Carne

Foto de Alexandre Montalvan

Poema Alienável

Nem tudo é como eu gostaria
Nem tudo é beleza ou prazer
Talvez viver seja apenas
Buscar na perenidade da dor
A efemeridade da alegria

Pois então que ela venha agora
Não espere o final do dia
Afinal
A poesia que m'alma encerra
Esta na carne
É a poesia que sangra
E fede
Explode como um tumor
Abre-se como uma flor
E goza

Lavas perdidas
Sou obra da vida
Adoro poesias encorpadas
Incorporadas
Místicas
Sou mutável
Estragável
Sou roto e esfarrapado
Sou apenas
Um poema alienável

Alexandre

Foto de Alexandre Montalvan

Jamais Voltarei a Sonhar

Tão tristes são as noites da minha vida
tão solitária sonsa e descabida
vertendo-se em tormentas e desejos
sonhando em te beijar mais de mil beijos
e sempre me perder em teus abraços.

Ah. . . como eu faço
para não sofrer neste eterno jogo
horas de fogo insistem em me queimar
solitária ventania varre noites sem luar
neste frio chão de ladrilhos vermelhos
estou de joelhos neste teto preto.

Vida infeliz se opondo a irrealidade
pedaço de carne em leito solitário
alma buscando no sonho felicidade
céus e o inferno em sentido contrário

Alguém roubou as estrelas do céu
os moinhos de vento pararam de girar
eu que era inocente passei a ser réu
em noites tão tristes jamais voltarei a sonhar

alexandre

Foto de WILLIAM VICENTE BORGES

DE NOVO AO PRIMEIRO AMOR

DE NOVO AO PRIMEIRO AMOR

De: William Vicente Borges

Demorei a confessar

Que te abandonei Senhor.

Pois para mim se tornou fácil

Achar racionalizações para

O consumo da minha carne.

Não sei quando tudo se transformou

Na ritualização de uma alma vazia.

Não sei quando entrei no

“piloto automático” das falas, dos cantos.

Dos ritualismos, dos sorrisos sem graça.

Simplesmente o tempo passou e eu nem percebi

Que mesmo dentro estava fora.

Que mesmo vendo estrelas estava na escuridão.

Que mesmo vestido estava nu.

Que mesmo presente estava ausente.

Que mesmo por dentro estava fora de mim.

E o que é pior fora de ti.

Demorei a confessar

Que te abandonei Senhor.

Mas então interviste por misericórdia.

Colocou teu espelho justo na minha frente

E eu vi.

Vi meu estado.

Vi minha arrogância.

Vi minha alma pútrida

Com ares de santa.

Entendi. Chorei!

Fui até onde caí

Confessei. Deixei.

Voltei ao primeiro amor

Aonde tudo é mais simples.

Aonde cada canção agrada a ti

E não é entretenimento para meu coração.

Voltei ao primeiro amor

Aonde tudo é mais abundante e a felicidade

Está presente em cada respirar.

Voltei ao primeiro amor

Aonde cada gesto tem significado eterno

Que nos faz repousar em tuas águas tranquilas.

Voltei ao primeiro amor

Aonde compreender meu irmão não é mais difícil.

Voltei ao primeiro amor

Aonde eu voltei a ser a essência da tua graça

Que com graça me colocou no caminho certo.

Voltei ao primeiro amor

Aonde redescobri minha vocação verdadeira.

A de servo inútil e pronto para continuar a servir.

Demorei a confessar

Que te abandonei Senhor.

Mas voltei ao primeiro amor

Ao inicio de tudo

Voltei para ficar.

.....

Primavera de 2013

Foto de Carmen Lúcia

Inquietação

Essa inquietação que me move e cobra
e a toda hora quer me por à prova,
rasga minha carne, desnuda meu ser,
deixa-o à mostra a seu bel- prazer...

Em determinado instante infla e explode
em letras, traduzindo o que me provoca.

Essa vontade louca de colher palavras
e em delírio extremo, intercalá-las,
em versos de lirismos e protestos,
versos que dispensam rimas,
mas casualmente, se posicionam
no final da linha.

Traçam o alvorecer da essência
e o crepúsculo de sua origem...
Inquietação nascente dos badalos das horas
que vão e vêm, e na verdade, só vão...
marcando um tempo vadio a arder meu peito
que, sem jeito, num ardor profundo,
acalma-se e cala, quando em poesia
tento descrever as aflições do mundo.

_Carmen Lúcia_

Foto de P.H.Rodrigues

Joia rara, cadê você?!

Sinto saudades, de quando olhava nos olhos
e me perdia, perdia a cara, que ficava vermelha.
Sinto falta da curiosidade, do diferente, da diferença,
de quebrar as regras, das simples e cotidianas negligencias.

Sabe, tenho energia para queimar,
mas não vejo uma área para decolar!
É frustante enxergar esse mar de gente desgovernado!

Dinheiro, bens, roupas, compras, pra tudo quanté lado!
Mulher, cadê o brilho teu nos olhos que encanta
o rapaz que lhe estende a mão, e lhe pede uma dança?!

Eu devo estar bugado! Ou o server está defeituoso!
Não sou cachorro, não quero um pedaço de osso!
Mas também não sou tão carnal, não é necessário muita carne...
Apenas... apenas uma boa dose de mistério e charme!

Foto de Carmen Lúcia

Reencontro

Ainda ouço teus passos se distanciando,
perdendo-se na esquina que te engolia,
tragando-te afoita, droga à revelia,
mutilando uma história que ainda aconteceria.

Sibilam em meus ouvidos as badaladas de um sino
marcando as horas, trilha sonora que estribilha
rasgando-me a carne, mostrando meus avessos,
tendo a lua a compactuar com meus tropeços.

Ainda ouço o estardalhaço dos soluços
que meus lábios apertados tentaram segurar
e num sôfrego vazaram, desabados,
num choro compulsivo, sem parar.

Fostes...simplesmente fostes,
( como sempre fostes),
sem medires a proporção do estrago,
a dimensão de inconsequente ato,
carregando sobretudo, tudo...

Talvez me reencontre sem teu disfarce
e me resgate algum ancoradouro...
Corpo e alma num inusitado encontro, sem ais...
E o silêncio do luar oculto entre a névoa de um cais.

_Carmen Lúcia_

Foto de Alexandre Montalvan

Porque te Amo?

Eu não sei por que te amo
porque você me é tão querida
talvez sei lá, por engano
ou feitiço de alguma sacerdotisa

Eu não sei por que te amo de verdade
mas te amo pelo brilho que teu olhar irradia
eu te amo por uma singularidade
amo-te como uma doce sinfonia

Eu te amo como o lamento das cordas do violino
em catedrais de granitos refulgentes
amo-te como um menino inocente
louco para beijar tua boca e sentir teus dentes
em minha carne ardente

Eu te amo como ao sol nascente
que da luz ao dia a vida
e aquece a terra aonde você pisa
e como a leve brisa
que esvoaçam teus cabelos pelo vento
eu amo teus pensamentos

Eu te amo como a louca ventania
como a fúria das tempestades
como a dor de uma saudades
amo-te como a mais linda
Melodia.

Alexandre Montalvan

Foto de Carmen Lúcia

Jeitinho brasileiro

Co-autoras: Fátima Cerqueira e Carmen Lúcia

Parece que vai dar errado
mas eis que na hora H,
basta um jogo de cintura
e pelo gongo é salvo...
aquele jeitinho improvisado
chega de mansinho e envolve
e o que ia “pras cucunhas”, resolve.

De repente, sai de cena,
deixando ao salvador da pátria
o mérito de todos os créditos,
toda a lábia que encena,
ao ser milagroso e inédito...

E os jeitinhos que por aí vivem,
por mais que se duvidem,
usam seu jeito teatral
até de maneira formal,
tanto para o bem, como para o mal.

Cada um quer seu quinhão:
correr atrás do prejuízo,
Cruzar a linha de chegada,
estar por cima da carne seca,
ser o rei da cocada preta,
mesmo que o fruto seja maculado.

Os meios justificam os fins.
E se respingos de lama sujam a honra,
o tempo é borracha.
É ficar ausente, atravessar o mar,
e voltar na surdina da noite.

Há exceções...
Basta abrir a janela de casa
e perceber que somos jeitosos,
quando nos solidarizamos na dor,
superamos nossas misérias,
e simplificamos as burocracias da vida.
O “jeitinho” pode ser também criativo,
solidário e benevolente.

Tudo parece normal
nesse país continental,
onde cada um age de acordo
com seu traço regional
ou com o que lhe é primordial.
Matar um leão por dia
só pra quem tem muita raça,
quem traz no peito registrada
Jeitinho Brasileiro, a marca.

(Carmen Lúcia)

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
15/08/2008

Foto de carlosmustang

'''EU ODEIO HIPOCRESIA'''

Quando tem alguém que lambe a bota
E sem ferir carne choca!
Tem quem mostra sua dor
Não pra aceitar, mas pra ser!

Há gente que vive pra somar
Na sua velha dor, à chorar
Vivendo a encantar...
No cantinho, esperando

A dor mental intrujar
Delírios, voar sano
Ser grato a meu viver

Entrar de pé no piso
Viver em pé no chão, impreciso
Marcando corações...

Descanse em Paz CHORÃO

Foto de Paulo Gondim

No teu silêncio

No teu silêncio
(paulo gondm)
25/02/2013

Tua falta se faz presente
Inunda meu ser, seca minha alma
E, com tua ausência fria, sentida
Só tua saudade ainda me acalma

E o que resta de ti, senão a saudade
Como cruz ou simples companhia
Que me toma por inteiro à noite
E me acompanha durante o dia?

E no teu silêncio surdo e certo
Meu coração se inquieta e pede
Que tua falta que me fere a carne
Seja mais amiga e de mim se apiede

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