Destino

Foto de Pré-seleção para coletãnea anual

Pré-seleção Cesare

Sua alma em minha mãos

Recebi sua ALMA em minhas mãos
Talvez por isso não contive a emoção
Chorei... lágrimas de amor...
E choro cada vez que a descortino
Sem qualquer pudor.

Cada vez que a leio e releio
Parece certo o meu destino
Lendo cada poesia ou soneto
Leio versos de você
Tristezas e alegrias, medos e angústias,
Quem não os têm?

Mas poeta é mesmo assim
Deixa fluir o sentimento,
Que surge a todo o momento,
Sem que nunca tenha fim.

Hoje, reli você inteira...
Abri cada página de sua vida.
Ri... chorei... emoção que não segurei...
Preferi deixar aflorar – é vida vivida... sofrida...
Em minhas trêmulas mãos,
você nua em prosa e verso...

Sem qualquer pudor, você se entregou faceira
Emocionou-me, abriu sua vida inteira
Em minhas mãos, ainda suadas...
Cada palavra que te leio,
Fico extasiado, menina,
Pois, a cada dia, você me fascina.
Cesare – Sexta, 23/03/2007 – 19:01

Foto de Carmen Lúcia

Bate,coração!

Coração,és quem ditas as regras do meu viver,
Transgrides as que governam o meu saber,
Porque sabes bem o que há dentro de mim
E tuas leis são as que eu quero cumprir
E me perder, talvez, no emaranhado do prazer.

A razão diz não!Tento evitar, mas te ouço baixinho...
-Vai...segue por outro caminho,foge do teu destino!
Persegue o que estás sentindo...Vive a emoção!
Intensamente, literalmente...Esquece a razão!

Então sigo desafiando a vida...
Ousando,amando,sorrindo,sonhando,
Às vezes me lamentando,tropeçando,me arrebentando,
Em outras me extasiando,me saciando,me vangloriando
Ou me ressarcindo de um bem que perdi.

Se eu me amedrontar,bate mais forte,
Só pra lembrar que tu comandas minha sorte,
Que imperas ante a razão,multiplicando emoção,
Que acende a vida,faz esquecer a morte.

Bate,coração,freneticamente em meu peito,
Faze- te ouvir quando eu pensar que já não há mais jeito...
Arranca-me do leito,se porventura eu me abater,
Devolve-me a ânsia e a vontade de viver!
Me abriga,faze-me apaixonar de novo pela vida...
Não esmoreças nunca...Bate,coração!!!

_Carmen Lúcia_

Foto de Fernanda Queiroz

Voar...

A paisagem passa depressa
Patas velozes rasgam o caminho com flecha
Diminuindo a distância entre mim e o mundo
Meu corpo se eleva em ritmado balanço
Pés firmes desprovidos de açoite
Mãos apertadas junto ao cabresto livre
Desprovido de freios
Ganhando liberdade
Correndo para o mundo
Ou do mundo fugindo
Correndo contra o tempo
Ou do tempo fugindo
Fugindo de mim
Ou do que restou de mim
Apenas vultos em minha paisagem
Cores se confundem
Cinzentas se agitam ou gritam
Como se tivesse vozes na cor
Como se entendesse de dor
A velocidade aumenta
Voar é minha meta
Mais depressa
Tenho pressa de chegar
Mesmo que seja o abismo
Meu destino certo
Onde tudo é incerto
O ar que foi brisa
Tornou-se vento
Que mesmo em tormento
Calça-me de coragem
Tira a dor de minha bagagem
Preciso continuar
Fugindo de mim
Ou do você que existe em mim
Do meu passado presente
Ou do meu presente passado
Do meu vazio intenso
Onde transborda solidão
Apenas por um momento
Senti a sensação
Que seguravas em minha mão
Mas eram as rédeas do destino
Que se encarregou de atá-las
Que fecundas como as marcas
Batentes cravadas no solo
Impõe-me o peso real
Da realidade mortal.
Eu não posso voar.....

Fernanda Queiroz
Direitoa Autorais reservados

Foto de Lou Poulit

Vida Longa aos Escritores!

Todo o meu trabalho artístico, artes plásticas e literatura, é o resultado de longos anos de um tipo de solidão pouco conhecida, docemente imposta pelo espírito da arte. Parece absurdo? Asseguro que não é. Se observarem bem, outras profissões também são muito solitárias.

O pescador que passa o dia e a noite no mar, por exemplo, só pode conversar com o próprio silêncio. Ninguém ouvirá a sua gargalhada, caso esteja alegre. Mas ninguém lhe dará um conselho ou amenizará os seus temores em momentos em que, pela própria solidão, o medo se apresenta concreto, tangível dentro dele. Todo pescador é solitário de alguma forma. Então compramos o fruto do seu esforço, sabendo que é saboroso e nutritivo. E por uma involuntária ironia, raramente o saboreamos sozinhos.

Quantas vezes entramos em um elevador, saímos e não nos lembramos de cumprimentar o ascensorista. Esse é um profissional solitário muito especial. Passa horas infindáveis em um espaço exíguo, por vezes lotado de pessoas que talvez não lhe escutassem, mesmo que mostrasse a elas o que existe no seu silêncio.

Creiam, não há tanta diferença assim no trabalho artístico. E por isso não se julgue o artista, mais que o seu trabalho. Há, entre a transitoriedade de tudo e a edificação de uma identidade artística (desde os seus alicerces conceituais e técnicos até o seu acervo propriamente) uma infindável e caudalosa sucessão de alegrias e tristezas profundas, de certezas frágeis e receios ferrenhos, que ele precisa amalgamar. Isso mesmo, é um amálgama. Todo artista é meio anjo e meio bruxo. Só que paga com a própria juventude a aquisição do seu arcabouço empírico, porque nenhum livro o daria.

Não vejo sentido útil em nenhuma arte egoísta. Nenhuma obra de arte, produto concreto da escuridão do seu autor, tem luz própria! Mas quando a escuridão do artista consegue tocar a do observador, usando a sua obra como veículo físico, aí a luz se faz... Não pela materialidade, ao contrário, pela sua expressão imaterial e subjetiva. O artista plástico trabalha recriando a luz física, muito especialmente os que trabalham sobre planos bi-dimensionais, como os pintores, mas é aquela luz, e não essa, que lhe alimenta a alma voraz.

Me perguntaram se são artistas os anjos-bruxos da arte escrita. Pode parecer um questionamento estúpido, mas tenho o hábito antigo de duvidar do que aparenta ser óbvio demais (antigo postulado dos ascetas da magia). A literatura é uma arte relativamente recente, porque prescindiu do estabelecimento (e, muito depois, da transmissão) de uma codificação gráfica, simbólica, que expressasse claramente as idéias para a posteridade.

Todas as artes expressam idéias, porém, muito antes do surgimento das instituições da justiça, os chefes sacerdotais desenvolveram, declararam sagrada e mantiveram em tumbas e labirintos as chaves da codificação. Vejam bem, embora tão no início, numa época de completo analfabetismo e desinformação, já percebiam aqueles senhores o imenso poder dos rabisquinhos nada caligráfricos que desenvolveram. Poder... Essa palavra tem tudo a ver com a história de sucessivas civilizações. Expressa uma idéia que tem amplitude máxima nas mãos do próprio Deus. Confunde-se com Ele.

Vejam que belo, a arte sempre surgiu como manifestação e meio de acesso ao divino. Ou seja, a escrita nasceu divina! Embora, inafortunadamente, tenha seduzido, por isso mesmo, a natureza egoísta e dominadora do homem. E mantida em cárcere, molestada por alguns privilegiados e seus favorecidos, durante muito tempo.

Vida longa aos poetas e escritores! Acabarão por entender que atribuir imortalidade ao seu amor, está muito além de constituir um mero lirismo. Hoje, a massificação da tecnologia multiplica esse poder, mas entenderão que há, mesmo no amor do menor dos poetas, um ideal divino de resgate. O poeta, esse tipo quixotesco não tem nada de louco, nem seu Rocinante é um pangaré inútil, nem sua Dulcinéia pode ser tão casta!

Sim, os escritores são artistas. Mas não o são como os outros artistas. Eles somatizam muito mais. Seus “eus” são de verdade, são muitos, e todos partilham o mesmo teto! Os escritos se vão, mas personagens ficam com todas as suas vicissitudes. São sacerdotes que sacrificam e são sacrificados, prostitutas que vendem sortilégios mas não compram a própria sorte, chegam a ser o céu de todas as suas estrelas e o mar que se esbate nos rochedos infindamente. Na sua escuridão dores e afagos, gritos e silêncios, sorrisos e lágrimas, não são vistos mas sentidos. Seus orgasmos são íngremes e sua paz pode ser um abismo insondável. Ora em sã penitência, ora uma orgia ambulante. Sempre sem testemunhas humanas.

Apenas os seus textos poderão ser vistos. Escolherão algumas palavras, para usar como uma larga estrada em direção ao seu âmago. Mas logo ela será uma picada pedregosa e um pouco além, não mais que rastros. No entanto, quando suas próprias escuridões forem tocadas, a luz se fará. E não será mais necessário seguir as palavras. Porque sendo elas plenamente compreendidas ou não, o messiânico destino do artista estará cumprido. Mais que isso: a luz da arte estará gravada na memória celular da posteridade e produzirá outras gerações. Ninguém mais julgará a sanidade do poeta... E dirão com muito mais lucidez: “Os poetas não morrem”.

Foto de Zedio Alvarez

Revolta de uma Poesia

Teu poema transmitiu muita revolta,
Através de toda tua essência infinita,
O qual fez do teu coração aberto,
Vulnerável para contrair uma ferida.

As decisões foram contra a tua alma.
Mas não se desespere indo até o abismo...
Por que lá não encontrarás a tua calma,
A mente aproveitará teu inconformismo

Então procure teu anjo da guarda,
Ele te encaminhará ao teu destino.
Reabastecerá teu tanque do amor,
Com o combustível da tua própria dor.

Supere os obstáculos do dia a dia,
Não deixando o malogro se aproximar
Renovando o espírito de tua poesia
Evocando uma nova vida para amar

Foto de Zedio Alvarez

Ai,ai Saudade!

Se um poema perde a sua alma,
Morre por falta de letras
Morre por falta de calma

Deixa-nos órfão das letras
Recebe uma cirurgia espiritual
E se vai o nosso referencial

A nau da nossa escrita fica a deriva
O comando a mercê do destino incerto
Ninguém substituirá a nossa vida.

Quero vir e ouvir sempre a minha musa
Oh! Minha saudade vou te eleger
Porque a minha inspiração te acusa

Foto de André Lajunza

Nem tão pouco sem amor.

Nem tão pouco sem amor.

Em meu peito havia uma esperança
De se cumprir meu destino
Mas hoje não sou aquela criança!
Tem tão pouco mais aquele menino.

Por você escrevi palavras linda e belas
E hoje foi só que mereci
Apenas rosas sem pétalas
Mas com tudo isso não esmureci

Com você tinha uns sentimentos
A toda hora em toda parte com amor
Hoje nem sequer vive em meus pensamentos
E tão pouca uma sofrida dor.

Você me fez dar o primeiro passo
E hoje caminho em passos firmes.
Meu coração não é mais aquele fracasso
E também não quero que desanimes.

Menino hoje não sou mais aquele!
Que um dia você acha que encontrou
Pois esse sentimento nasceu dele
E cresceu e esse amor deixou.

Se você tivesse apenas consideração
Não tinha feito isso comigo
Morava em meu coração
E tinha feito dele mais que um abrigo

Você pensa que tudo isso não foi verdade
Por tudo que fiz e escrevi
Pois tinha em suas mãos a felicidade
Mas com esse amor não convivi.

Seguirei meu caminho
Onde que a estrada for
Não estarei mais sozinho
Nem tão pouco sem amor.

Lajunza

Foto de André Lajunza

Sempre te amarei

Sempre te amarei

Por quantas vezes lhe pedi
Cheguei até chorar
Por cada verso que lhe escrevi
A esse amor lhe implorar

Mas meu amor, esse não te esqueci.
Saiba que tu és a minha razão de viver
Digas-me por quantas vezes mereci
Viver longe do meu bem querer

Por você construirei um castelo
Feito com carinho e amor
O mais lindo e o mais belo
Para minha querida flor

Tu és a minha musa
E assim a cada dia se completa
Esse amor não à ninguém que se recusa
Ou tão pouco ser um poeta

Mas pela a ironia do destino
Foi me afastar do meu coração
Não quero ser apenas um menino
Que venho falar com emoção

Vivi lindos momentos com sua presença
Nada desses foi em vão com certeza
Por você é que meu coração balança
Saiba disso com firmeza

Querida você sabe que a amo
Porque me deixa-te a sofrer
Com esse amor que declamo
Pois tu és a minha razão de viver

Se almenos nesse mundo
Você me deixa-te te amar
Falarei-lhe apenas um segundo
Meu amor não que te deixar

Sem você não existe poemas
Nem tão poucos versos de amor
Que lhe falo sem problemas
Não sou apenas um poeta sonhador

Por mais que possa viver
Dessa musa não esquecerei
Ao seu lado quero prevalecer
Que para sempre, sempre te amarei.

Lajunza

Foto de Stacarca

Aos mortos

Aos mortos

Ó tu, podre que na terra enluta,
Disforme fado no letargo imerso
Da imunda carne a matéria bruta.

Ó tu, resto d'uma modorra, interno
De necrófagos em escôo co'o imundo
endocarpo, ignóbil prazer também?!

Ah, a bicharia, o festim importuno,
Os rins, a vaga, delírio a'lguém.
Qu'importa o patogênico não inútil?!

Se no esterno a dor berra infante,
O intestino o bicho rói, todo fútil;
As mãos, a pele, os olhos errantes.

U'a infecta ferida sempre derradeira,
O úmero falido, o lábio que osculava
Ali em putrefação. - Ó que nojeira.

Restos fecais à alimento aflorava,
C'um exicial fedor à todo vaporoso
De podridão. - Ó destino fatal...

O Coração carcomido. Que horroroso!
Ah! O clangor soa a nota tumbal;
Que baila a turva morte escura?!

- Dance co'o verme ao triste fim...
Em sequaz imerso, e tão enxuta,
O belo vurmo hei a cheirar enfim.

Stacarca

Foto de Lou Poulit

Ao Largo

Ao largo, o veleiro se desabriga

Do sonho frágil do cais viçoso

Olhando a lua, em seu caminho vicioso

Ao rés dos telhados da vila antiga;

Suas lonas, de estrelas abarrotadas

Túmidas vergam amadeirados mastros

Porque não são estrelas, são astros

Que lhes esgarçam de canções desatadas.

Mas são imensos os perigos insuspeitos

De se amar ao largo assim, e tanto

Os olhares plenos vagueiam estreitos

E a boca beijosa já basta ao espanto.

Então, ao cair da lua sobrevem o escuro

No chão da rua, de destino incerto

O poeta mendiga d’alma o pão duro

E uma gota de orvalho que sacie o deserto.

O silêncio da madrugada é soberano

E sob a clava transita a alma em julgado

Pois vem ao mundo para amar, humano

Mas nem tanto, por ser humano, é amado.

O rosto antes plácido agora lateja

O golpe súbito, que à dignidade exila

Mas o mar revolto, de água ainda beija...

O exílio é melhor que a mágoa de ferí-la.

Ao largo, o poeta trama a amada em prece

Se fortalece, recompondo areias suas;

Abarrota de céu suas veias, exíguas

Que o galo já canta... Em breve amanhece.

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