Drama

Foto de RenataSchwengber

Desordem.

Não tenho mais a paixão, a faísca, a dor
aquela que me inspirava em sofrer de certa maneira.
saudade daquele amor virtual,
daqueles tormentos, daquela dor verdadeira.

Agora eu tenho o efetivo, o cru, o cruel
o que vem com toalha molhada em cima da cama
o que vem com roupas sujas e cheio de drama.

Não tenho mais aquele amor perfeitinho, maquiado,
arrumado para sair num encontro rápido e descompromissado.
Agora é amor de pé no chão, roupa rasgada e cabelo molhado.

Não tenho mais aquele amor escondido, às escuras,
tão discreto, misterioso, sempre prestes a se revelar.

Tenho o amor escancarado, desmaquilado
à vista de todos e em nenhum lugar.

Tenho amor estacionado, parado,
que não avança nem regressa.
Que não vai nem vem

Não mais aquele amor movimentado, tão aguardado,
com desconhecidos tão inexplorados,
no meio de tantos e com ninguém.

Cheguei num amor passivo, inativo, resguardado
de um amor ativo, ligado e não nomeado.

Não sei pronunciar teu nome,
sai estranho, sai alheio.
Supostamente não te chamei
e quem sabe por isso tu nunca veio.

Nunca vou ter certeza, pois não sei.
Já perguntei, mas não ouvi.
O amor que tu sentia era por mim ou só por ti?

Foto de Jardim

escura bruma que a noite produz

escura bruma que a noite produz,
o vazio neste bar perdido
em uma rua perdida.
minhas lembranças mais secretas
são estrelas caídas
de um céu sem piedade.
querendo ou não
sou parte deste drama
que a vida usa para dar
um sentido mais trágico
ao cotidiano.

como quem aguarda
os passos intermináveis das horas,
destilo silêncios, respiro surpresas,
fantasiando meus impossíveis
e recolhendo meus absurdos.

não há mais motivo ou propósito,
estou sobre um campo minado
à deriva pelas esquinas
dos meus próprios desvarios.
sílabas mortas, frases rotas,
monólogos
que pronuncio ou mesmo que calo
envoltos nas pétalas aveludadas
das flores da ilusão.

abro meus olhos cansados com esforço
e sinto um peso no ar, nas chamas
das minhas fomes.
desassossegos, abandonos indiferentes
aos mendigos que comem lixo nas praças.
tristeza com hálito de ribaltas antigas
de um teatro em ruínas,
abandonado a segredos densos,
alcovas gélidas onde perambulam
anjos deserdados.

alimento dragões
nestas noites de junho,
subverto a pauta do desejo,
bebo a doce violência
que escorre pelas ruas.
sou como o silêncio que habita a cidade,
desato nós, silencio desordens,
ouço os rios, dobro o riso, as blusas
como se dobrasse o tempo.
surpreendo os vazios, escuto gemidos,
recorto os versos
de qualquer santidade.
despertenço, desinvento a palavra amor.

Poema do livro Diários do Desassossego
A venda em http://sergioprof.wordpress.com
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Foto de Avila Monteiro

culpas

Fui cúmplice, insolente, imperdoável,intolerante e assim vivi um drama. Deixei de ser a musa amável, deixei de ser a poetisa que se ama.
Fui crítica e vivi um pesadelo, em etapas que pareciam sem fim. Desisti, sou assim, tive medo! Não é dessa forma que trarei você pra mim.
Fui frágil e paguei pelos meus atos, não vigilante, o que me levou a nada.Eu precisei, já respirei muitas angústias, batalhei, perdi! estou cansada.
Me dissestes que fui muito impaciente, aceitei reconheci-me como uma errante, talvez falei tudo que veio na mente, levando embora a nossa última chance.
Não resisti! Não resisti! e por toda a vida irei me culpar, mas vou lembrar do dia que te conheci, só não carrego a culpa de tanto te amar.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Stalker

Você quer me humilhar?
Pois bem
É o que eu vou lhe dar
Se esse é o mal que te convém

Se você tanto reclama
Só porque um homem te ama
Então vou me resguardar
Pra não te incomodar

Só porque ama você
Mesmo quando não te vê
Vai querer ignorar
Em dizer não se importar

E pra mal te acostumar
Outra vez vou me inspirar
Outra vez vou fazer drama
Inventar mais uma trama

Pra não perder o costume
Mesmo sem o seu perfume
Logo vou finalizar
Outra vez em poetar:

Eu vou me declarar
Quantas vezes precisar

Eu vou me declarar
E não vou me melindrar

Eu vou me declarar
E isso tem uma resposta

Eu vou me declarar
Porque eu sei que você gosta

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro - Capítulo 11

Outro dia eu estava andando pela rua, e vi um monte de coisas que nada me acrescentaram. Eu vi uma mulher cega, andando com uma bengala. Vi um oleiro fazendo um pote. Um macaco pulando de galho em galho. Um barco com duas pessoas, num rio sinuoso. Uma casa muito engraçada, com seis janelas. Um casal se abraçando, não sei se amavam, mas abraçavam. Um homem que foi atingido, um homem dramaticamente atingido, com uma flecha no rosto, uma brutal sensação. Um bêbado com uma garrafa, seu desejo, vontade indefinitiva. Um homem com uma fruta, uma maça, uma pera, sei lá, o cara estava apegado com uma fruta vulgar e substituível. Uma mulher grávida. Uma mulher dando a luz. Uma pessoa carregando um cadáver. Uma roda. Três venenos. Seis reinos. Um vai e volta que encarnava e desencarnava até dizer chega.
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- Eu sou a Discórdia. Eu não vim para explicar nada. Eu simplesmente aconteço. Eu sou também a vida, às vezes, pelo menos na parte ruim dela quando você está meio sem sorte, ou quem sabe, quando está muito bem. Eu também sou o cara que passou uma porção de coisas sem precisar e agora fica resmungando ao mundo as nossas verdades desnecessárias, como se as necessidades também não passassem com o tempo. Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar. Eu moro em qualquer lugar.

Eu sou o Dimas, nessa história. Mas na vida real eu sou pior. Eu sou um sonso. Eu sou um cínico que finge saber o que preciso e descartar o que não quero. É claro que tenho qualidades. Tudo depende do ângulo no qual se enxerga as situações. Ser ruim é uma qualidade? Até onde você vai para ser feliz? Engana-se você que ao ler isso pensa que eu falo de respostas. Esse é uma história de perguntas. Habilita-se em respondê-las? Eu até responderia, mas prefiro te provocar. É o que você faz sempre também, mas não admite. Eu estou ganhando tempo me perdendo em continuar, cada inspiração e cada expiração é uma declaração ao mundo que estou aí e vou persistir, enquanto for possível, ou aceitável. Recorda o que te disse e você nem percebeu.
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- Clarisse, eu vou aproveitar que você está fingindo que está me escutando e te falar tudo o que sinto. Eu vou te fazer a maior declaração de amor que você já recebeu. Eu farei como Dante, com menor qualidade, mas não menos paixão. Eu vou contar tudo o que ocorreu sem mencionar o seu nome. Eu vou dizer como você, como os outros são, vou rasgar o verbo sobre tudo o que me está sufocado. Se você gostar mais do que o maldito te disser, azar seu. Se repercutir, ótimo. E quando tudo acabar, eu vou embora sem explicar nada. Eu vou ser feliz com o pouco que me cabe nesse latifúndio. É como eu sempre faço e como a vida sempre acontece. Que se dê o drama!

E você não me rendeu nenhum milésimo de atenção. Fez bem. Se prestou nota nesse momento, lamento.
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- Eu vou ficar aqui.

- De toda forma vou embora.

- E ela?

- Fica comigo até se cansar e procurar outro cara.

- Eu não me importo.

- Eu também não.

- Eu não sou má. Eu fiz apenas o que era o melhor.

- Fico feliz por você.

- Eu também te amo, de certa forma.

- Isso é você que está dizendo.
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Nós somos jovens. Enquanto estamos vivos somos jovens. As possibilidades de se estar vivo são infinitas. As fichas não acabaram. As fichas não acabam até se estar morto. O que interessa não é se eu vou te amar para sempre ou até a próxima esquina, mas sim o encontro das almas que acontece nessa realidade, a pele que se inflama com os impulsos elétricos e quase enigmáticos do amor e da consciência, os mistérios da fé e da religião, da profanidade, do brilho do seu olhar.
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- Esse traste vai logo ou não vai?

Chegará enfim o último capítulo.

Foto de P.H.Rodrigues

Dante

O Mágico, também é Mimico, que é Ilusionista.
Sendo assim, ele cria, assim como expressa,
o Mágico também sabe mudar a realidade.

O Mágico é Poeta, e o Poeta é Filosofo.
o Mágico faz toda a mágica da vida,
enquanto o Filosofo não indiferente, ensina,
e o Poeta dramatiza.

Dramatiza o drama da Bia que espera no castelo,
o Goblin enfeitiçado para parecer um príncipe-encantado,
tremer e transpirar gelado,
frente a frente ao lendário Dragão Encouraçado.

O Mágico observa como Poeta. E como Filosofo,
espera a hora certa, para agir como um Mimico,
diferente de um Ilusionista, e desfrutar como Dante.

Foto de Carmen Vervloet

Vestes da Alma

Alma... vestida em cores!
Cada cor um drama diferente,
cada emoção uma nova cor.

Se a morte é negra,
e a paixão é vermelha,
uma fita azul adorna a felicidade,
mas a dor amarelecida desfolha tudo,
enquanto teus olhos,
verdes de esperança,
se alongam sobre todas as cores,
que se fundem,
dando vida ao branco da paz.

Alma... Sempre propensa
a mudar de cor,
porque na tua essência
tens o rosa do amor!

Foto de Ivanifs

Meigo e querido amor

Você chegou pelo ar
e tomou minha vida aos poucos
Abraçou meu drama e o fez virar calma

Doce e terno, me trouxe paz
Cativante e com uma intensidade unica
Me fez voltar a escrever poemas

Eis-me aqui sem sono e com saudades coloridas
Inundando as ruas da imaginação
Pois penso agora em ti

É apenas o inicio de algo bom
Meio inconsequente... que fervilha o coração
mas que conserva a pureza de um encontro inusitado

Fique aqui comigo, me faça dormir com teu olhar
Me de um pouco de sua vida pra eu cuidar
Me encante um pouco mais
Me embale no seu sonho

Nunca me deixe só... sem saber de seu sorriso
De seu dia , de seu anseio
Me abraça forte por que eu preciso desse abraço

Me aflige apenas a saudade
Pode repousar em meu coração o tempo que quiser
Coloco á disposição...
E também, se desejar ficar para sempre
Eu não ligo não...

Pode me amar muito...eu permito
Eu preciso e quero muito

Venha ..pega minha mão e me faz feliz agora....

Foto de Arnault L. D.

Fica comigo...

Meu coração, displicente, tem amor por ti.
Sem querer saber que senti, ou se eu me feri,
não consigo ocultar, não menti, e não cabe em si
incondicionalmente... te amo desde que vi...

Eu sei que amo, indiferente eu querer conter,
por todas as horas, que somente, se rendem ao correr,
como as águas de um rio... Tente, com as mãos manter...
Junte os lábios, sente... Bebe-me a boca o dizer.

Amo-te inteiramente, além do prazer e cama,
tu, e a todo que sentis, teu riso, silêncios, ou drama...
Creias simplesmente, se minh'alma tocas te acendas chama,
pois, é fogueira ardente, a luz e o calor de quem ama...

Agridoce, doce e quente, meu corpo ser tua acolhida
e se acordar num repente, zelar se és adormecida
E bendirei a Deus o presente de tê-la em minha vida
És meu amor... Vertente do amor, que me engravida.

És meu amor. Fecundas o amor que me engravida...

Foto de poetisando

Drama

Estou vivendo um drama interior
Que me está a consumir
Não consigo me encontrar
Só me apetece é sumir

A minha vida já nem eu sei
Tenho dias de uma tristeza sem fim
Tenho dias que estou alegre
Não sei o que vai ser de mim

Tento encontrar-me
Pareço um barco no alto mar
Que perdeu a sua rota
Que não sei como me encontrar

Alturas sou um autêntico vendaval
Outras de tamanha felicidade
Horas de tantas amarguras
Que não sei se é crises da idade

O passado não o esqueço
É coisa que não consigo
Vejo-o a toda a hora
Não sei que se passa comigo

Passo dias e até noites
A sonhar com o passado
Quando devia estar esquecido
Dias que passo atormentado

Não vejo chegado o dia
Que a morte me venha buscar
Para eu ter sossego e paz
A alma e o coração descansar

Vivo este drama sem fim
Que me está a corroer
Não consigo encontrar-me
Porque não antes morrer

De: António Candeias

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