão, indo em direção ao banheiro.
Enquanto ele se banhava, comecei a retirar seus pertences da mala. Enquanto retirava as peças, cheirava-as a fim de detectar algum outro perfume; e detectei. Quase todas as peças tinham o mesmo perfume estranho- que, na verdade não era tão estranho assim, pois eu o conhecia, e muito bem!-, que eu sabia quem pertencia: sua secretária. Estava na cara que ele não viajou a negócios, mas sim por diversão.
***
Eu estava tomando meu café da manhã antes de ir para a escola, quando meu pai sentou-se à mesa com um olhar que eu jamais havia visto antes.
- É verdade isso o que estão falando por aí?
Parei meu copo de café na metade do caminho.
- O que estão falando, pai?
- Que você anda de caso com a mulher do advogado.
- O quê?! Quem disse isso?
- O povo!
-Mas é mentira, pai.
- Eles não iam inventar uma cosia dessas. Tantas moças da sua idade, bonitas, e você cria caso com a mulher do advogado? Aquela desavergonhada!- Meu pai estava nervoso.
- Ela não é desavergonhada!- Disse socando a mesa, mas logo me arrependi. Ele me olhava, incrédulo.
- Então é verdade, não é?-Acusou-me meu pai. – Você tem ideia do que vai te acontecer se ele souber que mulher dele anda traindo ele com um moleque? É morte na certa!
A essa altura, minha mãe já havia aparecido na cozinha e me olhava preocupada.
- Eu liguei pra tia Joana. Você vai pra casa dela.
- O quê?- Levantei-me de um salto- Quando?
- Na semana que vem. Sem discussão- Disse-me meu pai.
- Eu não vou a lugar nenhum!- Saí apressado da cozinha com minha mochila, fechando a porta com violência. “Só pode ser Alfredo!”, pensei.
***
Desde o dia em que Ernesto me fez passar aquela vergonha em meio aos meus amigos em plena praça, jurei a mim que eu não sairia na pior. Pensei em contar ao advogado que sua esposa estava ficando com outro homem, mas vi que Ernesto e ela não estavam mais juntos, o que faria com que o que eu dissesse parecesse mentira. Eu sabia que a volta dos dois seria só uma questão de tempo; era só a tempestade se acalmar.
Assim, passei a vigiar cada passo de Ernesto.
Uma vez, quando o vi se aproximar da casa da esposa do advogado, logo me animei: Eu poderia me vingar! Mas logo vi que não ia ser tão fácil assim, pois a forma como ela falava com ele e o olhava era dura, como se ainda as coisas não estivessem bem. As outras duas vezes também foram a mesma coisa. Na última, por um momento, pensei que ela fosse arrastá-lo para dentro e transar com ele, mas logo ela o enxotou.
Assim os dias foram se passando até que no fim de um de seus expedientes, o vi caminhar em direção à casa do advogado. Lá estava ela da varanda, chamando-o. Rapidamente, ele correu para dentro da casa. Os dois se abraçaram e, para minha surpresa, se beijaram ali mesmo. Depois sumiram de vista. Bingo!
Novamente, eles voltaram a se encontrar como antes e aquele fato não pareceu ser uma descoberta só minha, mas como das outras pessoas, também. Logo as mexeriqueiras da cidade começaram a falar sobre a mulher do advogado e um rapaz padeiro. Já era hora do advogado saber, mas por mim.
Escrevi uma carta anonimamente explicando-lhe tudo e a deslizei por baixo da porta, de madrugada. No outro dia, ele saberia de tudo.
***
Quando meu moleque chegou, não trazia aquele sorriso costumeiro, nem aquele olhar vivo, mas sim uma expressão de tristeza.
- O que houve?-Perguntei.
- As pessoas sabem sobre nós- Disse-me ele, sério e cabisbaixo.
- Como assim?- Perguntei. Mas logo me veio a resposta: a vizinha. Estava claro! No dia em que eu, bêbada, beijei-o na varanda ela viu. Eu não conseguia falar.
- E meus pais vão me tirar da cidade.
O quê? Não podia ser! Eu não queria ficar longe do meu moleque, meu amor... Comecei a chorar.
Ele veio em minha direção e me abraçou, também chorando.
- Eu não quero me afastar de você. Prefiro morrer a sair daqui. Eu te amo!
- Eu também, meu amor. Também não vou agüentar ficar longe de você.
- Isso foi coisa do Alfredo!- Ele levantou-se bravo, com as mãos em punhos. – Eu vou matá-lo!
- Não, não foi ele, foram os vizinhos. Eu sei que eles nos viram na varanda, naquele dia. – Abracei-o- Venha, por favor, sou sua, meu moleque.
Fizemos amor ali no sofá, sem nos preocuparmos com a chegada do Jorge. Ficamos deitados ali, nus, em silêncio.
Embora não estivéssemos dizendo uma só palavra, podíamos nos ouvir. Nossos corações batiam descompassados. Nossos olhares se encontravam, sorriam para si, diziam coisas que jamais compreenderíamos, se fossem ditas em palavras.
Mas o que estava acontecendo comigo? Por mais que aquele lado racional me dissesse para mandá-lo embora, meu coração e minha boca não o faziam. Era tarde demais, eu simplesmente sabia que não mais ficaria sem ele.
Eu não queria ficar sem ele, preferia a morte.
-Eu também- Disse-me ele. Fechando seus olhos, dando um longo suspiro antes de adormecer em meu peito.
***
"Na noite de ontem, uma tragédia se abateu sobre a cidade de Baixo Guandu. Uma mulher de quarenta e três anos e um jovem de dezesseis morreram a tiros e depois foram carbonizados durante o incêndio na casa em que os dois se encontravam. Segundo as testemunhas, as duas vítimas mantinham relações sexuais.
As testemunhas dizem que o marido da vítima teria chegado em casa alterado por volta das dezenove horas e encontrado a esposa com o jovem. Seguiu-se uma longa discussão, depois se eles ouviram quatro disparos, depois sentiram um forte cheiro de fumaça. O marido da vítima está sendo procurado pela polícia.
Os pais do jovem estão abalados. Amigos e vizinhos também não se conformam com a tragédia."
Jornal O Estado, 22 de Novembro de 1973.

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