Carne

Foto de Henrique Fernandes

ENTREGA

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Sinto no trovão a inveja dos deuses
Na entrega da minha carne ao amor
E cada uma das luxúrias que tu ouses
Exibir a tua forma de amar sem pudor

Dominas o íntimo rude das tempestades
Quando me molhas de suor na cama
Colando a vice-versa das nossas metades
E degelas os pólos com tua chama

Impedes que adormeçam os vulcões
Com ondas gigantes de prazer
Trazes o sol aos meus serões
Na tua erupção de sementes a arder

És esplanada donde vejo o fim do dia
Colhendo no teu colo a alegria da vida
És vista nua e crua da fantasia
Maravilhosa aventura destemida

Foto de Raiblue

Saliv(ando)...

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Nas noites brancas
De sua pele
Me dis traio
Guardo Dostoiéwisk
Num canto do quarto...
Nos olhos
O ópio prolongando
Colóquios do tato
Con textos e texturas
Da língua
Corroendo tédios
Catando cacos
Cactos na superfície
Da carne árida ...
Arranhando as horas
Sangrando os minutos
Dissolvendo dores
Anti-corrosiva língua...
Sal e saliva
Lambendo as feridas
Fechando cortes
Subcutâneos labirintos
Na sanha da linguagem
Esquecida no tempo
O toque...
Palavras diluídas no suor
Poesia líquida
Numa noite dis traída...
Na pausa da razão
No dança dos sentidos...

(Raiblue)

Foto de housy

Que se lixe !

Que se lixe !

Que se lixe a piscina quando há o mar...
Que se lixe a toalha quando há areia...
Que se lixe o branco quando há tinto...
Que se lixe a sopa quando há peixe e carne...
Que se lixe o choro quando há o sorriso...
Que se lixe o frio quando há Sol...
Que se lixe a TV quando há vida real...
Que se lixe o passado quando há futuro...
Que se lixe a passividade quando há rebeldia...
Que se lixe o aquecedor quando há lareira...
Que se lixe o candeeiro quando há a vela...
Que se lixe a cortina quando há vista...
Que se lixe os conhecidos quando há amigos...
Que se lixe a cidade quando há campo...
Que se lixe o beco quando há caminho...

Que se lixe o que se escreve quando há palavras!

Foto de Raiblue

Inv(f)ernais...

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Sempre gostei do inverno, seu hálito de mofo e cheiro de sombras frescas com as quais adorava brincar de adivinhar o que havia por trás delas. O mistério das coisas sombrias me fascinava!Talvez existisse em mim um lado desconhecido, submerso em águas profundas do meu ser inquieto e inconstante.
Alguma coisa acontecia, quando chegava o frio, era como se rompesse a placenta naquele momento e eu nascesse ali, naquele instante, ele era aquecedor para as geleiras da minha mente,irrigava mais intensamente o sangue que parecia parado nas demais estações,as mãos formigavam como se começassem a existir a partir dali...
Finalmente, resolvi sair de casa, estava ansiosa por rondar a cidade à noite, após meses de silêncio quase fúnebre. Foi quando,de repente,o avistei,atravessamos o mesmo caminho.Destinos cruzados?Almas gêmeas ou corpos desesperados ,ansiando carne...? Seu olhar parecia perfurar meu corpo, um punhal rasgando impiedosamente meu coração há muito tempo enclausurado nos porões da alma.Cada um seguiu seu caminho,retornei para casa com uma estranha sensação,estava ardendo,tudo em mim era só chama vermelha, incandescente...,.tudo era só desejo....uma vontade de devorar aquele desconhecido,e,quando pensei nisso,senti um gosto diferente na boca, um cheiro forte impregnava em todo meu quarto,era dele,eu sei,eu reconheci,ficou no ar,ficou em mim...
Acendi velas brancas, coloquei lençóis vermelhos na cama,e me deitei,completamente nua,cheirava apenas à carne crua...fresca...estava ali pronta para ele,num ritual apocalíptico,iria exterminar a solidão. Em meio às sombras da noite, entreguei-me àquele desconhecido, senti seus dentes em minha carne como se quisesse mastigar-me em pedacinhos e aquilo deixou-me louca!De repente, um gosto de sangue na boca e um orgasmo misturado à dor da carne arrancada por suas presas afiadas, prazer infernal!!Despertei gritando!Um misto de sensações me tomava, passei a mão no pescoço, procurei o sangue jorrado ou alguma marca, mas só havia suor, quente,cheirando à coisa antiga,um incenso talvez...As contrações no meu corpo continuaram por um certo tempo,meu sexo estava vivo e explodindo...Como poderia tudo ter sido apenas um sonho?
Levantei absorvida pelo tédio dos dias sempre iguais. O sonho trouxera o gosto amargo da decepção, ao acordar.Continuava sozinha, na minha escuridão de sempre.Antes, ela não me incomodava,mas agora era dilacerante,deixava-me angustiada e faminta...uma fome esquisita que nenhum alimento saciava...
Na noite seguinte, tornei sair, porém,dessa vez,parecia determinada a encontrar algo ou alguém específico,alguma coisa me impulsionava e me atraia de forma irresistível...morte! Essa palavra se repetia em minha mente como um mantra mórbido,eu sei,mas de salvação,eu adorava seu eco, engraçado, ela tinha um sentido diferente...,de vida...,de algo que pulsava,vibrava...
Entrei num botequim situado na esquina de um beco chamado Beco dos Imortais, cada bar tinha um nome de um célebre imortal, escolhi o Bar do Baudelaire,pois estava bem baudelaireana naquela noite,até cairia bem um vampiro...Algo me puxava para lá,farejava qualquer coisa indefinida,começava a sentir aquele gosto na boca novamente...aquele do sonho,e aumentava a minha fome...
Entrei, sentei, não vi nada no cardápio que me agradasse, contudo, na mesa em frente à minha, vi um homem de olhar fulminante a me fitar insistentemente.E, de repente,misteriosamente,vi-me sentada ao seu lado.Ele era de poucas palavras,mas despertava cada vez mais minha fome com seu olhar de serpente, seu veneno era apetitoso...Acho que estava obcecada,tarada ,depois de tanto tempo em reclusão,precisava urgentemente de uma noite orgástica!Então veio o convite tão desejado... e eu aceitei de imediato,é claro!Quando saíamos do bar, ele me abraçou subitamente, um abraço quente, de arrepiar cada poro da pele.Ao abrir os olhos,mirei um espelho que ficava bem na minha direção,para minha grande surpresa,só havia uma pessoa refletida...
Enquanto ele me apertava contra seu corpo, e o seu sangue parecia se concentrar todo no seu sexo,minha boca sentia intensamente aquele gosto daquele dia...estava muito gelada e tonta ,talvez de desejo,não sei,só sei que necessitava de algo quente urgentemente, e ele estava ali,eu podia deixá-lo ir,mas foi inevitável o beijo...a mordida...,ele precisava morrer para que eu sobrevivesse...

(Raiblue)

Foto de Enise

UTOPIA

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Foste testemunha da minha arte
E, eu da tua.
Foste unha na minha carne
E eu, na tua.
Foste minha insanidade
Eu a tua.
Foste minha utopia
Eu, a tua.
Foste meu
Eu, tua...

Enise

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Foto de Henrique Fernandes

OLHAR DE POETA

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Paro o meu olhar pensativo e sério
Sobre uma árvore sozinha na paisagem
Despenteada pelos ventos de Outono
Assim como eu desfolho as minhas folhas
Numa escrivaninha que sabe os meus sonhos
Tal como aquela árvore estou em mudança
Ela pelo vento e eu pelo fogo da vontade
Reduzindo a cinzas os males de ontem
Sobrevivi a tristes acontecimentos
Libertado do sofrer por família e amigos
Preenchendo a minha paisagem de todas as cores
Desenhando traços sorridentes na minha tela
Pendurada ao nível das minhas mãos
Agradecidas pelo talento da minha vocação
Renascendo para a vida com minhas vivências
Acompanhado por uma qualquer fantasia de tantas
Mas acima de tudo como aquela árvore
As minhas raízes enterram-se profundas
Alimentando-se nas veias da confiança
Nessa terra que reclamará sem benevolência
A si a podridão da nossa carne mortal
Mas a razão bela da primavera sugará
Nossa alma inocentemente imortalizada
Na eternidade que o tempo expõe infinito
Comigo, aquela árvore ali despenteada
Deixaremos ambos de ser, seres solitários
Diante dela escrevo verbos de encorajar
Sobre o conforto da minha fiel escrivaninha
Escrevendo o meu faz de conta tão real
Como as folhas que regressarão aquela árvore

Foto de Senhora Morrison

Hum!!! Quero mais...

Paixão fulgaz
A me consumir
Em devaneios
Pecaminosos
Sua língua
Seu suor
Inebriando meus dias
Prazer
Todo o prazer
Faz-me sentir
De encontro ao desejo
De sangue a pulsar
De carne latente
Exalando o meu cheiro
Cio
Constante por você
Isso à hora é essa
Possua-me
Todo instante
Contenha-me em seus braços
Em seu sexo
Em seus olhos
A me desnudar
A me corar
A me acender
Sempre que os recordo
Estando perto
Estando longe
Quero mais
Vem meu senhor
Digna-me de seus toques
Firmes, selvagens
Sustenta esta ânsia
Vicia-me
Não canso
Não paro
Quero mais
Sugar você
Enfeito-me
Ajeito-me
Percebe?
Acaba comigo
Tira-me o fôlego
Vem meu homem
Faz-me arder
Inteira
De tanto ter você
Agora, sempre
Hum!!!! Quero mais...

Senhora Morrison
20/09/2006

Foto de Henrique Fernandes

MOMENTOS DE LUXÚRIA E PRAZER

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Hum, vibram faíscas no meu íntimo ardente
Uma dança de labaredas que estimulam o garanhão
Perante o teu despir sensual e entrega a quente
Do pecado da tua carne vulcânica ao meu tesão

Um toque de língua sem modéstia derrete meu peito
Sobre teu corpo excitado que desliza no meu arrepio
Embriagado de prazer pelo teu suspirar perfeito
Num gemido que soltas da tua boca com hálito de cio

Soltas o cabelo subindo e descendo sobre mim
Açoitando meu rosto com teus múltiplos orgasmos
E cravo minhas mãos no delírio do teu festim
Vaginal no nosso vai e vem sem cessarmos

A sensualidade que nossa volúpia esclarece
E sinto o calor de dentro de ti que expulsas louca
E penetro todo teu ser que em mim estremece
Nos gritos do teu sim de loucura em voz rouca

De almas dissolvidas num gozo de carícias
Partilhadas a fogo nesta maré de lua cheia
Uivando como um lobo faminto das tuas delícias
Que ateiam este tesão educado da nossa epopeia

Foto de Senhora Morrison

Fetiche

Sinta meu cheiro
Adocicado atrás de minha orelha
Quero enfeitiçar-te
A ti e a todos
Sentir-me desejada
Por todos que se julgam homens
Ser o centro de todas as atenções
Mesmo que por esta noite
Ver teus olhos queimar
Pela cobiça alheia
E teu ego inflar
Pois sou só tua
Dançar para ti
Com a admiração de todos
Todos os homens me desejando
E eu só a ti
Meus olhos voltados para a sua boca
Que me entorpece de desejos
Pura volúpia...
Em pensamentos pecaminosos
Vem a mim meu prazer
E desfrute-se de toda esta carne
Que queima por ti
Liberte as fantasias
Que por ti se fazem
Numa envolvente perdição
Explore esse abismo
Ausente de rotinas
Enlouquecendo-nos
Atirando-nos
Nesta viagem sem fim

23/01/2007
Senhora Morrison

Foto de Paty Fraga

Quero ser para sempre uma ilusão.

Quero ser para sempre ilusão

Quero ser apenas o sonho de alguém.
Quero ser uma imagem desconhecida.
Um abrigo no relento.
Uma lembrança na solidão.
Quero despertar olhares curiosos,
Sentimentos inexplicáveis,
Emoções incontroláveis,
Mas não quero ser tocada, não quero ser possuída, não quero ser conquistada.
Quero ficar para sempre num pensamento alheio,
Num coração assolado...
Quero ser profunda nas palavras e tocar almas com os dedos do meu espírito,
Quero ser coroa de ceda no reino de espinhos.
Quero ser ponte para a travessia daqueles que precisam transitar para o alto.
Quero ser inesquecível aos olhos
Quero ter corpo desejável,
Quero ter lábios enfeitiçadores,
Mas nunca mais quero estar enfeitiçada.
Todos se viciam em emoções,
Sempre querem mais, suplicam veemente para seus corações palpitarem paralelamente a tremores e calafrios, sentem sede de feromônios, sentem fome de “carne humana”, mas são todos animais, por isso quero ser apenas uma arte, um quadro pintado na parede, uma ilusão, uma projeção psicológica.
Enquanto eu for apenas uma doce ilusão, serei perfeita, terei beijos de mel, terei perfume de bálsamo, terei pele de algodão, cabelos de veludo e sedução das flores,
Mas se eu deixar de ser ilusão e passar a ser verdade, descobrirão minhas fraquezas, saberão que sinto fome, que adoeço, que penso, que choro, que sinto dor, que amo e que odeio.
Quero viver para sempre escondida por trás do rosto de boneca, esculpido por mãos divinas,
Quero ser para sempre a menina dos olhos do pai,
A menina que corria pelos corredores com sorriso nos lábios, gritando “saiam da frente!”
Não quero que fujam de mim, por isso não lhes darei oportunidade, saberei fugir quando meu coração me avisar.
Não vou mais me enganar com as outras artes espalhadas por aí, um dia descobrirei que elas têm mal-hálito.
Então...
Deixe-me ficar, pois, quero ficar
Mas não da maneira que me queres,
Deixe-me no deserto
Lá eu sempre serei sua
Não me leve para casa, porque certamente morrerei ou tu me matarás
Deixe-me ao vento, ele sabe o que fazer comigo
Não me abrace,
Porque teu abraço me prende
E eu quero apenas ser livre!

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