Menor manifestação da razão humana, vezes maior fenómeno da bestialidade religiosa, igual a saída da missa das sete na Igreja do Barrio de Las Hermanas, em Tegucigalpa, Honduras. Mais ou menos mil pessoas, todas residentes na isla de la paloma, bem no centro da capital, convergem diariamente, à mesma hora, para aquele local.Maridos e mulheres. Apêndices entre os 2 e os 10 anos pela mão de cada um destes casais. Dezenas de apêndices. Velhos mal vestidos, enrugados, e de bengala. E exactamente sete cães. Pertencem todos ao mesmo dono. O general Juan Freischel. Dizem que o velho é nazi. Perdão, foi nazi. Porque ai de quem lhe recorde que ele nasceu na Alemanha, no ano de 1922, e que com 16 anos andava a aplaudir um austríaco frustrado no campo zepellin de nuremberga. O senhor nega.
Diz que é mentira. Ele é apenas filho de alemães que, por "necessidades inalienáveis", tiveram de viajar até às Honduras. Nasceu filho único, chegou a um novo mundo como filho único, e fez-se à vida como filho único. Bem, isso é o que dizem as pessoas. Porque ninguém sabe muito sobre o senhor. Apenas que ele gosta de cães. E faz questão de mostrar isso. Os bichos são é dificil de definir. Feios, baixotes, gordos, patas minusculas. Para andar da porta de casa, ao jardim onde o 'señor' os leva a passear, chegam a demorar uma hora. E quando pára um, param todos ao mesmo tempo. O velho deixa um rasto de merda atrás dele. E depois, já ganhou os hábitos dos hondurenhos.
Apanhar aquela mistela, é que tá quieto. As pessoas dizem mal dele, mas depois acabam por fazer o mesmo. Toda a gente já se habituou a ver aquilo. Há até quem fale que o Luis Sepulveda, o chileno renegado que vendeu a alma aos gringos europeus, costuma vir duas vezes por ano a Tegucigalpa só para ver o velho Freischel. O próximo livro pode ser sobre ele. Mas ninguém tem certezas. A história de vida do velho dava um bom livro. Disso ninguém tem dúvidas. É bom é que quem a queira escrever se apresse. O homem anda com uma icterícia esquisita. Qualquer dia fica-se....