Quem daria por seu sonho um vintém...
E poria em suas mãos vazias
um raio de esperança, um querer-bem...?
Quem jogaria na fonte das suas entranhas
um desejo metálico de se perpetuar,
onde não ousem tocá-lo mãos estranhas?
Quem vestiria o poeta da própria nudez,
da própria luz e da própria prece...
E que beijo habitaria a sua prenhez?
Que tez mordida seria, branca, seu agasalho,
quando a brisa trouxer o hálito refrescante
sobre as estrelinhas que habitam o orvalho?
Já é feliz esse pássaro sonhador,
que não cabe no peito por queimores agrisalhado,
nem na fibra sua, íntima das dores do amor.
Já é feliz essa tão nua mulher, enquanto vem
no passo do sol, rico senhor do tempo,
trazendo guardado, tépido, seu túrgido vintém.