Clamor

Foto de Gideon

O Trem da minha sina

O sentido da vida
jamais poderemos saber,
os dias corridos e apressados
jamais poderemos reter.

Observo os outros, próximos,
que ao meu lado movem-se
pelo instinto do viver.
Vão e vêm sem perceberem
que uma sina oculta
cumprem sem merecerem.

Eu também da minha sina
não consigo fugir,
de tudo fiz, de tudo aprendi.
Faculdade de gente rica,
como diziam lá na vila,
profissão de família boa,
que não se consegue à toa.

Pois bem, por mais que tentasse
e tudo fizesse ao meu alcance,
cá estou em pé no trem parador
seguindo obediente pro meu labor.

A trilha do ruído dos trilhos
remete-me às histórias de meu pai,
que cumprindo por si também a sua sina
nos mesmos trens paradores e diretos
apertado e inconformado subia e descia.

Não, não entrego os pontos assim facilmente,
da bolsa de couro macio
saco a caneta e o caderno, paciente.
Anoto as expressões dos pobres coitados
e transformo-os em atores,
essa gente de recursos tão parcos.

Pelo vagão procuro feições tristes
prá rechear os meus tristes escritos,
mas sorrisos ingênuos e olhares candentes
surpreende a minh’alma de poeta reticente.

Volto-me para a minha própria condição,
passageiro desta tão pobre e nobre condução.
Na chupeta pendente agarro a minha mão,
pro balanço do trem não jogar-me na solidão.

Por de trás de meus óculos, disfarçado,
observo Maria de cabelos ondulados
e tosca roupa na moda dos rebolados.
Mastiga um chiclete já meio deformado.

Ela serve, quem sabe,
prá ser a minha heroína dum conto qualquer,
que insisto escondido ali existir,
e naquele cenário tão pobre
tento ainda alguma arte produzir.

Com uma das mãos sustento o caderno
com a outra a caneta retiro do terno.
Próximo à porta apoio as minhas costas.
As histórias de Maria
vou tentando dar forma
com letras tortas.

A sina da vida sofrida de Maria
insisto incluir no meu conto,
mas ela é bonita demais
e distraio-me com o seu encanto.

Um lugar prá Maria, enfim,
não encontro no meu conto.
Contudo logo percebo,
que o personagem que descrevo
sou eu mesmo,
que do trem da Central do Brasil
ainda é prisioneiro.

A sina da vida, insisto,
ainda quero incluir no meu conto.
Mas não é a realidade que de fato vivo?
Pergunto-me com desencanto.

O sofrimento do enredo
que sobrepõe a minha inspiração
vai desfazendo daquele conto
que não consigo continuação.

A minha sina parece que segue
no trem da minha vida
e cá estou de caderno fechado,
caneta no bolso borrado,
observando Maria que com charme
o chiclete ainda mastiga.

O balanço desse sofrimento
atormenta o meu coração
que é solitário de paixão,
Maria, quem me dera,
que prá ter o seu olhar tudo faria
mesmo que fosse por compaixão!

Na estação da Central
o meu sofrimento fita o chão.
O olhar de Maria se foi na multidão.
Meu caderno de escritos agora
descansa triste na minha mão.
Ainda ouço, ao longe, com emoção
o clamor da última pregação.

Anúncios saindo dos alto-falantes da estação
ecoam agora inundando o saguão.
Eu caminho apressado
esbarrando nos braços
de tantas marias
e em tantas mãos.

O poeta desce pro Metrô, frustrado,
e na escada rolante, agarrado.
desvia-se dos braços de esmola, esticados,
pendendo o seu corpo pro lado.

O conto sobre Maria
e o trem dos amontoados
ficarão prá outra viagem.
Quem sabe um dia sem esperar
a inspiração virá
e outras marias com outros penteados
serão heroínas do poeta,
que segue a sua sina
no trem dos desafortunados.

Foto de von buchman

MEU ANJO DO ETERNO AMAR... ( poetrix )

... TIVE UMA GRANDE SORTE NA MINHA VIDA,
ENCONTREI TRES LINDOS ANJOS ...
UMA FLOR ENIGMATICA, CHEIA DE AMOR...
UMA CLARALUNA, CHEIA DE PAIXÃO...
E GRACI, UM ETERNO AMAR...
QUE MAIS POSSO QUERER PARA MEU INSPIRAR ?
BEIJOS DE CARINHO NESTES LINDOS CORAÇÕES...
E MEU ETERNO ADMIRAR !

Você é meu anjo do amor
Que me leva à paixão,
E me faz delirar de tanta tesão,
me enche de amor
e me faz pairar no teu mar de ilusão...
Você é o anjo da minha vida !!!
Minha razão de viver
Minha eterna paixão...
Anjo, nunca quero me afastar de você...

( Von Buchman)

Anjo quando tu chegaste
de tuas asas ouvi o rumor,
logo, logo me abraçaste, me pedindo o meu amor.
Dos meus lábios tu roubastes
um enlouquecido beijo,
e com ele despertastes
o meu mais louco desejo.

( CLARALUNA )

Se teu desejo,
é meu almejo,
tudo será um festejo
então vamos nos entregar.
Teu clamor
me enternece
você ouviu minha prece
Me chama amor
Vamos nos amar!!

( A FLOR ENIGMATICA )

Serei teu terceiro anjo.
P'ra te amar como um arcanjo.
Tu és fonte de deleite
Teu peito, um convite ao repouso.
Desejo de eterna magia
me deixa repousar no teu abraço!...

( GRACI )

Obs. agradeço as queridas poetisas pelo lindo texto...
Tenham meu carinho, Deusas do amor...

. . . . . . . . . . . . .

Tenhas meu Eterno Admirar!
Mil e Um beijos de Mel....
Mimos de Eterna Paixâo
Neste Lindo Coração
Cheio de desejos . .

Foto de Lu Lena

ENCANTO DA LUA

sete luas cheias
juntas nos céus
dançarão nuas
sem pudor
nem véus.
As estrelas,
as fadas e os anjos
darão-se as mãos,
e uma roda farão,
em volta da lua
sete vezes branca,
sete vezes brilhante,
eu te desejando
como amante,
dançando na luz da
lua totalmente nua,
ao firmamento eu grito,
no infinito
Vem meu amor!
escuta meu clamor,
não deixe essa magia
que já é uma profecia,
quebrar o encanto,
pois as sete luas
podem cair em pranto
suas lágrimas não podem
embaçar seu brilho
não podem deixar
esse encontro
entrar em conflito
pois as sete luas
ansiosas esperam
esse encantamento
que se dará nesse momento
as estrelas, fadas e
anjos irão profetizar
que duas almas errantes
sempre serão amantes
e aos ventos dirão:
eu olhando pra ti então,
eternamente serás o
homem dela
e ela tua mulher
unidos de corpo e alma
em todas as sete luas
dessa vida até a morte
viver morrer e renascer
amor latente numa só alma
pulsando sempre juntos
num só ser de puro
encanto luxúria e prazer

(poema inspirado através de um ritual cigano)

Foto de Carmen Lúcia

Conjecturas

Talvez ainda haja amor,
Não pode ter-se acabado,
Algo deve ter restado,
O que é imenso não termina assim...
Quem sabe ainda te lembres de mim.

Deixei que te fosses sem mesmo ter lutado,
Se eu tivesse implorado,
Me descabelado, gritado
Ou até mesmo chorado,
Terias ficado ao meu lado...
Como manter-te impassível
A um clamor apaixonado?

Ou então, se te persuadisse,
Dizendo-te o que nunca disse,
Fazendo o que sempre pediste
Revelando-me mulher fatal
Rendendo-me aos teus assédios,
Mas não...Vali-me de falsa moral!

Se eu tivesse arrancado a roupa
E desnudado meus sentimentos
De desejo ficasse louca
E te abraçasse num lampejo,
Num ímpeto te roubasse um beijo...
Certamente não resistirias
E em meus braços cairias...

Mas não...Vi-te te afastando
E minha voz foi se calando
À medida em que ouvia
Teus passos se distanciando...

Se te chamasse, quem sabe?
Ou se chorasse, me declarasse,
Te agarrasse, te arranhasse,
Fêmea que se entrega ao macho,
Desse de mim o máximo...
Talvez me olhasse com paixão
E me apertasse ao teu coração!

Ou apenas sussurrasse:
-Te amo!
Mas não fui capaz...
Hoje minha solidão proclamo!
Conjecturas não te trarão,
Jamais!

Carmen Lúcia

Foto de Henrique Fernandes

ALMA SIBILANTE

.
.
.

Detenho o silêncio com um gemido
Que verte a falta da tua presença
Anulo a escuridão num verso sentido
Comprimo distâncias na tua confiança

Vou encontrar o por descobrir em ti
Hipnotizo a vida no fio da tua afeição
Destranco a autonomia de te ter aqui
Deambulado no planear do coração

Cais água no lago das minhas ideias
És flora que me adorna de energia
Tua virtude é resplendor das candeias
Que afogueia a cegueira do meu dia

Falas um silencioso clamor de amor
Alma sibilante ao tímpano da verdade
Abraço estendido a colher teu fulgor
Neste baile ao faro da tua maturidade

Foto de HELDER-DUARTE

Portimão

Portimão! Cidade onde cresci,
Mas em ti não nasci…
Foi por te amar, contudo,
Que eu por ti ainda, canto p’elo mundo.
Canto-te, um poema, como Aleixo.
Que cantava, seus poemas de amor.
Assim, também não te deixo.
Minha alma, te exalta, com clamor!
Em ti me formei,
Nesse teu liceu.
Poeta António Aleixo, onde estudei!
Por ti, choro, por te amar,
Porque esse Arade, teu…
Um dia, vim a deixar!

Foto de Henrique Fernandes

FAROL DA AMIZADE

.
.
.

Detenho o silêncio com um gemido
Que verte a falta da tua presença
Anulo a escuridão num verso sentido
Comprimo distâncias na tua confiança

Vou encontrar o por descobrir em ti
Hipnotizo a vida no fio da tua afeição
Destranco a autonomia de te ter aqui
Deambulado no planear do coração

Cais água no lago das minhas ideias
És flora que me adorna de energia
Tua virtude é resplendor das candeias
Que afogueia a cegueira do meu dia

Falas um silencioso clamor de amor
Alma sibilante ao tímpano da verdade
Abraço estendido a colher teu fulgor
Neste baile ao farol da tua amizade

Foto de Carmen Lúcia

Palavras mal ditas...

Que minhas palavras
Traduzam de fato
O desejo que trago
No peito guardado
E que não tem mais jeito,
Urge em transbordar...
Quero revelar!

Palavras que por tanto tempo
Incendeiam anseios
Dos parcos momentos
De intenso clamor,
Minuto marcante
De teu corpo vibrante
Colado ao meu.

Palavras fragmentadas,
Jamais decifradas
Como o nosso amor...
Empoeirados instantes,
Num canto da estante,
Livro nunca lido
Romance perdido.

Carmen Lúcia

Foto de Henrique Fernandes

ESPÍRITO DO DAR

.
.
.

Hora zero de uma noite fria, acalentada pelo brilho de enfeites luzidios que reflectem o piscar multicolor de lâmpadas vigorosas de sustentáculos cintilantes, como estrelas que iluminam a noite numa bonança que pernoita diante de um sublime manto branco de neve; todo pintado a gelo.
A alegria vagueia pelas ruas sem deixar pegadas, flutuando um silêncio interrompido por uma sinfonia de emoções, escutando melodias que tilintam no espaço e no ego o espírito do Dar!
Ao olhar através da vidraça que expunha a rua nessa noite, encontrava-a trajada de encantamento, como sucedia em todas as ruas, encontrei-a coberta por um costume de mil pigmentações em combinações de paz e concordância! Eu estava solitário, vigilante e submisso a este prodígio que a alma compreende, a qual nos transfere no bater do coração.
Ao ecoar a décima segunda badalada dessa noite gélida, escutei o ranger da minha porta e uma voz de silêncio que já havia ousado mostrar-se, proferiu à minha mente:
- Sou o Dar, esquecido pelos povos trezentos e sessenta dias por ano. Tenciono esta mácula desabafar.
Não sei se hipnotizado ou se havia enlouquecido, mas prescindi minha mão a regular-se pelo Dar e ortografei o seu desabafo descontente e tão penetrante, que se podia escutar o pesar que me ditava:
- Sou feto concebido no ventre do nosso carácter, sob a forma de um sentimento que dais à luz num costume de horas contadas num impar. Deveis decepar ao Dar o cordão umbilical, e deixá-lo coabitar menino a crescer em vós, dando-me voz todos os dias do ano.
Dar deambulava na minha alma à procura de se libertar, ou de juntar-se com o seu irmão - Receber - na aberta de uma consciência que soltamos numa comoção, que manifestamos quando dissolvidos na áurea Natalícia que nos transmuda a moral superabundante de uma indigência de asserção humana conquistada pela razão. Sem senão, o nosso ser quer partilhar o receber com o Dar.
Dar passou o tempo à janela do meu olhar, presente num estender a mão a quem não espera por nós e de nós carece como alimento à esperança, desaparecida na fome de contentamento, evacuada numa lágrima que inunda um rosto de solidão e esgotada num clamor mudo em demanda de paz.
Dar brinca no nosso sorriso quando sorrimos despretensiosos, intencionados a ajudar sem imodéstia, numa troca de emoções compartilhadas num pranto de alegria. Como suspiro de satisfação entregue por veneração a um fascínio natural sem ilusionismos ao obséquio de ser gente.
Dar é uma criança que se agiganta adulto nas nossas carências ou aptidões, de receber sem anseio o beijo do sorriso de uma criança, abrilhantado num olhar que agradece inocente a nossa melhor oferenda, agasalhada de quentura despretensiosa, dádiva de amor humano.
Dar está aceso em nós quando sabemos receber o Dar de alguém. O Dar não se dá, partilha-se cedendo o que recebemos: um olá num olhar sincero, a carícia de uma mão sem interesse, um beijo que não impõe retorno numa oferenda que não aguarda restituição, um sorriso de uma cooperação autêntica, um abraço que compreende a adversidade de qualquer um, o interiorizar uma palavra graciosa, o aceitar da incorrecção e imperfeição do comparável simples mortal…
De repente, acordo recheado de existência em mim sobre um papel manuscrito sem memória, e já o Sol da manhã me dava um benéfico dia. Sem saber se havia devaneado, sentia-me desconforme por algo que me havia alegrado o profundo do meu ser, soberbo pela mensagem do Dar.
Considerei estar demente, mas não. O espírito do Dar murmurou para mim. E lá estava eu, na vidraça, enxergando a minha rua trajada pela luminosidade de um Sol que fazia jus à concórdia de um mundo por sensibilizar.
Elevo-me em harmonia e entorno meu olhar lá para fora… Via -a agora guarnecida de crianças turbulentas de júbilo, arrojadas de uma glória, inábeis de ocultar a sua transparente e radiante felicidade.
- É o Dar! É o Dar! - Ouviu-se…

Foto de Carmen Vervloet

Natal do Menino Deus

Natal do Menino Deus

Natal!
Jesus nasceu!
E o homem esqueceu!

O homem vive a se aturdir
Ele já não pode ouvir!...
O homem só quer ganhar
Ele já nem se lembra de partilhar!...
O homem quer intensamente viver
Ele já não pode ver!...
O homem não consegue falar
O medo o faz gaguejar!...

Natal!
Jesus nasceu!
Mas o homem não percebeu!

Jesus falou:

Homem,
Abra seu coração
E fique à espreita, com atenção.
Vim sob a forma de mendigo
E preciso urgente ser reconhecido.

Homem,
Abra seu ouvido
Ouça o clamor do povo sentido
Que grita a fome
Que mata e consome!...

Homem,
Abra a sua inteligência
Deixe que fale a sua consciência.
Eu sou a justiça, a verdade, o amor,
Misturo-me em tudo, na alegria e na dor.

Eu sou aquele jovem incompreendido
Que no vício, procura à vida dar sentido.
E sou a criança em formação
Que tantas vezes se perde na escuridão.

Homem,
Eu estou em tudo
Não me pise, deixe-me brotar...
É Natal, eu nasci!...
Vim, porque quero ajudar!...

Hoje é dia de amor
Pense homem, em seu grande valor...
Abra seus olhos,
Abra seus ouvidos...
E estará como eu o quero...
Comigo!...
Juntos, de mãos dadas pela vida,
Quanta coisa bonita a ser erguida...
Coisas que só o amor consegue construir
Quando o manto do egoísmo, você deixar cair!

Natal,
Jesus nasceu
E o novo homem
O recebeu!

Carmen Vervloet

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