Não digas mais nada!
Teus olhos já disseram tudo.
Mudos, fizeram-me entender
o que tuas palavras sonoras
foram incapazes de dizer.
Perderam a força, a elocução
e na indecisão mudaram de rumo,
acovardaram-se perante a missão.
Nelas eu não iria acreditar.
Não me atingiriam tão fortemente
quanto teu olhar.
Esse sim, calou-me fundo...
Tiro certeiro, profundo,
que me fez cambalear,
perder o chão, rodar o mundo,
chorar.
Como descrer da crueza de um olhar?
Final inconsolável para quem ama
e se vê inesperadamente só,
sem mesmo o consolo da ilusão
tendo a presença constante da solidão.
Dor inigualável ao ver fragmentados
os sonhos,
outrora tão sonhados...
Agora, farrapos atirados ao chão.
E os próximos passos
tornar-se-ão pesados, drásticos.
Deixar o tempo passar, tentar esquecer.
Tempo que não passa...
Teima em retroceder!
Achar motivo pra sorrir...
Como? Se a razão de meu riso
não está mais aqui?
Viver por viver.
Ou sobreviver.
É o que tento, o meu intento.
Sentindo na alma um frio gelado,
o coração pulsando fraco.
Vivendo dias sempre iguais
que projetam no ar
um quê de "nunca mais..."
(Carmen Lúcia)