Alma

Foto de tonyramos

Mundo Paralelo

Sou um viajante do tempo
Tentando encontrar o desconhecido
Muitos caminhos eu tenho percorrido
Na esperança de encontrar o que imaginei
De viver num mundo real eu deixei
Voei muito alto mesmo sem poder
Um mundo paralelo eu queria conhecer
Como um pássaro eu voava sem ter asas
Na esperança de encontrar o que procurava
E um dia realizar o que eu sonhei

Nesse mundo eu consegui encontrar o amor
Um jardim aonde existia uma flor
Que o tempo não deixava morrer
Nesse universo observei as maravilhas
Um mundo fantástico onde a pedra tem vida
Tudo que imaginei La eu vi acontecer

Nesse mundo encontrei esperança e alegria
Nesse recanto a minha alma deleitava e sorria
Eu era feliz lá não existia o medo
Encontrei a paz e o meu coração descansou
Mas acordei e o sonho acabou
E voltei ao mundo de pesadelo.

JAC 07/03/2017 tonyramos

Foto de Poetando

Não brinques

Não brinques com o coração
De alguém dizendo o amar
Com a brincadeira que tens
Podes-te também magoar
Com o coração não se brinca
Para não se lhe fazer mal
Causando dores tremendas
Como ele não vais ter outro igual
Quando brincas com o coração
De um outro ser que é teu igual
É porque não tens sentimentos
Ou não és uma pessoa normal
É uma brincadeira que pode matar
A alma e o coração de alguém
Nunca brinques com o coração
Podes acabar brinquedo também
O coração e muito sensível
Para com se poder brincar
Se não o amas diz-lhe logo
Para não o vir a magoar

De: António Candeias

Foto de Poetando

Como um pássaro

Como um pássaro ferido
Que deixou de poder voar
De não poder estar contigo
Para te poder estar a amar
Não queria escrever só palavras
Queria também poder voar agora
Para ficar bem juntinho a ti
Poder abraçar-te a toda a hora
Como deixei de poder voar
Apenas posso falar por escrita
Como o meu coração está a sofrer
A minha alma e o olhar triste
Por não te poder estar a ver
Sou como um pássaro ferido
Que deixou de poder mais voar
Assim deixei eu também de sorrir
Por contigo não poder estar
De te ter nos meus braços
Teu rosto e lábios estar beijar

De: António Candeias

Foto de Poetando

Não sou nenhum poeta

Sou apenas um aprendiz
Escrevo o que tenho na alma
O que o coração me diz
Para poder ser poeta
Tinha que saber escrever
Assim como não o sou escrevo
O que sinto dentro do meu ser
Sou simplesmente aprendiz
Umas letras vou rabiscando
Chamo-lhe os meus poemas
E assim eu os vou debitando
Não me chamem poeta
Porque poeta eu não sou
Escrevo o que estou sentido
O presente e o que passou
Sou simplesmente aprendiz
Que esta sempre a aprender
Escrevendo vou dizendo
O que foi todo o meu sofrer
De: António Candeias

Foto de Igor Pontes

Em busca de paz

Meio que perdido me encontro aqui e com todo devaneio da minha alma entrego minhas desilusões, com a certeza de que fiz de tudo porém nada mudou e continuo definhando, esperando um sopro de esperança que sei que já se foi. Entrego-me a profunda tristeza e com o choro que minha alma derrama conseguirei a paz nas palavras escritas, profunda e ardente ferida que insiste em não cicatrizar.
Mais vale sentir isso na vida do que ter vivido um único dia sem senti-la.

Foto de Arnault L. D.

Fora do Prazo

Se houvesse, amor ausente,
uma trégua para nós,
eu iria estar contigo,
lhe traria um presente...
Novamente o mundo a sós
abrindo espaços sem perigo.

Poderia ser a natureza,
que impele aos desejos,
impele a fazer promessa,
pele arrepia sem defesa
à eminência dos seus beijos,
em que a volúpia se confessa.

No ruborizar do rosto,
na língua o gosto tão bom
que seu corpo inteiro aboca.
Que ao si provar exposto,
espontâneo feito um dom
transcende-me a fome louca.

De alimentar-me a alma
da sua carne, que saliva,
até o soluçar do gozo
e o êxtase pousar a calma.
E não mais posto a deriva
retornaria... ao lar ditoso.

Foto de Enide Santos

FÓSSEIS DE SONHOS

O eco que ouço da minha dor,
(re) bate nas paredes deste infindo vazio,
E por vezes deixa-me insana.

Prostro-me imóvel e ciente de;
Não pode tocar,
Não pode realizar,
E nem ao menos sonhar.

São fósseis dos grandes sonhos,
Caminhos do qual,
(in) voluntariamente desviei-me.

Posso sentir-me desaparecendo aos poucos
Presa em cada devaneio desfeito
Sequelas adornam minha alma
E tento regurgitar-me de mim.

Neste instante, nada, nada sou.
Apenas um corpo, procurando por amor.

Enide Santos 11/05/14

Foto de Jardim

ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia

ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia.
carrego comigo o hiato das impossibilidades
e a carga dos desenganos que fazem
da noite de sábado um proscênio solitário.

encarnação de vazios, deixo para trás
pontos de interrogação e concluo
que há muita incerteza nos caminhos
que se abrem à minha frente.

dialogo comigo mesmo, danço a coreografia
dos absurdos, réquiem inevitável
de um futuro que nunca existirá,
passos em terra de ninguém.

na praça dos consolos inúteis
distribuo a piedade que só os miseráveis
são merecedores, na minha andança
sem fim recebo do passado arrepios,
os sorrisos compartilhados são a véspera
dos desassossegos futuros.

ando sem rumo por ruas movimentadas
tentando olhar dentro dos olhos
das minhas verdades e sentindo
a batida do martelo dos remorsos
que só as escolhas erradas trazem.

fragmentos de promessas espalhadas
pelo chão, vestígios pelos muros
de possibilidades impossíveis
originadas no âmago das minhas covardias.

ando só e por aí me perco, uso a bússola
da minha inquietude, sigo as placas
dos meus medos, arranco da memória
uma fatia de sonhos que está guardada
em um frigorífico abandonado
e que quebra quando a toco, algumas coisas
são tão sagradas que não podem ser tocadas.

ando sem rumo, rumo ao improvável,
por alamedas, atalhos, pontes
e abismos que me conduzem.
andanças intermináveis, pelo caminho
questões sem respostas,
respostas sem perguntas,
coisas que não são nada,
nadas que me deixam mudo,
promessas que ouço do luar,
das gotas da chuva que nunca choveu.

estrada feita de horas e horas, o vento
e suas navalhas cortam constelações ilegíveis,
o espelho da finitude desfilando
vácuos inefáveis como se o passado
e o presente andassem de mãos dadas
sorrindo e falando alto nos corredores
desertos da minha intranquilidade:
a sagração de um vazio
que nega a si mesmo.

ando só e sem destino
sob a passarela fúnebre
deste céu de possibilidades mortas
e paixões cegas, enxergo a dureza
dos muros, os papéis levados
pelo vento e os automóveis, converso
comigo mesmo em profundo silêncio,
respiro a textura de um adeus
que faz a alma se encolher
até um canto qualquer
como um detento sem ambição
e sem propósitos, como quem
espera por alguém que não existe.

me prendo a ilusões que escapuliram
de minhas mãos como se nada mais
fosse possível, uma nuvem de poeira
formada por escombros de promessas
não cumpridas sufoca
as minhas esperanças e asfixia
o meu futuro e minhas escolhas absurdas.

tenho uma fascinação pelas coisas
que não existem mais, pegadas invisíveis
pelo chão despedaçado
de um caminho confuso, sonhos fatiados
pela lâmina inexorável dos impossíveis,
minutos perdidos e areias antigas
de ampulhetas emperradas pela desatenção.

encho a taça trincada
pelo grito dos desesperados
e brindo a chegada
da minha própria demolição.

Poema do livro Diários do Desassossego
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Foto de Jardim

vivo recolhendo coisas pelas ruas,

vivo recolhendo coisas pelas ruas,
reunindo minhas humanas incertezas
abortadas de meu coração vazio
que não entende coisa alguma de nada.

na alma toca um blues
por aqueles que se foram
em infelizes destinos excomungados
nas encruzilhadas do tempo.

vejo a festa e o contentamento
que fugazes escaparam de minhas mãos
e se esvaneceram em olhares confusos,
em alegrias provisórias.

procuro o significado de estar vivo
somente para encontrar
absolutas verdades ocultas
em antros de mentiras declaradas.

nesta busca insana
encontro realidades concretas
que abstratas me sentenciam,
me deserdam.

de que me servem as certezas
paridas de em algum momento de lucidez?
sou apenas um peregrino mendigando
o alívio de retóricos venenos.

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Foto de Jardim

teu amor fala com as palavras de um idioma que desconheço

teu amor fala com as palavras
de um idioma que desconheço,
permanece preso em minha garganta,
fala ao meu coração que bate,
fala aos meus olhos que observam,
que descobrem mas não alcançam,
canta o silêncio dos apaixonados.

não desejes minha alma nua
sob esta atmosfera serena
neste fim de tarde.

o mundo é tão solitário,
um lugar de batalhas
e olhares frios,
ainda que hajam jardins.

esqueça-me.
sou ácido demais para os seus sorrisos,
cético demais para os seus objetivos,
incoerente ao extremo para os seus ânimos ,
extremamente áspero para os seus lábios.
não olhes para trás.

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