MEU BICHINHO TÃO QUERIDO
(O Cachorro do Poeta)
Meu bichinho tão querido,
meu confessor predileto,
está dodói e o seu olhar me rasga.
Meu amigo foi ferido
pulando as pontas da cerca
pra me lamber de alegria,
e minha alma agora engasga.
A ele eu digo e ele finge me escutar
com carinha de quem se desculpa:
tudo bem, eu estou aqui contigo.
Mas é mentira. Ele não sabe.
Só eu sei o quanto me pesa
o seu amor incondicional,
que me escolheu por abrigo.
Eu que vivi tanto tempo
nunca aprendi a amar assim,
apesar de aprender tanta palavra.
Meu cachorro era um poeta!
e um anjo iluminado de cruel destino,
pois que uma só palavra sabia.
E por isso agora minha língua trava.
Na sua covinha acolchoada,
no jardim lá do fundo do quintal,
vou escrever em uma tabuleta:
"Aqui jaz o poeta e amigo sonhador,
que escrevia balançando o rabo
num só verso seu maior desvario.
Babava de amor por uma borboleta."
(Passarinho, 2015
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