Dia

Foto de LuizFalcao

"Fica em Paz"

De Luiz Antônio de Lemos Falcão

Ao recolher-me, ainda forte o vazio,
Herança da ausência tua!...
Deitado, as memórias não me permitem um repouso.
E como dói essa presença que tais memórias me trazem!...Esse vazio tão cheio de saudades!...
E nos teus lugares preferidos, e em cada canto da casa, sinto-te ainda tão presente!...
Vejo passares de um cômodo ao outro nos teus afazeres diários e rotineiros,
E o cansaço que nos últimos dias, te afligia o corpo enfermo.
Vejo no rosto estampada a tua tristeza e no olhar as tuas alegrias que são os teus amores, os teus rebentos.
O Olhar teu, desvendando os segredos dos olhares nossos, decifrando-nos os sentimentos.
Das mãos tuas, o calor intenso do amor que nos aquece o coração.
Sobre as nossas cabeças, as mesmas mãos nos ungem de bênçãos,
E com orações protege-nos o teu amor, movendo o céu, o dedo de Deus ao nosso favor.
Longe, em nossa infância, vão buscar-te mais lembranças trazendo-te pelas mãos.
Novamente aos nossos ouvidos a doce voz do passado que embala o sono,
Ao mesmo tempo em que corrige os nossos erros com severas advertências.
Sinto no rosto, os peitos que naqueles dias mataram a minha fome,
Teu cheiro me faz descansar seguro.

Memórias!...
Levam-me de um lado para o outro e em segundos, tantas lembranças!
De tantos sorrisos, de muitas lágrimas, de esperanças e de força, muita força...
Quanta força em tão frágil ser!...Quanto ser em tão frágil corpo!...
O corpo... Cárcere, sofrido, doido!...Cansado de viver!...
Exausta, minha alma não descansa, e novamente vêem as lembranças.
Tão tristes... doídas...recentes! Novamente me põem diante da pedra fria.
Pedra... Aonde o teu cárcere envolto em mortalha, me fez chorar.
No desatar das amarras, descobria o corpo nú, ao qual novamente cobri com teus melhores vestidos.
Debrucei-me sobre o peito, ainda quente, do corpo pálido e inerte.
O coração em silêncio não fazia mais fluir em tuas veias a minha vida rubra.
Enquanto te olhavam os olhos meus, meu coração perguntava por ti:
Onde estavas minha vida? Para onde foras minha querida?
Onde estava o consolo de tua presença vívida?
Confuso, incrédulo da ausência tua, desesperava-me a saudade.
Saudade!... Salgada, molhada, brotada da lamina dos olhos, dói no peito, rasga a alma!
Quanta saudade se pode sentir, sem sufocar, sem morrer?
Quando enfim, com voz embargada e tremulante pronunciei a palavra adeus, ouvi em meu íntimo tua voz de criança dizendo-me:

“Não sofras...Fica feliz! Estou transpondo os portões da cidade dourada! Minha cidade amada...Meu lar! Vejo todos. Os que amo, me aguardam. Entre eles, o mais Amado! Nos braços Dele, do meu Senhor, de toda luta e dor, de toda lágrima, enfim... Descansar! Sei que sofres, pois também já senti essa dor, mas creia em mim...Tudo passa! O tempo é como a água que escorre entre os dedos e logo se vai. Há de chegar o dia em que estarás transpondo os mesmos portões e eu...Eu também estarei lá aguardando para te abraçar e tu estarás feliz assim como estou agora. Então, viva o tempo que tens da melhor maneira. Viva com intensidade cada segundo, cada momento até que chegue o nosso dia de estarmos juntos outra vez. Fica feliz! Fica em paz!”

E nesse consolo que não consola, novamente me vi chorando num misto de dor e de raiva...Tanta raiva!
E tanto amor! O amor que vinha do fundo das entranhas e que socava as vísceras até explodir na garganta um canto.
Melodias vibravam as cordas vocais e jorraram como um rio não represado, posto que os olhos secaram como a terra sem chuva.
Meu lamento era sonoro. E sonora foi toda aquela noite!
Enquanto outros velavam seus mortos, as notas sofridas fluíram alto... Muito alto na madrugada!
Meu corpo tremia levitando o meu lamento! Elevei as alturas minha dor em cânticos de amor e de saudades.
E nesse instante viajei pelo tempo. No passado distante e no recente.
E lembrei de tudo o que foi e não seria mais.
Pensei nos cantos vazios da casa. Nos olhares que estariam ausentes.
Nos sons dos sorrisos. Nas brincadeiras. Nos beijos molhados em minha face.
E na voz que sempre ouvia abençoar minhas partidas: “Deus te abençoe e te traga em paz”
Enquanto contemplava teu rosto em profundo sono, ouvi em meu espírito novamente ecoar as palavras:
“Fica em paz!”... “Fica em paz!” “Paz!...”

Estas últimas, porem marcantes lembranças, gostaria de esquecer e guardar apenas aquelas que sempre me farão sorrir, mais a vida não é toda feita de momentos felizes apenas, nem de presenças perpetuas, mais com certeza, alegres ou tristes, sempre presentes estarão as lembranças, e nelas mamãe querida, comigo sempre estarás, por onde quer que eu vá. “Te amo”

Em memória de minha mãe Maria de Lourdes Lemos Falcão.
De Luiz Antônio de Lemos Falcão. Rio 19/11/1998.

Foto de Sonia Delsin

PARA PODER PARTIR EM PAZ

PARA PODER PARTIR EM PAZ

Estou construindo um barco.
Forte embarcação.
Construo com todo amor do meu coração.
Vou atravessar o mar.
Não posso naufragar.
Estou construindo o barco dos meus sonhos.
Ele é tão bonito.
Como antigos sonhos de grandes desbravadores.
Atravessando os mares vou esquecer todas as dores.
Vou partir.
Estou construindo... preparando.
Se o dia da partida está chegando?
Ele sempre chega para todos nós...
Não digo que será amanhã que parto.
Nem depois.
Pode um tempo levar.
Mas estou a preparar.
Porque acredito na continuação da vida noutro lugar.

Foto de Thyta2000

Atrás de uma saudade

Atrás de uma saudade
By Thyta

Sinto a vida se afastando.
Sem cansar essa angustia
Dia e noite corrói,
Queimando lentamente
Cada parte do meu ser.
Vontade de ao seu lado estar
Com brincadeiras bobas
O teu sorriso ganhar
Falando de medos,
Confessando desejos.
Pra de novo em tua historia estar.
Mas os pensamentos
Voam como o vento
Dobram esquinas
Rodopiam, sem parar
Cobrindo toda minha face
E uma nevoa não me permite neste sonho voar.
Atrás dessa saudade
Descubro a emoção que nasce no silencio
Como a neve no inverno
Como a chuva e o orvalho na noite fria
Impenetrável
Mas oculta refletindo em mim...
Sigo a viagem vivendo desta ilusão,
Escondida, pequenina, fragil...
Mas com as lembranças que a noite,
Somente à noite
Surpreende o tempo
Acalentando meu coração.

Foto de Osmar Fernandes

Quem não trata bem, o bem, de noite não tem...

Você fala por aí que não me ama...
Mas, volta pra casa e me beija e me seduz.
Quer fazer amor, como sempre, em minha cama.
Sua maneira de agir não me conduz.

Você diz tanta tolice sem pensar.
Depois vem pedindo para eu lhe perdoar.
Cuidado!... Um dia posso me cansar,
Fazer as malas e deixar de lhe amar.

Quem ama, cuida bem do seu amor.
Trata com carinho e zelo e com sabor...
Passarinho voando não tem dono.
Já não aguento mais esse abandono.

Cuida de mim como eu lhe amo!
Coração desiludido bate asas e foge também.
Fica esperta... Não me deixe mais sozinho.
"Quem não trata bem, o bem, de noite não tem!..."

Osmar Soares Fernandes

Foto de Sonia Delsin

LÁ VAI O TREM

LÁ VAI O TREM

Lá vai o trem do destino.
Lá vai o trem.
No trem vai o menino.
Vai o menino...
Vai.
Vai cantando, vai deixando...

Para trás tudo que foi me encantando.
Para trás ele vai olhando...
Como quem se despede pra sempre da amiga que ficou.
Lá vai no trem do destino o “menino” que sempre me emocionou.

O tempo para ele nunca passou.
No coração ele conservou...
A pureza.
A beleza de uma alma criança.

Lá vai o menino cantor, o menino tocador.
De pandeiro, de bandolim, de violão.

Tocador de coração.

Choro ainda, mas sei que ele precisava partir.
Que era sua hora de ir.

Lá para onde ele foi deve existir um palco.
Um palco todo iluminado para recebê-lo.

Será que um dia ainda vou vê-lo?

Sentir seu abraço.
Dançar.
Escutar.
Ele dizendo.
Meu amor!

Era amor-amizade.

Zé, você deixou um caminhão de saudade.

Foto de LuizFalcao

"A VIDA"

De: Luiz Antônio de Lemos Falcão - 20/06/1998

Dormi um sono como poucos não durmo.
Adormeci de uma realidade cansada, exausta e sonhei.
Seria mesmo um sonho?...
Na verdade não sei!...
Se dormindo ou acordado não importa, apenas sei que não estava em mim.
Por onde estive, sei, não era aqui.
Um lugar de pradarias!
Ao longe uma floresta.
Andei por estradas de barro e achei um lago.
Tudo era bonito, lindo mesmo!...
Eu vi um menino brincando.
Eu vi o verde.
O verde corria por baixo dos pés do menino!...
Ouvi o vento.
E uma brisa brincava com os cabelos daquela criança.
Ela sorria!
As faces, rosadas.
A alegria era sua hospede, ou quem sabe? Senhoria!...
Eu vi a vida!...
A vida corria livre nas pradarias.
Eu vi o lago, e vi suas águas abraçarem a vida.
A vida que havia naquela criança, naquele menino de tanta alegria.
E olhei, e procurei.
E a vida? ...E a vida?... E a vida?...
A vida que havia, não era mais!...
A vida que foi, se foi em paz!..
E o lago?...
O lago!..
Ele sorria!...Sorria!...E sorria!...
E olhei, e vi no fundo do lago a vida brincando.
Ela se movia entre as pedras, entre as algas.
Nas mais variadas formas, era a vida, que um dia criança, não era mais.
Havia crescido, se espalhara na superfície do lago!
Sobre a terra firme!
No vôo das aves!
Numa revoada de andorinhas!
No amor entre os casais!
No choro das crianças!
Na serena paz!

Foto de LuizFalcao

Minha Helena

De Luiz Antônio de Lemos Falcão.

Meus olhos, minhas janelas!
Lá fora a vida punge urgente,
Agita-se,
Segue em frente!
Fora de mim, o farfalhar do arvoredo ao vento,
Traz em murmúrios da natureza, uma melodia singular!
À luz do sol, dançam as flores no vai e vem que a suave brisa conduz,
Exalando os odores primaveris!
Expelem no ar incontáveis, minúsculos grãos de vida; o pólen.
Pétalas multicores e exuberantes tornam plena a íris dos olhos

Meus olhos, minhas janelas!
Atrás deles minha alma sorri.
Felicidade!
Tudo é festa no intenso azul do firmamento.
Pássaros enchem de vida as cópas verdejantes,
Entre galhos retorcidos a vida não brinca;
É palha no bico!...
É palha nos ninhos!...
É palha nos ovos!...
É a vida na palha!...
Doces acordes da primavera!

Meus olhos, minhas janelas!
Expulsam-me para fora,
Puxam-me para dentro da vida que vibra num palpitar veemente;
É brisa que passa por entre os fios dos cabelos,
O dourado dos raios de sol, que vazam as folhas das arvores e
O toque quente dos seus afagos à pele.
Amor! Paixão! Sedução!
O carinho das gotas de chuva de um dia assim.
O desejo de um simples querer;
E assim, eu saio de mim.
E de mim, a tristeza alça seu vôo pelas janelas,
Olhos da minha alma.

Meus olhos, minhas janelas!
Diante deles a primavera!
O colibri!
O raio de sol!
A chuva serôdia!
A amiga minha!
A Minha Helena!

Foto de LuizFalcao

"LIBERDADE"

De Luiz Antônio de Lemos Falcão em 01/06/2004.

Qual pássaro que ingênuo pousa para comer o grão,
Que por mais arisco que seja em laço se vê.
E assim, qual pequena ave engaiolada, a “Liberdade” finda,
Na rotina do não e do sim;
E do talvez;
E do quem sabe;
E do não sei.

“Soltai-me, peço-vos, para a vida lá fora!”
Implora a “Liberdade” tristonha, agitada nas grades da gaiola!
Seu clamor é a bela melodia que todas as manhãs antes de raiar o dia,
A todos na casa acorda,
Vibrantes, belas e inúteis notas,
Flutuam no ar sem resposta.
Não há quem entenda tratar-se de uma súplica!

E assim, chora a “Liberdade” em todas as manhãs de todos os dias,
Exceto um.
O canto súplice termina...
Pobre “Liberdade”!
No chão da gaiola cansou de cantar!
O suplicatório em notas sufocou na garganta!

Não salta mais “Liberdade” em seu pequenino cárcere dourado!
Caída no fundo de sua injusta prisão,
Jaz inerte a ave graciosa.
Dos olhos vívidos extinguiu-se a luz.
Jamais verão novamente os galhos da arvore onde nascera.
Nem suas asas em surf planarão nas ondas do vento.
Nem seu canto encherá de notas harmoniosas o firmamento.

Morreu!...
Morreu mesmo a “Liberdade”?
Desistiu do seu brado a poderosa ave?
“Liberdade”!... “Liberdade”!... “Liberdade”!...

O grito de “Liberdade” não pode morrer!
Enquanto houver quem sonhe com ela,
Enquanto existirem encarcerados,
“Liberdade” será “Esperança”,
E “Esperança” tornar-se-á “Vontade”
E “Vontade” será novamente “Liberdade”.

“Liberdade” alçará um vôo ainda mais alto e mais livre.
Planará como a águia,
“Liberdade” nunca mais cantará o canto dos aprisionados,
Nunca mais ao chão pousará para comer o grão.
Arrebatará ainda em vôo suas presas,
Elevando-as as alturas, alimentando-se dos sonhos e dos anseios!
Avolumando seu canto em ondas sonoras que se espalham no ar,
O brado eterno que ecoa nas almas humanas!
Seu ninho estará nos altos rochedos.
Contemplando a planície dos campos,
As copas das matas, o leito dos rios e as ondas dos mares.
Não haverá limites além do horizonte para a fênix ressurgida,
Reerguida das cinzas da morte.
Senhora dos céus, novamente livre a amada “LIBERDADE!”

01/06/2004.

Foto de Osmar Fernandes

Por decreto divino

Você é meu fetiche,
Meu êxtase... Tão distante.
Meu delírio, meu capricho,
Meu prazer insinuante.
Olho nos seus olhos cor de mel,
E sinto uma pureza de cristal.
Você é o meu destino mais cruel.
É o meu sonho irreal.

É minha polução noturna.
Sou louco por você - tigresa.
Você é minha doce loucura.
Nunca me disse não, com franquesa.
Meu grito de amor tá preso na garganta.
Você me consome todo dia...
Sou seu escravo nessa ciranda.
Essa história não está vencida.

Eu sei que você anda por aí, a me procurar.
Quando me vê se acanha e se recolhe à casta.
O seu segredo é o medo de me amar.
Vamos jogar o jogo, senão desgasta.
Não adianta fugir do que está escrito.
Você é minha por decreto divino.
O nosso amor está prescrito...
Você é meu sonho, eu sou seu destino.

Osmar Soares Fernandes

Foto de Herlânder Lobão

A Estrela e a Sementinha

Para compensar quando o olhar verte saudade,
vemos a estrelinha a brilhar com mais intensidade...

Entardecia. A menina olhou o imenso e límpido céu. Parecia que as nuvens, que constantemente por ele viajam, se tinham abrigado todas no seu olhar. À sua volta rodopiava a lembrança do dia em que tinha perguntado: "Mãe de onde vêm os meninos?"
Tinha passado muito tempo, mas naquela hora era como se tivesse formulado a pergunta naquele instante. E então viu e escutou:
_Deus, sempre que uma senhora está preparada para ser mãe, retira um pouco do brilho do seu olhar e planta-o no céu. Desse brilho nasce uma estrelinha e seguidamente, de entre vários escolhe um bebé ainda do tamanho de uma sementinha, coloca-o na sua mão e delicadamente sopra-o com o vento do amor em direcção à estrela. Embalado por esse vento divinal, o bebé, logo que chega à estrelinha, começa a deslizar pelo raio de luz em direcção à terra sendo guiado pelo mesmo brilho que está no olhar da mãe. Ao chegar, aloja-se no seu ventre. Ela, já imbuída do seu maternal amor, enlaço-o com o cordão da vida e protege-o até que a sementinha cresça e esteja pronta para florir.
Essa estrelinha ficará sempre no céu como se fosse o segundo olhar da mãe. Tudo quanto ela não possa ver para proteger o seu bebé, a estrelinha, sempre vigilante, vê e envia através do sentir, uma mensagem à mãe. Ela será a sua estrela guia para toda a vida. Estás a ver aquela estrela lá no céu que se distingue das outras?
E acenando com a cabeça em sinal afirmativo, a menina continuava a escutar a voz da sua mãe:
_ Aquela é a tua estrelinha!
E realmente parecia igual em brilho ao olhar da sua mãe…
E continuou a escutar:
_ Se um dia Deus precisar de mim e me chamar para junto de si, eu deixarei na tua estrelinha todo o brilho do meu olhar, para que ela possa proteger-te melhor…
Com uma nascente de chuva no olhar a menina constatou que, afinal, era bem verdade o que a sua mãe lhe tinha contado.

Naquele dia, lá no alto e imenso firmamento, a sua estrelinha brilhava com muito mais intensidade...

Para os que têm no céu a sua estrela a brilhar mais intensamente…

HerLânder Lobão

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