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Atrás das negras portas, segredos imensos
Medos intensos. Atrever-me? Nem penso!
A curiosidade incendeia os veios do sonhar
A vontade de entrar. Histórias desencadeiam.
Ali estarão bruxas e bruxos, religiosos em exorcismo,
Grandes dragões feridos, ou assassinos de bruços?
Quem sabe uma Cinderela, entre cinzas e maldade,
Não vê o passar da idade, mas sonha com a passarela.
Aquelas tão negras portas que escondem muitas memórias
São a minha grande história: os fatos que me formaram.
Recorro às terapias de renascer, de reviver,
De vidas passadas, de dançar, de minhas idas e vindas.
E aquelas tão negras portas, prometi a mim mesma que um dia,
Atravessava, e descobriria o que guardam estas memórias.
Decidi que, ao final desta vida, reviveria as minhas mazelas,
Escondidas em tantas janelas para curar com amor e alegria.
Encontrei egos nas portas abertas, passo a passo,
Sentimentos impuros, amores, batalhas, traições sem desabafo.
Fui freira e bibliotecária, criança de fazenda e bastarda.
Em muitas vidas espancada, e em outras, extremamente solitária.
A solidão que me fez escrever, entendi o meu gosto pela mata,
Com alegria, tudo reviver, compreender que aquilo não foi nada.
Lá estavam o meu modo de agir, atrás daquelas grossas portas,
As filosofias e as piadas a sorrir, o gosto pela praia e pelas hortas.
Dos erros de relacionamento, também encontrei e resolvi os motivos
Não saber controlar o dinheiro, da rejeição e do excesso de juízo.
Doar sem poder e sem medida, Necessidade de extrema perfeição,
Fui aos poucos aclarando, adentrando ao meu passado,
Ao regredir consciente, em calmo estado
Para ouvir, sobretudo, o coração.
Marilene Anacleto