Donde o seu olhar me entranha
n’alma a sanha de ser mais nobre
e de gastar cada cobre seu
pagando às estrelas lá do céu?
Donde? Ele arremeda um nicho,
espelhado mar de um calmo cais
onde o veleiro sonha com a paz,
repousa as lonas do capricho:
Devoção d’alma cessa jamais.
Donde o olhar sereno esconde
o lapso ingênuo, contundente?
A lápide aceita o nascente,
valente, inerte e soberana
de si, do sol e das estrelas,
de grandeza e miséria humana,
mísera de arroubos, querelas...
Dona das lágrimas de orvalho
deita o olhar, um pálio ao meu pisar,
passar do meu pesar doído,
de lembranças tão vãs vestido.
Donde água doce me oferece,
fadado a possuir carinho
de ondas que me assanham o coração,
ventos se arremessam ao caminho,
mastros, bandeiras e cordames?
Me acossam com fulgores infames,
que emprenham de múltiplas cores
minhas dores de parto, às portas
de íngremes versos, parcas rimas
que julgava, há muito, já mortas!
Como voltasse do vindouro
na mesma trilha em que me embrenho,
sob um poente quente e louro,
prestes a vestir o negrume...
A abraçar seu lume me empenho.
Porque seu olhar permanece
em mim e me vê quando, em prece,
reconstruo n'alma o seu altar.
Porque as dores, quaisquer que sejam,
nunca almejam vencer seu olhar.