Desconstrução
Assim nasce o dia e passa num rodopio,
Ao arrepio da pele numa vontade cigana.
Desatino vislumbre inerte, destino torto,
Jeito imperfeito de gente abandonada,
Alguém que para estilo nenhum converge.
E nem por irreverencia se deixa governar.
Tem gente inteira, mas folha ao vento.
Sem paradeiro, rumo e sem assentamento,
Nem parâmetro de qualquer sentimento.
Se há muito a voar, vai e perde o assento!
Pergunto cansada sobre horas do nada.
Horas a fio, perdidas construindo ninguém.
Na vida estou longe de Ser alguém concreto.
Por coerência não quero, não sei se é correto.
O correto de gente não é a eterna construção?
Mesmo com obstrução do destino e desilusão?
Gente é obra sem patente, delírio da Criação.
O Criador mais que perfeição buscava o amor.
Permitiu-se deslumbrar e descuidou da criação.
Amou como criou e revestiu o erro de perdão.
Por incoerência, concedeu sem razão - a mão,
Dotada de régua torta e compasso invertido.
Interesse mínimo por uma consciência crítica.
Amou mais, dotou-a de pensamento e animação,
Atrevimento bastante para corrigir a construção.
E num fio de humildade tênue, reza pela cartilha:
Aquele a quem criou por nada de amar deixou.
Apoiado na prerrogativa a criatura rogou:
- Deus por meus erros perdão!
Rosamares da Maia – 03 de Nov. 2016.