Espuma

Foto de Mentiroso Compulsivo

SE EU FOSSE POETA!

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Ai! Se eu fosse poeta!
Seria o poeta do mar.
Escrevia uma e outra poesia
Na rocha morta pelo luar ausente.
Falava de tempestades e de gente,
Levados no barco afundo incendiado de água,
No longínquo e inquieto momento,
Em palavras azuis em falas de mar,
Rebentadas pela violência abrupta
Da espuma branca de sabor a sal.
Gritava em ecos de catedral
Nas grutas e gargantas fundas,
Encrespadas na costa pelo vendaval.
Como é frágil a vida que nas águas flutua!
Como um mastro de bandeira a agitar as ondas,
Soluçando seus últimos momentos,
Num enlaço de água de todos oceanos,
Fluindo no seu coração aberto, rasgado pelo vento.
Por onde navegam os sonhos e a aventura,
Molhados na fantasia, buscando a conquista,
Em algas de muitas cores de outras águas
Que o mar resguardou como refugio do calor,
Mas que regressaram em forma de flor.
Mas eu ando na praia, não sou poeta
Chego só á beira-mar para molhar os pés
Na onda rasteira que se abriu à vida inteira
Com as lágrimas frias que a tornou salgada
Aqui fico a contemplar as margens do horizonte
Onde vejo a criança que brinca na areia
Cheia de Esperança, a sorrir na face do mar.
Deixando à minha volta raios de pôr-do-sol
Que me fez recordar uma qualquer saudade.

© Jorge Oliveira 24.FEV.08

Foto de Mentiroso Compulsivo

O Actor

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Cansei-me.
Desliguei o leitor de CD’s, fechei o livro, e rodei do sofá para o chão. Cheguei à janela, afastei as cortinas. Chovia a “potes”.

Fui comer. Voltei à janela. Já não chovia. A noite estava escura, o ar, fresco da chuva, cheirava a terra molhada; a cidade lavada. Vesti a gabardine e saí.

Cá fora, a cidade viva acolheu-me. No meio dos seus ruídos habituais, nas luzes do passeio. Percorri algumas casas e vi um bar um pouco retirado. Era um destes bares que não dá “muitos nas vistas”, sossegado e ao mesmo tempo, barulhento.

Com alguns empurrões, consegui passar e chegar ao balcão. Pousei o cabo do guarda-chuva na borda do balcão e sentei-me. O bar estava quente e o fumo bailava no ar iluminado. Senti o cheiro a vinho, a álcool. Ouvi as gargalhadas impiedosas de duas mulheres e dois homens que se acompanhavam. Deviam ser novos e contavam anedotas. Eram pessoas vulgares que se costumam encontrar nas pastelarias da cidade, quando vão tomar a sua “bica” após o jantar. Estes foram os que mais me atraíram a atenção. Não, esperem... ali um sujeito ao fundo do balcão, a beber cerveja...
- Desculpe, que deseja? – perguntou-me o empregado.
- Ah! Sim... um “whisky velho”, por favor.
Trouxe-me um cálice, encheu-o até ao meio e foi-se embora.

Bebia-o lentamente. O tal sujeito, desagradável, de olhos extraordinariamente brilhantes, olhou para mim, primeiro indiferentemente, abriu a boca, entortou-a, teve um gesto arrogante e voltou o rosto.
Estava mal vestido, tinha um casaco forte, gasto e sapatos demasiado velhos para quem vivesse bem.
Olhou-me de novo. Agora com interesse. Desviei a cara, não me interessava a sua companhia. Ele rodou o banco, desceu lentamente, meteu uma das mãos nos bolsos e veio com “ares de grande senhor” para o pé do meu banco.
O empregado viu-o e disse-me:
- Não lhe ligue... é doido “varrido” e “chato”.
Não lhe respondi.
Entretanto, ele examinava-me por trás e fingi não perceber. Sentou-se ao meu lado.
- É novo aqui?!... – disse-me
Respondo com um aceno.
- Hum!...
- Porque veio? Gosta desta gente?...
- Não os conheço – cortei bruscamente.
Eu devia ter um ar extremamente antipático. Mas, ele não desistiu.
-Ouça, - disse-me em voz baixa, levantando-a logo a seguir – devia ter ficado lá donde saiu, isto aqui não vale nada. Vá-se por mim... Está a ver aqueles “parvos” ali ao canto? Todos reparam neles... levam o dia a contar anedotas que conhecem já de “cor e salteado”...Vá-se embora. Todos lhe devem querer dizer, também, que não “ligue”, que sou doido...

Tinha os olhos raiados de sangue. Devia estar bêbado. Havia qualquer coisa nos seus olhos que me fez pensar. Era um homem demasiado teatral, havia nos seus gestos e segurança premeditada, simplicidade sofisticada do actor. Cada palavra sua, cada gesto, eram representações. Aquele homem não devia falar, devia fazer discursos.
Estudando-me persistentemente, disse-me:
- Você faz lembrar-me de alguém que conheço há muito, mas não sei quem é... Devia ter estado com esse alguém, até talvez num dia como este em que a chuva caía de mansinho... mas, esse alguém decerto partiu... como todos... vão-se embora na noite escura, ao som da chuva... nem olham para ver como fico.
Encolheu miseravelmente os ombros, alargou demasiado os braços e calou-se.

Eram três da manhã. Tinha agarrado uma “piela” com o ilustre desconhecido. Tinha os olhos muito abertos, os cotovelos fincados na mesa da cozinha e as mãos fechadas a segurarem-me os queixos pendentes. Ele tinha um dedo no ar, o indicador, em frente ao meu nariz, abanava a cabeça e balançava o dedo perante os meus olhos. Ria às gargalhadas, deixava a cabeça cair-lhe e quis levantar-se. O banco arrastou-se por uns momentos e cai com um estrondo. Olhou para mim com um ar empobrecido, parou de rir e fez: redondo no chão. Tonto, apanhei-o e arrastei-o para a sala.

Deixei-o dormir ali mesmo. Cobri-o com uma manta, olhei-o por uns instantes e fui aos “ziguezagues” para o meu quarto.

No dia seguinte acordei com uma terrível dor de cabeça. Dirigi-me aos tropeções para a casa de banho. Vi escrito no espelho, a espuma de barba; “Desculpe-me, obrigado. Não condene a miséria!”

Comecei a encontrá-lo todos os dias à noite. Fazíamos digressões nocturnas, íamos ao teatro. Quando percorríamos os corredores dos bastidores, que ele tão bem conhecia, saltavam-nos ao caminho actores que nos cumprimentavam; punham-lhe a mão no ombro e quando ele se voltava, davam-lhe grandes abraços. Quase toda a gente o conhecia.

E via-lhe os olhos subitamente tristes, angustiados. Ele não se esforçava por esconder a tristeza: era uma tristeza teatral. De vez em quando, acenava a cabeça para alguns dos seus amigos e dizia:
- Não devia ter deixado...

Inesperadamente, saía porta fora, certamente a chorar, deixando-me só. Quando saía via-o pelo canto do olho encostado a uma parede mal iluminada, mão nos bolsos, pé alçado e encostado à parede, cenho franzido e lábios esticados. Nessas ocasiões estacava, por momentos, e resolvia deixa-lo só. Estugava o passo e não voltava a olhar para trás.

O seu humor era variável. Tanto estava obstinadamente calado e sério, como ria sem saber porquê.
De certa vez, passei dois dias sem o ver. Ao terceiro perguntei ao “barmen”:
- Sabe o que é feito do actor?... Não o tenho visto.
- Ainda não sabia que ele tinha morrido? Foi anteontem. A esta hora já deve estar enterrado...foi melhor para ele...
Nem o ouvia. As minhas mãos crisparam-se à roda do corpo, cerrei os dentes. Queria chorar e não conseguia. E parti a correr pelas ruas. Por fim, cansei-me. Continuei a andar na noite, pelas ruas iluminadas. E vi desfilar as imagens. Estava vazio e, no entanto, tantas recordações. Não sentia nada, e apenas via as ruas iluminadas, as montras, os jardins.
Acabei por me cansar, de madrugada tive um sonho esquecido.

Percorro as ruas à noite, os bares escondidos, à espera de encontrar um actor “louco e chato”. De saborear mentira inocente transformada em verdade ideal. E há anos que nada disso acontece. É verdade que há sujeitos ao fundo do balcão, mal vestidos, a beber cerveja... mas nenhum que venha e pergunte se sou novo aqui... As pessoas continuam a rir como dantes, todos os dias vejo as mesmas caras, e se me perguntarem se gosto desta gente digo-te que não as conheço ainda... e olho-os na esperança que venha algum deles e que lhe possa dizer, como a raposa de “ O principezinho”:
- Por favor cativa-me.

Acordei, tinha parado de chover, lá fora ouviam-se as gotas mais tímidas ainda a cair dos telhados, fazendo um tic-tac na soleira do chão, como quem diz o tempo da vida continua, por segundos parei o tempo e pensei, mais um dia irá começar e neste dia eu também irei pisar o palco, todos nós iremos ser actores, uns conscientes da sua representação, outros ainda sem saber bem qual seu papel, uns outros instintivamente representando sem saber que o fazem e outros ainda que perderam o seu guião....

Foto de Carmen Vervloet

OS OLHOS NÃO MENTEM

Os Olhos Não Mentem

Teus olhos me olharam
De um jeito tão intenso
E me falaram de um amor tão imenso...
Que não precisou nem um instante
Envolvida por ondas afagantes
Para que eu caísse em teus braços
E revelasse num sentido abraço
O que teimava em negar meu coração
Derramando emoção!...
O amor foi reacendido delirante
Entre estrelas fulgurantes,
Lua nova e verde mar...
Meus olhos a falar o que meu coração
Não podia, nem queria negar!...
Num silêncio profundo
Que te ouvia a respirar...
As palavras perderam o sentido
E este amor tão contido
Explodiu em beijos e carícias
Entre lágrimas lavando a dor
Acendendo em luz o amor!
Nosso teto o céu brilhante
Bordado por estrelas fulgurantes!...
Nosso lençol... A branca areia!
Nossa música... O canto da sereia
Suave e terno a embalar
Este doce e intenso amar!
E neste mágico momento
Isentos de mágoas e ressentimentos
Éramos um só corpo, um só pensamento...
Banhados pelas águas do mar
Fundidos no conjugar do amar!

O tempo em mágico transe parou!...
A Estrela Dalva piscou...
E nós esquecidos do mundo
Em silêncio profundo a dançar
Sobre a espuma do mar...
Como cúmplice, somente a natureza...
Nesta cena de infinita beleza!

Carmen Vervloet

Foto de NiKKo

Novas cenas

Quero sentir na minha pele o calor do sol a me aquecer,
e que ao abrir minhas asas, o vento leve embora minhas penas.
Quero sentir em meu rosto do vento da liberdade,
e reconstruir a historia de minha vida, com novas cenas.

Quero deitar-me na areia da praia para que o mar
venha meus pés refrescar com a sua suave espuma.
Quero que meu céu seja noturno, porém alegre
E que em meu peito, eu não sinta saudade alguma.

Quero a brisa da manha aqueça e ilumine meu dia
colocando em minha vida encanto, brilho e calor.
Quero voar sobre os picos mais altos do mundo.
Quero ser livre, solta e deixar transparecer todo meu amor.

Quero olhar as estrelas à noite no céu noturno.
Brincar e rir tal qual uma criança no parque a correr.
Que por não saber que a vida é cheia de perigos
Que sem pejo ou pudores sonha com a vida que quer ter.

Quero ficar assim, mas se eu tiver você ao meu lado!
Pois sei que contigo eu não preciso só sonhar.
Pois você é a realidade de meus dias, é minha alegria.
É o resultado um uma entrega total e sem par.

Com você eu realizo meus sonhos e fantasias
como um dia a espuma fez a estrela se apaixonar.
Tendo resultado desta paixão, um ser diferenciado.
Fruto de um sonho realizado, que foi a estrela do mar.

Por isso hoje eu posso escrever essa poesia
e através da natureza, falar do amor que habita em mim.
Assim colocar em palavras e versos o meu sentimento,
anunciando que toda tristeza, na minha vida teve fim.

Foto de Maria Flor e Rabiscos

"Ser Poeta"

Ser Poeta
é ser um louco.
Conversa com a lua,
chora com as estrelas.
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Despe-se da hipocrisia,
fala até com ironia
da falta de compaixão,
que já não emana do coração...
.
Como trovador errante
debruça-se até na ponte,
para admirar o vento constante...
Declama poesias para o ébrio,
conta piada em soneto...
Brilha mais que estrela cadente
quando ama e esta contente...
.
Ah! Ser Poeta!
É pedra bruta sem ser lapidada.
É correr atrás do vento,
é brindar o amor
com a espuma do mar.
É sorrir como criança,
é brigar esbravejar...
.
É ser terno e caridoso é andar perdido na noite...
Ser Poeta e dormir em campo florido
tendo como cobertor o brilho das estrelas,
É sorrir apesar da dor...
.
Ser Poeta e ganhar um beijo do
amigo beija-flor...
Roubar uma flor para
declarar seu amor...
.
Ah! Ser Poeta é sofrer sem sentir dor...
.
Maria Flor!

Foto de Maria Goreti

O PRIMEIRO SOUTIEN

Ah!
O primeiro soutien...

Menina-moça,
Flor em botão,
Beleza rara...
Mulher! Por que não?

Criança que cresce,
Metamorfose...
Quadris alargam
Seios aparecem.

Envergonhada encurva as costas,
Tentando esconder o que a torna ainda mais bela.

Mãe orgulhosa, porém preocupada...
É preciso protege-la da rapaziada.

Sai apressada, vai ao magazin
E compra pra filha um belo soutien.
Daqueles rendados...
Laços de fitas...
Recheados de espuma.
Afinal,
Vai demorar algum tempo
Para comprar outro igual.

Emocionada o entrega à filha.
Ficou lindo!
Que maravilha!

Mas o bico afunda...
Tristeza profunda!
Enche-o de algodão...
Que decepção!

Aquela renda espetando,
Os laços se desfazendo,
O bico da espuma afundando...

Ainda assim, ela - a menina -
Vai para o colégio.
Soutien novo... Que privilégio!

As amiguinhas enciumadas...
Os meninos a enxovalhar...

Volta pra casa,
Abraça a mãe a chorar...
E assim, abraçadas,
Chegam a uma conclusão:
É porque tanto nos entristece,
Que o primeiro soutien
A gente nunca esquece!

Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES - 25/09/06

Foto de Maria Flor e Rabiscos

Algodão Doce...

Doce...doce...
Doce de algodão doce.
como nuvem branquinha,
como espuma do mar.
Menina de trança comprida,
com fita branca a enfeitar.

Ah! Foi só lembrança.
Saudade da minha infância,
que veio com a brisa,
feito doce...doce...
Doce de algodão doce..

Foto de PoderRosa

Felicidade

Felicidade

Olhar o céu azul
Ver as ondas do mar
Pisar na areia fofa
Sentir na pele, o ar
Olhar crianças brincando
Flores se abrindo sem parar
Pássaros brincando no ninho
Cheiro de brisa do mar
O sol iluminando a manhã
O frescor da água salgada
A espuma indo e vindo
E eu, sempre sorrindo.
Percebendo a felicidade
Correndo pelo tempo
E a mão de Deus
Repousa no meu pensamento
Agradeço a cada dia
Por ter olhos para ver
Coração para sentir
E mãos para escrever

Foto de Sonia Delsin

LONGA ESPERA

LONGA ESPERA

Tive de volta tua boca.
Teus beijos ardentes.
Teu corpo ao meu tão estreitado.
No sonho tenho de volta o passado.
Tuas mãos arteiras.
Ah, tu tens mãos feiticeiras!
Como elas andaram na minha pele macia!
Como me trouxeram alegria!
Rolamos na areia do tempo.
À beira-mar o nosso amar.
Sob o céu estrelado.
Meu amado.
Lembro tudo.
Nossos banhos de espuma...
Nós dois na cama rolando...
Sei que vivo sonhando.
Mas vou passar o resto da vida te amando...
Esperando.

Foto de Joaninhavoa

Teu beijo

Meu pensar vive no teu
sentir que é a luz
do meu!.. Guia que reluz
nascente criadora do "eu"

Meu "eu" que é sentimento
bruma do mar a beijar de espuma branca de leite a voltar em pr`uma
onda leve e solta d`um pensamento

Me diz qual é a raiz
de um pensamento livre
como o vento e é feliz?!?..

Perfeito!.. teu beijo tocado,..
sentido,.. vivido,.. desse jeito,..
Ninguém antes havia feito!..

JoaninhVoa, em
24 de Outubro de 2007

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