Carne

Foto de Paulo Gondim

Teu silêncio

Teu silêncio
(Paulo Gondim)
15/02/2012

Teu silêncio me incomoda
Se faz lâmina na carne
Fere longe, profundo
Finca pé, vira posseiro
Teu silêncio me assusta
E assim me desajusta
Amiúde, por inteiro

Foto de Alexandre Montalvan

Amor Doentio

Doentio é este amor,

Que transforma o meu corpo em desejo.
E quase que preciso ter comigo
Brancos tapetes de flores
Para que graves em tua carne a volúpia
Incandescente da urgência de meus beijos

Porque eu amo-te com tamanho encanto
Que esta luxuria me domina, eu me espanto
É um morrer no paraíso
Em meio, a pecados e risos
Estridentes, sem sentido
Quanto arrependimento tenho tido.

Doentio é este amor
Que me mata pouco a pouco
Que me enlouquece
E transforma-me em louco sonhador

Como droga e sem aviso me afoga
E me deixa sem sentido
Colorido, como LSD, como um gozo infinito
Um mergulho no abismo
Sem retorno, sem um pingo de pudor,

Doentio é este amor. . .

Alexandre montalvan

Foto de Alexandre Montalvan

Hora da Morte

Na hora da minha morte
Quero sentir o aroma de teus cabelos
O arrepiar de teus pelos
Ao tocar minha carne fria e azulada
Quero sentir você minha amada

Quero desfrutar deste presente
Assim como ecos de uma oração
Mesmo que eu já esteja ausente
Neste ultimo fio que resta
E afasta de meu coração

Na hora da minha morte
Neste caos que já foi problema
Nesta lógica absurda
Nesta angustia que já foi extrema

Mas agora chegou minha morte
Já não vou mais sentir dor
Balanceie bem esta complexidade
Vou dizer adeus às grades
Vou dizer adeus amor

Alexandre Montalvan

Foto de Carmen Vervloet

Nascimento de Jesus

E o Verbo se fez carne,
mas o homem não O reconheceu,
não percebeu o fremente alarme
e sua alma permaneceu envolta em breu.

Chegou o pequeno menino pobre
nascido numa simples estrebaria,
mas seu coração sábio, rico e nobre
pulsou amoroso nos braços de Maria.

Uma estrela no céu deu o sinal,
um anjo anunciou aos pastores o nascimento,
na rústica manjedoura, sem a pompa real,
nasce o Rei Salvador de todo o tormento.

Neste natal, dia vinte e cinco de dezembro,
festejamos mais um seu aniversário
e nesta vida da qual somos transitórios membros
o embate contra o egoísmo, nosso maior adversário.

Nas nuances do nosso habitual dia a dia
vamos volver os olhos atentos e complacentes
para os sintomas do mundo, suas dores e fotografias
com olhos de criança, plenos de esperança, confiança inocente.

Foto de Bel Souza

Benção!

É nas minhas orações que eu me surpreendo.
Agradecer você por perto, já faz parte das minhas conversas com Deus.
Eu agradeço por tanto sentimento, por cada segundo compartilhado com você.
Por cada palavra, cada encontro de olhar, por teus lábios me procurarem com tanta doçura.
Por reconhecer que já não quero pensar em mim sem você.
Eu sei que Deus tem me entendido, ele sabe que me fez de carne e osso mas, tem me visto mais humana, mais alma e coração.
Um dia eu sonhei alto, sonhei que amava de verdade. Mas eu não imaginei que isso poderia ser possível e ainda assim um sonho, mais que encantamento: verdade!
O que eu sinto por você é muito mais que qualquer palavra doce e bonita que eu venha escrever aqui e você é muito mais que homem pra mim. Porque foi Deus quem colocou você em mim e a isso eu chamo de benção.

Foto de carlosmustang

JEMPS

Entre arrasto e presente
Desvendando meu passado
Meu futuro de contravenções
Sem fundamentos de opiniões

Em contentamento de rever
A carne jogada no lago
Revoltando-se por tão mesquinhas coisas
Movendo-e por injustiças vivências

Deixando me continuar
Por paciência e esperança
Roupa encardida, há de lavar

Tremendo de emoção ao ver seu fim
Dependendo da sua existência pra mim
Sem sua falta escarnecerei EVOLUIR

Foto de carlosmustang

CENAS

Acordei, olhei, mais uma luz
Tive esperança de rever você
Mergulhei em sonhos, desejos
Almejos de te amar em corpo

Delirar sentir sua amada carne
Sentir emoção em inebriar seu odor
Ficar ligado, na sua existência
Transtornar, sem sua presença

Viajar solitário sem amor
Encantar-se com desprezo
Banalizar com beijos

Benéfica experiência de amar-te
Sentir-te em externar amor
Correr em esperança em seu ser

Foto de Nailde Barreto

A Carne.

Suculenta! Templo sem leis,
Domina e vicia, dos súditos aos reis,
Em silêncio, faz ecoar o hino da vaidade,
Através de seu exército de escravos despidos.
Exauridos de tudo que é imposto nu e cru...
Gozam o deleite do prazer precoce, sabidos!
Abrem sorrisos para a orgia...
E, revestidos de nada na verídica agonia,
Causam confusão na emoção vazia,
Que rasga cedas e briga contra os anseios da carne,
Evidenciando o duelo eterno entre prazer e arrependimento.

(Nailde Barreto- 07/11/12)

Foto de Rosamares da Maia

AMOR À FLOR DA PELE

Amor à flor da pele

Amor é permanente estado de alerta.
Boca seca, paladar de beijo e saudade,
É viver a eterna felicidade do dia de hoje,
E as certezas das dúvidas do amanhã.

Quem ama perde os olhos na distancia,
Sangra nos desencantos, espinhos do caminho.
Não conhece horizontes, não sabe aonde vai.
Suspira pelos cantos, finge uma dor elegante,
Interminável e absolutamente indispensável.

Viver de amor é não caber nas palavras,
Porque o amor se expande e transborda
Não busca nexo, lógica ou explicação,
Ao amor só nos cabe amar, sem entender.

Mesmo quando a mão modula o gesto.
E não consegue medir a extensão do afago.
Mesmo quando o braço enlaça o próprio corpo,
Na tentativa de encontrar outro corpo no seu.

O amor pede colo como criança grande,
Acaricia sonhos, mas sonha o pesadelo.
Vai da lucidez a loucura abnegada, sem negar,
E quando tudo explode, naufraga e amarga.
Como a cicuta também envenena e mata.

É assim, todo ou nada, sem meio termo, inteiro.
Mais inferno que paraíso, ousadia absoluta.
Do amor somente provará quem topar o desafio,
De trilhar pelo fio, no corte da navalha.

No talho da carne, no peito que sangra,
Há o arrepio na pele, desejos a flor da pele,
A boca maldiz a sorte, mas, prefere a morte,
A viver sem de o amor conhecer e jamais provar.

Rosamares de Maia 31.10.2012.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro - Capítulo 8

E o gueto seguia a sua sina. Agosto continuava. De um lado, haviam uns pobres-diabos, de sangue quente e ralo, fracos como sua carne. De outro, os de sangue frio, os nobres, os prostituídos. É impressionante como esse universo em que vivemos sempre apresenta dualidades. O bem e o mal, a ordem e o caos, o positivo e o negativo. A vida e a morte. O destino e a discórdia. Parece que a chave da nossa existência, consciente, até que prove o oposto, é o puro e estúpido conflito entre um lado e outro. Como o branco e o preto, o homem e a mulher, eu e você. O amor e o ódio. A indiferença... As aparências enganosas...
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Clarisse, puta e fresca, mandava e desmandava após a morte do déspota Justo. Ela o envenenara, diziam os mais ácidos. De todo jeito, exercia seu poder de forma objetiva, sem rodeios para punir ou matar. A fome crescia. As rixas entre uns e outros esquentavam a frieza da antítese coletiva do buraco onde estávamos. Os tons variavam, para Clarisse, cinza e vampiro, para o povo, vermelho e sombrio. As facções tomavam conta do que o poder não se importava. E a turba, tarada e convulsiva, cantava assim:

- Morte aos infiéis! Aos traidores da fé e radicais! Morte aos sujos, aos virais! Que Deus abençoe os puros de espírito e só eles!

Clarisse ouvia e fingia que não.

- Esse bando de idiotas... Pensam até que fazem alguma diferença no mundo...

Clarisse se enfeitara de todas as jóias, roupas, perucas e os mais escandalosos adornos. Maria Antonieta sentiria inveja dela, se hoje possuísse a cabeça no lugar. Ela fizera um acordo com os dominantes, que poderiam explorar o que e quem bem entendessem do gueto sem interferências, desde que mandassem o mínimo de dinheiro e suprimentos para baixo. Uma troca perfeita. Bugigangas por ouro. Espelhos, pentes, pelo Pau-Brasil. Água potável por celulares. Qualidade de vida pela favela, e por aí vai. Enfim, tudo ia calmo e sossegado, até que os seres superiores decidiram controlar o crescimento populacional do gueto. Seu plano era jogar cocaína nas fontes de beber aos babacas de sangue quente. Marginalizar, culpar, destruir. Mas o efeito que obtiveram foi muito diferente do esperado.
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Pois bem, um Belo dia os dominantes jogaram o pó na água:

- É o pagode!

E o povo continuava:

- É o pagode!

O mantra se espalhava como a sangria de um cordeiro indesejado. Barrabás sorria. O reino dos homem resplandecia em alegria e empolgação.

- É o pagode!

Os dominantes jogavam o pó, jorravam, Clarisse deixa o canibalismo rolar solto. A massa é burra. Mas por ser massa, é manipulável. Quero dizer, todos ali tinham vontade própria, mas podiam ser condicionados. Outra hora eu estava falando com o Skinner, e foi isso o que ele me disse. O Planck discordou, mas o Planck discorda até dele mesmo. Já o Zeca Pagodinho assinou embaixo. Eu gosto do Zeca. Ele é legal.

Não se sabe bem como, mas em determinado avanço do batuque, as macumbas se intensificaram e o fogo começou. Não sei se o fogo foi proposital, se foi um gaiato que tocou, ou se foi uma empreiteira. Eu só sei que a chama subiu pelas paredes, madeirites, celulares de tela plana. O fogo destruia os crediários, os baús da felicidade, as roupas de marca, toda a tristeza de barriga cheia que o gueto alimentava para continuar a receber esmolas. Uma pomba andava os telhados, indiferente à baderna, uma cabra vadia olhava a correria e nada entendia. Eu só sei que a favela pegava fogo e não queria ficar lá para pegar fogo também.
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Eu corria e a torta segurava a minha mão. Os colegas, apesar do amor que eu sentia por eles, tentavam me pisotear e jogar contra o fogo. A tragédia era mesmo anunciada. Clarisse tinha anunciado aos macumbeiros que não interrompessem seus rituais, ainda que fossem consumidos pelas labaredas. A torta me puxava e impedia que a tara de me matar se consumasse.

- Dimas, não deixa esses porcos te matarem!

Não sei bem porque, eu por uns três milésimos de segundo valorizei minha vida. Me imaginei bem e feliz, realizado, sem medo de porra nenhuma. Obedeci a mulher que me amava e segui em frente.
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O fogo carbonizava colegas que eu sabia o nome e que não sabia. a cena era muito feia. As pessoas não tinham onde ficar, crianças choravam, vigaristas encenavam uma tristeza de forçar um choro inexistente, catárticos e sadicos apreciavam a ruína. O lixão da novela parecia um cenário de ficção, se bem que o lixão da novela é um cenário de ficção mesmo. Uma voz de olhos laranjas paralizou a escapada que a torta havia pensado com tanto cuidado.

- Calma lá, seus condenados! Chegou a hora da queima de arquivo.

Dona Clarisse queria nos mandar para o micro-ondas.

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